- Back to Home »
- Fanfiction , Sinnoh 2.0 »
- The Post-Game 4
Era a primeira vez que
Amy viajava até Sinnoh, e em outros tempos gostaria de ter feito isso para
desfrutar das paisagens, visitar os resorts com vista para o mar
e ostentar nos cassinos e hotéis mais luxuosos da região. Precisou se
controlar, pois hoje estaria ali a trabalho.
Estava esperando que
fizesse frio para comer um delicioso fondue
de chocolate em Snowpoint antes de voltar, mas ninguém lhe dissera que o verão
em Sinnoh fazia tanto calor. Seus longos cabelos balançavam ao toque do vento,
e ao invés de optar por uma infiltração sigilosa, fez questão de garantir uma
passagem em um cruzeiro que logo iria atracar na Battle Zone na ilha a nordeste de Sinnoh.
Com seu chapéu verde
camuflado, óculos de sol e blusão largo por cima do vestido, a intenção era
justamente passar despercebida e conseguir estudar o paradeiro dos
remanescentes dos Rockets antes que mais alguém soubesse que estavam retomando
as atividades. Sentia-se responsável pelos atos daqueles imbecis desde que
assumira o controle da facção após a morte de seu pai, Giovanni, havia tantos
anos. Apesar da clara ordem de suspender toda e qualquer atividade ilegal,
havia quem não compactuasse com seus planos e não considerasse a liderança de
Amanda Green eficaz. Mas Amy não era tão complacente quanto seu pai com quem
não obedecia suas ordens.
E falando em ordens,
havia um namorado carente a esperando em Johto que ansiava por qualquer sinal
de vida desde sua partida.
— Ei. Desculpinha por sair
sem avisar no meio da madrugada. Ainda sou horrível com despedidas — disse Amy
enquanto fazia uma chamada de vídeo através de seu PokéGear.
“Não esquenta. Já te conheço bem. Amanda Green sempre faz o que quer”,
disse a voz de Ethan do outro lado. Ele vestia um avental de margaridas com uma
espátula na mão e um extintor de incêndio na outra. Seu Typhlosion vistoriava
tudo da sala, só por precaução.
— Eu percebi mesmo que minha
mochila estava pronta. E você até se deu ao trabalho de preparar uma marmitinha
para a viagem, que fofo da sua parte. Fala sério, eu tenho ou não tenho o
melhor namorado do mundo?
Ethan corou do outro lado da
linha com o elogio, mas estava focado demais em fazer a panela de pressão não
explodir.
— Tá se alimentando direito?
Eu não quero voltar pra casa e encontrar um corpo desnutrido e desidratado na
cama porque você não sabe fritar um ovo direito.
“Eu sei fazer pão na chapa. Por sinal, estou fazendo isso agor-- AI, MEU
DEDO!”
— Amor, estou começando a
pensar em abortar essa missão... Quer que eu volte pra casa?
“De forma alguma! Você precisa ir resolver os problemas que os Rockets
continuam causando. Nós ficamos devendo isso pro Proton e a filha dele.”
— Tô só brincando. Eu não ia
voltar mesmo — disse Amy com uma risada.
A treinadora encarou a
imagenzinha em seu celular por algum tempo, rindo da maneira como Ethan tentava
dar o seu melhor em se virar e cuidar da casa durante a ausência da namorada.
Amy jamais diria aquilo em voz alta, mas poderia ficar observando-o de longe o
dia inteiro, e até encontrava certo charme nele ser um palerma que se esforçava
tanto para fazer as coisas darem certo. Tudo por ela.
—
O que está pensando em fazer amanhã além de ser um fracasso? —
indagou Amy.
“Muito engraçado. Não piore minha autoestima”, disse Ethan com
sarcasmo. “É difícil ficar sem você... Eu preciso fazer alguma coisa,
estou ficando doido!”
— Você já explorou cada canto
de Johto, o que tem para de descobrir? Céus, New Bark parece mesmo um vilarejo
do interior depois que viajamos até outros continentes, aí só tem caipira!
“Poxa, não fala mal da terrinha...”
— Tá bem, tá bem. Eu amo New
Bark. Posso ter nascido em Kanto, mas meu coração está em Johto, porque você
está aí — Amy começou a tagarelar enquanto ia mostrando a paisagem do navio. —
Ei. Eu estava lembrando aquela vez que
você me beijou no Lago da Fúria... ou melhor, eu estava desacordada. Nós dois
sabemos que você só se aproveitou de uma dama indefesa e fez o que bem
entendeu.
“E-era uma respiração boca a boca,
tá legal? Ouch! Calma aí que tropecei no Sand estirado no tapete.”
— Acho melhor eu voltar pra
casa antes que você e o Tai coloquem fogo em tudo. Quer apostar que termino o
serviço até o fim de semana? — Amy olhou para o mar e ajeitou uma mecha no
cabelo. — Mesmo que esteja fazendo calor, os ventos que sopram aqui são bem
gélidos, parece até a Jynx tentando me matar congelada de novo. Ah... E quando tivermos a chance, quero voltar com você.
“Eu vou adorar. E sabe que você está
bem sexy vestida assim? Estou doido para te encontrar e arrancar peça por peça
de você.”
— Eu quebro seu nariz — disse Amy com uma risada calorosa. —
Vou desligar agora porque já estamos quase na costa. Se cuida, seu boçal. Te
amo. Beijo-beijo.
Dava para enxergar a
gigantesca Battle Tower muito longe
na costa, erguendo-se majestosa em meio ao mar infindo como um pináculo de
poder. A Fight Area recebia inúmeros
treinadores estrangeiros que se preparavam para o desafio dos cem andares, mas
Amy tinha outro objetivo. O primeiro passo era investigar e descobrir qualquer
avanço suspeito na região nos últimos meses sem levantar suspeitas da polícia.
— Vamos começar estudando o
cenário. Pidgeot, é hora da carona.
Amy lançou a pokébola de seu
Pokémon pássaro que se materializou e esticou as asas para demonstrar
inquietação. Sua Pidgeot era uma das maiores já registradas, capaz de carregar
até três treinadores em suas costas e atravessar um continente.
As penas do Pokémon reluziam ao sol, com a crina multicolorida brilhando como
um arco-íris.
Amy subiu em suas costas e
sobrevoou a região, encantada com o quão bela Sinnoh era. O Monte Coronet
erguia-se no centro por onde uma nuvem densa pairava, mais ao norte podia ver
focos de neve em Snowpoint e ao sul toda a beleza das praias maravilhosas de
Sunyshore.
O vento soprava forte e o sol
esquentava a cabeça. A Pidgeot praticamente planava sobre as nuvens, sempre
rumando ao norte. Ela tinha tamanho domínio do céu que sua treinadora podia se
dar ao luxo de estudar a topografia da região e fazer possíveis anotações em um
caderno sem se preocupar em dirigi-la.
Tudo seguia na mais perfeita
calma quando Amy escutou o som de sirenes. Segurou o chapéu e olhou para trás,
notando que havia uma pequena cabine automática com hélices barulhentas que
mais se parecia com um mini-helicóptero aproximando-se. Ela revirou os olhos e
aguardou. Quando a cabine foi aberta havia um homem uniformizado ali dentro,
vestindo óculos escuros e chapéu da Guarda Florestal. Empoleirado em seu ombro
havia um Chatot de olhos esbugalhados e bico torto. O policial retirou os
óculos e balançou a cabeça lentamente.
— Bonito, hein.
— Escuta, Seu Policial, eu
nem estava acima da velocidade, todos os meus documentos estão em ordem, pode
verificar. Sou nova na região, então me perdoe se eu estiver infringindo alguma
lei que eu desconheça, e--
Amy começou a inventar tantas
desculpas que o próprio policial ergueu a mão e pediu que ela parasse.
— Fica tranquila, moça. Só
estou falando que esse seu Pidgeot aí... é mesmo uma nAve, sacou? Esse é o
maior que eu já vi em toda minha vida. Precisei até parar pra perguntar — disse
o homem em tom de surpresa. — Primeira Geração?
— Ah, você gostou? É sim, uma
Kantoniana clássica, 6 IVs e focada em velocidade. Foi um dos meus primeiros
Pokémon da vida. Cuido dela desde garotinha.
— Eu sou fissurado em Pokémon
voadores. Quando menino até me inscrevi para me tornar líder de ginásio do tipo
aqui na região, mas não consegui passar da segunda fase. Vou te contar, eu
tenho um Staraptor, Quarta Geração, 3 IVs que já é uma mão na roda, mas ele não
chega aos pés dessa belezinha aqui.
— Ela é linda mesmo, não é? —
disse Amy enquanto afagava as penas de seu estimado Pokémon e falava com a voz
mais fina. — Quem é a diva da mamãe, hein? Quem é?
— Mamãe-mamãe! Kraaaaw! — repetiu Chatot.
Amy olhou feio em direção do
Chatot que até se encolheu no ombro de seu dono.
— Então a senhorita vem de
Kanto — ponderou o policial com a prancheta em mãos, em pleno voo. — O que veio
fazer por essas terras gélidas bem durante o verão? Pretende participar da Battle Tower com essa superpotência?
— Ah, só estou atrás de
algumas experiências novas. Sabe de algum bom lugar pra treinar?
— Sim, eu recomendaria a Stark Mountain em outros tempos, mas no
momento a área está com acesso bloqueado. Ouvi dizer que a Polícia Internacional
foi acionada, eles farão uma operação até o anoitecer, acredita?
— Jura? — Amy se fez de
desentendida. — Ah, então é melhor eu ficar longe mesmo! Imagine só se eu acabo
trombando com algum desses ladrões de Pokémon? Eu iria detestar que levassem minha
pobre Pidgeot!
— Isso seria uma tragédia! —
espantou-se o policial. — Nunca se sabe quando um ladrão pode estar disfarçado
bem na nossa frente, né? Enfim, vou ter que pedir que tome cuidado ao sobrevoar
essa área. A fumaça do vulcão pode ofuscar seu campo de visão, mesmo para um
foguete experiente como sua Pidgeot.
— Pode deixar, Seu Policial!
— Mamãe-mamãe! — gritou o Chatot em despedida, e só pelo olhar Amy
deixou bem claro que se aquele papagaio dissesse mais alguma coisa ela o
ensinaria uma palavrinha nova que iria bani-lo de todas as competições globais
por uma década.
Assim que o policial deu as
costas com seu veículo motorizado barulhento, Amy deu um rasante com sua
Pidgeot que mergulhou tão depressa abaixo das nuvens que ninguém pôde
enxergá-la. Por obra do acaso ou descuido das autoridades, ela agora sabia que
a P.I. estava com uma operação não-tão-secreta marcada na famigerada Stark Mountain. Sua investigação
começaria por ali.
Ela desceu nas proximidades
da floresta, preferindo buscar alguma passagem na base da montanha. Por se
tratar de um local tão famoso era de se esperar que houvesse mais treinadores
na região, mas no momento não havia ninguém.
Ao descer da Pidgeot, ela
esticou a mão para frente ao perceber que pequenos floquinhos pareciam pairar
pelo céu. Seu chapéu já estava sujo nas bordas. Ela pegou a fuligem preta e a
amassou com a ponta dos dedos.
— Cinzas vulcânicas —
murmurou ela.
Para estudar o solo, lançou a pokébola de um Pokémon que vivia bem em regiões montanhas. Sorrateira,
sua Sneasel, não estava nem um pouco contente por dar as caras em um lugar tão
abafado e fedido que não se lembrava em nada com sua morada, mas cumpriria sua
parte do trabalho e logo voltaria a descansar.
A Sneasel farejou o ar. Só
podia ser enxofre, e com toda certeza a origem do cheiro a levaria ao centro do
vulcão. Amy precisou se apressar para acompanhar a Sneasel que não se
incomodava em olhar para trás. Sua treinadora conhecia tão bem seus Pokémon que
só precisava se dar ao trabalho de dar-lhes a instrução uma única vez.
— O que encontrou,
Sorrateira?
A Sneasel estava parada
diante do que parecia uma zona de descarte e resíduos, com pedaços de vidro e
material orgânico utilizado em pesquisa. Aquilo era um sinal mais do que óbvio
de que havia atividade humana nas redondezas.
E eles não deviam estar tão
distantes.
Em pouco mais de uma hora a
Sneasel localizou uma passagem discreta nas raízes da montanha, perto do que
pareciam ser termas aquecidas por vapor. Amy aproximou-se só para verificar com
a pontinha do dedo a temperatura da água que estava ideal. Sentiu vontade de
despir-se ali mesmo e passar algumas horas relaxando naquela banheira natural,
mas já entardecia e a Polícia Internacional daria início a sua operação.
Ao adentrar a passagem, o ar
começou a ficar cada vez mais quente e abafado. O local era todo iluminado por
um sistema elétrico antiquado, o que indicava ao menos que alguém o vinha
frequentando. Devia funcionar como uma saída de emergências, pois era um longo
corredor que serpenteava cada vez mais fundo nos confins da montanha.
— Parece um laboratório velho
— comentou Amy. — Isso aqui está cheirando a Rockets.
Amy não avistou uma alma viva
nos poucos minutos que se infiltrou na base. Sua Sneasel caminhava à frente
pronta para atacar caso necessário. A treinadora saiu investigando qualquer
pista que pudesse expô-los, mas só encontrou pesquisas e livros acadêmicos. Em
um dos armários havia uma série de uniformes cinza com detalhes preto
estampando um logotipo em forma G que ela nunca ouvira falar.
Amy e seu Pokémon se
entreolharam. Sua Sneasel estava claramente a julgando.
— Não olhe assim pra mim. Uma
vez ladra, sempre ladra.
Amy vestiu o uniforme cafona
e tirou um minuto para se olhar num espelho trincado no canto da sala. Deu uma
bela olhada em sua traseira, preocupando-se que tudo estivesse devidamente em
ordem. A roupa era um pouco cavada, com um tipo de collant apertado que ia por
baixo usando botas e calças listradas.
— Por Arceus, como é que
alguém em sã consciência sai na rua com um uniforme desses? Não é à toa que os
Rockets ganhavam todo ano no festival de moda com o Melhor Uniforme.
No fim do corredor escutou
vozes se aproximando. Os pesquisadores deviam estar começando a voltar ao
serviço.
Amy esgueirou-se nas sombras
com profissionalismo, pois desde pequena adquirira experiência para passar a
perna mesmo nas equipes criminosas mais perigosas do mundo. Escondeu-se embaixo
de uma mesa e parou para escutar. Quando olhou de relance, um rapaz e uma moça
chegaram e sentaram-se em frente aos seus computadores, conversando sobre algo
extremamente importante do qual Amy não compreendia.
— Star, você acha que devo
arriscar?
— Não sei, Cosmo. Quantas
gemas você conseguiu juntar esse mês?
— Umas 200, mas não sei se
isso é o suficiente para eu conseguir a personagem que quero. São só 3% de
chance, se eu gastar 155 gemas então posso ter um garantido, mas não vai sobrar
nada para tentar as waifus de biquíni
no fim do mês.
— Vai ter algum husbando bonitão?
— Sempre tem. Se der sorte,
eu pego os dois.
Cosmo estava pronto para
arriscar a sorte. Rezou para todos os deuses que conhecia e prometeu ser um
capanga melhor para sua facção caso obtivesse êxito, e na décima sétima
tentativa, a tela brilhou anunciando que um personagem Ultra Raro estava a
caminho.
— Glória a Arceus! — berrou Cosmo com as mãos
ao alto.
Antes mesmo que pudesse
comemorar a maior conquista de sua vida, sentiu as garras de uma Sneasel ao
redor de seu pescoço. Do outro lado, sua companheira também havia sido
imobilizada pela ladra.
— Quem são vocês? — Amy
perguntou agressiva. — Para quem estão trabalhando? Que tipo de pesquisa fazem
aqui? — Após um breve intervalo de interrogações, ela os pressionou: — Vocês
não estão trabalhando para os Rockets, estão?
— Rockets? Claro que não.
Somos Team Galactic com orgulho —
respondeu Cosmo.
— Ou pelo menos o que sobrou
deles — concordou Star.
— Galactic? Nunca ouvi falar —
mentiu Amy. De fato não os conhecia pessoalmente, mas lembrava-se do breve
relato de Proton sobre sua operação. — O que fazem debaixo dessa montanha como
se estivessem atuando no sigilo?
— Nós pesquisamos Pokémon.
Estamos estudando clonagem.
— Eu sabia! — afirmou Amy. —
Então há de fato algum Rocket envolvido nisso.
— Nós não suportamos esses
caras — contou Cosmo. — São todos um bando de egocêntricos que só visam roubar
e não hesitam em ferir os outros para atingir seus métodos. Sim, temos um ou
outro atuando aqui conosco. E seríamos muito gratos se pudesse dar um fim nos
que restaram.
— Estamos começando a falar a
mesma língua — disse Amy com interesse.
Cosmo e Star não hesitaram ao
contar “quase” todos os detalhes que sabiam sobre as pesquisas do Profº Charon
na Stark Mountain. Contaram sobre os
eventos da Grande Criação que precedeu uma investida da polícia e os membros da Liga que liquidaram de
vez a presença dos Rocket no continente. Amy, por motivos óbvios, não contou a
eles que era a mandante da facção, mas também ela não tinha culpa se Archer e
outros ex-executivos agiram por suas costas para reerguer os planos de Giovanni
longe de Kanto.
“O Proton não tinha me
explicado a história toda... parece que eles fizeram um estrago em Sinnoh
também”, pensou Amy. “Me sinto responsável por isso. Está na hora de colocar um
fim de uma vez por todas na Equipe Rocket e seu legado de terror.”
— Como posso encontrar os
membros que sobraram? — indagou Amy.
— Um dos representantes deles
está aqui. Posso guiá-la se quiser.
Cosmo a guiou através dos
corredores que se dividia em inúmeras passagens, Amy atingiu a sorte das
grandes por contar com aquela escolta. Quando alcançaram seu objetivo, ele fez
sinal de silêncio e apontou para dentro de uma salinha escura antes de se
retirar.
Amy confiava que seus Pokémon
poderiam resolver qualquer problema. Sneasel estava de garras expostas, e seu
Primeape pronto para nocautear quem ousasse escapar. Não sabia com qual dos
ex-executivos estava lidando, e cogitou até mesmo que alguns deles tivesse
voltado do mundo dos mortos para assombrá-la.
Uma moça de cabelos negros e
jaleco branco estava sentada de costas para a porta, um sinal de claro desleixo
tendo em vista que uma das regras primordiais dos Rockets era sempre sentar-se
onde se tem visão da saída para uma eventual fuga quando necessário. De fato, a
garota usava um par de fones de ouvido e balançava a cabeça alegremente,
absorvida pelas anotações que fazia num papel florido com canetas coloridas.
A Sneasel tocou a ponta de
sua garra nas costas dela. A garota soltou um suspiro, largou a caneta e ergueu
as mãos num sinal de rendição.
— Não grite — ordenou Amy.
— Não se preocupe. Já passei
por tanta coisa essa semana que estou me acostumando — respondeu Dawn, girando
na cadeira bem devagar para encarar quem quer que estivesse ali.
— Você é a mandante dos
Rockets por aqui? Por que está retomando as pesquisas de clonagem? — Amy a
pressionou apreensiva.
— Quem, eu? — indagou Dawn,
surpresa. — Não estou ajudando Rocket nenhum, estou só compartilhando meu
conhecimento para ajudar.
— É o que todos cientistas
dizem antes de inventar alguma engenhoca que vai colocar em risco o mundo
inteiro — retrucou Amy.
— Desculpe? Que tipo de
preconceito é esse para cima dos cientistas? — Dawn revidou, profundamente
ofendida. — Pois saiba que nós, pesquisadores, precisamos nos arriscar para que
novas descobertas possam chegar à população. Eu estou cansada desse retrato
estereotipado de que o cientista é sempre o lunático, só porque mexemos com
coisas que a maioria não entende. É só reparar que em toda história o arquétipo
do cientista é usado como um disfarce para um vilão nessa eterna busca por
conhecimento, visando despertar uma entidade adormecida ou quem sabe até--
Amy cansou-se daquela
conversa e ordenou que sua Sneasel nocauteasse a garota com um golpe na nuca.
Dawn apagou na mesma hora, caindo no chão desacordada. Se ela fosse mesmo a
responsável pela ascensão dos Rockets em Sinnoh, precisaria de seus contatos e
influência para entender o que eles estavam planejando.
— Você fala demais, garota —
murmurou Amy impaciente, tentando carregá-la.
Quando estava para deixar a
sala de pesquisas, a saída havia sido bloqueada. Em frente à porta havia uma
mulher de cabelos vermelhos, olheiras e o velho uniforme dos Galactic com seu
emblema estampado no peito. Ela estava magra e fraca, mas havia uma ferocidade
no olhar que apontava que era melhor não mexerem com ela.
— Eu não sei quem você é, mas
é melhor não interromper nossos planos — disse a Comandante Mars.
— Você não vai querer arrumar
encrenca comigo — respondeu Amy.
A primeira investida veio por
parte de Mars que arremessou sua pokébola que liberou uma Purugly balofa, tão
resistente quanto um tanque. Do lado de Amy seu Primeape entrou no ringue
pronto para esmurrar.
— Close Combat! — ordenou a treinadora.
O Pokémon primata esmurrou a
Purugly que tentava aguentar firme mesmo em clara desvantagem. Quanto mais o
Primeape se irritava, mais poderoso ele se tornava. Saltitava de um lado para o
outro dando jabs e socos direto no felino que se concentrava em defender até
que chegassem reforços. Amy não poderia perder tempo com aquela baboseira, ou
acabaria ficando encurralada.
— Não vou permitir que você
leve essa menina. Ela é da família — contou Mars.
— Sei bem como é. Sempre
protegemos os nossos — respondeu Amy, confiante. — E como a representante legal
por todas as merdas que os Rockets continuam causando, eu preciso acabar logo
com isso.
O Primeape finalizou seu
oponente com um cruzado que fez o Purugly ver estrelas. Mars não estava em
condições físicas ou psicológicas de vencer uma batalha. Dawn começou a se
mexer ainda atordoada pela concussão, mas agora dava sinais de recobrar sua
consciência.
— Tia... Martha...? O que
você está... fazendo?
— Martha? Você só pode estar
de brincadeira — indagou Amy, encarando a Comandante Mars. — Nós não vamos
parar essa luta só porque alguém disse “Salve a Martha”, ou vamos?
A Comandante retornou seu
Pokémon, mas ponderou com cuidado sobre suas palavras. Tentou interligar os
fatos, e só conseguiu chegar a uma conclusão.
— Foi o meu marido que a
mandou aqui, não foi? — indagou Mars.
— Se você for a esposa de um
cara charmoso que atende pelo codinome Proton, então sim.
— Quero que diga a ele para
não tentar mais me impedir — vociferou Mars com irritação. — Eu já tomei a
minha decisão! Vou trazer o nosso filho de volta, mesmo que isso custe a minha
vida. E-eu preciso fazer isso... por ele...
— Ei, ei. Vai com calma —
falou Amy, procurando uma abordagem mais amena. — Eu não vim aqui para
julgá-la. Vim por dois motivos: primeiro, limpar a sujeira dos outros antes que
sobre para mim; e segundo, você tem uma filhinha linda te esperando em casa.
Não abra mão do seu mundo inteiro só porque perdeu parte dele.
A expressão de Mars mudou da
água para o vinho. Em seu olhar havia o semblante de uma mulher doce que
descobrira a maternidade havia pouco tempo, mas também manchada pelas
cicatrizes e doses que vinham no conjunto. Mars amava Eletra, sua filha mais
velha, e queria vê-la crescer e quem sabe um dia tocar sua própria facção
criminosa. Tal ideia a fez rir com os olhos marejados. Por um instante
sentiu-se muito egoísta em abrir mão dela e do marido que tanto a amava.
— O que eles disseram sobre
mim...? — indagou Mars.
— Os dois só querem que você
volte para casa. Eles precisam de você como mãe e esposa — respondeu Amy.
— Mas como eu poderia
encará-los ao voltar de mãos abanando?
Amy desviou o olhar, buscando
fundo em seu próprio coração para dizer aquelas palavras:
— Eu cresci sem pai. É
difícil ser cuidado por um lado só, a balança sempre acaba pendendo. Ele vivia
procurando uma forma de voltar para casa e trazer alguma coisa para mim para
compensar, fosse um presente que ele achava que eu queria ou rios de dinheiro.
Às vezes ele só queria manter as contas pagas. Mas ele nunca percebeu que o que
eu mais precisava era ter um pai presente em casa. Eu teria pago para ele pra
ficar, se fosse rica como ele era. Eu teria comprado todo o tempo do mundo ao
lado dele...
— Mas tempo não se compra. E
disso Dialga sabe muito bem — respondeu Mars de maneira mansa.
Quando as duas finalmente
estavam começando a se entender, o alarme do laboratório disparou com seu som
ensurdecedor. “Alerta vermelho! Alerta
vermelho! Intruso detectado!”.
— Parece que fui descoberta. —
Amy deu de ombros, fingindo surpresa. — Até que demoraram.
— Não foi você — contou Mars.
— Tem mais alguém aqui.
A Comandante saiu às pressas,
pois não queria que ninguém soubesse que ela compactuava com os planos do Team Galactic e aquilo voltasse a
colocar a segurança de sua família em risco. Amy agachou para verificar as
condições de Dawn, mas a garota ainda estava desnorteada e não conseguiria
andar, o que dificultaria sua fuga.
Amy olhou para o fim do
corredor esfumaçado, iluminado por luzes vermelhas oscilantes conforme o alarme
gritava. Sacou uma pokébola da bolsa e aguardou o confronto.
Do outro lado do corredor,
duas sombras se ergueram como se envolvidas por uma dança. Um majestoso
Dusknoir adentrou o local de braços cruzados ao lado de uma Froslass que fazia
sua entrada triunfal como sua primeira dama. Conforme avançavam, o chão por
onde os Pokémon fantasma flutuavam congelava assim como as paredes ao redor,
transformando o corredor espremido em um caixão de gelo dentro de um vulcão
adormecido.
Atrás deles veio um garoto
ordinário, sempre de cabeça e queixo erguido com sua boina púrpura, jaqueta
azul e seu clássico cachecol branco. O gelo controlara a temperatura de tal
forma que ele nem precisou se dar ao trabalho de trocar de roupa, como se a
própria natureza tivesse de se curvar perante sua vontade.
— Opa. Foi mal por atrapalhar
seus planos. Só sei entrar pela porta da frente — disse Luke Wallers.
O que mais o surpreendia era
que alguém ainda tivesse coragem e ousadia o bastante para combatê-lo. Os anos
podiam tê-lo tornado mais humilde e contido, mas ainda havia traços da soberba
de alguém que se consagrou campeão em sua juventude. Luke não se deu ao
trabalho de pensar demais e ligar os fatos. Ali estava uma mulher desconhecida
com o uniforme da extinta facção dos Galactic, pronta para enfrentá-lo. Ao seu
lado, o corpo estirado da garota por quem cruzaria um continente para salvar.
Luke e Amy se encararam sem
dizer palavra alguma. No cinto da calça, uma Dusk Ball estava à mostra como se fosse sua principal arma, seu
dedo indicador pousando a poucos centímetros do gatilho.
— Solta a garota — ordenou
Luke.
Mas Amy não gostava de
receber ordens. Ela sorriu com afronta.
— Vem me obrigar.
A Dusk Ball zuniu. Um flash dominou o corredor antes que tudo mergulhasse num breu, como se tivesse roubado a própria escuridão. Por entre a fumaça e luzes oscilantes da sirene, um par de olhos amarelos surgiu e deu espaço a um enorme dragão bípede com suas lâminas no lugar de garras prontas para dilacerar. O Garchomp vociferou como forma de intimidação e aguardou as ordens ao lado de seu mestre.
O final é convincente, meu mano. Seguinte, Canas, eu não sei nem o que comentar, só... Uau, que surpresa. Um pouco diferente de como eu esperava que fosse, mas ainda assim bem maneiro.
ReplyDeleteO encontro entre Luke e Amy, nesse mal entendido, ficou fenomenal, mas assim, num geral a construção do plot que levou a isso também funcionou legal.
Tem uma coisinha que eu vou apontar, entretanto, que eu não sei se foi intencional ou não, mas no trecho que vou colar abaixo fica meio incongruente algumas coisas.
" — Sim, eu recomendaria a Stark Mountain em outros tempos, mas no momento a área está com acesso bloqueado. Ouvi dizer que a Polícia Internacional foi acionada, eles farão uma operação até o anoitecer, acredita?
— Jura? — Amy se fez de desentendida. — Ah, então é melhor eu ficar longe mesmo! Imagine só se eu acabo trombando com algum desses ladrões de Pokémon? Eu iria detestar que levassem minha pobre Pidgeot! "
A questão aqui fica no fato de o policial se referir apenas ao fato de estar ocorrendo uma operação no Mt. Stark, e não falar sobre com que tipo de situação estão lidando. A Amy assumindo nessa conversa que a tal operação seja relacionada a ladrões de pokémon deixaria uma sensação de suspeita ou similar num sujeito relacionado a segurança. Apenas uma divagação, though.
No mais, tudo pareceu bem nos conformes, e mano, sobre o começo do capítulo, devo dizer que a Amy tem razão em se preocupar, pois vejo o Ethan destruindo a casa em uns poucos dias.
Valeu pela atenção, e até depois!
Fico feliz que tenha te surpreendido, mano! É engraçado pensar que tive 2 anos de intervalo entre o capítulo passado e esse. É como se tudo estivesse muito fresco na minha mente, e quando comecei a escrever só deixei as coisas fluírem.
DeleteCara, sobre a parada do policial, eu meio que parti do princípio que num mundo onde as pessoas preferem ligar para um moleque resolver seus problemas do que a própria polícia, significa que a polícia não tem mais mérito nenhum kkkkkkkkkkkkk Eu penso nisso desde os primórdios de AeS onde os protagonistas com seus 13 anos sempre chegavam antes do que esses caras, então eu quis brincar justamente com o fato dos policiais estarem aí e acabarem mais atrapalhando do que ajudando. Eu meio que pensei em resumir a cena simplesmente com "Então Amy fez suas pesquisas e descobriu que eles estavam na Stark Mountain", mas tentei uma abordagem diferente ao mostrar que ela é muito atenta, e as respostas costumam vir dos próprios NPCs como nos jogos.
A partir de agora é só pancadaria com algumas surpresas pra galera kkkkkk Valeu pela presença mano, até a próxima!