Archive for May 2014
Como usar o Club Nintendo no Brasil?
Não é de hoje que a Nintendo deixa o Brasil de fora de muitos de seus projetos. Mesmo que os brasileiros representem um dos maiores mercados consumidores de games no mundo, além de contar com fãs assíduos de suas paixões, nunca somos privilegiados pela Big N... Mas ainda assim, temos o nosso jeitinho brasileiro de fazer as coisas, não é mesmo?
Hoje, compartilharei com vocês alguns truques que podem experimentar para melhorar sua experiência com o Wii U ou 3DS, não se trata de nenhuma trapaça ou pirataria, e sim, uma maneira de mostrar que nós também podemos aproveitar muito do que a Nintendo tem a oferecer como seus consumidores, afinal, estamos comprando jogos originais e colaborando para o mercado.
Quais benefícios nós, brasileiros, podemos ter ao criar uma conta no Club Nintendo?
Se você tem em casa algum console recente da Big N, entre eles o novo 2DS, o 3DS padrão e XL ou Wii U, provavelmente já deve ter visto um panfleto do Club Nintendo e seus benefícios. Grande parte dos jogos originais da empresa também vêm com este panfleto que possui um código único, e até mesmo alguns mais antigos da geração do Wii. O que muita gente não sabe é que é possível trocar esses pontos por inúmeros itens e jogos no site da Nintendo!
Como bem sabemos que o Brasil não recebe atenção, não é possível pedir os itens especiais como CDs de Soundtrack, camisetas, bonecos, cases ou tantos outros acessórios lindos. Ainda assim, há uma saída! Você pode converter estes pontos em moedas para comprar jogos digitais que não precisam serem entregues em nenhum lugar, você só precisará baixá-los, e aqui, ensinaremos como isso funciona.
Caso ainda não tenha uma conta criada, clique no botão Sign Up, localizado na parte superior direita do site e preencha os campos solicitados. Como o clube não fornece serviço para o Brasil, você deverá criar uma conta em um endereço fictício. Experimente buscar por endereços criados no Google Maps, mas não se preocupe, você não o usará para nada. Caso peça algum item que precisará ser enviado, a única diferença é que você nunca irá recebê-lo! Então, concentre seus coins apenas nos jogos digitais.
2. Registrando Jogos e Avaliando!
Depois de devidamente registrado e logado no site, clique na aba Register a Product, que fica na parte de cima da página. Lá você pode inserir os códigos estampados nos folhetos e clicar em GO!.
Você será levado a uma tela com uma enquete sobre o jogo, que pode responder ou apenas marcar as devidas opções e clicar em Finish na parte de baixo. Eu, como um fã assíduo que sou, gosto de responder os questionários sinceramente para dar um feedback positivo para a própria Nintendo, colaborando para seu crescimento. Se não tiver muito conhecimento de inglês, peça para alguém ajudá-lo.
Cada código vale um determinado número de pontos, que serão acrescentados automaticamente à sua conta. Jogos de 3DS valem em média 40 Coins, e na sequência mais 10 Coins com um post-survey que virá alguns dias depois para avaliar o que você achou do jogo. Jogos de Wii U podem vir com 60/50 Coins + 10 Coins, e dependendo da ocasião, podem valer até mais! Registrar os consoles pode render cerca de 160 Coins logo de cara.
Jogos comprados digitalmente (apenas no eShop americano e canadense) são somados automaticamente ao seu saldo, então não será preciso registrá-los. Basta acessar o site mais tarde e responder o devido questionário.
3. Utilizando seus Pontos!
Adicionadas as moedas, é hora de pegar os prêmios. Geralmente os jogos oferecidos são para 3DS e Wii/Wii U. Clique na aba Get Games & Rewards e escolha um jogo compatível com o seu saldo de pontos. Escolha Get It Now!
Uma tela de confirmação com o botão Order Reward será exibida. Clique nele e avance para outra página, que solicitará o seu e-mail para onde a confirmação será enviada. Preencha o campo e clique Order Now. Pronto, agora é só pegar o código exibido na tela e partir para a ativação no console. Não se esqueça que para nós, míseros brasileiros mortais, não é possível pedir mais nada além dos games digitais! (A menos que você tenha algum conhecido morando nos Estados Unidos, aí é outra história...)
4. Instalando seus Jogos Digitais
Por mais que o site diga que o jogo pode ser instalado no Wii U, não se surpreenda caso ocorra uma falha! Se isso acontecer, é porque os controles só são compatíveis com o sistema do Wii. Através do Menu do Wii, acesse o Wii Shop Channel >> Settings e Features >> Wii Download Ticket. O processo é exatamente o mesmo no Wii U, com exceção do fato de que é preciso acessar o Wii pelo ícone presente no menu. O próprio Club Nintendo oferece um tutorial detalhado ensinando os usuários a instalaram o game.
No Nintendo 3DS, acesse o eShop, clique nas opções Menu >> Configurações e Opções >> Resgatar código de download.
Fique sempre de olho no Club Nintendo, já que os jogos oferecidos mudam no começo de cada mês! Ocasionalmente a Big N também traz promoções incríveis como a de Mario Kart 8, onde após comprar o jogo você recebia um código especial para baixar outro jogo de Wii U, como bônus! E são dos bons! Pikmin 3, Wind Waker, Wii Party U e New Super Mario Bros. U não são títulos de se ignorar. Mas atente-se, pois as promoções só são válidas por um determinado período de tempo!
Se você ainda não tem uma conta no Club Nintendo, já passou a hora de considerar criar uma, não acha?
Fonte: Wii U Brasil e TechTudo.
Heart of a Child (Capítulo 1)
Bom dia, caros leitores! Como anda a sexta-feira de vocês? Hoje não teremos nenhum novo episódio de nossa História Central, mas em compensação, durante o mês de Junho estarei repostando aqui no blog uma fanfic antiga minha conhecida como Heart of a Child.
Esta fic foi postada em 2012 na Arena Pokémon, todavia, o site saiu do ar e consequentemente levou todos os nossos capítulos juntos... Então venho aqui compartilhar esta trama dramática com os leitores interessados de Sinnoh. O enredo mostra uma garota adolescente tranquila que está enfrentando sérios problemas em sua fase pré-vestibular, e também em seu círculo de amizades na escola (que praticamente não existe). Ela se encontra profundamente mergulhada no universo de seus brinquedos que, no caso, são os Pokémons, e acaba por descobrir que chegou talvez um pouco longe demais... Tenham uma boa leitura, caros leitores! Um grande abraço, — Canas Ominous.
CAPÍTULO 1
Rotina de Descaso
Era mais um dia banal. Daqueles que se você pudesse pularia de uma
ponte e ninguém daria falta. Daqueles que sua presença passa despercebida aos
olhos dos outros num mundo em que ninguém faz questão de saber quem você é.
A manhã de Helen havia sido erguida num
tom mórbido de obscuridade e pesar, precisava lidar com mais um dia enfrentando
as mesmas matérias, os mesmos professores, e a mesma lavagem cerebral de todos
os demais naquela idade: Estude para ser alguém na vida.
Helen podia sentir o toque do vento em
seu rosto enquanto caminhava até o portão do colégio, era uma garota que
preferia chegar bem cedo e aguardar pacientemente o início de mais uma aula. Já
havia algumas pessoas na sala, Helen pegou a terceira carteira da parede direita,
e aguardou. Apenas aguardou.
Mais um dia de monotonia e estudos
exagerados numa rotina que parecia não ter fim.
Aos poucos a sala começou a se encher,
os grupos já se formavam e amigos ansiosos contavam as novidades do fim de
semana. Helen continuava espremida em seu canto com as duas mãos sobre seu
colo. Só queria que o tempo passasse logo, e ela pudesse retornar para sua
casa.
Algumas vezes a menina passava a mão em
seu cabelo, tentava dar uma ajeitada imaginando que alguém estivesse olhando,
queria que algum rapaz bonito ligasse para ela e puxasse conversa a ponto de
chamá-la para sair no mesmo instante, mas quando se deu conta foi agarrada
pelos braços de um rapaz que ria do sufocamento da garota. Helen pediu para que
a soltasse, ele soltou e coçou a cabeça enquanto ria e sentava-se em cima de
outra mesa com os pés sobre uma cadeira. Alguém havia ido falar com ela, mesmo
que não fosse exatamente o que ela buscava.
— Bom dia, Senhorita Helen! — disse o
rapaz com grande entusiasmo.
— Oi.
— Não ouvi sua voz hoje. — continuou o
rapaz.
— Não cheguei faz muito tempo — mentiu,
ainda debruçada sobre a mesa. O rapaz não havia ouvido Helen falar naquela
manhã, em compensação, ela já havia ouvido a voz dele o suficiente para umas
três semanas.
— Já vi que você passou o fim de semana
inteiro como sempre. Dormindo, lendo, ou jogando aqueles seus jogos esquisitos.
Vida boa, não? — disse ele apoiando-se na parede com os braços sobre sua
cabeça. — Ah, e a propósito. Fala aí, fez aquela lição de álgebra II? Não
consigo entender nada que aquele Professor múmia fala.
— Não. Eu também não consegui
entender...
— Beleza, então, vou ver se encontro
alguém que tenha feito. Ciao, Helen!
A menina ficou com a cabeça apoiada na
mesa enquanto observava o ruivo distanciar-se aos poucos. Seu nome era Wes, o
rapaz mais popular da sala, talvez pelo fato de que ele já estava naquela
escola dois anos a mais do que qualquer outro, pois já havia repetido duas
vezes. Tinha por volta de seus dezenove anos, o mais velho da turma. E,
esparramada na cadeira, jazia a singela Helen, com seus dezessete anos e seu
olhar infantil de ingenuidade.
Ter uma conversa daquelas com Wes não
era bem o que a garota buscava; aquele sujeito sempre importunava todos os
demais calouros, e se não gastava seu tempo fazendo macaquices e dormindo,
procurava alguma garota que caísse por seus charmes. Helen não era uma dessas,
até achava o rapaz divertido, mas ele nunca jogava seus charmes para cima dela.
Talvez pelo fato de que Helen parecesse muito mais nova do que qualquer outra
garota, muito mais imatura assim dizendo. Com sua aparência poderia-se presumir
que estava no ensino fundamental, quando na verdade estava para concluir o
ensino médio.
Era a triste realidade. Nunca tivera a
chance de gostar de alguém. Na verdade, ninguém nunca havia dado essa chance a
ela, e por isso era muito sozinha. Helen se achava simplesmente a garota mais
esquisita do colégio, algo típico de adolescentes. Ficava em seu canto
aguardando que alguém a consultasse, mas nem para copiar lições os outros se
aproximavam, afinal, notas também não eram o forte da menina, e aquilo a
mergulhava num abismo crescente:
Será que eu sirvo para alguma coisa?
As aulas foram passando, tempo e sono
caminhavam lado a lado, sendo que o nome de Wes era o mais ouvido até o final
da manhã. Algumas vezes Helen virava para trás vendo o rapaz deitado em sua
mesa, quando ela virava para olhá-lo Wes fazia questão de chamar seu nome bem
alto o que a fazia ficar enfurecida. Ele a divertia, pelo menos naqueles
momentos o restante da sala descobria que havia alguma Helen entre eles.
Assim que a aula acabou, a garota
arrumou sua pequena mochila e partiu. Wes já havia desaparecido, antes mesmo do
sinal tocar. Ela caminhou sorrateiramente pelos corredores movimentados até a
saída, sua presença passava quase despercebida pelos outros que achavam que
aquela menininha do maternal estava perdida numa floresta de alunos robóticos
que se concentravam para as provas de fim de ano. Um terço do dia, completo.
Faltavam duas etapas agora, mas pelo menos aquelas duas passavam mais rápidas
do que a primeira.
Sua moradia não se situava muito longe,
mas era preciso um ônibus para chegar até lá. Era possível ir andando sem
maiores problemas, só que o maior desafio era pelo fato de que Helen não se
dava muito bem com o sol, tinha a pele clara e sensível, como uma boneca de
porcelana que não recebe os cuidados de ninguém. Ela precisava se virar
sozinha; pegou o ônibus e aguardou a chegada na rua de sua casa. Quando chegou
ao seu apartamento deparou-se de imediato com a mensagem da tia na geladeira:
"Ellie, volto antes das 8 pm!"
A garota arrancou o papel da geladeira
e jogou-o no lixo sem amassar. Teria um momento de sossego, embora o que
realmente quisesse era conversar com alguém. Quando a manhã terminava ela
ficava tão sozinha quanto uma caixa num porão abandonado, tudo que poderia
fazer naquele apartamento era estudar, estudar, e estudar. E quando se esquecia
era lembrada por seu pai que ligava de vez em quando para saber como a filha
estava. Para lembrá-la de estudar, é claro.
A vida de Helen estava, literalmente,
uma droga. Jogou sua mochila no canto de uma parede e deitou-se na cama,
poderia passar o período da tarde mais rápido se desse um cochilo, como todas
as segundas, quartas e sextas. Nas quintas e terças se dava no trabalho de
passar um tempo no computador. E só então cochilava de novo.
Odiava a televisão, e sua tia voltava
tão cansada a ponto de não ter tempo de ter uma conversa agradável com a
sobrinha que parecia ser um incômodo em sua humilde residência.
O quarto da garota era pequenino, mas
gracioso. Tinha um computador preto logo a cima de sua mesa de estudos, tendo
um espaço com uma luminária cinza para que ela também pudesse desenhar, um dos
poucos hobbies que achava que tinha. Mais acima da mesa havia
diversos armários que se separavam em cubos, e neles, Helen deixava bichinhos
de pelúcia, jogos, filmes e bonecos. Era seu maior tesouro, bonecos dos
personagens que mais adorava.
Helen debruçou-se sobre a cama e enfiou
a cara no travesseiro. Queria prender a respiração e terminar aquela monotonia
naquele mesmo momento, mas não tinha ideia do que a segurava naquele mundo. Não
esperava que a situação revertesse, era a garota mais pessimista que existia.
Uma aura negra parecia rodeá-la todas as manhãs, e quem ficava próximo era
gravemente contagiado por seus maus pensamentos.
Esse era o retrato de nossa amiga
Helen.
— Tédio.
Aquela era a quarta vez que falava no
dia. Quando a pessoa começa a viver sozinha sente que esquece o tom da própria
voz, e costuma soltar grunhidos somente para saber se os pulmões não haviam se
atrofiado nesse meio tempo. Helen virou-se na cama e cruzou os braços
observando seu quarto, aqueles brinquedos traziam uma certa harmonia para sua
pessoa, o único momento de satisfação que poderia ter.
Na segunda fileira havia um bichinho de
pelúcia esboçando um sorriso sereno em rosto. Era um rato elétrico, uma
criatura que havia feito um enorme sucesso em seu tempo, trazendo lembranças
antigas para Helen dos dias em que era apenas uma criança e não precisava lidar
com a pressão dos estudos. Tempos que não voltavam mais.
— Oi, Pikachu.
A figura do ursinho de pelúcia
continuou lá, observando a garota. Helen deu um salto de sua cama e pegou o
bichinho, deixando-o ao seu lado enquanto ligava o computador. Aguardou todos
os programas serem iniciados e assim acessou seus sites costumeiros. Procurava
alguns desenhos novos, via se algum dos seus amigo pré-selecionados nas redes
sociais estavam disponíveis, e mesmo que estivessem ninguém iria falar com ela,
e ela também não se daria no direito de “interromper” seus amigos procurando
assunto.
Helen digitava lentamente pesquisando
fatos sem utilidade e apenas esperando o tempo passar. Dois terços; agora
faltava apenas um pedaço do dia para que sua tia chegasse e mais uma manhã
terminasse para então recomeçar sua rotina de estudos.
Assim que Helen desligou o computador
pôde ouvir sua tia chegar, e como esperado, a Senhorita Berlitz parecia
acabar de voltar de uma batalha terrível.
— Boa noite, tia. Como foi o trabalho?
— perguntou Helen, já vestida com sua camisola.
— Muito cansativo, essa vida acaba
comigo. Trabalhar sempre é muito exaustivo, e você em breve já terá que começar
a procurar um emprego, não é?
Estudar para um dia ter que trabalhar.
E trabalhar era sinônimo de desgaste físico e mental. Era seu destino a partir
daquele ponto, estudar muito para trabalhar ainda mais e ser “alguém na vida”.
Helen esboçou uma feição de tristeza quando ouviu aquilo, sua tia entrou no
banheiro e ficou lá por um bom tempo tomando seu banho refrescante antes de ir
dormir.
Helen praticamente se rastejou até a
cama e lá permaneceu perdida em devaneios. O que ela mais queria era poder
voltar a ser criança, a se divertir e fazer o que gostava sem problemas, jogar
seus video games e se imaginar numa aventura sem fim. Aquele era seu maior
sonho. A garota olhou para o Pikachu e mordeu os lábios em sinal de tristeza, e
como desejava que alguém a resgatasse para um mundo melhor! Um mundo onde todos
eram amigos e crianças não precisavam estudar freneticamente para depois
virarem escravos do trabalho.
— Eu queria viver no seu mundo,
Pikachu.
As palavras de Helen desapareceram
entre as paredes de seu quarto. A menina olhou fixamente para o bichinho de
pelúcia que permanecia quieto, mas por algum motivo soltou quase que
automaticamente.
— E você pode, Helen.
Agora a garota começava a conversar
consigo mesma. Seu nível de solidão já alcançava um estado de loucura. Helen
soltou uma risada rasteira quando percebeu que aquilo era como brincar sozinha,
da mesma maneira que fazia quando era criança. Ninguém estava vendo, ninguém
estava criticando-a por aquilo, ela só brincava porque se sentia bem fazendo
aquilo. Logo, a conversa se estendeu.
— Senhor Pikachu, como eu poderia fazer
para ir até o seu mundo? — disse ela, em seguida engrossando sua voz.
— Ora, é simples, basta sonhar!
O mundo Pokémon dá entrada para todos aqueles que acreditam, e você acredita.
Pode entrar e sair dele quando bem entender.
— E se minha tia descobrir? Ela ficará
assustada com minha falta...
— Bobeira! — A garota
fez um som de reprovação, como se imitasse outra pessoa — Você não precisa sair daqui, é só me dar a
mão e imaginar.
Helen agarrou o bichinho de pelúcia e
saiu do quarto. Tinha seu Pikachu em mãos, sentia-se como uma treinadora
Pokémon que fugia de seus estudos em busca de tornar-se um Mestre no assunto.
Pikachu estava ao seu lado, e num piscar dos olhos uma sala virava uma imensa
floresta. O ratinho elétrico saltou no ombro da garota que observou tudo com
enorme empolgação, dizendo na sequência:
— Você pode vir para cá sempre
que quiser, nós sempre estaremos de portas abertas esperando por você —
disse o Pikachu.
— Tudo isso é muito lindo! Eu não quero
mais voltar, nunca mais.
— E quem disse que precisa?
More aqui comigo, conosco. Podemos ser amigos, amigos inseparáveis. Não é isso
que você quer? — disse o Pokémon.
Por um momento Helen estava de volta à
sala do apartamento com o bichinho de pelúcia em suas mãos. Ela havia acabado
de falar... Amigo? Amigo de um boneco? Sorriu e pareceu adorar a ideia,
precisava mesmo de um acompanhante. E agora, de volta à floresta.
— E como eu deveria chamá-la,
minha senhorita? — perguntou o Pikachu.
— Pode me chamar de Helen. Helen
Berlitz.
— Fascinante. Meu nome é
William, mais conhecido somente por Will. E eu serei seu amigo.
— Sim, nós seremos grandes amigos!
De repente, Helen se deu conta de que a
porta do banheiro de sua tia estava sendo aberta. Ela correu de volta para seu
quarto e lá se escondeu, detestaria que alguém soubesse que agora ela falava
com bichinhos de pelúcia, e o pior de tudo, brincava como uma criança. Aquilo
parecia ser condenável na mente da menina, pena de morte. Um adolescente tentar
voltar à sua infância? Bobagem. Poderiam achar que ela era uma lunática que
tentava fugir da realidade, e aquilo era imperdoável.
Permaneceu quieta embaixo de sua
coberta. Parecia proteger-se de algo realmente grande. O bichinho de pelúcia
estava entre os braços da garota. A aventura continuava.
— O que foi isso? Um lendário
guardião dentro daquela caverna? — perguntou o Pikachu.
— Não sei, mas devemos manter sigilo.
Vamos ficar escondidos e esperar que ele vá embora, se não, seríamos facilmente
derrotados — respondeu Helen.
— E que criatura assustadora! Pôde
ouvir o rugido dela? Aposto que é mais forte do que um exército inteiro, você
está sendo muito corajosa em enfrentar tal criatura sozinha —
continuou o Pikachu.
— Obrigada, Will. Mas agora eu tenho
você, e juntos poderemos continuar nossa busca amanhã quando o Pokémon tiver
ido embora. O que acha da ideia?
— Perfeito, perfeito. Estaremos bem
descansados e prontos para o segundo desafio de nossa jornada, Senhorita.
A garota riu sozinha e, em sua
imaginação, o boneco também ria. Helen abraçou o Pikachu e desligou a luz,
naquela noite dormiria abraçada com seu novo amigo e aguardaria o dia seguinte
com tamanha ansiedade que nunca havia sentido antes. Ansiava por algo novo, por
uma aventura como aquela, precisaria apenas enfrentar a manhã monótona da escola
e em seguida viver mais um dia de aventura. Era exatamente aquilo que
precisava.
— Boa noite, Will — disse a garota.
— Boa noite, Helen —
respondeu ela da mesma forma.
Era penas um dia banal? Talvez, mas ele
trazia os ventos da mudança. O toque suave da brisa em uma garota adolescente
de volta aos tempos mais felizes de sua vida. Já que ninguém queria ser seu
amigo, ela poderia começar a cultivar os seus próprios. Ninguém estava olhando,
ninguém precisava saber.
My Little Piece of Home
Support Conversation (Al Capone x Sophie)
Gênero: Drama, Romance, Família, Amizade;
Tema: Família a gente não escolhe, ela existe para
completar o espaço que falta no coração um do outro;
completar o espaço que falta no coração um do outro;
Notas do Autor: Preparando-se psicologicamente para o Capítulo 95...
Sophie vinha
parecendo meio desmotivada nos últimos tempos, especialmente após os mais
recentes indícios de que a grande guerra se aproximava. Não sabia se estava
psicologicamente preparada para a ocasião, vinha tentando esconder a
preocupação por conta de sua família e os demais. Não queria parecer
amedrontada para eles, e muito menos fraca.
Sendo a curandeira para todos que ali estavam, sua primeira
obrigação era o de motivá-los a nunca desistirem. Falar parecia mais fácil do
que colocar em prática, pois nem mesmo ela encontrava forças para sorrir.
A mulher encontrava-se em um bar próximo da base,
aproveitando o momento livre de sua noite para refletir e organizar os
pensamentos. Vestia roupas escuras em tons pretos e cinza, chegava a parecer
que se direcionava para um velório, o que era raro vindo de alguém estava
sempre vestida de branco. Sophie tinha em sua frente apenas uma xícara de
chá enquanto observava o movimento. Os olhos turvos e cansados não se
direcionavam a ninguém em especial. Foi quando notou um homem passando ali
perto, carregando alguns pães de maneira distraída. Ele tinha cabelos
esverdeados, o que imediatamente despertou sua atenção.
— Sonnen?
— Ela perguntou em voz alta, levantando-se para ir ao seu encontro. — Sonnen?
Irmão, é você mesmo?
O bar
estava bem cheio, e as ruas, lotadas. Sophie atrapalhou-se na saída, não queria
simplesmente que pensassem que ela estava fugindo sem apagar, mas não pôde
deixar de acreditar que tinha visto ali seu irmão que há tanto tempo não via.
— Me
desculpe, desculpe, com licença — ela pedia conforme abria espaço entre as
pessoas e cadeiras, até que perdeu o rapaz de vista.
Olhou de
um lado para o outro, com a esperança minguando. Não acreditava que por um
momento havia conseguido chegar tão perto de reencontrar seu irmão que não via
há tanto tempo, mas afinal de contas, seria ele mesmo? Logo uma mão tocou seu
ombro, e Sophie virou-se com pressa.
Era Al
Capone.
— Que belo
presente encontrar-se com a senhorita por aqui, Sophie — disse o italiano. — Come stai?
— Ah,
Al... Eu só estava — ela virou-se para trás, vendo se ainda tinha visão daquele
cabelo esverdeado que também lembrava o seu —, imaginando coisas.
O corvo
fez um aceno cortês com a cabeça, convidando-a a sentar-se. Puxou a cadeira
gentilmente e retirou o casaco para protege-la daquela noite fria. Chamado um
dos garçons, pediu um belo vinho para desfrutar do momento, e também alguns
petiscos para acompanhar. Sophie negou as gentilezas, mas o homem insistiu.
— Gracie — Al Capone agradeceu o garçom que o
servia, após terminadas as anotações.
Estranhamente,
Sophie parecia quieta demais naquela noite. Geralmente, apesar do horário, ela
sempre estava sempre tão viva e alegre, com histórias sobre bêbados e mil
tarefas a serem feitas para a manhã seguinte. Mas, naquele momento, ali havia
apenas uma mulher cansada e cheia de obrigações pesando em suas costas.
— Você
parece alterada — presumiu Al.
— Não se
preocupe, é só a minha imaginação — respondeu a mulher, voltando a tomar um
gole de seu chá que já havia gelado. — Acho que é a idade chegando.
Seu
companheiro não escondeu uma risada ligeira ao ouvir aquilo.
— Bem,
então eu deveria estar ainda pior, pois levando em conta nossa idade... Acho
que estamos bem conservados.
Sophie
piscou de maneira sedutora, mas não deu nenhuma resposta plausível ou sinal de
compreensão. Os dois apenas ficaram mergulhados no silêncio. Quando estavam no
bar da guilda a conversa sempre fluía de maneira tão natural e agradável, então
por que será que agora o clima estava tão estranho? Todas as mesas ao redor
falavam alto e estavam contentes com a chegada do fim de semana, mas ali,
somente um lamento maior se formava a cada dia.
— Sophie,
alguma coisa realmente aconteceu com você. A senhorita não costuma ser assim —
disse o Honchkrow. — Posso saber o que a preocupa?
Após um
suspiro, ela concordou com um gesto da cabeça.
— Não posso
esconder nada de você, não é mesmo? — Sophie tomou mais uma golada antes de
continuar: — Estou ficando velha, Al. Não sou mais a mesma mulher de antes, e
sinto que já não sou capaz de enfrentar os perigos que se aproximam.
— Posso
garantir que todos nós sentimos o mesmo, minha cara — respondeu. — E é
justamente por isso que nos unimos como uma família, para que um dê forças para
o outro.
Sophie
sentiu seu coração acelerar com aquelas palavras. Olhou para si mesma no
reflexo do chã e enxergou seus cabelos esverdeados, que tanto lembravam os do
irmão. Aquilo trazia apenas lembranças de uma família fragmentada, e de uma
garota que não fora capaz de cumprir com promessas há tanto esquecidas.
— Me diga,
Al, você se dá muito bem com sua família, certo?
— Sì, sì. Securo. Com toda
certeza.
— Quantos
irmãos você tem?
Al não
escondeu uma risada.
— Bem, ao
todo nós somos em cinco. Virgil, Clemenza, Bonasera, Carmine e eu. Io sono il più giovane della famiglia. O mais novo.
— É
uma família bem grande — Sophie tentou revelar o mesmo sorriso e a
sensação aconchegante que o homem transmitira para ela, mas não
conseguiu. — Mas o que você faria se um de seus irmãos fossem tirados de
você?
A
expressão facial do corvo mudou no mesmo instante.
— Eu
acabaria com qualquer um tentasse.
Sophie
voltou a mexer em seu chá gelado sem interesse algum de bebê-lo. O vinho estava
demorando para vir, e aquele assunto de família viera em uma má hora. Ela
soluçou, levando uma das mãos até a boca na tentativa de engolir o choro e as
memórias que a afligiam. Al Capone imediatamente percebeu o quanto alterada sua
amiga estava, e isso o fez preocupar-se ainda mais.
— Sophie,
o que aconteceu?
— N-Nada,
Al — ela mentiu, como se sentisse o seu coração acelerar e ser moído em
pequenos pedacinhos que nunca poderiam ser juntados. — Por favor, eu preciso
voltar para a guilda, peça para o garçom cancelar o pedido e trazer a minha
conta, rápido.
— Eu pago,
isso é de menos — o corvo assentiu, mas aquilo não fazia a menor diferença.
Sophie o encarou
com olhos avermelhados e cheios de remorso, suas palavras perfuraram o coração
de Al Capone com mais força do que uma bala de prata. O peito da mulher também
doía, mas por motivos diferentes. Ele nunca a vira chorar, e esperava
sinceramente que nunca tivesse acontecido.
— Por
favor, só me leve pra casa...
• • •
— Karl, eu
gostaria que viesse até a minha sala agora mesmo, puó essere, se possível.
A ordem de Al Capone fora clara e explícita. Karl estava
ferrado. Ainda tentava adivinhar qual era a cagada da vez que o corvo tinha
descoberto, — e
como aquilo afetaria seu relacionamento com Lyndis a partir de agora. Achava
inclusive que tinha estado mais tranquilo nos últimos dias, nem se lembrava da
última vez que aprontara, mas só de ouvir a voz do chefão da mádia naquele tom
apreensivo, não tinha tanta certeza de que sairia vivo daquela sala.
Apenas um pedacinho de seu rosto apareceu atrás da porta,
escondendo-se como um cãozinho que tem plena noção de que fez algo de errado. A
voz de Karl estava trêmula e cheia de medo.
— Me
chamou, tio Al? — sua voz mal saiu.
O mafioso
apenas esticou o braço e fez um cumprimento em direção da cadeira.
— Sente-se.
Dos poucos segundos que se passaram da porta até a cadeira,
Karl imaginou as mais variadas formas de morrer pelo pai de sua namorada. Ainda
não fazia ideia do que tinha feito de errado, mas levando o tom de voz do
Honchkrow, não devia ser nada bom. Não encontrava nem forças para perguntar o
motivo de estar ali, mas para seu alívio Al decidiu pronunciar-se e logo
falou dos motivos de sua preocupação.
— Algo
está muito estranho com sua mãe, meu jovem. Questo
non è bueno.
Karl até
retirou seu boné para limpar o suor.
— Ufa,
quer dizer que não tem nada a ver comigo e com a Lyn?
— O que
tem a Lyndis? — O corvo perguntou, desconfiado.
— N-Nada
não, tio Al. Pode continuar...
O homem
respirou fundo antes de prosseguir.
— Você
conhece sua mãe melhor do que ninguém, meu jovem. Ontem à noite, encontrei a
Sophie em um bar perto da guilda, ela já devia estar lá há um bom tempo, mas
posso dizer que cheguei na hora perfeita — explicou o corvo. — Não demorou
muito para que a Sophie passasse mal e eu tivesse de levá-la para casa.
Karl
levantou-se de sua cadeira no mesmo instante.
— O que? A
Sophie passou mal?!
— Não se
preocupe, ela já passa bem. Está de repouso nas Casas de Cura, mas digo o
quanto controverso isso parece, afinal, um médio tem o dever de curar as
pessoas, mas conhecendo sua mãe, ela deve estar se esquecendo de cuidar de si
própria.
Karl logo
deixou de lado todos seus pensamentos de culpa, pois não fazia ideia de que
algo de ruim tinha acontecido com sua mãe.
— Quando
um médico passa mal, quem é que poderá cuidar dele...? Caramba, tio, isso
é preocupante! A Sophie já estava me parecendo bem triste ultimamente com essa
conversa toda de Liga Pokémon e treinos... O senhor a conhece, ela não é uma
mulher de guerras e muito menos de... derramar sangue — falou Karl, apreensivo
com aquela palavra. — Muito pelo contrário, ela sempre foi completamente contra
isso! Ela é do bem, cara. Foi isso que ela sempre me ensinou em casa.
— Lo so, lo so. Sei bem disso, sei bem — Al Capone
ponderou, enquanto observava o pátio da guilda através de uma das paredes de
seu escritório. — E o que mais me preocupa nisso tudo é o fato de nós estarmos
aqui, e ainda assim, não podermos fazer nada.
A cabeça
de Karl girava, ele sentou-se com tudo na cadeira, acabado.
— Cara, e
como eu odeio ser um Pokémon! Esses Remarkable Five estarão ali, enfrentando
nossos amigos que competem por sua própria vida, lutando como gladiadores, e
nós não temos direito algum de intervir!
— Isso
nunca mudará, bambino. Não é nada que não tenhamos feito
até hoje. A diferença é a maneira como encaramos os fatos. A senhorita Sophie
está mais velha, o tempo passou. Ela já não tem a mesma energia de antes —
disse Al Capone. — Mas isso não quer dizer que dentro dela não viva mais a
adorável mulher que nós conhecemos.
— O que
poderíamos fazer pela Sophie então, tio? — perguntou Karl.
Al Capone
levou uma das mãos até sua barba de maneira pensativa. A janela dava visão
perfeita para as Casas de Cura, onde a Gardevoir repousava e só sairia depois
de um ou dois dias de descanso. Aquilo lhe deu uma ideia.
— Chame a
Lyndis, temos algumas coisas a conversar.
— C-Chamar
a Lyn? Agora o assunto tem a ver comigo?
Al Capone
franziu o cenho.
— O que
vocês dois andaram aprontando?
— N-Nada
não, tio! Logo mais estou de volta!
Após um
cumprimento, Karl saiu dali o mais depressa que pôde sem nem preocupar-se com
as outras bobagens que fizera. Aquilo poderia esperar, pois agora haviam
motivos maiores a serem levados.
Demorou
menos de vinte minutos para que Lyndis estivesse pronta e cheia de energia para
resolver os assuntos do pai. Al guiou os dois jovens até a sala de estar, onde
explicou para sua filha o motivo daquela reunião e de que maneira os dois
poderiam ajudar Sophie na jornada que se aproximava.
— Ai, meu
Arceus! Meu Arceus!! Eu não sabia que a tia estava tão mal, isso é terrível —
disse a Infernape toda chateada, apoiando os cotovelos sobre a mesa e esboçando
uma feição vazia.
— Ontem,
enquanto conversamos, Sophie falou muito sobre uma palavra que nos define: Una familigia. Nós somos a
família dela atualmente — explicou-lhes o homem. — Não sei exatamente quem ela
procurava ontem, mas me pareceu seriamente conturbada. Karl, você sabe se a
Sophie tinha algum parente distante por essas terras?
— Olha,
tio, acho que não — explicou o Togekiss. — Na idade dela, duvido um pouco que
tenha familiares próximos, com exceção do irmão perdido que ela tanto me falava.
— Irmão? —
indagou Lyndis.
— Sim, a
mãe é a mais velha, mas ela tinha um irmão mais novo da família, acho que o
nome era... Sōmen, sei lá, coisa
assim. A Sophie também sempre foi muito responsável, ela é quem tomava conta de
todos os negócios da família ainda bem criança, quando seus pais a deixaram.
Aprendeu a lavar, limpar, cozinhar, enfim, tomar conta de tudo.
— Mas o
que a levou a deixar o irmão para trás? — perguntou Lyndis, ainda entristecida
por toda aquela conversa.
Al Capone
relaxou em sua cadeira, dragando a fumaça de seu charuto recém aceso e
encarando o ar vazio à sua frente antes de dizer:
— Algumas
vezes a vida nos obriga a continuar nosso caminho para ajudar os outros. Talvez
a saudade do irmão desaparecido a tenha amargurado ontem à noite, talvez ela
sinta falta... de sua família de verdade.
Karl mal
se moveu ao ouvir aquilo.
— Não
sinto falta alguma da minha família — o jovem Togekiss falou, indignado. —
Quero dizer, da verdadeira. Vocês são a minha família hoje, nem ligo pra quem
veio antes, eles não estavam aqui pra cuidar de mim quando precisei.
— ...Mas
com a tia Sophie é diferente, ela viveu bastante tempo com essas pessoas.
Imagina só, se do dia para a noite a gente tivesse que se separar e você nunca
mais me visse, Karl? — indagou Lyndis, abraçando o jovem com extrema força e
afogando-o em seus peitos. — Acho que eu MORRERIA!
— Bambinos, isso não vai
acontecer — Al Capone acolheu-os de maneira gentil ao levantar-se. — Quero que
me ajudem na cozinha, pois hoje faremos una
splendida sorpresa!
Não era de se surpreender que Al Capone escolhera dois dos
piores ajudantes de toda Sinnoh para cozinhar. Karl não sabia como ligar o
fogão, e Lyndis era tão desastrada que todos os pratos e louças da coleção de
seu pai terminariam em pedaços. Todavia, esperava-se que o mafioso tivesse
algum plano.
Al foi até um armário particular e abriu-o com todo cuidado,
retirando dali de dentro um avental preto com detalhes vermelhos. Retirou o
chapéu e jogou os cabelos para trás, revelando ali uma pessoa que nem mesmo
Lyndis teria imaginado: Um Al Capone cozinheiro.
— Poxa,
tio! Até de avental você fica bem! — brincou Karl.
— Uow,
parece que hoje vamos ter um jantar daqueles! — comemorou a garota dos cabelos
de fogo.
— Mas pra
falar a verdade... Não é mais fácil a gente só pedir uma pizza? — sugeriu Karl.
— E perder
essa oportunidade de ver meu pai colocar a mão na massa? Quer algo melhor do
que um descendente de italiano direto que sabe fazer macarrão, nhoque, e a melhor
pizza do mundo? E tudo em casa! ADORO quando ele faz isso — Lyndis abraçou o
homem com carinho, dando-lhe um leve beijo no rosto.
Al
realmente era um cozinheiro de mão cheia, e isso todos tinham certeza.
— Não se
preocupem, sei bem como preparar uma noite fantástica ao melhor estilo de
Veneza — disse Al. — Quero que a Lyn seja minha assistente. Può essere, minha querida?
Ajude-me no forno, desse jeito a comida ficará pronta mais rápido. E quanto a
você, Karl, bem... Lave as louças.
— Eu sabia
que ia sobrar pra mim...
• • •
Sophie permanecia em repouso em uma maca das Casas de Cura.
Era estranho imaginar que não haveria ninguém para atende-la, afinal, ela era a
enfermeira. Por mais que Al tivesse implorado e feito de tudo para que ela se
sentisse bem e aconchegada, a mulher simplesmente não conseguia ficar parada
enquanto o mundo girava ao seu redor. Precisava levantar-se, arrumar o bar,
lavar alguma louça ou dar uma bronca no Karl. Só sabia que precisava sair logo
dali, antes que começasse a enlouquecer.
Assim que parou de folhear uma revista, foi até o banheiro
olhar-se no espelho. Estava péssima, não dormira muito bem por causa do
incidente da noite passada, e seu irmão, Sonnen, não saía de sua cabeça.
Desejava sinceramente que suas suspeitas fossem erradas, que jamais tivesse de
enfrentar alguém de sua família na Liga, e muito menos o irmão que tanto amava.
E depois de tanto tempo, reencontrá-lo desta forma... Nunca poderia combatê-lo.
Nos últimos dias não encontrava mais forças nem para retocar
a maquiagem ou tomar conta de si própria. Concluiu por si só que estava
péssima, e só conseguia pensar em sair dali o quanto antes.
Ao retornar para o bar, Sophie quis logo voltar a ser como
era nos primeiros dias que entrara na Fire Tales, tão jovem e enérgica.
Preparou uma xícara de café, mas aquilo não a agradava e chegou a tomar algumas
goladas de algo mais forte para esquecer tudo que passou.
Quando Al Capone a encontrou, ela estava debruçada sobre o
balcão.
— Quem
deixou que você saísse da cama, minha donzela? — perguntou Al Capone num tom
carinhoso.
— Eu não
aguentava mais ficar lá, me deixe em paz — retrucou Sophie, com as bochechas
meio avermelhadas. — Foram só dois copinhos...
— Para
você estar nesse estado, creio que foram beeeeeem mais do que só dois copinhos.
Há quanto tempo já está aqui bebendo? Duas horas, pelo menos? — O homem
aproximou-se dela, dando-lhe apoio para erguê-la e coloca-la de pé.
— Al, não
faça isso... Eu estou tão feia... Me deixa dormir.
— Venha,
nós queremos mostrar uma surpresa pra você.
A cabeça
de Sophie virava, e ela nem sabia o que estava perguntando.
— Nós quem?
— Eu, a
Lyndis, e o seu querido filho — respondeu Al com toda a paciência que Arceus
lhe dera.
A cabeça
de Sophie começava a delirar.
—
Filho...? Desde quando eu tenho filho? Eu não tenho filho algum, não tenho
família. Abandonei meu irmão mais novo em busca de trabalho só para ajuda-lo, e
desde então nunca mais o vi. Que tipo de mulher eu sou, que não consigo nem
mesmo cuidar daqueles que tanto me importam?
Al Capone
preferiu manter-se em silêncio e ignorar o comentário, ou as crianças ficariam
muito tristes em ouvir aquilo. Em pouco tempo ele conseguiu levar Sophie até
onde a surpresa a aguardava. Ao chegar em seus aposentos, as luzes estavam
todas apagadas e iluminadas apenas por algumas velas em um clima romântico
intenso. Haviam duas cadeiras, e em cada ponta uma linda taça de vinho estava
disposta. O prato principal consistia de massas dos mais variados tipos, e ao
fundo, uma música italiana antiga tocava, trazendo tantas lembranças de dias
que não voltariam mais.
— E-Eu não
acredito — Sophie levou a mão até seu rosto, não escondendo a surpresa.
— E dessa
vez, garanto que você não terá que lavar a louça e nem cozinhar nada. Está tudo
pronto! — Al Capone garantiu, e escondido ali perto pôde-se ouvir uma voz
distante:
— Claro
que não tem mais louça, quem você acha que que foi o otário que estava
limpando? Mamãe, acho que descobri minha primeira vocação para a vida: Limpador
de pratos. O Al pode mandar ver no banquete, mas bem que ele poderia ser mais
organizadinho, não é?
— Ninguém
precisa saber de detalhes, K. — Lyndis falou com uma risada.
O que
antes nada mais era do que uma singela surpresa, logo fez com que Sophie
levasse as mãos até o rosto para conter as lágrimas que começavam a rolar
soltas. Karl nunca antes tinha visto a mulher chorar, mas aquela vez foi o
suficiente para derramar todas as lágrimas que tinham ficado presas, fossem
elas de tristeza ou felicidade.
Al Capone
guiou-a até o sofá, onde Sophie por fim revelou um lindo sorriso com os olhos
ainda vermelhos e as bochechas coradas.
— Por
favor, não se preocupem comigo. Se estou chorando agora, é porque daqui para
frente nenhuma outra lágrima vai cair.
Ela chamou
Karl para seu colo, onde acolheu-o perto ao peito.
— Então
quer dizer que você limpou todas as louças? Que bonitinho. Por que não faz isso
em casa?
— Porque
você não pede — o jovem Togekiss foi claro em explicar. — Mas nem pense
que só por causa disso vou começar a lavar, passar e arrumar minha cama todos
os dias. É que hoje... Hoje foi um dia especial.
— Foi o Al
quem teve a ideia! — gritou Lyndis, logo o denunciando.
—
Verdade? — Sophie sorriu, puxando Al Capone pela gravata e roubando um
beijo ligeiro de seus lábios. — Então creio que mais tarde vou precisar
agradecê-lo com mais calma. Obrigada pelo vinho que não tomamos naquele dia.
— Ti meriti. Você merece. É o que os membros de
uma família fazem um pelo outro — disse Al. — Cada um de nós
traz um pequeno pedacinho de nosso coração fragmentado, mas juntos, nos
completamos. Algumas vezes não precisamos de laços sanguíneos para considerar alguém como parte de nossa vida.
Sophie
sorriu e concordou, reunindo os quatro ali presentes em um abraço forte e cheio
de carinho.
— Quero que vocês saibam que sempre serão a minha única e mais importante família nessa vida!
— Quero que vocês saibam que sempre serão a minha única e mais importante família nessa vida!