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Café preparado,
documentos organizados e crianças dormindo; finalmente teria algumas horas de
paz. Com o tempo fresco, a quietude e o sossego que somente uma humilde mansão
na Resort Area poderia oferecer, tudo
colaborava para uma noite produtiva.
Dawn respirou fundo e
esparramou-se em sua cadeira no escritório. Separara aquela noite especialmente
para avançar no TCC depois de uma semana alvoroçada. Soprou o ar quente que
subia da xícara e sentiu o aroma forte de café — só deixaria aquela poltrona
quando o dia estivesse clareando e houvesse pelo menos trinta páginas
concluídas e revisadas.
Tec,
tec, tec. O som do teclado do
notebook era um deleite para seus ouvidos, sinal de que estava dando
resultados. Sem distrações, apenas pilhas de anotações, notas de rodapé e
folhas espalhadas pela mesa; nunca antes imaginara que gostaria tanto da vida
acadêmica. Bem, tinha de admitir que estava um pouco exausta, já não se
preocupava tanto com a aparência quanto em seus primeiros anos na Unisyno,
afinal, quem estava tentando impressionar? Sua musa estava ali, no quarto ao
lado, adormecida no sofá com o volume da televisão bem baixinho, e ela
continuava a amá-la do jeitinho que era.
Dawn estava no
penúltimo ano de faculdade — em breve, pesquisadora, quem diria! Seus colegas teriam
duvidado, gente que vivia na pacata Sandgem e não tinha grandes ambições de
vida. Seus pais estariam orgulhosos.
Nos três anos
que se passaram, não tivera a chance de presenciar grandes aventuras como
quando era adolescente. Acabara de voltar de seu estágio na misteriosa Ilha
Pokémon, recomendação do renomado Professor Carvalho, e aquela experiência
inusitada foi o mais próximo de uma verdadeira “Aventura” com A maiúsculo. Durante
a estadia se deparara até mesmo com Vivian e Stanley, seus companheiros de
viagem havia tanto tempo. Era uma saudade atrás de outra.
E agora estava
ali, de volta à rotina. Até que gostava daquela vida.
Tec, tec, tec,
tec, tec.
Dawn verificou as anotações que
trouxera da ilha. Sua tese era focada em DNA e estudos do lendário Pokémon Mew,
muitos deles deixados pelo próprio Samuel Carvalho. As folhas estavam sujas e
amareladas, Dawn folheou cada anotação feita a lápis e sorriu ao pensar como a
tecnologia havia evoluído nos últimos anos. E
pensar que nos dias atuais tudo aquilo cabia em um pendrive, ou até mesmo na nuvem!
Como é que os Pesquisadores Pokémon do passado conseguiam se virar?
Uma das páginas estava abarrotada e
com orelhas de tanto que fora usada. Anotado à mão em um canto havia um link
com login e senha. Curiosa por nascença, Dawn decidiu investigar.
A página levava a um site de
aparência rudimentar. Parecia uma espécie de fórum onde pesquisadores do mundo
todo compartilhavam seu conhecimento sobre os mais variados assuntos, o
PokéScience, fundado em 1998 nos tempos da internet discada e continuava ativo
até os dias de hoje.
Dawn mordiscou a unha do dedão. Não
faria mal dar uma olhadinha.
Login: samuelcarvalho@hotmail.com
Senha: agatha
Acesso
permitido. Sentiu-se uma verdadeira “hacker”.
Apesar do aspecto antiquado, o site
era uma verdadeira porta de entrada para arquivos e PDFs acadêmicos que não existiam
em nenhum outro lugar da internet — nada de pesquisas rápidas e
de origem amadora, ali havia conteúdo redigido por grandes nomes como Dr. Elm e
Aurea Juniper. A conta de Carvalho não era atualizada havia pelo menos sete
anos, mas a quantidade de documentos que ela poderia usufruir através da conta era
insana.
Por onde começar? Estava tão empolgada
com o acesso à tamanha fonte inesgotável de informações que começou a divagar:
imaginou-se Profª Dawn, entregando os iniciais para novos treinadores na região
de Sinnoh.
Foi então que uma mensagem privada
inesperada pipocou na tela, escrita por um usuário anônimo:
“Olá.”
Dawn franziu o cenho. Devia ser algum
tipo de spam, então preferiu ignorar, mas as mensagens continuaram:
“Você não é o dono dessa conta, como
entrou aqui?”
Devido ao susto a garota pensou em
desligar o computador e nunca mais ligá-lo, mas sua curiosidade a incentivou a
dar continuidade à conversa:
“Encontrei o login e a senha para essa conta
em um documento antigo. Vou deslogar.”
“Não. Por favor, fique. É que faz muito
tempo que ninguém entrava aqui”, digitou o usuário anônimo. E logo deu
sequência: “Estranhei que o último acesso havia acontecido havia tão pouco
tempo. Você é o neto do Profº Carvalho?”
Dawn pensou antes de responder.
“Não. Sou apenas uma estagiária.”
O usuário amenizou o clima com uma
sequência de risadas.
“Ah, sim, então é você! Bom saber. Pode
me chamar de Caronte.”
“Como o barqueiro da mitologia?”, digitou
Dawn.
“Precisamente.”
Fez-se um longo intervalo até que o
usuário anônimo voltasse a digitar algo, mas sua última mensagem pareceu
confusa e misteriosa.
“Obrigado por acessar essa conta hoje.
Significa muito. Nos vemos qualquer hora.”
Dawn estava para digitar a resposta
quando ouviu uma voz vinda de trás:
— O que você está fazendo?
A garota deu um pulo da cadeira, bateu na
mesa e fechou as abas do navegador tão depressa que Cynthia até recuou. Dawn
sentiu seu coração disparar como se estivesse fazendo algo proibido. Suas
atitudes tornavam tudo ainda mais suspeito.
A loira estava descabelada e sem
maquiagem, mas sua beleza continuava estonteante. Embriagada pelo sono, Cynthia
coçou a cabeça e comentou:
— Desculpa, não queria te assustar. Só
vim dar boa noite — disse a mulher, bocejando logo em seguida. — Obrigada por
colocar a Verity para dormir, peguei no sono no meio do episódio e só acordei
agora com a mensagem do Natuflix: “Você
ainda está assistindo?”.
— Tudo bem. A gente continua o episódio
amanhã — respondeu Dawn de um jeito apreensivo, como quem quer encerrar a
conversa.
Cynthia arqueou a sobrancelha, olhou a
tela inicial do notebook sem nenhuma aba aberta e depois voltou a encarar Dawn
em sua frente.
— O que você estava assistindo?
Dawn não conseguia nem piscar, tinha até
começado a suar. Cynthia riu em sua frente como uma mãe que acabou de pegar o
filho fazendo arte e acaba se divertindo junto. Ela apoiou os braços na mesa,
chegou bem perto da orelha dela e sussurrou no seu ouvido de maneira sensual:
— O que acha de vermos algo mais quente
juntinhas?
Dawn respirou fundo e chegou à conclusão
de que não conseguiria mais escrever o TCC naquela noite.
i
Dawn não voltou mais a acessar a conta.
Escreveu algumas páginas para seu TCC, mas estava difícil se concentrar com tanta
coisa acontecendo na sua cabeça. Por mais que já fizesse anos desde que Cynthia
cedera o posto de campeã de Sinnoh, ela ainda recebia visitas frequentes de
figuras de renome e comparecia a bailes e festas em prol de organizações dos
mais variados tipos, e fazia questão de que Dawn fosse junto e a apresentasse
como “sua namorada”, pois não tinha nada a esconder. Durante alguns meses as
duas passaram por momentos difíceis com a mídia colada e fãs obsessivos nos
muros de sua casa, todos à procura de qualquer foto ou momento oportuno para
jogar nos sites de fofoca. Dawn não estava acostumada com aquela vida, no
começo foi difícil, mas quando o anúncio se tornou público logo a graça se
perdeu e os perseguidores foram atrás de novas manchetes.
— Daqui alguns anos seremos só nós duas.
E a Verity — Cynthia lhe disse certa vez, suas mãos entrelaçadas. — Nós
precisamos encará-los de frente para essa gente chata parar de tentar cuidar da
vida dos outros. Se tentarmos fazer tudo em segredo, eles continuarão indo
atrás. É por isso que quero que esteja ao meu lado nessas horas.
— Eu não me importo. Quero construir
minha vida com você.
Dawn vinha experimentando uma paz e
tranquilidade que não sentia desde que morara em Dewford quando criança.
Cynthia ainda cumprimentava um fã ou outro quando saía cedo para se exercitar
de cabelo amarrado e calças legging (ela conseguia parar a vizinhança inteira),
e no fim ainda era arrastada para uma longa e tediosa batalha Pokémon. Sempre
as recusava, pois não queria mais batalhar com ninguém. O que tinha a provar?
Deixava o cinto com suas Pokébolas na cabeceira da cama e durante o período da
manhã soltava todos eles para se divertirem um pouco. Sua Garchomp gostava de
tomar sol no jardim ao lado de Roserade, a Milotic se banhava na piscina, o
Lucario ajudava com os afazeres de casa... Todos eles adoravam aquela vida
pacata e singela.
Era uma terça-feira comum. O dia
estava lindo, Groudon caprichara no calor e a piscina parecia convidativa. O
que poderia acontecer de errado?
Esparramada no sofá com seu Piplup
no colo, Dawn só conseguia pensar no cheirinho maravilhoso que vinha da
cozinha. Cynthia além de linda, bem sucedida e inteligente ainda era uma exímia
cozinheira. Aquela combinação era um verdadeiro ultraje! Arceus de fato tinha
seus favoritos.
Foi quando a campainha tocou.
— Môr, pode atender a porta? — Cynthia
gritou lá da cozinha.
— Você pediu alguma coisa? — Dawn
perguntou.
— Não, mas podem ser os Staraptor da
entrega. Encomendei um livro novo que Steven me indicou. Abre pra mim, por
favor?
Dawn colocou seu Piplup no chão e
levantou-se descalça — quando deixava o pinguinzinho no colo, seu corpo ficava
fresco e gelado —, agora estava quase derretendo. Duke também não gostou de
voltar para o chão, por isso foi seguindo sua treinadora até a porta por vias
de curiosidade.
Ao atendê-la, Dawn se deparou com um
homem esquisito de barbicha e uniforme. A van dos entregadores estava logo
atrás, mas não tinha logo algum.
— Dawn Manson? — perguntou o homem.
— Sim — ela confirmou com a cabeça,
desconfiada.
— Assina aqui, fazendo o favor — disse
ele, retirando um pedaço de pano e enfiando-o tão depressa na cara da garota
que ela mal conseguiu recuar.
Dawn levou um susto com a arrancada
súbita, mas o cheiro de clorofórmio impregnou suas narinas e ela apagou na mesma
hora.
O homem dos correios e a segurou para
evitar uma queda barulhenta e fez sinal com a cabeça para que seus comparsas
entrassem na casa. O Piplup se escondeu debaixo de uma estante, amedrontado,
pois não fazia ideia do que estava acontecendo.
O homem tirou o boné dos correios e
entrou na casa. Era um lugar muito agradável, ficava afastado até mesmo dos
condomínios de luxo então provavelmente nenhum vizinho seria alertado. Enquanto
dois deles investigavam o andar superior, o outro capanga apontou para a
cozinha e fez menção com um gesto que insinuava:
“Tem gente ali.”
— Vamos embora sem causar tumulto. Só
encontrem os documentos — respondeu o líder.
Quando os outros dois desciam as escadas,
um deles tropeçou e saiu rolando para uma queda e tanto — alguém havia puxado
sua perna. Os invasores se viraram surpreendidos, Cynthia não estava escondida
na cozinha. Diversos papéis repletos de informações se espalharam pelo corredor
enquanto o líder da operação dava ordens para os demais.
— Saiam daqui! Peguem a garota e esperem
o meu sinal!
Além dos documentos, Cynthia percebeu que
os ladrões haviam pego o que ela mais temia: seu cinto de pokébolas. Justo
naquela tarde nenhum de seus Pokémon estavam soltos e ela não conseguiria
chamar ninguém para ajudar.
— Veja só, uma mulher encurralada feito
um Pokémon acuado — disse o homem num tom provocador. — Tire os monstrinhos de
bolso do treinador, e o que sobra?
Cynthia equilibrou-se na perna de trás e
ergueu a outra, acertando com tanta força no queixo que o homem caiu para trás
e colidiu com um armário que caiu em cima dele.
— Uma ex-campeã rica, influente,
independente e bem treinada nas artes marciais — respondeu ela. — Devolvam-me a
minha garota.
O homem sacou um canivete do bolso, a
ponta da lâmina pingava um líquido roxo o que indicava que havia sido
envenenado por algum Pokémon. “Veneno de Skorupi”, pensou Cynthia.
— Eu me lembro de você — disse a mulher. —
A invasão ao Hotel Deluxe Heart. Você
era um dos envolvidos. Eu não estava no dia, mas na época ainda era campeã e
fui informada pelos membros da Elite dos 4 do ataque.
— Ah, a senhorita tem boa memória — ele
respondeu de forma ríspida. — Petrel é o nome. Passei uns anos refletindo na
cadeia.
Petrel? Aquele não era um dos
administradores da extinta facção dos Rockets que vinha causando tumulto por
todas as regiões do Mundo Pokémon havia tanto tempo? Dawn lhe contara da vez em
que os Irmãos Wallers se envolveram com eles, o que resultou no famoso Arco dos
Clones e a destruição da Ilha de Ferro. Era uma das histórias que a garota mais
se orgulhava de contar apesar de mal ter feito parte da experiência toda. Tudo
havia começado com o sequestro de um dos Wallers, e parecia que os Rockets
voltavam a investir no ramo. Jamais deixaria que o mesmo acontecesse com Dawn.
O criminoso avançou com o canivete e
Cynthia se defendeu com um golpe de krav maga para desarmá-lo. Torceu o punho
do homem e a lâmina caiu longe. Tentou imobilizá-lo com os braços, mas Petrel
parecia diferente do sujeito descuidado de antes; estava alto e troncudo, com
tatuagens que cobriam o braço até parte da lateral de seu rosto. Em seus olhos
ele não carregava mais a expressão de um cara sacana, e sim, de um assassino
convicto em cumprir com sua missão.
— Eu vou te mostrar como a prisão muda as
pessoas.
O pobre Piplup continuava espremido
embaixo do armário. Petrel acertou um murro tão forte no abdômen de Cynthia que
ela tombou para trás junto do sofá, depois chutou-a com a ferocidade de um
lutador e a puxou pelo cabelo, aproximando-se dela como se quisesse ser
envolvido por seu cheiro.
— Que desperdício, vocês duas juntas. Com
tanto homem passando vontade...
Enfurecida com a afronta, Cynthia revidou
com uma rasteira que o derrubou no chão, Petrel bateu a cabeça na mesa de vidro
que se espatifou, espalhando cacos por todo o carpete. Ele berrou de dor e
rolou para o lado por cima do sangue respingado.
Cynthia pensava desesperadamente em uma forma
de recuperar seus Pokémon. Sem eles era só questão de tempo até que os homens
de Petrel decidissem fugir e levar Dawn como refém.
— Você não pode dar conta de todos nós — disse
Petrel num tom provocativo. — E nem estar em todos os lugares.
Cynthia arregalou os olhos. Onde estava
sua filha?
Petrel correu para recuperar o seu
canivete, mas foi interceptado por uma cabeçada forte de Duke, o Piplup de
Dawn. Mesmo amedrontado, o pinguinzinho não poderia continuar parado sem fazer
nada. Com o canhão de água ele o arremessou contra a parede e inundou a sala,
permitindo que Cynthia corresse para a varanda onde se lembrava de ter visto
Verity brincando pela última vez.
Ela não estava lá. Correu desesperada
pelo quintal, contornando a rua vazia quando avistou a garotinha sentada na
beira da calçada com um par de fones de ouvido enormes e um vídeo game portátil
na mão. Ao seu lado, um velho parecia lhe dar instruções com a voz mansa:
— Isso, boa menina. Está se saindo bem.
Isso não é divertido?
Cynthia sentiu o corpo estremecer .Ao
perceber que estavam sendo observados, o velho virou-se para trás e falou:
— Ah, olá. É sua filha? Garota esperta, a
danada conseguiu passar de uma fase que estou empacado há meses. Essa geração é
muito precoce, não acha?
— Verity... venha para cá — ordenou
Cynthia. — Vem com a mamãe.
Mas a criança não ouvia, absolvida pelo
aparelho. O som parecia ter sido deixado alto de propósito. O velho
levantou-se, limpou a sujeira de seu jaleco e estendeu a mão para
cumprimentá-la.
— Me chame de Profº Charon. Eu costumava
trabalhar para os extintos Galactics. Você deve ter conhecido o meu amigo
Petrel e, como deve ter percebido, o que nos une é o fato de sermos tudo que
sobrou do que no passado foi duas das facções mais poderosas do Mundo Pokémon.
Cynthia sentia como se suas mãos
estivessem atadas. Uma gota de suor escorreu pelo rosto.
— O que querem comigo? Dinheiro? Eu pago
o que for.
Charon revelou um sorriso torto com seus
dentes amarelados.
— Não preciso disso, querida. Vim só
pegar emprestado a sua amiguinha. Sabe, há algumas semanas eu rastreei o IP do
computador da sua casa e descobri que a Srta. Manson tinha em posse alguns
documentos sigilosos. Não foi muito difícil descobrir tudo sobre a vida de
vocês duas, afinal, estamos falando de uma celebridade!
Cynthia olhou para trás e viu que Petrel
retornava vitorioso de sua batalha contra Duke. Ele chutou o Piplup ferido para
fora da casa e saiu arrastando a perna.
— Merda de Pokémon inicial, como eu odeio
eles! Deve ser porque nunca ganhei um...
— Ah, Petrel, já terminou? Então estamos
de saída — disse Charon, voltando a atenção para Cynthia. — Escute, querida.
Nós não queremos fazer mal a ninguém. Eu prometo que trago a Srta. Dawn de
volta sã e salva na semana que vem, nesse mesmo horário e local, mas você
precisa cumprir com a sua parte e não avisar a polícia. Pense nisso como a
continuação do estágio dela, viu como sou generoso? Se você avisar a polícia e
eles vierem atrás de nós, a sua amiga vai se machucar. Sabemos onde você mora,
e mesmo que tente se mudar, eu vou descobrir e encontrá-la de novo. E aí mais
gente vai se machucar, como essa florzinha... — A mão enrugada do homem
acariciou os cabelos de Verity.
— Olha, mamãe, passei de fase! — disse a
criança contente.
Cynthia tremia de raiva. Verity só tirou
os fones quando se deu conta das condições.
— Mãe? Por que você está tão machucada? O
que está acontecendo?
— Mamãe caiu da escada — Cynthia
respondeu com a voz doce.
— Sorte que estávamos por perto, não? —
Charon mexeu nos cabelos da criança. — Ouça Verity, cuide direitinho da sua mãe
enquanto ela se recupera, ouviu? Como eu havia dito para você, vou precisar
levar a tia Dawn para fazer um trabalhinho, mas ela volta. Até lá, comporte-se,
ouviu?
Petrel abriu a porta traseira da van e
Charon saltou para trás. Os dois ainda encaravam Cynthia, como se quisessem se
certificar de que ela não iria começar a gritar ou ligar para a polícia. Haviam
levado Dawn e as pokébolas contendo seus seis Pokémon, incluindo seu Garchomp,
mas no momento só conseguia pensar na segurança de sua pequena.
Cynthia abaixou-se para abraçá-la e
começou a chorar.
— Tá tudo bem, mãe... tá doendo muito?
Você disse que eu preciso ser uma mulher forte quando crescer, e que mulheres
assim não choram... — disse Verity, retribuindo o abraço dela e beijando seu
rosto machucado como se tivesse poder para curá-la.
— Me desculpe... eu nunca mais vou deixar
que algo assim aconteça a você — lamentou Cynthia. — Você passou por tanto
desde que nos conhecemos... você trouxe mais brilho à minha vida.
Cynthia verificou o bolso da calça para ter
certeza de que seu celular continuava ali e só conseguiu pensar em um número
para ligar.
ii
Todo mundo lhe dissera que tornar-se
campeão era o final da jornada. Mas ainda havia tanta
coisa para se descobrir!
Luke Wallers estava abismado com o
tamanho do mundo. Nos três anos que se seguiram aventurando-se com seu irmão,
conhecera treinadores muito mais poderosos do que ele, vira paisagens únicas e
belas, mas nenhuma como os cartões postais de Sinnoh. Ainda amava sua casa.
Desde que voltara de suas viagens por
Hoenn e Alola, Luke uniu-se ao seu velho amigo de infância, Stanley, para
cumprir um desafio inusitado. Em uma dessas reuniões de domingo na casa de seus
pais, tio Glenn acabou mencionando o quanto a Battle Tower era desafiadora e como poucos treinadores na história
haviam alcançado o 100º andar com uma sequência de cem vitórias consecutivas.
Seria mais uma estrela dourada para seu Cartão do Treinador, cinco delas e
receberia a Black Deluxe Edition, um
luxo de dar inveja em qualquer um.
— DU-VI-DO que você consiga ganhar dos
cem andares seguidos — disse tio Glenn como quem só quer provocar.
E Luke não gostava de ser desafiado.
48º andar, 48ª vitória. A última vez que
sentira suas mãos tremerem tanto havia sido na batalha contra Ike Smithsonian
na Liga Pokémon. Stanley se aquecia no banco ao lado, preparava os três Pokémon
mais fortes de sua equipe, pois estavam fazendo batalhas em duplas. Fire Tales
e Red Fortress reunidos, os holofotes todos centralizados nele.
— Parece até que o meu coração vai sair
pela boca — disse Stan a um dado momento. — Você sabe quem está no 50º andar,
não sabe?
— Tô ligado — respondeu Luke. — Seu pai.
Palmer Tycoon. Nos tempos de Walter
Wallers, diziam que ele havia sido um dos poucos a derrotá-lo de igual para
igual em inúmeras ocasiões. Oficialmente Walter teve sua revanche durante a
Liga o que coroou o campeão naquela temporada e o pôs na frente. Palmer decidiu
não tentar outra vez, mas especializou-se em outras técnicas e dizem até que
capturou Pokémon lendários.
— Só mais uma. Só mais uma — repetiu
Stanley. — Depois de hoje, vou precisar de uma semana para me recuperar, pode
ser? Prometi para a Vivian que ia passear no domingo com ela, talvez assistir
aquele desenho Como treinar seu Charizard
3 que tá em cartaz.
— Tá tranquilo — Luke respondeu. Sempre
fora de poucas palavras em momentos cruciais, pois concentrava todas suas
energias na batalha que estava por vir. — Quando foi a última vez que encontrou
teu pai?
— Acho que já tem uns três anos... —
mencionou Stanley. — A gente não se fala muito.
— Deve ser estranho ter pais divorciados.
— Até que não. Ele sempre auxiliou no que
eu precisava. Foi por causa da indicação dele que o Profº Rowan me colocou na
frente para receber meu Turtwig. Mas encará-lo assim em uma batalha vai ser
como enfrentar um completo estranho.
Luke balançou com a cabeça, compreensivo.
Seu PokéNav vibrou. Verificou a ligação — número desconhecido. Estava acostumado
a ignorar números privados desde que seu pai começou a receber com frequência trotes
de gente idiota insinuando que haviam sequestrado seus filhos, exigindo
quantias absurdas de dinheiro enquanto ele e Lukas estavam no quarto ao lado
assistindo TV.
— Você não vai atender, vai? — perguntou
Stanley. — A batalha, cara. Foco na batalha.
Luke respirou fundo. Algo em seu coração
pediu que atendesse. Ele levou o celular à orelha.
— Fala.
Ele ouviu a voz de uma mulher, chorando
baixinho.
— Luke, graças à Arceus você atendeu... É
a Cynthia, eu... Preciso da sua ajuda.
— Cynthia? O que aconteceu, por que essa
voz? — ele questionou, cheio de preocupação. Ele a considerava praticamente sua
segunda mãe. Ouvi-la daquela forma lhe deu um tremendo aperto no coração, pois nunca
a ouvira chorar.
Cynthia tentou contar-lhe todos os
detalhes do ocorrido, mencionou as ameaças e o fato de seus Pokémon terem sido
levados. Não sabia onde esconder a cara, pois há tempos Walter lhe aconselhara
a se mudar para um lugar mais seguro ou investir em segurança. Por mais
tranquila que fosse a Resort Area,
ela nunca estaria livre de criminosos por ser uma celebridade visada, o que
também colocaria sua família em risco, e agora ela pagava o preço.
Eram tantas preocupações que Cynthia não
conseguia acreditar como deixara sua família exposta. Quando mencionou o nome
de Dawn, o coração de Luke gelou.
— Eles a levaram, Luke... Não entendo o
motivo, a Dawn nunca fez nada que a colocasse no caminho dos Rockets. Você
precisa ajudá-la, Luke, por favor... Não podemos envolver a polícia nisso, eles
ameaçaram a Verity, se alguma coisa acontecer com a menina...
— Não vai — respondeu Luke. — Eu não vou
deixar.
— Você precisa ser discreto. Não dá pra
acreditar que esses idiotas se rebaixaram tanto — falou Cynthia com indignação.
— Pensei que esses lunáticos já tivessem desaparecido do mundo, mas eles
continuam a colocar vidas em risco e se provam cada vez mais ousados em seus
meios!
— Rockets de novo, hein? Esses
roteiristas estão ficando meio sem criatividade, não acha?
Cynthia não pôde conter um riso breve. Em
meio a todo o caos que sua vida se encontrava, Luke sempre era capaz de fazê-la
rir.
— Só traga a nossa Dawn de volta... —
implorou.
— Se precisar, eu afundo esse continente
inteiro para trazê-la — respondeu Luke.
— Me dê apenas dois dias para me
recuperar, e eu mesma vou atrás desses idiotas com todas as minhas forças.
— Nem se dê ao trabalho. Te dou notícias
assim que puder.
Assim que desligou o telefone, Stanley o
encarava com o semblante sério do outro lado.
— Deu ruim? — ele perguntou.
Seu parceiro de batalha apenas confirmou.
— Deu ruim.
— Vou remarcar a batalha. Digo que você
está com dor de barriga, invento uma desculpa. Não sei direito o que está
rolando, mas só me diga o que fazer enquanto você estiver fora.
— Preciso fazer uma ligação urgente, mas
o Lukas não está atendendo...
— Se isso requer que os Irmãos Wallers se
reúnam novamente, a coisa é séria — falou Stanley. — Tente não afundar uma ilha
inteira de novo, tá?
Eu vou ser meio curto, mas vamos lá...
ReplyDeleteBeleza meu bom? Então, esse 2 do Post Game ficou bastante interessante. Devo dizer que eu não imaginava isso vindo, e nem tampouco que teria Petrel e Charon unidos! É bacana ver os vilões agindo num plano razoavelmente bem bolado ( ao que parece ), e bem, pobre Dawn, foi raptada! A coitada tá sempre na jornada pra "sifudência".
Devo dizer que estou interessado em ver como as coisas vão se desenrolar. Bem, é isso, valeu aí e até mais!
Fala, mano Napo! Apesar do período de dois anos e meio que separam esse capítulo e o primeiro, fico feliz por saber que voltou a acompanhar. Sempre bom te ver por aqui.
DeleteEu concluí essa versão em meados de 2020 e de lá para cá não alterei muita coisa. Estou tentando retomar essas várias pontas esquecidas de AeS, e também brincar com personagens que nunca tiveram seu merecido destaque. Eu mesmo lembro de pouquíssima coisa sobre o Charon em Platinum, mas estou bebendo da mesma fonte que o Dr. Erlenmeyer pra criar esses cientistas que sempre vem pra atrapalhar todo mundo kkkkk
E Dawn raptada já é quase um padrão, acho que a essa altura até ela se acostumou hahaeh
Valeu meu mano, estou pensando em manter as postagens a cada 15 dias, vou só dar uma última revisada enquanto preparo o capítulo final. Te vejo na próxima!