Posted by : CanasOminous Jul 9, 2022


Café preparado, documentos organizados e crianças dormindo; finalmente teria algumas horas de paz. Com o tempo fresco, a quietude e o sossego que somente uma humilde mansão na Resort Area poderia oferecer, tudo colaborava para uma noite produtiva.

Dawn respirou fundo e esparramou-se em sua cadeira no escritório. Separara aquela noite especialmente para avançar no TCC depois de uma semana alvoroçada. Soprou o ar quente que subia da xícara e sentiu o aroma forte de café só deixaria aquela poltrona quando o dia estivesse clareando e houvesse pelo menos trinta páginas concluídas e revisadas.

Tec, tec, tec. O som do teclado do notebook era um deleite para seus ouvidos, sinal de que estava dando resultados. Sem distrações, apenas pilhas de anotações, notas de rodapé e folhas espalhadas pela mesa; nunca antes imaginara que gostaria tanto da vida acadêmica. Bem, tinha de admitir que estava um pouco exausta, já não se preocupava tanto com a aparência quanto em seus primeiros anos na Unisyno, afinal, quem estava tentando impressionar? Sua musa estava ali, no quarto ao lado, adormecida no sofá com o volume da televisão bem baixinho, e ela continuava a amá-la do jeitinho que era.

Dawn estava no penúltimo ano de faculdade — em breve, pesquisadora, quem diria! Seus colegas teriam duvidado, gente que vivia na pacata Sandgem e não tinha grandes ambições de vida. Seus pais estariam orgulhosos.

Nos três anos que se passaram, não tivera a chance de presenciar grandes aventuras como quando era adolescente. Acabara de voltar de seu estágio na misteriosa Ilha Pokémon, recomendação do renomado Professor Carvalho, e aquela experiência inusitada foi o mais próximo de uma verdadeira “Aventura” com A maiúsculo. Durante a estadia se deparara até mesmo com Vivian e Stanley, seus companheiros de viagem havia tanto tempo. Era uma saudade atrás de outra.

E agora estava ali, de volta à rotina. Até que gostava daquela vida.

Tec, tec, tec, tec, tec.

Dawn verificou as anotações que trouxera da ilha. Sua tese era focada em DNA e estudos do lendário Pokémon Mew, muitos deles deixados pelo próprio Samuel Carvalho. As folhas estavam sujas e amareladas, Dawn folheou cada anotação feita a lápis e sorriu ao pensar como a tecnologia havia evoluído nos últimos anos. E pensar que nos dias atuais tudo aquilo cabia em um pendrive, ou até mesmo na nuvem! Como é que os Pesquisadores Pokémon do passado conseguiam se virar?

Uma das páginas estava abarrotada e com orelhas de tanto que fora usada. Anotado à mão em um canto havia um link com login e senha. Curiosa por nascença, Dawn decidiu investigar.

A página levava a um site de aparência rudimentar. Parecia uma espécie de fórum onde pesquisadores do mundo todo compartilhavam seu conhecimento sobre os mais variados assuntos, o PokéScience, fundado em 1998 nos tempos da internet discada e continuava ativo até os dias de hoje.

Dawn mordiscou a unha do dedão. Não faria mal dar uma olhadinha.

 

Login: samuelcarvalho@hotmail.com

Senha: agatha

 

Acesso permitido. Sentiu-se uma verdadeira “hacker”.

Apesar do aspecto antiquado, o site era uma verdadeira porta de entrada para arquivos e PDFs acadêmicos que não existiam em nenhum outro lugar da internet — nada de pesquisas rápidas e de origem amadora, ali havia conteúdo redigido por grandes nomes como Dr. Elm e Aurea Juniper. A conta de Carvalho não era atualizada havia pelo menos sete anos, mas a quantidade de documentos que ela poderia usufruir através da conta era insana.

Por onde começar? Estava tão empolgada com o acesso à tamanha fonte inesgotável de informações que começou a divagar: imaginou-se Profª Dawn, entregando os iniciais para novos treinadores na região de Sinnoh.

Foi então que uma mensagem privada inesperada pipocou na tela, escrita por um usuário anônimo:

“Olá.”

Dawn franziu o cenho. Devia ser algum tipo de spam, então preferiu ignorar, mas as mensagens continuaram:

“Você não é o dono dessa conta, como entrou aqui?”

Devido ao susto a garota pensou em desligar o computador e nunca mais ligá-lo, mas sua curiosidade a incentivou a dar continuidade à conversa:

“Encontrei o login e a senha para essa conta em um documento antigo. Vou deslogar.”

“Não. Por favor, fique. É que faz muito tempo que ninguém entrava aqui”, digitou o usuário anônimo. E logo deu sequência: “Estranhei que o último acesso havia acontecido havia tão pouco tempo. Você é o neto do Profº Carvalho?”

Dawn pensou antes de responder.

“Não. Sou apenas uma estagiária.”

O usuário amenizou o clima com uma sequência de risadas.

“Ah, sim, então é você! Bom saber. Pode me chamar de Caronte.”

“Como o barqueiro da mitologia?”, digitou Dawn.

“Precisamente.”

Fez-se um longo intervalo até que o usuário anônimo voltasse a digitar algo, mas sua última mensagem pareceu confusa e misteriosa.

“Obrigado por acessar essa conta hoje. Significa muito. Nos vemos qualquer hora.”

Dawn estava para digitar a resposta quando ouviu uma voz vinda de trás:

— O que você está fazendo?

A garota deu um pulo da cadeira, bateu na mesa e fechou as abas do navegador tão depressa que Cynthia até recuou. Dawn sentiu seu coração disparar como se estivesse fazendo algo proibido. Suas atitudes tornavam tudo ainda mais suspeito.

A loira estava descabelada e sem maquiagem, mas sua beleza continuava estonteante. Embriagada pelo sono, Cynthia coçou a cabeça e comentou:

— Desculpa, não queria te assustar. Só vim dar boa noite — disse a mulher, bocejando logo em seguida. — Obrigada por colocar a Verity para dormir, peguei no sono no meio do episódio e só acordei agora com a mensagem do Natuflix: “Você ainda está assistindo?”.

— Tudo bem. A gente continua o episódio amanhã — respondeu Dawn de um jeito apreensivo, como quem quer encerrar a conversa.

Cynthia arqueou a sobrancelha, olhou a tela inicial do notebook sem nenhuma aba aberta e depois voltou a encarar Dawn em sua frente.

— O que você estava assistindo?

Dawn não conseguia nem piscar, tinha até começado a suar. Cynthia riu em sua frente como uma mãe que acabou de pegar o filho fazendo arte e acaba se divertindo junto. Ela apoiou os braços na mesa, chegou bem perto da orelha dela e sussurrou no seu ouvido de maneira sensual:

— O que acha de vermos algo mais quente juntinhas?

Dawn respirou fundo e chegou à conclusão de que não conseguiria mais escrever o TCC naquela noite.

 

i

 

Dawn não voltou mais a acessar a conta. Escreveu algumas páginas para seu TCC, mas estava difícil se concentrar com tanta coisa acontecendo na sua cabeça. Por mais que já fizesse anos desde que Cynthia cedera o posto de campeã de Sinnoh, ela ainda recebia visitas frequentes de figuras de renome e comparecia a bailes e festas em prol de organizações dos mais variados tipos, e fazia questão de que Dawn fosse junto e a apresentasse como “sua namorada”, pois não tinha nada a esconder. Durante alguns meses as duas passaram por momentos difíceis com a mídia colada e fãs obsessivos nos muros de sua casa, todos à procura de qualquer foto ou momento oportuno para jogar nos sites de fofoca. Dawn não estava acostumada com aquela vida, no começo foi difícil, mas quando o anúncio se tornou público logo a graça se perdeu e os perseguidores foram atrás de novas manchetes.

— Daqui alguns anos seremos só nós duas. E a Verity — Cynthia lhe disse certa vez, suas mãos entrelaçadas. — Nós precisamos encará-los de frente para essa gente chata parar de tentar cuidar da vida dos outros. Se tentarmos fazer tudo em segredo, eles continuarão indo atrás. É por isso que quero que esteja ao meu lado nessas horas.

— Eu não me importo. Quero construir minha vida com você.

Dawn vinha experimentando uma paz e tranquilidade que não sentia desde que morara em Dewford quando criança. Cynthia ainda cumprimentava um fã ou outro quando saía cedo para se exercitar de cabelo amarrado e calças legging (ela conseguia parar a vizinhança inteira), e no fim ainda era arrastada para uma longa e tediosa batalha Pokémon. Sempre as recusava, pois não queria mais batalhar com ninguém. O que tinha a provar? Deixava o cinto com suas Pokébolas na cabeceira da cama e durante o período da manhã soltava todos eles para se divertirem um pouco. Sua Garchomp gostava de tomar sol no jardim ao lado de Roserade, a Milotic se banhava na piscina, o Lucario ajudava com os afazeres de casa... Todos eles adoravam aquela vida pacata e singela.

Era uma terça-feira comum. O dia estava lindo, Groudon caprichara no calor e a piscina parecia convidativa. O que poderia acontecer de errado?

Esparramada no sofá com seu Piplup no colo, Dawn só conseguia pensar no cheirinho maravilhoso que vinha da cozinha. Cynthia além de linda, bem sucedida e inteligente ainda era uma exímia cozinheira. Aquela combinação era um verdadeiro ultraje! Arceus de fato tinha seus favoritos.

Foi quando a campainha tocou.

— Môr, pode atender a porta? — Cynthia gritou lá da cozinha.

— Você pediu alguma coisa? — Dawn perguntou.

— Não, mas podem ser os Staraptor da entrega. Encomendei um livro novo que Steven me indicou. Abre pra mim, por favor?

Dawn colocou seu Piplup no chão e levantou-se descalça — quando deixava o pinguinzinho no colo, seu corpo ficava fresco e gelado —, agora estava quase derretendo. Duke também não gostou de voltar para o chão, por isso foi seguindo sua treinadora até a porta por vias de curiosidade.

Ao atendê-la, Dawn se deparou com um homem esquisito de barbicha e uniforme. A van dos entregadores estava logo atrás, mas não tinha logo algum.

— Dawn Manson? — perguntou o homem.

— Sim — ela confirmou com a cabeça, desconfiada.

— Assina aqui, fazendo o favor — disse ele, retirando um pedaço de pano e enfiando-o tão depressa na cara da garota que ela mal conseguiu recuar.

Dawn levou um susto com a arrancada súbita, mas o cheiro de clorofórmio impregnou suas narinas e ela apagou na mesma hora.

O homem dos correios e a segurou para evitar uma queda barulhenta e fez sinal com a cabeça para que seus comparsas entrassem na casa. O Piplup se escondeu debaixo de uma estante, amedrontado, pois não fazia ideia do que estava acontecendo.

O homem tirou o boné dos correios e entrou na casa. Era um lugar muito agradável, ficava afastado até mesmo dos condomínios de luxo então provavelmente nenhum vizinho seria alertado. Enquanto dois deles investigavam o andar superior, o outro capanga apontou para a cozinha e fez menção com um gesto que insinuava:

“Tem gente ali.”

— Vamos embora sem causar tumulto. Só encontrem os documentos — respondeu o líder.

Quando os outros dois desciam as escadas, um deles tropeçou e saiu rolando para uma queda e tanto — alguém havia puxado sua perna. Os invasores se viraram surpreendidos, Cynthia não estava escondida na cozinha. Diversos papéis repletos de informações se espalharam pelo corredor enquanto o líder da operação dava ordens para os demais.

— Saiam daqui! Peguem a garota e esperem o meu sinal!

Além dos documentos, Cynthia percebeu que os ladrões haviam pego o que ela mais temia: seu cinto de pokébolas. Justo naquela tarde nenhum de seus Pokémon estavam soltos e ela não conseguiria chamar ninguém para ajudar.

— Veja só, uma mulher encurralada feito um Pokémon acuado — disse o homem num tom provocador. — Tire os monstrinhos de bolso do treinador, e o que sobra?

Cynthia equilibrou-se na perna de trás e ergueu a outra, acertando com tanta força no queixo que o homem caiu para trás e colidiu com um armário que caiu em cima dele.

— Uma ex-campeã rica, influente, independente e bem treinada nas artes marciais — respondeu ela. — Devolvam-me a minha garota.

O homem sacou um canivete do bolso, a ponta da lâmina pingava um líquido roxo o que indicava que havia sido envenenado por algum Pokémon. “Veneno de Skorupi”, pensou Cynthia.

— Eu me lembro de você — disse a mulher. — A invasão ao Hotel Deluxe Heart. Você era um dos envolvidos. Eu não estava no dia, mas na época ainda era campeã e fui informada pelos membros da Elite dos 4 do ataque.

— Ah, a senhorita tem boa memória — ele respondeu de forma ríspida. — Petrel é o nome. Passei uns anos refletindo na cadeia.

Petrel? Aquele não era um dos administradores da extinta facção dos Rockets que vinha causando tumulto por todas as regiões do Mundo Pokémon havia tanto tempo? Dawn lhe contara da vez em que os Irmãos Wallers se envolveram com eles, o que resultou no famoso Arco dos Clones e a destruição da Ilha de Ferro. Era uma das histórias que a garota mais se orgulhava de contar apesar de mal ter feito parte da experiência toda. Tudo havia começado com o sequestro de um dos Wallers, e parecia que os Rockets voltavam a investir no ramo. Jamais deixaria que o mesmo acontecesse com Dawn.

O criminoso avançou com o canivete e Cynthia se defendeu com um golpe de krav maga para desarmá-lo. Torceu o punho do homem e a lâmina caiu longe. Tentou imobilizá-lo com os braços, mas Petrel parecia diferente do sujeito descuidado de antes; estava alto e troncudo, com tatuagens que cobriam o braço até parte da lateral de seu rosto. Em seus olhos ele não carregava mais a expressão de um cara sacana, e sim, de um assassino convicto em cumprir com sua missão.

— Eu vou te mostrar como a prisão muda as pessoas.

O pobre Piplup continuava espremido embaixo do armário. Petrel acertou um murro tão forte no abdômen de Cynthia que ela tombou para trás junto do sofá, depois chutou-a com a ferocidade de um lutador e a puxou pelo cabelo, aproximando-se dela como se quisesse ser envolvido por seu cheiro.

— Que desperdício, vocês duas juntas. Com tanto homem passando vontade...

Enfurecida com a afronta, Cynthia revidou com uma rasteira que o derrubou no chão, Petrel bateu a cabeça na mesa de vidro que se espatifou, espalhando cacos por todo o carpete. Ele berrou de dor e rolou para o lado por cima do sangue respingado.

Cynthia pensava desesperadamente em uma forma de recuperar seus Pokémon. Sem eles era só questão de tempo até que os homens de Petrel decidissem fugir e levar Dawn como refém.

— Você não pode dar conta de todos nós — disse Petrel num tom provocativo. — E nem estar em todos os lugares.

Cynthia arregalou os olhos. Onde estava sua filha?

Petrel correu para recuperar o seu canivete, mas foi interceptado por uma cabeçada forte de Duke, o Piplup de Dawn. Mesmo amedrontado, o pinguinzinho não poderia continuar parado sem fazer nada. Com o canhão de água ele o arremessou contra a parede e inundou a sala, permitindo que Cynthia corresse para a varanda onde se lembrava de ter visto Verity brincando pela última vez.

Ela não estava lá. Correu desesperada pelo quintal, contornando a rua vazia quando avistou a garotinha sentada na beira da calçada com um par de fones de ouvido enormes e um vídeo game portátil na mão. Ao seu lado, um velho parecia lhe dar instruções com a voz mansa:

— Isso, boa menina. Está se saindo bem. Isso não é divertido?

Cynthia sentiu o corpo estremecer .Ao perceber que estavam sendo observados, o velho virou-se para trás e falou:

— Ah, olá. É sua filha? Garota esperta, a danada conseguiu passar de uma fase que estou empacado há meses. Essa geração é muito precoce, não acha?

— Verity... venha para cá — ordenou Cynthia. — Vem com a mamãe.

Mas a criança não ouvia, absolvida pelo aparelho. O som parecia ter sido deixado alto de propósito. O velho levantou-se, limpou a sujeira de seu jaleco e estendeu a mão para cumprimentá-la.

— Me chame de Profº Charon. Eu costumava trabalhar para os extintos Galactics. Você deve ter conhecido o meu amigo Petrel e, como deve ter percebido, o que nos une é o fato de sermos tudo que sobrou do que no passado foi duas das facções mais poderosas do Mundo Pokémon.

Cynthia sentia como se suas mãos estivessem atadas. Uma gota de suor escorreu pelo rosto.

— O que querem comigo? Dinheiro? Eu pago o que for.

Charon revelou um sorriso torto com seus dentes amarelados.

— Não preciso disso, querida. Vim só pegar emprestado a sua amiguinha. Sabe, há algumas semanas eu rastreei o IP do computador da sua casa e descobri que a Srta. Manson tinha em posse alguns documentos sigilosos. Não foi muito difícil descobrir tudo sobre a vida de vocês duas, afinal, estamos falando de uma celebridade!

Cynthia olhou para trás e viu que Petrel retornava vitorioso de sua batalha contra Duke. Ele chutou o Piplup ferido para fora da casa e saiu arrastando a perna.

— Merda de Pokémon inicial, como eu odeio eles! Deve ser porque nunca ganhei um...

— Ah, Petrel, já terminou? Então estamos de saída — disse Charon, voltando a atenção para Cynthia. — Escute, querida. Nós não queremos fazer mal a ninguém. Eu prometo que trago a Srta. Dawn de volta sã e salva na semana que vem, nesse mesmo horário e local, mas você precisa cumprir com a sua parte e não avisar a polícia. Pense nisso como a continuação do estágio dela, viu como sou generoso? Se você avisar a polícia e eles vierem atrás de nós, a sua amiga vai se machucar. Sabemos onde você mora, e mesmo que tente se mudar, eu vou descobrir e encontrá-la de novo. E aí mais gente vai se machucar, como essa florzinha... — A mão enrugada do homem acariciou os cabelos de Verity.

— Olha, mamãe, passei de fase! — disse a criança contente.

Cynthia tremia de raiva. Verity só tirou os fones quando se deu conta das condições.

— Mãe? Por que você está tão machucada? O que está acontecendo?

— Mamãe caiu da escada — Cynthia respondeu com a voz doce.

— Sorte que estávamos por perto, não? — Charon mexeu nos cabelos da criança. — Ouça Verity, cuide direitinho da sua mãe enquanto ela se recupera, ouviu? Como eu havia dito para você, vou precisar levar a tia Dawn para fazer um trabalhinho, mas ela volta. Até lá, comporte-se, ouviu?

Petrel abriu a porta traseira da van e Charon saltou para trás. Os dois ainda encaravam Cynthia, como se quisessem se certificar de que ela não iria começar a gritar ou ligar para a polícia. Haviam levado Dawn e as pokébolas contendo seus seis Pokémon, incluindo seu Garchomp, mas no momento só conseguia pensar na segurança de sua pequena.

Cynthia abaixou-se para abraçá-la e começou a chorar.

— Tá tudo bem, mãe... tá doendo muito? Você disse que eu preciso ser uma mulher forte quando crescer, e que mulheres assim não choram... — disse Verity, retribuindo o abraço dela e beijando seu rosto machucado como se tivesse poder para curá-la.

— Me desculpe... eu nunca mais vou deixar que algo assim aconteça a você — lamentou Cynthia. — Você passou por tanto desde que nos conhecemos... você trouxe mais brilho à minha vida.

Cynthia verificou o bolso da calça para ter certeza de que seu celular continuava ali e só conseguiu pensar em um número para ligar.

 

ii

 

Todo mundo lhe dissera que tornar-se campeão era o final da jornada. Mas ainda havia tanta coisa para se descobrir!

Luke Wallers estava abismado com o tamanho do mundo. Nos três anos que se seguiram aventurando-se com seu irmão, conhecera treinadores muito mais poderosos do que ele, vira paisagens únicas e belas, mas nenhuma como os cartões postais de Sinnoh. Ainda amava sua casa.

Desde que voltara de suas viagens por Hoenn e Alola, Luke uniu-se ao seu velho amigo de infância, Stanley, para cumprir um desafio inusitado. Em uma dessas reuniões de domingo na casa de seus pais, tio Glenn acabou mencionando o quanto a Battle Tower era desafiadora e como poucos treinadores na história haviam alcançado o 100º andar com uma sequência de cem vitórias consecutivas. Seria mais uma estrela dourada para seu Cartão do Treinador, cinco delas e receberia a Black Deluxe Edition, um luxo de dar inveja em qualquer um.

— DU-VI-DO que você consiga ganhar dos cem andares seguidos — disse tio Glenn como quem só quer provocar.

E Luke não gostava de ser desafiado.

48º andar, 48ª vitória. A última vez que sentira suas mãos tremerem tanto havia sido na batalha contra Ike Smithsonian na Liga Pokémon. Stanley se aquecia no banco ao lado, preparava os três Pokémon mais fortes de sua equipe, pois estavam fazendo batalhas em duplas. Fire Tales e Red Fortress reunidos, os holofotes todos centralizados nele.

— Parece até que o meu coração vai sair pela boca — disse Stan a um dado momento. — Você sabe quem está no 50º andar, não sabe?

— Tô ligado — respondeu Luke. — Seu pai.

Palmer Tycoon. Nos tempos de Walter Wallers, diziam que ele havia sido um dos poucos a derrotá-lo de igual para igual em inúmeras ocasiões. Oficialmente Walter teve sua revanche durante a Liga o que coroou o campeão naquela temporada e o pôs na frente. Palmer decidiu não tentar outra vez, mas especializou-se em outras técnicas e dizem até que capturou Pokémon lendários.

— Só mais uma. Só mais uma — repetiu Stanley. — Depois de hoje, vou precisar de uma semana para me recuperar, pode ser? Prometi para a Vivian que ia passear no domingo com ela, talvez assistir aquele desenho Como treinar seu Charizard 3 que tá em cartaz.

— Tá tranquilo — Luke respondeu. Sempre fora de poucas palavras em momentos cruciais, pois concentrava todas suas energias na batalha que estava por vir. — Quando foi a última vez que encontrou teu pai?

— Acho que já tem uns três anos... — mencionou Stanley. — A gente não se fala muito.

— Deve ser estranho ter pais divorciados.

— Até que não. Ele sempre auxiliou no que eu precisava. Foi por causa da indicação dele que o Profº Rowan me colocou na frente para receber meu Turtwig. Mas encará-lo assim em uma batalha vai ser como enfrentar um completo estranho.

Luke balançou com a cabeça, compreensivo. Seu PokéNav vibrou. Verificou a ligação — número desconhecido. Estava acostumado a ignorar números privados desde que seu pai começou a receber com frequência trotes de gente idiota insinuando que haviam sequestrado seus filhos, exigindo quantias absurdas de dinheiro enquanto ele e Lukas estavam no quarto ao lado assistindo TV.

— Você não vai atender, vai? — perguntou Stanley. — A batalha, cara. Foco na batalha.

Luke respirou fundo. Algo em seu coração pediu que atendesse. Ele levou o celular à orelha.

— Fala.

Ele ouviu a voz de uma mulher, chorando baixinho.

— Luke, graças à Arceus você atendeu... É a Cynthia, eu... Preciso da sua ajuda.

— Cynthia? O que aconteceu, por que essa voz? — ele questionou, cheio de preocupação. Ele a considerava praticamente sua segunda mãe. Ouvi-la daquela forma lhe deu um tremendo aperto no coração, pois nunca a ouvira chorar.

Cynthia tentou contar-lhe todos os detalhes do ocorrido, mencionou as ameaças e o fato de seus Pokémon terem sido levados. Não sabia onde esconder a cara, pois há tempos Walter lhe aconselhara a se mudar para um lugar mais seguro ou investir em segurança. Por mais tranquila que fosse a Resort Area, ela nunca estaria livre de criminosos por ser uma celebridade visada, o que também colocaria sua família em risco, e agora ela pagava o preço.

Eram tantas preocupações que Cynthia não conseguia acreditar como deixara sua família exposta. Quando mencionou o nome de Dawn, o coração de Luke gelou.

— Eles a levaram, Luke... Não entendo o motivo, a Dawn nunca fez nada que a colocasse no caminho dos Rockets. Você precisa ajudá-la, Luke, por favor... Não podemos envolver a polícia nisso, eles ameaçaram a Verity, se alguma coisa acontecer com a menina...

— Não vai — respondeu Luke. — Eu não vou deixar.

— Você precisa ser discreto. Não dá pra acreditar que esses idiotas se rebaixaram tanto — falou Cynthia com indignação. — Pensei que esses lunáticos já tivessem desaparecido do mundo, mas eles continuam a colocar vidas em risco e se provam cada vez mais ousados em seus meios!

— Rockets de novo, hein? Esses roteiristas estão ficando meio sem criatividade, não acha?

Cynthia não pôde conter um riso breve. Em meio a todo o caos que sua vida se encontrava, Luke sempre era capaz de fazê-la rir.

— Só traga a nossa Dawn de volta... — implorou.

— Se precisar, eu afundo esse continente inteiro para trazê-la — respondeu Luke.

— Me dê apenas dois dias para me recuperar, e eu mesma vou atrás desses idiotas com todas as minhas forças.

— Nem se dê ao trabalho. Te dou notícias assim que puder.

Assim que desligou o telefone, Stanley o encarava com o semblante sério do outro lado.

— Deu ruim? — ele perguntou.

Seu parceiro de batalha apenas confirmou.

— Deu ruim.

— Vou remarcar a batalha. Digo que você está com dor de barriga, invento uma desculpa. Não sei direito o que está rolando, mas só me diga o que fazer enquanto você estiver fora.

— Preciso fazer uma ligação urgente, mas o Lukas não está atendendo...

— Se isso requer que os Irmãos Wallers se reúnam novamente, a coisa é séria — falou Stanley. — Tente não afundar uma ilha inteira de novo, tá?


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  1. Eu vou ser meio curto, mas vamos lá...

    Beleza meu bom? Então, esse 2 do Post Game ficou bastante interessante. Devo dizer que eu não imaginava isso vindo, e nem tampouco que teria Petrel e Charon unidos! É bacana ver os vilões agindo num plano razoavelmente bem bolado ( ao que parece ), e bem, pobre Dawn, foi raptada! A coitada tá sempre na jornada pra "sifudência".

    Devo dizer que estou interessado em ver como as coisas vão se desenrolar. Bem, é isso, valeu aí e até mais!

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    1. Fala, mano Napo! Apesar do período de dois anos e meio que separam esse capítulo e o primeiro, fico feliz por saber que voltou a acompanhar. Sempre bom te ver por aqui.

      Eu concluí essa versão em meados de 2020 e de lá para cá não alterei muita coisa. Estou tentando retomar essas várias pontas esquecidas de AeS, e também brincar com personagens que nunca tiveram seu merecido destaque. Eu mesmo lembro de pouquíssima coisa sobre o Charon em Platinum, mas estou bebendo da mesma fonte que o Dr. Erlenmeyer pra criar esses cientistas que sempre vem pra atrapalhar todo mundo kkkkk
      E Dawn raptada já é quase um padrão, acho que a essa altura até ela se acostumou hahaeh

      Valeu meu mano, estou pensando em manter as postagens a cada 15 dias, vou só dar uma última revisada enquanto preparo o capítulo final. Te vejo na próxima!

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