Archive for August 2022
The Post-Game 6
Pokémon P.O.V. [Point
of View, em homenagem aos velhos tempos!]
O Garchomp desviou-se
bem a tempo de escapar de um golpe letal da Pidgeot que desceu com um rasante
feito um torpedo. Suas bicadas feriam com a força penetrante de uma lança, e
suas asas cortavam o próprio vento como se fossem lâminas de aço. Nenhuma
tentativa de usar o Stone Edge
funcionara, e só lhe restava energia para uma última investida.
A Pidgeot alçou voo e
fez uma parábola no ar, os olhos de águia agora fixos em seu adversário. Aerus
preparou-se para atingi-la em uma última tentativa desesperada. Quando desceu
com um Brave Bird, mirou a ponte de
pedras e errou por um triz, sendo atingido no ombro e arremessado no chão com a
colisão. A Pidgeot, entretanto, não se deu conta de um tiro vindo de fora da
batalha que a atingiu na asa direita que começou a fumegar e queimar,
comprometendo seu voo.
— Mayday! Mayday! — A
Pidgeot fez a curva a tempo de amenizar o impacto, mas acabou por
estrebuchar-se no chão e por pouco não quebrar uma das asas no processo. Se não
fosse uma aviadora tão experiente, poderia ter dado fim à sua carreira ali
mesmo.
— Quem
foi o filho de uma meretriz que se meteu no meio da nossa batalha?! —
Aerus berrou furioso, procurando o culpado pelo disparo.
— Não olha pra mim. Meus
tiros não são de fogo — Mikau respondeu logo atrás como quem só quer debochar.
Havia um exército de Heatran
aproximando-se da montanha, emergindo dos rios de lava e infestando as paredes
até que estivessem cobertas. Um deles fez um disparo contra o Garchomp que se
defendeu com suas lâminas que imediatamente começaram a derreter dado o calor
absurdo do magma.
— Parece que estamos
encurralados — disse General. O Dusknoir envolveu sua amada, Froslass, ao redor
dos braços, pronto para protegê-la de qualquer ataque.
— Eu posso tentar conter o
calor, mas são muitos — respondeu Glaciallis.
— Esse era um bom momento
para a guilda estar completa. Cadê o resto do pessoal? — indagou Sophie, a Gardevoir.
— Teremos de nos virar com as
armas que temos em mãos — acrescentou Chaud, o Bastiodon, com seu escudo pronto
para repelir.
O grupo de seis Pokémon
formou um círculo conforme os Heatran furiosos os cercavam, fechando cada vez
mais o cerco. As criaturas metálicas pareciam dispostas a ferir e até matar os
invasores que haviam profanado seu templo sagrado. Não que eles tivessem culpa,
cabia a uma guilda de Pokémon obedecer às ordens de seu treinador, e no momento
sua prioridade era escapar dali com vida.
— Alguém coloca aí o tema dos
Vingadores pra bater a inspiração? — caçoou Aerus.
— Eu nem sei o que é isso,
mas se tem vingança e sexo, então eu gosto — respondeu Mikau com seus tiros certeiros prontos
para atingir o alvo.
O primeiro Heatran deu um
salto na direção do grupo, e foi imediatamente atingido por um Hydro Pump na cabeça. À esquerda de
Mikau, Glaciallis congelava três deles na medida em que General e Chaud
montavam uma barreira ao seu redor. Sophie previu através de seu Future Sight que cinco deles cairiam, e
na sequência uma explosão psíquica os mandou pelos ares.
Aerus estava na linha de
frente do combate quando percebeu que seus inimigos formaram uma fileira e
abriram espaço para seu líder. Um Heatran maior do que qualquer outro
aproximou-se suntuoso, armado até a cabeça em ferro e metal e cuja espada
flamejante fumegava em uma das mãos.
— Você deve ser o alfa —
presumiu o Garchomp.
O cavaleiro não disse palavra
alguma, mas a espada zuniu em sua mão pronta para o embate. Aerus defendeu-se
da primeira investida, buscando a melhor alternativa de enfrentá-lo sem
utilizar seu melhor golpe. O Earthquake
era uma técnica perigosa. Com todos seus companheiros por perto, o golpe
acabaria por atingi-los e até comprometer a estrutura da montanha. O cavaleiro
não estava para brincadeira, continuou a avançar com ferocidade, dominado por
uma fúria avassaladora. Existia certa sutileza na forma como sua espada era
empunhada, deixando um rastro de fagulhas e brilho incandescente que cortava o
ar.
Aerus ativou suas lâminas e
usou o Dragon Claw bem no peito do
cavaleiro, fincando-as na armadura de aço. Para o seu azar, elas ficaram
presas, o que deu a abertura para que seu oponente lhe devolvesse uma cabeçada
que o fez enxergar estrelas.
Sophie correu para
socorrê-lo, dando cobertura através do Heal
Pulse para que recuperasse a energia. Mikau estava começando a ficar sem munição,
e os Heatran inferiores continuavam a proteger seu alfa.
O grupo viu-se encurralado
mais uma vez, pressionados contra o abismo de lava sobre eles. Os Fire Tales
podiam ter muitas histórias para compartilhar ao redor de uma fogueira quente,
mas encarar todo um exército da guilda vulcânica era suicídio.
O cavaleiro marchava com
passos pesados, aguardando a rendição. Agarrou Aerus pela garganta e o ergueu à
sua altura. Só se enxergava um par de olhos alaranjados por baixo do elmo que protegia
sua cabeça como uma coroa. Sua voz gutural espalhava terror e insegurança:
— Vão se arrepender de ter
pisado em solo sagrado — disse o cavaleiro.
— É que tenho o costume de
entrar sem ser convidado pra festa — murmurou Aerus que nunca perdia a chance
de provocar alguém.
A manopla de ferro começou a pressioná-lo
com mais força, mas um tiro o atingiu com precisão no ombro e o fez soltar com
um grito de dor. Mikau estava sem munição, então quem poderia ter sido?
Na abertura mais distante da
caverna, o Gyarados de Amy certificou-se de que o próximo seria na cabeça, pois
seu título como um dos maiores atiradores de Kanto o presidia. A guilda de
Pidgeot veio ao seu resgate, trazendo consigo o Primeape campeão de luta dos
pesos médios, a Sneasel que atuava nas sombras como assassina de aluguel, o
Venomoth cujos venenos letais derrubavam reinos e o Gengar Shiny que se
limitava a rir e caçoar da situação.
As duas guildas uniram forças
para controlar a batalha, combatendo um a um os soldados vulcânicos que
protegiam o templo até que não sobrasse nenhum. O Cavaleiro de Fogo se reergueu,
e sua espada ardeu como um farol na escuridão. Aerus estava pronto para seu
embate final quando percebeu que o som da batalha cessou, e nenhum de seus
companheiros lutava mais.
Olhou para trás por
curiosidade e avistou uma única mulher erguer-se contra todos eles. Era uma
descendente da tribo ancestral dos Garchomp, alta, esguia e de porte invejável
como uma rainha de outrora. O mero vislumbre de alguém tão importante capaz de
emanar uma aura esmagadora como aquela o fez pensar em Titânia, e seu coração
se encheu de saudade. General e Chaud fizeram uma mesura ao reconhecerem a
ilustríssima figura, e até mesmo Mikau intimidou-se diante de sua presença.
Aerus precisou retirar seus óculos escuros assim que ela passou ao seu lado.
— V-você... — Seus lábios
tremiam ao dizer seu nome.
— Kayla. O prazer é todo seu.
Vim em nome de minha mestra, Cynthia, para colocar um fim em toda essa guerra
desnecessária — respondeu a Garchomp, convicta. — Se continuarem lutando, ambos
os lados sofrerão casualidades. E se alguém ainda quiser lutar... então venha.
Eu serei sua adversária.
Um a um, os soldados Heatran
largaram suas espadas e se renderam. Mesmo os Fire Tales reconheceram que a
mera presença dela era o bastante para fazer qualquer um abaixar as armas.
Porém, o Cavaleiro de Fogo não se deu por intimidado, e com velocidade impressionante
ergueu sua espada flamejante contra ela. Kayla limitou-se a erguer sua lâmina,
e sem que qualquer um pudesse acompanhar seu movimento, o inimigo foi atingido
tantas vezes que sua armadura inteira se rompeu, sendo completamente retalhada.
Tendo sido derrotado em
combate, todos puderam ver o verdadeiro rosto do cavaleiro. Era uma mulher de
cabelos vermelhos e olhos incansáveis, pingando suor após a exaustiva batalha.
Sua visão ficou turva, as pernas cederam e seu corpo fraquejou para a direita, mas
Aerus lhe deu apoio para que continuasse de pé.
— Um líder não pode cair na
frente de seus homens — disse o Garchomp.
A cavaleira sorriu e
concordou, passando a admirá-lo ainda mais.
— Você é mesmo tudo aquilo
que falam e mais um pouco.
— Pra conhecer mais de mim,
só convivendo com esse bando de loucos que chamo de família — brincou Aerus,
deixando no ar um convite indireto para que ela se juntasse aos Fire Tales.
Com a situação controlada,
sua atenção voltou-se à Garchomp, uma das primeiras a consagrar-se campeã no
Torneio das Guildas e provavelmente a figura mais forte e influente em todo o
reino. Aerus aproximou-se dela de queixo erguido, e quem não o conhecia
imaginou que ali aconteceria um embate entre alfas para disputar quem era o
mais poderoso; embora seus amigos de longa data da guilda soubessem bem o que
ele estava para trazer.
— Eu não acredito que to te conhecendo! Eu sou
seu maior fã! — disse Aerus explodindo de empolgação como uma criancinha que
encontra seu ídolo pela primeira vez. — Mano do céu, esse é o dia mais feliz da
minha vida! Digo, talvez seja o segundo, porque antes vem o nascimento da minha
filha; mas posso dizer com certeza que conhecer você estava na minha listinha!
— Encantada — correspondeu
Kayla, acostumada com os fãs.
— Será que... você podia
assinar o meu tanquinho?
— Aerus, essa não é uma boa
ideia... — General estava para acrescentar o fato de que Titânia não iria
gostar nem um pouco de ver o nome de outra mulher escrito na barriga de seu
macho, mas Mikau fez menção que ele ficasse quieto só para ver o circo pegar
fogo.
— Vocês da Fire Tales são
mesmo uma figura! — brincou Kayla.
— Quer dizer que a senhorita
já ouviu falar sobre nós? — perguntou Chaud.
— Se ouvi? Garoto, vocês me
inspiraram a voltar. Se tivermos a chance, eu adoraria poder enfrentá-los no
Torneio de Guildas algum dia. Sem fatalidades dessa vez, claro.
— Pode deixar que eu me
comprometo a reunir o bando! — disse Aerus contente. — Nós não paramos de
treinar desde que nos consagramos campeões aquele ano. Olhando para trás,
passou mesmo um tempão... E quer saber? Eu senti saudade de tudo isso. Estamos
ansiosos para voltar!
i
Luke arremessou a Dusk Ball que acertou com precisão a
Heatran fêmea que acabara de ser derrotada. A pokébola tremeluziu três vezes
antes de confirmar a captura do Lendário Pokémon. As demais criaturas
vulcânicas retornaram para dentro de seus buracos e rios de magma,
escondendo-se assustados quando perceberam que a situação se agravara.
— Acho que nossa batalha meio
que fugiu do controle — mencionou Amy.
Luke olhou para o alto e
percebeu que a montanha estava, de fato, ruindo.
— É. Deu ruim.
— Está acontecendo.
Finalmente meu plano está tomando forma — murmurou o Profº Charon, escondido
atrás de uma pedra.
Através da interferência da Magma Stone e o caos gerado pelos
Heatran, o vulcão adormecido sob a Stark
Mountain estava prestes a explodir. Amy retornou seus Pokémon, convicta de
que agora tinha um objetivo muito mais importante para resolver do que limpar a
sujeira deixada pelos Rockets. Muito distante dali, Luke pôde avistar Cynthia
acenando com um dos braços. Ela estava em uma área elevada no interior da
montanha, e enviara sua Garchomp para auxiliar na batalha. Junto dela estava
Dawn, em segurança, o que aquietou o coração de Luke e o permitiu concentrar-se
em outros problemas.
— Temos que impedir esse
vulcão de entrar em erupção, ou colocaremos em risco a vida de milhares de
pessoas que vivem nessa ilha — Luke contou para Amy, buscando algum conselho.
A moça por sua vez não tardou
a perceber que alguém se escondia ali perto. Quando Charon tentou escapar, ela
deu um pisão em seu jaleco e o fez tropeçar e ir de cara ao chão.
— Você é quem está por trás
disso tudo, não é? Diga-me agora o que temos de fazer para reverter essa
situação — Amy o confrontou.
— Nada. Vocês não precisam
fazer absolutamente nada — retrucou Charon. — Isso não é irônico?
— O que está tentando
insinuar? — indagou o rapaz.
— Luke Wallers — Charon
dirigiu-se a ele. — Você não percebe como sua vida é abençoada? Todas as coisas
se ajeitam para você e seu irmão, mesmo que através de soluções impossíveis
como um tremendo deus ex-machina.
Você sempre tem a certeza de que tudo vai terminar bem, não é? É como se vocês
fossem abençoados... pelas divindades.
Uma enorme rocha desgrudou-se
do teto e por pouco não os atingiu. Luke começou a juntar as peças e só
conseguiu pensar em seu irmão. Lukas namorava uma deusa. A mulher que eles conheciam como Paula não passava do
disfarce de uma entidade divina capaz de controlar as dimensões do espaço,
alterando a realidade a bel prazer. Seu nome verdadeiro era Pearlutina, e era
inegável o quanto sua proteção afetara sua jornada. Estaria aquele tempo todo apostando
tão alto porque o destino estava do seu lado?
— Está insinuando que tudo
que eu conquistei foi mera sorte? — questionou Luke furioso, puxando o velho
cientista pela gola.
— Eu não chamaria de sorte —
ponderou Charon. — Mas é inegável que alguém
quis que você chegasse até aqui, não acha?
Lava começou a ser expelida,
e o calor estava prestes a se tornar insuportável. Amy chamou por Cosmo e Star
e ordenou que eles ajudassem na evacuação de quem quer que ainda estivesse
preso dentro do laboratório dos Galactic. Enquanto se preparavam para a fuga, a
Comandante Mars deu as caras, mas acabou por encontrar-se com quem não
gostaria.
— Tia Martha? — Luke esboçou
surpresa ao vê-la. — Por onde você esteve? Estávamos todos procurando por você.
Mamãe não tem notícias sua há meses...
— E-eu... — A Comandante
pareceu acuada, e não quis lhe dar satisfações. — Me perdoe.
Martha correu na direção
oposta, abandonando seu compromisso com os Galactics e também a sua segurança.
Luke estava para ir atrás dela quando Amy o impediu.
— O que você tá fazendo?! Ela
é a minha tia!
— Deixa que eu resolvo —
retrucou Amy. — Ela está passando por algo que nenhum de vocês entenderia. Eu
prometo que irei trazê-la de volta. Concentre-se em ajudar as pessoas a
evacuarem a montanha em segurança.
Ainda que não a conhecesse
tão bem, Luke sabia que podia confiar em uma treinadora tão forte e capacitada.
Deixou a caverna às pressas enquanto Amy corria em direção do perigo atrás de
Martha, cada vez mais fundo no coração da montanha.
Martha estava surda para tudo
que se movesse. Sua dor era tanta que ela já não conseguia escutar a razão. Amy
chamou seu nome mais de uma vez, mas sem resposta. Não podia chamar sua Pidgeot
que seria um alvo fácil pelas pedras que despencavam. Subiu escadarias
ancestrais e quase a perdeu de vista quando tropeçou e ralou o joelho. Estava
se esforçando até demais por uma pessoa desconhecida.
“Ei. Mas essa é a Amy que eu
conheço. Sempre colocando o bem estar do próximo acima do seu”, ela pensou na
voz de Ethan que a apoiaria mesmo na pior das situações.
— Não. Eu sou egoísta e só
faço o que me beneficia — ela pensou em voz alta, tentando se sabotar. — Quando
foi a última vez que quase me sacrifiquei para salvar alguém que eu amava?
“Se eu estou aqui, é por sua
causa. Então trate de voltar pra mim.”
— Merda — ela chacoalhou a
cabeça, livrando-se daqueles pensamentos ao perceber o quanto ainda era
apaixonada por ele. — Não me espere acordado, amor.
Assim que alcançou o cume da
montanha, Amy percebeu que estava em uma sala sem saída. Martha estava parada
no fim dela, encarando a parede como se esperasse que alguma coisa saltasse
dali.
— Ainda não acabou —
mencionou Martha, procurando algum sinal. — Eu vi acontecer na primeira vez.
Sempre acontece à iminência de alguma tragédia. Está quase chegando.
Amy ajeitou seu chapéu ao
perceber que uma lufada de ar consumiu a câmara. Entre as rochas daquela sala
remota, uma fenda rachou a matéria e abriu um portal para outra dimensão.
Parecia que uma parede de vidro havia se trincado por completo, dando espaço
para uma abertura que levava a outra realidade.
Amy jamais ouvira falar sobre
algo parecido, mas quando se deu conta de que Martha iria pular dentro da
fenda, só soube que precisaria segui-la.
ii
As duas saltaram no portal,
sendo transferidas para um mundo paralelo ao que viviam. Assim que abriu os
olhos, Amy levou um susto com pequenos pedaços de rocha que flutuavam em sua
frente como se não houvesse gravidade. Levantou-se e viu que o céu estava
púrpuro, e não havia estrela alguma.
— Que lugar é esse? —
perguntou Amy.
— É o Distortion World — concluiu Mars, incrédula. — Eu sabia que ele
existia, mas não pensei que... eu não achava que seria capaz de encontrá-lo.
— Nós causamos isso?
— Sim. O Profº Charon vinha
estudando uma forma de abrir fendas para outros mundos, e descobriu que isso
acontecia com certa frequência quando meus sobrinhos estavam envolvidos. Não
tente dar sentido a esse lugar.
— E o que encontraremos desse
lado? — Amy a pressionou, mas Martha começou a correr em busca de algo.
Ou alguém.
As duas corriam apressadas
saltando entre pedras e plataformas que flutuavam. Não se escutava som algum,
não havia nada naquele mundo imaterial onde todas as leis conhecidas não tinham
efeito. Quando deu-se conta, Amy estava de ponta cabeça e Mars passava
repetidas vezes por ela sem sair do lugar.
— Martha, espere! Por que você
veio aqui? O que procura? — perguntou Amy.
— Eu vim buscar o meu filho —
ela respondeu com convicção.
Amy começou a reunir os
fatos. Seria aquele mundo uma espécie de inferno na mitologia de Sinnoh? Se ali
se encontravam todas as pessoas falecidas, torcia para que nenhum fantasma
viesse assombrá-la, ou teria sérios problemas.
Martha não pensava em seu
falecido chefe, Cyrus, nem em qualquer outra pessoa do passado que gostaria de
rever. Só conseguia pensar em seu filho, e aquele sentimento desesperado fez
suas pernas se moverem.
A única certeza que tinham
era de que não estavam sozinhas. Era impossível que um local sagrado como
aquele não tivesse o seu protetor. Estavam andando sem sair do lugar, mas em
algum momento a Comandante Mars simplesmente parou e sentiu o corpo congelar.
Amy não deu nem mais um passo.
Havia uma gigantesca serpente
adormecida no núcleo daquele mundo. A criatura de escamas prateadas estava
enrolada em si própria, repousando em silêncio absoluto. Sua dimensão
ultrapassava os sete metros, e suas asas retraídas se pareciam com as de um
demônio. Amy fez sinal de silêncio, ao qual Mars obedeceu.
— “Vá.” — A treinadora abriu
a boca sem emitir som algum.
— “Para onde?” — perguntou
Mars em silêncio, assustada demais para reagir.
— “Buscar o seu filho.”
Quando se deu conta, a
serpente abriu um dos olhos. Mars correu para a direita e não olhou para trás.
Amy continuou escondida atrás de uma pedra ao passo que a serpente se contorcia
inteira como se despertasse do sono de mil anos com uma fome voraz. Seu
objetivo era desviar a atenção de Martha e, quem sabe com um pouco de sorte,
sair dali com vida.
Martha não soube exatamente
para onde seguir, mas confiou que seu instinto a guiasse. Havia inúmeras saídas
do Distortion World, fendas que
levavam a lugares no universo dos quais ela nem poderia sonhar, mas somente uma
delas a levaria de volta ao seu lar.
Ela procurou, procurou e
procurou. Olhava para seu interior esperando que a resposta estivesse ali,
nítida em sua frente. Viu lugares estranhos, mundo futuristas e terras de um
passado esquecido. O que chamou sua atenção em uma das fendas foi a imagem de
uma mulher com cabelos vermelhos muito parecidos com o seu. Martha parou e se
aproximou devagar com a mão estendida.
— Esta... esta sou eu? —
perguntou-se ela.
Quase não se reconhecia. Era
uma versão mais jovem, muito mais bonita e atraente. Sentiu-se horrível por ter
o corpo ferido, e aquilo só a fez pensar que nunca devia ter se tornado mãe.
Mas a verdade era que sentia inveja de sua irmã adotiva, Melyssa, que concedeu
a vida a Luke e Lukas, dois verdadeiros campeões.
— Não é justo — Martha
lamentou em seu silêncio, indo de joelhos ao chão. — Não é justo. Não é justo.
E então, ela ouviu um
chamado. Alguém a chamou de “mãe”. Martha ergueu os olhos e procurou dentro de
cada uma das fendas, mas não via sua criança. Começou a se arrastar por entre o
chão de poeira, triste e esgotada com tudo aquilo, mas o chamado se repetiu.
“Mãe, você está aí?”
— Sim. Sim, querido, onde você
está? Como posso vê-lo?
Martha abriu os olhos e
encarou uma fenda onde se via um rapaz belo de cabelos vermelhos como os seus,
mas com os traços de Proton, seu marido. Ela soube na mesma hora que aquele era
o seu filho, talvez vindo de outro universo onde ele havia sobrevivido e,
assim, puderam viver uma vida felizes juntos.
— Você é tão lindo... —
Martha murmurou com os lábios ressecados, tentando esticar a mão para tocá-lo,
mas em vão.
O rapaz ergueu a mão e quis
retribuir o gesto, mesmo que não sentisse.
“Eu estou bem, mamãe. Senti a
sua falta.”
— Eu também, querido, todos
os dias. Queria estar ao seu lado para sempre.
“Não é certo na natureza que
um filho se vá antes daqueles que o geraram. Esta não é a ordem das coisas. No
seu mundo eu posso ter partido cedo demais, mas, no meu, você nos deixou para
que eu pudesse viver.”
— Então... eu morri? —
indagou Martha com preocupação. — Quem cuidou de você e sua irmã?
“Nós tivemos de aprender a
nos virar. Sem uma mãe, a vida não tem tanta graça. Mas você precisa continuar
sendo uma por inteiro para cuidar daqueles que ainda estão ao seu lado. Não
desista deles.”
Martha fechou o punho e quis
abraçá-lo, mas aquela realidade era tão cruel que nem aquilo ela tinha o
direito. Acenou com a cabeça e prometeu dar o seu melhor. Tinha perdido um
filho, mas sua primeira filha ainda estava ali por ela. Proton a amava e
protegeria enquanto tivesse forças para respirar.
Sentiu-se ingrata por ter
agido daquela forma, abandonando sua única família. Era hora de voltar e pedir
perdão para quem sabe assim tivesse a chance de recomeçar. Martha encarou
dentro da fenda para tentar guardar na memória a imagem do filho. Pensar que em
algum lugar ele crescera para se tornar um rapaz tão bonito a fez sentir-se
orgulhosa, pois todo pai deseja acima de tudo que seu filho obtenha sucesso.
Não precisava compará-lo com seus sobrinhos, ele podia não ser nenhum Campeão
ou Top Coordenador, mas aos seus olhos sempre seria especial — pois era o seu filho.
— Mamãe te ama — Martha
murmurou baixinho antes que o portal se fechasse. — Prometo que um dia vamos nos
reencontrar.
Giratina sabia que alguém
invadira sua morada. Com um sibilo, Amy teve a impressão de que pôde escutar
uma voz como se conversasse com um humano.
“Como entrou aqui?”,
perguntou Giratina. A serpente oscilava sua atenção, deixando claro que ainda
não sabia exatamente onde ela se encontrava, embora soubesse que estava ali.
“Faz muito tempo que não recebo visitas.”
Amy sentiu o coração disparar
e a respiração ficar mais densa. E Giratina também sabia disso.
“Não fique nervosa. Eu não
lhe farei mal algum”, disse a serpente ardilosa. “Saia das sombras para que eu
a veja.”
A garota não se convenceu, e
decidiu provocá-la.
— Sou aquela digna de amor.
Amy acessou uma memória muito
antiga de quando ainda era menina e sua mãe lia histórias antes de dormir. Em
uma delas, um indivíduo de origem simples confrontava um dragão em um jogo de
enigmas, o que despertou seu interesse e permitiu que ele escapasse de sua cova
com vida. Se pudesse colocar tal habilidade em prática, quem sabe assim
conseguisse enganar a própria morte?
“Continue”, ordenou Giratina.
— Sou banhada em verde, e
conquistei o Coração de Ouro.
“Seus títulos têm a minha
atenção”, disse a serpente cada vez mais interessada. “E de onde você vem?”.
— Da terra onde tudo se
originou.
“E você sente saudade de seu
lar?”.
— Sinto.
“E por que se esgueira em minha
casa como um ladrão em busca de algum tesouro perdido? O que tenho a lhe
oferecer, senão dor e perda?”.
Amy precisou pensar rápido.
Não podia dizer que entrara ali por acidente, ou tudo pareceria coincidência
demais. Precisava prender a atenção de Giratina, e quem sabe levá-lo a cumprir
com o que queria.
— O que você tem não se
encontra em nenhum lugar do meu mundo.
“Isto é uma charada?”, ponderou
a serpente, sentindo-se desafiada. Giratina flutuou por algum tempo
contemplando os arredores e pensando no que possuía e que não existia em nenhum
outro lugar. Com certeza não seriam pedras, mas estava de mal humor e não
queria ficar de piadinhas com seu visitante, por isso respondeu: “Uma alma”.
Amy prendou a respiração. O
que diria agora?
“Eu sei quem você busca. Ele
está aqui, esperando-a a muito tempo”, disse Giratina. “Você deseja mesmo
encontrá-lo?”
— N-não... — Amy vacilou em
um segundo de fraqueza. Não podia pensar nele. Não podia demonstrar fraqueza
para que a serpente entrasse em sua mente e fizesse o que bem entendesse com
ela.
Mas era tarde demais. Amy
viu-se de frente a um espelho, mas em sua frente havia uma garotinha de apenas
dez anos. Enxergou a si mesma quando saiu em sua primeira aventura Pokémon, uma
criança assustada sem os pais, cujo coração era repleto de apatia e
insegurança.
Atrás da menina veio um homem
vestido de terno. A criança pediu colo, mas o homem não a enxergou. Amy continuou
a seguir o espelho, cada vez mais imersa naquela lembrança tão dolorosa.
— P-pai? — ela repetiu.
Giovanni olhou em sua
direção, como se pudesse escutá-la, mas sem vê-la. Ele parecia preso dentro
daquele mundo, uma alma que não se dera conta de que havia partido. Amy fechou
os punhos e sentiu raiva. Não queria lembrar-se dele. Não precisava dele. Agora
era uma mulher crescida, tinha a própria vida e quem a amasse do jeito que ela
era. Ele nunca estivera ao seu lado quando precisou. Não seria levada a pensar
que poderia fazer algo para remediar aquela ausência.
“O que você diria ao seu pai
se pudesse encontrá-lo outra vez?”, Amy escutou a voz da serpente a incitá-la.
Ela encarou seu reflexo e
pensou pelo que pareceu uma eternidade.
— Eu não preciso de você.
“Sssssim.”
— Quando eu finalmente achei
que tinha fugido de você, eu nunca mais quis encontrá-lo. Mas você continuava
sendo o meu pai. Você mentiu para mim a vida toda, e depois omitiu algo que eu
precisava saber. Você queria que eu tivesse nascido homem para substituí-lo um
dia, mas pelo visto vim com defeito por ser mulher. Você me odiou simplesmente
por eu vir ao mundo como sou.
“Sssssim.”
— Mesmo assim, você ainda me
assombra nos meus sonhos, como se implorasse por perdão. Sua partida se deu cheia
de mágoas e arrependimento. Você se foi cedo demais, e nunca tive a chance de
lhe dizer isso.
“O quê, Amy? O quê você diria a ele?”
Com lágrimas nos olhos, a
garota encarou a criança no lado oposto ao espelho. A menina apertou com mais
força um Bulbasaur de pelúcia que carregava nos braços. Amy libertou todo
aquele misto de sentimentos que vinha acumulando ao longo dos anos, e com a voz
embriagada, enfim admitiu:
— Eu te perdoo, pai. Por ter
me deixado para seguir com sua vida. Pode não ter sido a coisa certa, mas sei
que foi da única forma que sabia fazer. Nós dois somos egoístas, e isso herdei
de você. Mas também herdei a vontade de vencer, de chegar ao topo do mundo e
ter a certeza de que todos os dias fiz o que pude. Um dia eu me tornarei você
também, mas quero que saiba que serei uma versão melhor, muito melhor.
Amy limpou uma lágrima
solitária que escorria pelo seu rosto e olhou para trás.
Giratina a observava quieto,
quase relutante. Gostava de colocar humanos frente a frente com seus piores
medos, mas detestava vê-los vencendo. Banhava-se no caos, e seu alimento era a
desesperança, a raiva e o ódio.
A serpente voltou a
encolher-se e retornou devagar para dentro das sombras de onde saíra, enrolada
como um feto, muda e enfraquecida. A brincadeira havia perdido toda a graça.
O espelho rompeu-se em mil
pedacinhos e Amy viu-se liberta daquele mundo, e também de todos os medos da
responsabilidade que um dia a assombraram. Ela fechou os olhos, e sentiu-se em
paz consigo mesma.
The Post-Game 5
Cynthia não suportaria ficar
nem mais um segundo sequer trancada dentro de casa. Nunca fora do tipo que esperava
algum herói ir salvá-la. Tornou-se o símbolo que gostaria de ter tido quando
menina, queria influenciar toda uma geração de treinadores. Desde pequena
gostava de se embrenhar no meio do mato em busca de novas aventuras e Pokémon,
e por mais que muitas fossem arriscadas e repletas de perigos para uma criança
de sua idade, delas nasceram oportunidades transformadoras.
A pequena Verity estava com o
Piplup de Dawn em seu colo, observando sua mãe andando de um lado para o outro
com agitação. Duke estava triste e cabisbaixo após mais uma derrota humilhante,
não seria a primeira vez que era impedido de proteger a sua treinadora quando
ela mais precisou. Cynthia também não conseguiu pregar os olhos à noite
pensando na segurança de Dawn, mas com a insônia vieram também novas ideias e
alternativas.
Dirigiu-se apressada ao seu
escritório. Pelo vão da porta, Verity pôde observá-la retirar do fundo falso do
baú um compartimento secreto trancado a sete chaves. Havia uma pedra de
estranho formato com uma fenda e dois buracos nas laterais, um artefato
extremamente antigo que atiçou sua curiosidade, mas não quis ser xereta e
perguntar o que era.
— Espero não estar arriscando
demais... — ponderou Cynthia consigo mesma.
Ao sair do escritório, já
estava de malas prontas. Verity brincava desenhando na mesa da sala quando sua
mãe passou apressada e lhe deu um beijo na testa de despedida.
— Que desenho bonito. Onde é?
— perguntou Cynthia.
— Onde eu morava antes —
respondeu Verity com tranquilidade, pondo os lápis coloridos de lado. — Pra
onde você vai?
— Mamãe tem algumas
pendências para resolver — respondeu Cynthia. — Eu pedi para alguns amigos
ficarem de olho em você, eles devem chegar daqui a pouco. Não me venha aprontar
com eles, hein? São três dos treinadores mais fortes que conheço, só para ter
certeza que nada de ruim irá lhe acontecer.
Verity encolheu os ombros e
deu risada, fingindo-se de desentendida. Quando Cynthia estava com a chave em
mãos, o Piplup de Dawn correu em sua direção e começou a rodeá-la, pedindo
incessantemente que a levasse junto.
— Ah, Duke, eu não sei...
pode ser perigoso para alguém do seu tamanho.
O Piplup estufou e bateu no
próprio peito com força, insinuando que não tinha medo de nada. Cynthia riu,
afinal, como poderia negar ajuda de um Pokémon tão determinado?
A campainha tocou e ela logo
foi atender. Em frente à sua casa estava ninguém menos do que Riley, Cheryl e
Buck, três dos integrantes originais dos Stat
Trainer que estavam por perto e se ofereceram para a difícil tarefa de
cuidar da criança de uma campeã.
— Fala aí! Firmeza? — falou
Buck apressado cumprimentando com acenos e gestos e já entrando na casa para
ver o que tinha de bom na geladeira.
— Ah, querida... — disse
Cheryl, abraçando sua amiga na tentativa de confortá-la após tudo que ocorrera.
— Eu conheci a Dawn na primeira vez que eles passaram por Eterna. Ela é uma
menina de ouro. Logo agora que você se estabilizou em uma casinha confortável
para chamar de sua, algo terrível assim acontece. Existem muitas pessoas más
nesse mundo.
— Eles não tardarão a
trazê-la em segurança. Você tem os melhores do seu lado — falou Riley com
confiança. — Até lá, dou a minha palavra de que sua filha estará segura
conosco.
De fato era a primeira vez
que seus amigos a visitavam em muito tempo. A notícia de que Cynthia tinha uma
filha daquele tamanho pegou a todos de surpresa assim que souberam, e não dava
para esconder que estavam curiosos para saber mais sobre a misteriosa criança.
Verity continuava na sala,
alheia às visitas. Era uma garotinha de cabelos castanhos e sorriso
contagiante, mas não se parecia em absolutamente nada com Cynthia. Assim que os
viu, Verity deu um salto de onde estava e correu para cumprimentá-los como se
já os conhecesse de longa data.
— Tio Rye, você também veio! —
disse a menina referindo-se a Riley. Em seguida ela olhou para Cheryl e ficou
pasma como ela tinha um corpo bonito. — Puxa, Sabi, quando foi que cresceu
tanto? Você não tinha uns peitõooes desse tamanho! — Ela enfim viu Buck voltar
da cozinha de boca cheia e não pôde deixar de comentar: — E você... você é a
cara da tia Zisu. Eu não sabia que ela também tinha filhos, isso é muito legal!
Vou ter mais gente com quem brincar.
Os Stat Trainers encararam Cynthia, sem entender absolutamente nada do
que aquela garota parecia falar. Será que ela os estava confundindo com outra
pessoa? Cynthia levou a mão ao rosto e lamentou não ter tempo.
— Eu explico tudo depois, mas
agora realmente preciso ir. Fiquem de olho nessa pestinha. Ela é curiosa... até
demais.
Assim que Cynthia fechou a
porta de sua Villa, os três companheiros se entreolharam e pensaram que não
seria tão difícil tomar conta de uma criança. Tinham uma mansão inteira ao seu
dispor, e a hidromassagem aquecida parecia estar funcionando perfeitamente.
— Bom, eu não sei vocês, mas
vou usufruir só um pouquinho dessa vida burguesa — disse Buck já com uma toalha
de banho nas costas.
Estava quase entardecendo,
mas Cynthia continuava disposta a viajar através de toda Battle Zone se fosse para encontrar sua amada. Estava sem nenhum
Pokémon no time, exceto por uma pedra enigmática e um desengonçado Piplup que
se apressava para acompanhar seu passo e recusava-se a ser carregado no colo.
Se a noite os alcançasse, temia que Duke não fosse o suficiente para protegê-la
de eventuais predadores.
— O que houve? Já cansou? —
perguntou Cynthia, olhando para trás só para ter certeza de que o Piplup não
tinha infartado. — Vamos lá, ainda nem começamos a nossa escalada. Segundo o
Luke, devemos encontrá-lo na base da Stark
Mountain. Eu só não consegui mais estabelecer contato algum, acho que está
sem sinal.
Cynthia parou de andar e
encarou o céu. As estrelas estavam radiantes, e a lua crescente era
perfeitamente visível. Só a ideia de que aquele era o mesmo céu visto em Sinnoh
há mais de quinhentos anos a fazia conectar-se com a região, pois sabia que
ainda havia tanto a se explorar! Sentia saudade da inquietação de uma jornada,
e por mais que agora o assunto exigisse urgência, cogitou até sugerir sair para
aventurar-se com Dawn em algum lugar distante, quem sabe visitar sua casa de
veraneio em Unova e conhecer novas pessoas e Pokémon.
O Piplup puxou a barra de sua
calça, chamando a atenção da mulher. Podia não ser um bom lutador, mas seus
extintos apitavam que eles tinham companhia.
— Saia daí quem quer que
esteja se escondendo, ou vai sofrer as consequências — alertou Cynthia como seu
único aviso.
Do meio da mata surgiu um
homem de meia idade vestindo um sobretudo bege, roupas formais e sapatos
envernizados. Seu semblante era convicto, tinha os cabelos levemente grisalhos
e escovados com cuidado. Não se parecia nem um pouco com um aventureiro, estava
mais para algum tipo de detetive que saíra da sessão de clássicos na biblioteca
de Galar para se perder no meio de um matagal sem repelente para Cutiefly.
— Assumo que você seja a
Srta. Cynthia. Sua reputação a precede — disse o homem, erguendo a mão com um
distintivo da polícia antes mesmo que ela se apresentasse. — Pode me chamar de
Observador, ou Looker se achar que tudo no inglês fica mais chique. Ou
Bellochio. Ou Beladonis. Ou simplesmente Mr. Handsome para os íntimos. Tenho
vários nomes, um para cada continente. São meus disfarces.
— Fascinante — respondeu
Cynthia, pouco interessada.
— Onde estão seus Pokémon?
Vejo que está sem nenhuma pokébola. Acho difícil acreditar que uma treinadora
capaz como você decidiu se aventurar pela região com um inicial como se ainda
fosse uma jovem.
— Perdão? — Cynthia
questionou, ofendida. — Está insinuando alguma coisa sobre minha idade?
— De forma alguma — Looker
respondeu, cauteloso.
— Quanta indelicadeza... E
respondendo sua pergunta, o sistema ainda não deu baixa e entende que estou com
seis Pokémon na equipe, por isso não me permite sacar uma sétima pokébola.
— Estamos cientes do
sequestro que ocorreu em sua morada na tarde de ontem, senhorita, inclusive do
roubo de seus Pokémon. A polícia foi acionada. Estamos em uma operação secreta
há mais de cinco meses seguindo os passos dos membros remanescentes dos
Galactic que se espalharam por Sinnoh.
— Eu não pedi a ajuda de
vocês — respondeu Cynthia de forma ríspida. Ela se lembrava com clareza da
ameaça de Petrel, alegando que se a polícia se envolvesse, pessoas iriam se
machucar. Achava que a presença de tanta gente só dificultaria as coisas, ainda
mais agora que Luke estava tão próximo de localizar o paradeiro deles.
Cynthia e Duke retomaram o
caminho da selva deixando Looker para trás, mas o detetive voltou a segui-los
no seu encalço.
— Ouvi dizer que a senhorita
estuda mitos e lendas do Mundo Pokémon — disse ele.
— Pois é — confirmou Cynthia,
pouco interessada em compartilhar mais de seu conhecimento tão valioso. — Muito
do que ouço falar por aí não passa de fantasia, teoria sem embasamento. O tipo
de história que busco não tem jogos de política, bombas e tiroteios como no
tipo de livros que o senhor deve gostar de ler para sair por aí brincando de
Detetive Wobbuffet.
— Não tenho tempo para essas
brincadeiras, senhorita. Meu negócio é onde as coisas acontecem — contou o
detetive. — Eu sempre estou um passo à frente de meus inimigos. Quando você
menos estiver esperando, eu estarei lá.
— É mesmo? Puxa, espero que
não chegue atrasado então — respondeu Cynthia com um sorriso forçado.
A mulher apressou-se alguns
metros a frente quando Looker decidiu perguntar:
— O que você entende sobre
fendas temporais?
Cynthia parou e olhou
na direção dele de forma alarmada. Não quis deixar transparecer, mas aquele era
um assunto que vinha levando como segredo absoluto até mesmo de pessoas que
amava. Looker ajeitou a gravata ao perceber que tocara num tópico delicado,
exatamente como havia planejado.
— Acreditamos que os Galactic
estão querendo trazer seu antigo chefe de volta através de uma fenda do Distortion World.
— Ah — Cynthia soltou uma
indagação, parecendo um pouco aliviada. — O mundo da antimatéria. Dizem que
está no lado reverso ao nosso.
— Sim. Não podemos deixar que
isso aconteça, você entende, não?
Cynthia respirou com pesar.
Havia muito mais em jogo do que simplesmente resgatar sua companheira das mãos
de criminosos. Sabia o quanto os Galactic e os Rocket podiam ser perigosos,
ainda mais quando unidos. Desde o princípio havia dito a si mesma que não se
envolveria naquelas loucuras, mas agora só podia desejar que Luke estivesse bem
e em segurança.
i
Dentro da redoma repousava
uma pedra vermelha que brilhava como se fosse lava, cujas bordas distorcidas
emitiam uma energia densa o bastante para superaquecer o vidro blindado que a
protegia. O Professor Charon examinava cuidadosamente uma pequena fratura
extraída da Magma Stone através de um
microscópio, estudando as reações causadas cada vez que misturava água e outros
elementos orgânicos. A pedra os derretia quase que instantaneamente, por isso
era necessário manuseá-lo através de um maquinário eficiente e sempre com
proteção adequada.
Alerta
vermelho! Alerta vermelho!
Sua concentração foi
interrompida no momento em que o alarme soou. Charon nem se deu ao trabalho de
olhar para trás, tão concentrado que estava. Perto da saída, Petrel fumava um
cigarro até o talo, seus dedos batucando com impaciência sobre o batente da
mesa.
— Não vai ir verificar o que
é que tá rolando? — perguntou Petrel, pouco interessado.
— Não. Contratei você para
ser o músculo dessa operação. O cérebro é por minha conta — respondeu Charon,
concentrado no estudo da pedra.
Petrel jogou o cigarro
no chão e o apagou com uma pisada forte.
— Nunca vou entender
cientistas e essa sua ciência imbecil.
— É por isso que nunca se
formou na escola, Petrel — retrucou Charon, com os olhos grudados em seu
microscópio.
O executivo saiu ainda mais
irritado do que antes, já farto de ter que trabalhar com aqueles Galactic
imprestáveis e seus sonhos surreais. Sentia falta da facção que o abraçara em
tempos de necessidade. Os Rocket sempre tomavam o que queria, mesmo que para
isso tivessem que usar a força. Aquele cientista não passava de um lunático. Se
pudesse, teria acabado com ele ali mesmo e faria parecer um acidente
laboratorial.
Enquanto seguia através dos
corredores espremidos do esconderijo, escutou o som do que parecia ser uma
batalha. Se a polícia estivesse mesmo envolvida não tardaria para que eles se
espalhassem como baratas, mas havia uma tensão estranha no ar.
O chão começou a tremer.
Petrel precisou se apoiar em uma das paredes. Quando se deu conta, um Garchomp
passou disparando por baixo da terra, cortando ferro e metal como se fosse
papel. Logo atrás vinha uma Sneasel que se esgueirava pelas sombras com
velocidade impressionante. O dragão brecou e fez uma curva com agressividade,
pronto para interceptar sua adversária frente a frente. A Sneasel tentou
defender-se, mas levou uma pancada forte o bastante para arremessá-la do outro
lado.
— Sorrateira, Icicle Crash! — ordenou Amy.
A felina soprou um ar gélido
que congelou um enorme pedaço de rocha que despencou de uma das paredes. Usou
suas garras para fatiá-la até transformá-la no que parecia um estalactite,
atirando-o em direção do dragão como se fosse uma lança. O Garchomp tentou
defender-se com os braços, mas a lança o perfurou no ombro e o prensou contra a
parede, causando uma dor lancinante.
— Nenhum Garchomp
sobreviveria a um golpe do tipo gelo como esse — comentou Petrel, transtornado.
— Essa Sneasel... parece que eu já a vi em algum lugar.
O Garchomp não se deu por
vencido. De alguma forma ele parecia estar carregando uma Berry consigo, e no
momento em que a consumiu, o gelo pareceu nem surtir efeito. Dessa vez ele devolveria o ataque em dobro,
causando uma ponte de pedras através do Stone
Edge que atingiu a Sneasel em cheio, nocauteando-a de imediato.
— Eu fiz minha lição de casa —
mencionou Luke do outro lado. — As Yache
Berries possuem propriedades que diminuem o impacto de golpes de gelo.
— Pelo visto você não é leigo
mesmo, apesar da cara de bobo — comentou Amy, antecipando o próximo passo. —
Para a próxima luta vamos precisar de um pouco mais de espaço.
O sistema de eletricidade do
laboratório sofreu uma descarga e então todas as luzes se apagaram. Petrel só
conseguia pensar que precisava dar logo o fora dali, só precisava encontrar
alguma saída de emergência. Seguiu a única luz vermelha que conseguiu
encontrar, mas por algum motivo ela estava se distanciando cada vez mais. A luz
piscou, e através dela pôde enxergar um assustador Dusknoir de braços cruzados
cujo único olho o fitava como se prestes a consumi-lo. Petrel sentiu as pernas
estremecerem e partiu na direção oposta, mas do outro lado uma sombra
fantasmagórica espreitou-se pelas paredes até desaparecer como um sopro. Ele
podia escutar sua risada sinistra ecoando por toda parte.
— Um Gengar...! — afirmou
Petrel. — Eu só conheço uma pessoa que tinha um desses na equipe, ainda por
cima shiny.
O Gengar disparou uma Shadow Ball contra Petrel que se agachou
segundos antes da esfera maligna atingir o Dusknoir no peito. General
contraiu-se com o impacto, mas tão logo recobrou a pose. Com um soco potente,
devolveu um Shadow Punch na mesma
moeda, acertando seu oponente aonde quer que ele tentasse se esconder.
— Por que você chama seu
Gengar de Blue se ele não é azul? — perguntou Luke, só por curiosidade.
— Porque eu o capturei quando
ele era um Gastly e, para sua informação, existe uma vertente da espécie desses
fantasmas que emite uma fumaça azulada extremamente rara. Fui uma dessas
afortunadas — contou Amy.
— Maneiro. Acho legal você
dar nome para os seus Pokémon. Só os fortes fazem isso — disse o rapaz. — Por
sinal, eu ainda não sei o seu.
— É Amanda Green — ela disse
confiante.
— Se falou o sobrenome, então
deve ser importante. Sou Luke Wallers.
A batalha estava começando a
sair do controle. O velho Charon respirou com pesar, mas ao menos concluíra a
primeira etapa de sua pesquisa. Quando desligou seu maquinário, a Magma Stone ainda estava fervendo tanto
que seria impossível pegá-la com as mãos.
— O que fazemos agora,
senhor? — indagou Cosmo.
— Nós esperamos — respondeu
Charon. — Já provocamos a pedra, não tardará para que seus donos venham
recuperá-la, atraídos pela energia que ela emite.
— Mas se os Heatran vierem,
isso não poderá acarretar na erupção do vulcão adormecido sob a Stark Mountain? — insistiu o assistente.
— Isto seria uma catástrofe.
— Sim. Catástrofe. Esta é a
palavra — disse Charon com o semblante sombrio. — Sempre que um perigo iminente
desses está para assolar um continente, acontece um evento que gosto de chamar
de ruptura das fendas. Elas são completamente aleatórias e podem acontecer em
qualquer lugar do mundo, mas podemos também forçar uma rachadura no tempo-espaço.
Bastam alguns minutos para que elas se fechem, e isso faz com que sejam seladas
para nunca mais serem vistas.
— E a garota... ela viu uma
dessa fendas no Spear Pillar quando
perdemos o Mestre Cyrus — Star mencionou.
— Precisamente. E, graças a
ela, dessa vez eu sei exatamente onde haverá uma. E é para lá que rumamos.
Charon juntou uma pasta com
seus principais arquivos confidenciais e uma bolsa com alguns poucos pertences.
Era claro que ele não pretendia retornar. Aquele velho laboratório já havia sido
condenado e era questão de tempo até que os Heatran chegassem e consumissem
tudo com seu fogo.
Sua mão pousou sobre o botão
de abertura da porta quando ele percebeu que havia água entrando por entre as
frestas. Cosmo e Star se entreolharam, ponderando qual deles se esquecera de
desligar a torneira ou dar descarga na privada. Quando se deram conta, a porta
arrebentou como uma barragem e uma enxurrada de água varreu o laboratório
inteiro.
Os corredores se
transformaram em um tobogã, cuspindo-os para fora com a força de uma torrente
marítima. Charon ajeitou os óculos e olhou para cima a tempo de ver um enorme
Gyarados disparar um Hyper Beam na
direção de um Kingdra que desviou-se por alguns poucos segundos. Mikau mirou e
fez um único disparo certeiro do Hydro
Pump dentro da boca da serpente, arremessando-a com força contra o chão.
— É, parece que os Heatran
serão o menor dos nossos problemas — brincou Charon, limpando o jaleco e
ajeitando seus pertences. — Esses dois sozinhos vão causar a erupção do vulcão.
Luke e Amy batalhavam com
ferocidade, enfrentando-se com a determinação inesgotável de dois campeões que
se recusavam a desistir. Seus Pokémon estavam no auge de sua força, e não
fariam feio frente a um adversário desconhecido. Havia certa confiança por
parte de cada um que entrava em batalha, uma vontade exagerada de vencer
independente de aquilo influenciar ou não no resgate de Dawn — que, por sinal,
fora largada em algum lugar do laboratório feito um saco de batatas.
— É impressão minha ou aqui
dentro está esquentando? — perguntou Amy com malícia.
— Olha, faz tempo que não
sinto uma empolgação dessas em uma batalha — falou Luke, limpando o suor da
testa.
Os dois olharam para o alto e
se deram conta de que ainda estavam dentro na montanha, aproximando-se cada vez
mais de seu centro. Dava para enxergar o céu através da abertura por onde
fumaça e enxofre eram expelidos. As paredes da montanha eram salpicadas de
vermelho como se magma fluísse através delas em uma cachoeira constante.
E então, o primeiro deles caiu
como uma rocha desgrudando da montanha. Luke olhou para o alto e notou que mais
pedras se formavam como se fosse um enorme formigueiro vivo. Havia uma
infinidade de Heatran que fizeram do vulcão sua morada, infestando as paredes e
nadando em rios de magma. Eles haviam sido atraídos do abismo de seus lares em
busca da Magma Stone, vociferando com
suas mandíbulas metálicas enquanto trituravam ferro e rocha.
— Está prestes a acontecer —
disse Charon com a cápsula térmica da pedra em mãos.
ii
Cynthia havia acabado de
alcançar a montanha quando notou que a fumaça expelida se tornara densa e
escura. Com sorte havia chegado alguns minutos antes da polícia, tempo o
suficiente para resolver as coisas do seu jeito.
Duke provou-se um excelente
companheiro, especialmente em uma região com predominância de Pokémon do tipo
fogo, pedra e terrestre. Varreu todos por seu caminho, abrindo espaço para que
a treinadora alcançasse a entrada do laboratório. Cynthia deparou-se com tudo
inundado, equipamentos danificados e qualquer tipo de prova simplesmente
destruída. Deixaria aquilo a cargo da polícia, pois no momento sua prioridade
era encontrar Dawn e tirá-la dali em segurança o quanto antes.
Piplup parecia ter um ótimo
senso de direção, localizando-se através das poças d’água que se formaram com a
inundação para buscar rastros e até o cheiro de sua treinadora. Ele corria
apressado até demais para um pinguinzinho desengonçado. Duke estava tão
preocupado quanto qualquer outro com Dawn.
O ar começou a esquentar.
Cynthia sabia que estava chegando ao centro da montanha. Assim que alcançaram a
saída, ela percebeu que estavam em uma área muito mais distante e elevada da
montanha onde era possível enxergar de longe Luke travar uma batalha épica contra
Amy.
Abaixo deles, um rio de lava
corria fumegante com uma centena de Heatran furiosos. Sobre eles, Petrel
segurava Dawn amordaçada e com uma faca em seu pescoço.
— Fique quietinha e
comporte-se como uma boa garota — ordenou o Rocket.
Por mais assustada que
estivesse, Cynthia não deixou transparecer em momento algum sua preocupação.
Petrel era o tipo de criminoso mais perigoso que agia com imprudência e, por
fim, recorria à violência quando encurralado num sinal de desespero. Dele, não
podia esperar nada. Duke estremeceu ao dar-se conta de que sua treinadora
estava em perigo outra vez, mas Cynthia procurou acalmá-lo.
Em seu cinto, Petrel
carregava as seis pokébolas roubadas do time da treinadora. Dawn a encarou nos
olhos, e acreditou que tudo terminaria bem.
— Tome cuidado, Petrel. Você
está entrando em um terreno sem volta — disse a ex-campeã.
— Qual é, você não vai
perguntar o que eu quero? — confrontou o homem. — Dinheiro? Fama?
Reconhecimento? Eu perdi tudo. Pode parecer
idiota, mas eu quero me vingar de todos vocês, de qualquer pessoa, de toda essa
gente feliz seguindo com suas vidas pelo mundo, se aventurando ao lado do um
Pokémon inicial que amam. Nem todos têm essa chance, sabe?
— Oh, pobrezinho. Tão
incompreendido — Cynthia o provocou, o que o deixou cada vez mais irritado. —
Você não passa de uma mera sombra do que já foi a facção criminosa mais respeitada
e influente no Mundo Pokémon. Ninguém aqui tem medo de você.
— Medo? Quero ver você dizer
isso quando eu estiver com uma faca em sua garganta.
— Eu vou te ensinar o que é
medo — ralhou Cynthia.
Com apenas uma das mãos, a
treinadora posicionou misteriosa pedra que trouxera de sua casa. Era a primeira
vez que usava algo considerado tão perigoso. Conhecida como Odd Keystone, dizia que dentro daquela pedra
estavam aprisionados 108 espíritos malignos que foram banidos por conta de sua
maldade constante há quinhentos anos.
A pedra tremeluziu quando sua
chave foi rompida. Contorcendo-se como uma criatura finalmente liberta de seu
cárcere, de dentro dela saiu uma aberração exorcizada de olhos penetrantes e
barulho ensurdecedor. Petrel sentiu suas pernas tremerem diante da presença do
Spiritomb, um Pokémon tão antigo que suas lendas foram esquecidas pelos livros
de história. Cynthia vinha estudando aquele Pokémon há muito tempo para
descobrir uma forma de colocá-lo em seu time e ser capaz de controlá-lo.
O Spiritomb abriu sua boca e
começou a sugar tudo ao seu redor para dentro do vazio. A distorção causada foi
forte o bastante para chamar a atenção dos Heatran e perturbar o vulcão. Um
terremoto foi sentido por conta da batalha travada entre Luke e Amy. Uma enorme
pedra desprendeu-se e por pouco não atingiu Petrel e Dawn que precisou se jogar
para não serem atingidos. Cynthia correu para socorrê-la, mas o chão começou a
rachar prestes a desmoronar. Com dedos ágeis, atirou uma Quick Ball na direção do Spiritomb e o capturou efetivamente, um
acerto crítico. Mas a distração serviu para que Petrel a agarrasse pela perna
enquanto os dois escorregavam em direção do rio de lava.
— Eu caio, mas vou levar um
de vocês comigo...! — gritou o criminoso.
E então, Petrel sentiu uma
pedra chata acertá-lo bem no meio da testa. Não fez mais do que um arranhão,
deixando um filete de sangue escorrer até sua boca.
— Uma... Everstone? — indagou Petrel.
Quando se deu conta, um
Piplup enfurecido correu em sua direção e disparou com a força de um canhão,
dando-lhe uma cabeçada em cheio no abdômen. O impacto o fez escorregar e soltar
Cynthia no susto. Pokémon e criminoso deslizaram pelo piso que cedeu sobre seus
pés rumo a sua sina iminente, e durante a queda ainda foi possível escutar um
último grito de desespero por parte de Petrel, quase que um clamor em nome da
facção que tanto amara: “Vida longa aos
Rockets!”.
— Pinguim! — Cynthia gritou alarmada.
Ela correu e prostrou-se
sobre a beirada do precipício quando uma luz ofuscante tomou conta do ambiente.
Ao se dar conta, havia um Prinplup segurando-se com esforço na beirada e com um
cinto contendo seis pokébolas intactas, arrancadas das calças do criminoso.
Cynthia o ajudou a subir e o abraçou com tanta força que Duke sentiu-se um
vencedor. Dawn não conseguia parar de chorar, estava tão contente por rever
seus amigos, e principalmente por seu primeiro Pokémon ter aberto mão de sua
forma inicial que tanto prezava somente para salvá-la.
— Eu sempre acreditei em
você, Duke! Você nunca desistiu de mim, e eu nunca vou desistir de você! —
disse Dawn, envolvendo-o em um forte abraço.
Cynthia juntou-se a eles num gesto caloroso e agradeceu os céus por estarem bem. Sua missão agora fora concluída, mas um novo problema se formou — a montanha não tinha mais salvação e a erupção era iminente, condenando toda a ilha conhecida como Battle Area a afundar no oceano.