Posted by : CanasOminous Jul 21, 2014

Capítulo 7
Capacidade de Inteligência

A menina quase não quis sair da cama nos outros dias.
Levantava de forma automática e ao olhar-se no espelho demorava a reconhecer a imagem da moça de cabelos curtos que pairava em sua frente. Pelo menos agora ela não perderia mais horas escovando-os, e consequentemente, não veio mais a atrasar-se em aula alguma. Chegar atrasada novamente era algo que ela dispensaria, poderia encontrar-se com Wes no caminho, que por sinal, não havia comparecido nas aulas a semana inteira. Era comum ele faltar daquela maneira, mas, se continuasse, corria o risco de reprovar por faltas.
Em breve sexta feira chegaria, o que era motivo de comemoração por parte de todos os alunos. Helen tentava recuperar-se de seu choque, estava um pouco atordoada desde então, mas naquele instante tinha algo mais importante a lidar. Uma prova de Química na semana seguinte, prova aquela que ela havia tirado uma nota repugnante no último bimestre, embora não fosse pior do que aquela tirada em Álgebra II. Helen sabia que precisaria estudar muito se não quisesse ficar na zona de rebaixamento.
Na sexta feira a menina fazia seu caminho até a sala de aula. Havia descido até a cantina para buscar um suco e quando voltou pôde notar uma presença rara na classe de aula.
— E não é que o cara decidiu chegar cedo uma vez na vida? Pensei que os russos tivessem te sequestrado, ou que você já tivesse adiantado as férias de fim de ano. — brincou um colega.
Wes estava ao lado, com a mochila caída em um dos ombros. O moreno riu com o comentário, mas logo dispensou os colegas e debruçou-se sobre a mesa como alguém que voltava exausto de uma tarde de trabalho. Estava muito cansado, e Helen era uma das poucas que sabia os motivos pelo qual ele faltava. Assim que a menina chegou na sala Stella foi logo procurar conversa.
— Olha aí, o seu dragão preferido voltou. — brincou a menina.
— Não diga essas coisas na frente de todo mundo... — respondeu Helen de forma tímida.
— Okay, então o seu amigo lerdinho voltou. — acrescentou ela.
— Fico feliz que ele tenha voltado, é perigoso ficar faltando... Mas sei que o Wes tem os seus motivos, ele ajuda o avô no trabalho. É uma tarefa muito importante, ele não é um vagabundo.
— Então é um rapaz compromissado. — presumiu Stella — Digo, compromissado no sentido de ajudar a família, de ser atento e prestativo; mas acho que não tenha ninguém para acompanhá-lo, e nem que tenha compromissos de amores. Ouvi dizer que ele não fica com ninguém há um tempão.
— Essa época do ano é complicada mesmo. Todos pensando em vestibulares e essas maluquices... Afinal, por que estamos falando sobre isso?
Stella lançou um rápido olhar para a amiga e deu uma risada maliciosa. Helen arqueou a sobrancelha e perguntou o motivo da risada.
— Ora, um rapaz bonito como esses descompromissado! Por quê não vai buscar assunto com ele?
— E-Eu? Não há nada entre nós dois! E veja só, não tenho nem assunto para tratar...
— Deixe os assuntos para ele, você só precisa tomar iniciativa! Vamos lá, deixe de ser careta. Passou perfume hoje? Penteou o cabelo? — perguntou Stella — Ah, esqueci que isso não dá mais. Mas de forma geral, vá falar com ele! Aposto que quando vocês chegam atrasados rola um clima.
Helen estava extremamente encabulada com a cena, mas a companheira insistia em jogá-la para cima de Wes. Depois de muito esforço Helen foi arremessa para cima do rapaz, ela segurava suas próprias mãos que suavam de nervosismo, sendo que as palavras mal saíam de sua boca.
— E-Eu... Bom dia.
Wes não respondeu.
— Ora, que cara mal educado. Acha que não tem que responder minha amiga só porque ela é tímida? Vamos lá cara, seja educado! — disse Stella, cutucando o rapaz e notando que ele quase babava na carteira.
— Ele está dormindo. Vamos deixá-lo em paz. — disse Helen.
— Ah, mas não vai mesmo! Você tomou a iniciativa de vir falar com ele, agora deixa o resto para o cara! Acorde, seu molenga!
Stella deu alguns empurrões até o rapaz abrir os olhos aos poucos. Wes levantou o rosto e esboçou uma feição de raiva que calou as duas meninas no mesmo instante. Ele ajeitou o cabelo para trás e disse com uma voz grossa.
— Cara, vou dizer uma coisa, eu odeio que me acordem quando eu estou cansado.
Stella desculpou-se no mesmo instante e afastou-se de lá rapidamente. Helen ficou estática nunca antes tendo visto Wes agir daquela maneira. O rapaz coçou a cabeça novamente e lançou um rápido olhar para ela.
— Qual é, moleque? Quer alguma coisa?
— Bom dia... — respondeu ela encabulada.
Os olhos dele se esbugalharam ao ouvir a voz feminina e tão conhecida vindo daquela pessoa. Wes levantou-se novamente e encarou Helen de cima para baixo, a menina abaixou o rosto, mas dessa vez não tinha como esconder a vergonha entre seu cabelo. Ela fez um rápido cumprimento afastando-se aos poucos, mas Wes logo tocou em seu ombro.
— Caraca, é você, Helen! Você cortou o cabelo! Tipo, nem te reconheci mesmo, desculpa aí.
— Não foi nada, já estou acostumada... — disse ela.
Helen tinha medo de que Wes risse da nova aparência dela, e de fato, por mais que o rapaz mostrasse interesse ela sentia como se ele fizesse aquilo só por educação, quando na verdade em seu interior ele achava que ela estava ainda mais estranha.
— Quando você cortou o cabelo assim?
— Há alguns dias... Você têm faltado tanto...
— Nossa, acho que ele enfatiza mais o seu rosto. Tipo, seus olhos ficam mais expressivos e evidentes. Tipo, quero dizer... Ficou bem louco. Vish, e você tinha comentado sobre outra coisa, né?
Helen levantou os olhos e encarou Wes que tinha um sorriso sincero em seu rosto. Ele não mentia, e parecia realmente ter gostado do corte.
— Verdade?
— Verdade o quê? Que eu tenho faltado?
— Não, não. Do cabelo... Você gostou?
— Ahh, malz aí. Sério mesmo, eu não imaginava que você fosse cortar. Eu gostava dele antes, mas tenho que contar uma coisa. Eu curto muito garotas com cabelo curtinho e esse jeitoinho timid... Esquece. Curti muito!
Helen esboçou um sorriso sem graça que não cabia em seu rosto. Os poucos alunos que restavam na sala provavelmente comentavam a respeito dos dois e do olhar apaixonado que ambos lançavam, mas por um momento Helen não ligou. Esqueceu os comentários alheios. Era a primeira vez que todas aquelas vozes críticas em sua orelha se calavam, e por um momento, quis apenas ficar viajando naquele momento mágico em que recebera o elogio de um homem. Ficou viajando assim por alguns minutos até ouvir um pedido:
— Então, aceita?
— Claro. — disse Helen, parecendo só então despertar daquele transe — Desculpa, o que você perguntou mesmo? Eu não estava prestando atenção.
— Pra gente estudar mais tarde, para a prova de Química. Não é aquela que se somar nossas duas notas não dá nem o mínimo obrigatório para passar, mas eu também estou precisando de nota nessa.
A menina sorriu parecendo tentar entender aquela situação, mas logo sua resposta ficou mais clara do que a confirmação para o convite de Wes: Ela havia aceitado a proposta de estudarem juntos sem sequer saber por onde começar.
— O quê?? Estudar juntos?! Sério mesmo...?
— Maneiro, vamos ter que tirar onze para passar, mas pode deixar que vou me esforçar também. — disse Wes.
A professora logo chegou à classe e pediu para que todos se sentassem. Helen foi sentar-se estática, ainda não acreditando que aceitara o convite. Ao seu lado Stella fazia o sinal positivo com o dedo e elogiava a coragem da amiga.
— Agora é só estudar para tirar dez! Afinal, menina burrinha não atrai ninguém. — brincou Stella.
Provavelmente aquele era o motivo pelo qual ela também estava solteira, mas agora Helen tinha alguns motivos mais importantes a resolver. E para piorar, precisaria virar uma crânio da noite para o dia. Precisava realizar uma reunião urgentemente com seus Pokémons para saber por onde começar.

• • •

— Está de brincadeira?? — indagou Will.
— Eu aceitei sem nem perceber, e agora, vou trazê-lo aqui para estudar. Como pude ser tão desatenta? — indagava Helen.
A menina já havia retornado para sua casa, e agora se encontrava numa reunião com todos seus Pokémons. Os bichinhos estavam sentados ao redor dela. Will ficou frustrado quando soube da visita de pessoas, era uma figura ciumenta e possessiva, mas precisava ajudar sua mestra de uma maneira ou de outra.
— Querida, então se esforce para tirar uma boa nota e impressionar o rapaz! — disse a Mew.
— E se eu não for capaz?
— Aí ferrou tudo. Você reprova, ele já vai reprovar por falta mesmo, mas tudo se resume ao mesmo buraco: Reprovação. — brincou Groudon, recebendo um empurrão da Suicune ao seu lado.
— Minha flor, o que ele quis dizer é que esse rapaz depende da sua nota para passar ou não. É um grande fardo, mas todos nós torcemos por você. — disse a Suicune.
— Eu não sei, ainda estou incerta...
— Continue tendo essas dúvidas e você irá afundar-se cada vez mais em seus próprios pensamentos negativos. — acompanhou o Giratina.
— Eu acho que eu deveria estar estudando agora, mas estou aqui, falando com vocês. Ah, como eu queria que isso me ajudasse a entender essa matéria amaldiçoada... Eu nunca vou ser capaz de chamar a atenção do Wes...
 Oe, estou aqui, chefia. Quer um abraço ou só o apoio já vale? — riu o dragão — Na moral, eu te ajudaria com o maior prazer, mas essa não é a minha área. Minha função é outra. Você precisa descobrir sua inteligência com ajuda de outro.
Helen soltou um suspiro e apoiou-se ao lado da cama. Lançou um rápido olhar para seus Pokémons, e então notou uma figura solitária que se mantivera quieta desde o começo da conversa. Era Stanley, o Registeel.
— Estou precisando de nota. — afirmou ela.
— Ajudo. Eu. — disse o golem.
— E como é que você seria capaz de me ajudar com isso?
 Lápis. Papel. Pega. Agora.
Helen pegou todo o seu material e colocou a mochila em cima da mesa de estudos. Abriu a apostila e encarou aqueles códigos mais complexos do que o alfabeto dos Unowns, élfico, e até mesmo os códigos de HTML, pelo menos para ela. Matemática era uma matéria que não entrava na cabeça da menina.
— Estudar. Agora.
— Tudo bem, tudo bem, vou sentar-me e dar uma lida na matéria daqui a pouco, só vou pegar algo para comer antes...
 Senta. E estuda. Agora.
Helen voltou aos poucos e sentou-se na cadeira conforme o golem havia dito. Por um momento esqueceu seus outros Pokémons, era apenas o Registeel e a menina que se encaravam na mesa. Helen mexia em seus joelhos parecendo assustada, nunca tinha visto seu Pokémon tão sério e concentrado. Ela perguntou:
— O que eu faço?
— Química. Metais. Eu, aço. Consegue compreender? — perguntou o brinquedo.
— Acho que sim. — comentou a menina.
— Metal. Elemento, substância ou liga caracterizado por sua boa condutividade de eletricidade e de calor, apresentando cor prateada, um alto ponto de fusão e de ebulição e uma elevada dureza.
A menina estava boquiaberta.
— Desde quando aprendeu isso?
 Desde que li nessa sua apostila. — respondeu o Registeel.
— E desde quando você aprendeu a falar certo?
 Desde que você precisou tornar-se inteligente. Agora, sente e vamos começar. Agora. Agora.
Os estudos continuaram. Registeel não ensinava nada para a menina, ele apenas despertava seus conhecimentos há muito adormecidos e a incentivava a não distrair-se por bobeiras. Por mais que fosse apenas um boneco, aquela brincadeira de falar com os brinqudos fazia com que Helen se sentisse mais determinada a não decepcioná-los. Não era apenas para tirar uma boa nota, era para que seus próprios Pokémons ficassem orgulhosos de sua treinadora.
 Aurum. Ouro em latim, determinado na tabela periódica pelas iniciais Au. Palladium, Pd. Platinum, Pt. Todos caracterizados por serem metais de transição. — disse Helen com um sorriso — Platinum... Que nem o vídeo game, não?
 Sim. Como nos games. — respondeu o Registeel da mesma forma.
Ao lado a serpente fantasmagórica caçoava de seus companheiros.
— Aposto que o seu vídeo game não está na tabela periódica. — caçoou o Giratina.
O Groudon deu de ombros.
 Companheiro, please. Com um de meus rubis eu compro o seu estoque de platina inteiro. — respondeu Wes caindo na risada.
Helen continuou nos estudos tentando decorar apenas a primeira parte daquela chata tarefa. Os estudos ainda estavam longe de terminar, mas por algum motivo, estudar ao lado dos Pokémons dava um significado a mais para aquilo.
 Argentum... É prata em latim. Não é mesmo nome da espada crava em seu peito? — perguntou Helen.
— Exatamente. Você sempre soube tudo isso, foi você quem os criou. É uma grande conhecedora disso, e acima de tudo, é uma garota muito inteligente. Apenas ainda não foi capaz de descobrir. — explicou o Registeel.
Helen concordou e prometeu dar o seu melhor. Ainda havia cinco dias para a prova de química na semana que vem, e em cinco deles ela havia estudo com seus Pokémons, os outros dois havia sido ao lado de Wes.
Recebê-lo em sua casa seria uma loucura. A tia fez questão de preparar um belo almoço para quando ele viesse no fim de semana. O rapaz até mesmo pediu dispensa de seu serviço para poder estudar e se dedicar mais. Seu avô compreendia sua situação, uma vez que a faculdade do neto era o que vinha de importante no momento. Wes tocou a campainha e esperou que abrissem a porta. Logo a figura tímida de uma menina abriu-a com enorme cuidado.
— Oi. — disse Helen.
— E aí, manola! Pronta pra tirar dez semana que vem?
— Acho que sim. — respondeu ela com um sorriso.
Wes adentrou o pequeno apartamento e cumprimentou a Senhorita Berlitz de forma educada. A tia de Helen convidou-o para almoçar junto, e na mesa Wes tagarelava sobre como Helen não parava quieta e o fazia passar vergonha no meio da aula. A mulher apenas se divertia enquanto Helen quase explodia de vergonha, mas no fim, era claro perceber como ela se sentia confortável naquela situação.
— Você é o primeiro amiguinho que a Ellie traz para cá. A outra foi uma mocinha chamada de Stella. Devo agradecê-lo por ajudá-la nos estudos.
— Fazer o que, né. Sou o crânio da sala, daí preciso ajudar. — brincou ele — Zuera, é a Helen que está me ajudando e fazendo um grande favor me aguentando a tarde inteira. Prometo que não vou atrapalhar.
Assim que o almoço terminou os dois foram para a sala começar os estudos. Os Pokémons ficaram trancados no quarto, mas provavelmente espiavam o possível casal que se fazia presente logo na sala. Helen não podia ouvi-los, estava concentrada demais em outras coisas, mas pelo menos os estudos com Registeel a ajudavam na hora da explicação.
— Química orgânica. Vou dizer os compostos orgânicos e as características químicas de alguns exercícios passados que o professor mandou, então você deve completar os desenhos. — explicou Helen.
Wes parecia conseguir resolver facilmente muitos dos exercícios. Tinha dificuldade em poucos, mas no fim nem parecia o mesmo rapaz que havia tirado um em uma prova de matemática há alguns meses.
— Você entende muito da matéria! — afirmou Helen.
— Pode crer... Acho que manjo mesmo. — riu ele.
— Então por que pediu para que estudássemos juntos?
— Olha, pra falar a verdade, eu não manjo, e eu pensava que você também não manjava, sacou? Só que daí eu não queria pegar e fazer feio na sua frente, então decidi estudar. Normalmente as meninas são chegadas num cara inteligente, então pegava mal se eu fosse só um peso nas suas costas.
— Não, não... Para falar a verdade eu também estudei por sua causa. Eu não queria que pensasse que sou apenas uma garota burra que não faz nada, então comecei a estudar duro para conseguir te ensinar o máximo que eu puder. — respondeu Helen um pouco encabulada.
— Caraca, que show! Olha aí, no final a ajuda um do outro tornou-se esse empurrão inicial.  Valeu hein, Helen. Por dar essa ajudinha aí.
A menina sorriu, e pediu para que voltassem aos estudos de forma tímida. Passou dois excelentes dias ao lado do rapaz, mas em breve a prova chegaria, e com ela a tensão poderia aumentar.
O professor, como um excelente examinador, desmontou todas as fileiras para colocar apenas três delas no centro. Ele era um dos poucos Mestres na escola, e apesar de toda a dificuldade dos alunos o problema maior era na matéria. Era jovem e tinha uma barba rala e mal feita. Muitos o adoravam, por mais que a química fosse tachada como uma das mais difíceis de garantir uma boa nota.
Era o momento dos dois mostrarem toda sua habilidade no aprendizado mútuo.
— Vamos lá, Helen. Quero ver você tirar aquele dez que prometeu! — comentou Wes bem baixinho.
— Você também, Wes. Te desejo boa sort...
— SENTADOS!!
O professor adorava pregar um susto nos desatentos. Correu e sentou-se na mesa. Marcou o horário exato no início da prova transformando a simples tarefa em uma batalha militar de conhecimento. Mas ainda assim, brincava com os alunos mais acanhados para tentar soltá-los mais. Vendo Helen próxima de Wes não conteve as graças:
— Aí, Helenzinha que cortou o cabelinho curtinho. Quero ver você tirar pelo menos um sete nessa prova, demoro? — disse o professor com todo seu estilo jovial.
— T-Tudo bem. — gaguejou ela.
— Ela vai tirar sim, professor. — respondeu Wes animado.
— O que é isso? Agora esses dois aqui formaram um casalzinho?
Toda a classe retribuiu com um “Sim” em um uníssono. Por mais que a idade chegasse parecia que algumas pessoas daquela escola nunca perdiam a imaturidade em caçoar dos colegas. O professor riu e deu alguns tapinhas no ombro de Helen, insinuando que era apenas uma brincadeira.
A prova começou, e a prova terminou. Poupa-se espaço narrando momento de tensão e ansiedade em um difícil teste em que você depende estritamente daquela nota para garantir sua vaga para o próximo ano, ou até mesmo para garantir um espaço em alguma faculdade. Todos lutam pelos mesmos ideias, todos movidos por ambições semelhantes. E o dia de Helen não seria completo se o professor não soltasse outro berro na sala anunciando uma grande notícia:
— Vou corrigir todas as provas AGORA! Mua, hah, hah!! Quem quer morrer, já morre; quem vai repetir, já garante a matrícula do ano que vem. Certo, Wes?
— Certo, Professor. — respondeu o rapaz com um sorriso.

O Professor foi corrigindo as provas, e incrivelmente, quando a nota de Wes foi anunciada ele teve de brincar e olhar para os lados vendo se alguém inteligente estava nas proximidades.
— Eu diria que você colocou de alguém. Mas não tem ninguém para você colar aí no fundo. — brincou o professor, mencionando os burros e incluindo Helen no meio — Você tirou oito. Não é o suficiente para você passar, mas melhorou muito, muito mesmo. Vou lembrar disso no conselho.
Os alunos até brincaram com Wes batendo palmas, mas a maior surpresa veio quando a nota de Helen foi anunciada:
— Olha só! Mas o amor faz esse tipo de coisa? A Helenzinha tirou oito, manoo! Achei a cola. Hah, hah, hah... Tô só brincando.
Foi uma algazarra ainda maior, agora os dois tinham que aguentar a zoação dos demais colegas. Stella parabenizava a conquista da amiga, enquanto o próprio Wes esticou a mão para ela agradecendo toda a ajuda. No fim do dia, uma prova havia sido resolvida. Faltavam outras dez matérias, mas aquilo não era motivo de desanimo. Helen provara sua inteligência.

• • •

Ao chegar a sua casa a primeira notícia que queria dar era de sua conquista na nota, e principalmente agradecer seu Registeel por toda a ajuda e apoio dado nos estudos.
— Stanley, Stanley! Onde você está? A minha nota foi oito graças à você!
Os Pokémons da equipe parabenizaram a menina pelo sucesso que havia sido, e de longe o golem de aço aproximava-se lentamente de sua mestra. Helen segurou o chaveirinho em sua mão e revelou um sorriso. Aquele era o seu Registeel, as grandes defesas de sua equipe; o Pokémon que no fim das contas havia se tornado a própria inteligência da menina.
Helen podia senti-lo ao seu lado, ela deu um forte abraço no golem como se ele fosse real, e em seguida a voz mecânica da criatura podia ser ouvida:
 Você conquistou o que buscava, e com isso me libertou de meus deveres ao seu lado. — disse o Registeel.
— O que você quer dizer com isso? — indagou a menina.
 Ele cumpriu a missão dele ao seu lado, Senhorita. Descobriu a própria inteligência dentro de você. Agora o Stanley não tem mais motivos para continuar na equipe, ele deverá ser liberto. — explicou Will.
A menina olhou atentamente para o Pokémon que acenou afirmativamente com a cabeça. Ele aceitava e estava grato por todas suas aventuras ao lado de Helen, agradecia pelo fato da menina ter o salvado da solidão no Castelo de Travos, e por fim, conquistado um amigo dentro dele.
— Devo ir, Paladina da Armadura de Prata. Meu dever em terras desconhecidas no reino de Imaginatio está cumprido, devo regressar ao meu sono nas longínquas regiões de Hoenn. — explicou o Registeel.
— Eu queria que você ficasse ao meu lado até o fim, mas entendo sua colocação, se precisar mesmo ir. — disse ela. — Você é a minha inteligência, Stanley. Sei que caminhará ao meu lado sempre que eu precisar.
Não houve despedida. Helen segurou o chaveiro com muita força agradecendo por tudo que o golem de aço lhe proporcionara. Ela abriu uma de suas gavetas e colocou-o dentro de uma caixinha com panos avermelhados e fitas douradas, usada para guardar as alianças de seu pai na época em que sua mãe ainda era viva. O Registeel mais uma vez voltaria a seu profundo sono. A inteligência havia sido despertada em sua mestra.
Helen caminhou até a ponta da cama e sentou-se nela. Reuniu seus cinco Pokémons restantes, que também estavam muito felizes pelo fato de Stanley ter sido o primeiro Guardião das Sensações a ser liberto.
 Ele foi um grande cavaleiro. Que Arceus o tenha. — disse Will.
— Ah, acho que não vai fazer falta. — brincou Wes, recebendo outro empurrão de Suicune — Tudo bem, vai fazer sim. Tenho certeza que ele guardou mágoas porque eu matei ele naquele dia...
— Querida, consegue entender nosso propósito ao seu lado? Somos todos seus amigos, cada um de nós está aqui para ajudá-la a superar algo! — disse Mew.
Helen virou-se para seus bichinhos e disse com enorme empolgação:
— Pessoal, obrigada por tudo... Vocês me ajudaram quando mais precisei, e estou me sentindo concretizada quando vejo que cumpriram seus objetivos. Vou continuar dando tudo de mim para que cada um de vocês sejam libertos!
Nesse instante, o telefone tocou. Helen não tinha o hábito de atendê-lo, preferia apenas deixar tocar, afinal, sempre eram ligações para sua tia; mas por algum motivo naquele momento em especial quis atender. Surpreendeu-se ao notar que era a voz de Wes do outro lado da linha. Tentou ajeitar os fios de cabelo atrás da orelha como costumava fazer quando ficava nervosa, embora agora ele estivesse curto. Mas por sinal, era o estilo de cabelo que Wes adorava.
— Helen?
— Oi, Wes.
— E aí, parceira de estudos! Tudo certinho? Chegou bem em casa? O vento não te levou embora, não? — brincou o rapaz.
— Heh, heh... Fica tranquilo, eu cheguei bem. — respondeu ela desenhando círculos com as linhas do telefone e esboçando sorrisos graciosos do outro lado da linha — Precisa de alguma coisa?
— Preciso sim, mas pra falar a verdade, eu ia te falar hoje na escola. O foda é que no fim das contas eu acabei esquecendo com toda aquela conversa de nota e tudo o mais. Tipo... Ah, cara. É zica falar esse tipo de coisa por telefone.
Helen ficou séria por um momento. Seu coração pareceu palpitar mais forte, uma estranha ansiedade lhe foi transmitida por uma simples conversa. Ela encarava a parede branca, mas podia sentir o rapaz ali, do seu lado.
— Ahh, tipo. Tá a fim de sair mais tarde? Não hoje, esse fim de semana, talvez. Para comemorar o sucesso na prova, e aproveitar que as outras só começam depois. Acho que seria bom para dar uma descontraída, fala aí.
— V-Você está me chamando para sair? — perguntou Helen.
— Já tem compromisso?
— N-Não!! Eu... Nossa, não sei o que dizer, de verdade! Eu quero sim, quero muito mesmo! — respondeu ela — Desculpe a minha empolgação, acho que exagerei...
— Nem, fica tranquila! Bacana que você topou, umas cinco e meia lá perto do shopping tá suave pra você?
— Okay, está ótimo. Vou me preparar desde já, então!
 Demoro. Então, a gente se fala na aula amanhã, Helen. Se cuida.
Assim que a menina desligou o telefone mal pôde conter sua felicidade. Numa ocasião como aquela as garotas contariam tudo que tinham de novo para compartilhar com as amigas, mas ela preferia apenas desabafar com seus bichinhos de pelúcia. Ver a empolgação de Mew e Suicune era exatamente a reação que ela queria que suas amigas tivessem. O Groudon era quem parecia mais sem graça, afinal, Helen havia conseguido um encontro com o verdadeiro Wes, e agora era a obrigação dele dar tudo de si para fazer do encontro agradável.
— É o meu primeiro encontro com alguém. Estou muito nervosa. — admitiu Helen.
— Querida, iremos torná-la uma dádiva de Arceus, e faremos com que esse rapaz se apaixone por você! — disse a Suicune.
 É estranho encontrar-se nessa situação, mas, quero que saiba que vou estar do seu lado fazendo de tudo para que isso dê certo... — admitiu Will, o Pikachu.
— Obrigado, pessoal. Por um momento começo a sentir que todas as coisas boas estão começando a acontecer em minha vida a partir de agora.
Groudon observava a animação de sua Mestra parecendo incomodado, mas em seu íntimo ele setia que estava feliz por sua treinadora, só não podendo demonstrar. O dragão suspirou e disse:
 Então vamos ver no que isso vai dar.

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  1. Luiz Eduardo SouzaJuly 23, 2014 at 9:42 AM

    O episódio está bem legal! Um dos pontos que queria citar foi a ótima estratégia de assemelhar a química com as versões dos jogos ashuahsuashusa e obviamente estou torcendo para que a Helen se dê bem e consiga namorar o Wes e também tire boas notas nas provas. Agora percebi que depois de obter todos aqueles Pokémons, a Helen irá libertá-los depois de aprender uma determinada coisa. Espero pelo próximo episódio!

    (Trecho retirado da Arena Pokémon, 24/07/2012)

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