Archive for February 2021
Sinnoh Confirmed! Remakes dos Jogos Brilliant Diamond e Shining Pearl
Eu ainda guardo meu DS Fat azul com muito carinho. A tela de cima está por um fio, mas segue firme e forte. Foi ele o responsável por aguentar minhas 430 horas de Diamond *risos* Velho de guerra! |
A estrada para Jubilife! |
Apesar do estilo chibi ter sido escolhido para o Overworld, os personagens aparecem mais próximos da realidade durante as batalhas. Será que contaremos com cutscenes nesse estilo? |
Os remakes serão desenvolvidos pela ILCA, de Pokémon Home, mas com a supervisão de Junichi Masuda. |
Outra novidade que o Direct nos trouxe foi o novo título da franquia — Pokémon Legends - Arceus! A história se passará em uma Sinnoh de tempos antigos, quando as pokébolas ainda não tinham sido modernizadas e os povoados se concentravam em pequenos vilarejos.
Notas do Autor [Capítulo 1 - Remake]
— Amanhã é certeza que vai dar bom! — eu disse. — Vamos adiantando um post com as notícias?
— SIM! E aproveitamos para reescrever Sinnoh inteira.
E vocês conhecem a figura. Foi lá e fez, como prometido. O Capítulo 1 que apareceu de forma inesperada aqui no blog é um reflexo disso, um remake completo e detalhado dos Capítulos 1 e 2 do Aventuras em Sinnoh lá de 2010, reescritos pelo autor do Aventuras em Johto, nosso PresiDento.
Quase 10 anos se passaram e esse blog continua sendo uma das coisas mais preciosas que construí na minha vida. Sempre me pego voltando aqui para ler comentários, trazer algumas atualizações da minha vida e relembrar os bons tempos. Naquela época éramos todos moleques com seus 14 anos brincando de escrever, e olha só onde chegamos. Eu jamais teria conseguido cumprir essa difícil tarefa que era reescrever minha própria fanfic, porque sei que eu acabaria mudando demais os elementos e no final toda aquela essência mágica e divertida teria desaparecido. O Dento nos entregou isso com maestria — e de uma forma tão sutil que aposto que você pensou que fosse mesmo a minha escrita! Bom, 50% dela, ao menos. *risos*
Ao reler esse capítulo tive uma única impressão: cada trecho continua nítido em minha mente. É como se a história sempre tivesse sido assim (mas, se você voltar para comparar, vai ver o desastre que era). Há um cuidado especial nos detalhes — as palavras Brilliant e Shining estão escondias como easter eggs — o Dento se preocupou também em consertar furos que ficaram, como o fato da Dawn não ter reconhecido os Irmãos Wallers após Luke dizer seu nome completo, ela também nunca consertou sua PokéDex, ou então toda aquela confusão que ela armou com as batatas gratinadas, recontado de uma forma que só nos faz pensar: Mas não foi sempre assim?
É, meus caros, contar histórias é uma verdadeira arte!
Enfim, aqui estamos nós, em pleno 2021 e surtando outra vez com uma história de Pokémon que já conhecemos. E como diria o Velho Rei do universo de Matéria, em uma de suas últimas viagens pelo mundo, suas palavras vieram a ser eternizadas:
— Foi belíssimo.
Capítulo 1
A pequena cidade no interior da região de Sinnoh
estava belissimamente iluminada com o
sol que irradiava por entre as espessas nuvens naquelas primeiras horas da
manhã. O calor ia derretendo de forma lenta a neve depositada nas portas,
janelas e quintais com o rígido inverno que assombrava o continente nos últimos
tempos. Até mesmo os Starlys que sempre piavam felizes enquanto voavam
procurando alimento se escondiam em seus ninhos no topo das árvores num esforço
para poupar energia. Por outro lado, os Budews que habitavam os bosques que
circundavam a cidade viam a oportunidade de fazer fotossíntese com a luz solar
que os tocava com intensidade enquanto se abrigavam em moitas molhadas de
orvalho.
Twinleaf Town era lar de uma paz indescritível, um
paraíso na Terra, daqueles que apenas o ambiente interiorano poderia trazer.
Por entre as ruas, casas elegantes e decoradas com bastante afinco, algumas
inclusive ainda ostentavam guirlandas natalinas na porta, dos mais variados
tipos. De uma das chaminés das casas a leste da cidade, havia uma fina fumaça
cinzenta que se dissipava conforme alcançava o céu azul, límpido e puro, que
servia de paisagem. Quem vivia em Twinleaf sabia que naquela residência, no
número 289, morava um casal ilustre, dois dos maiores treinadores de toda
Sinnoh, destaques icônicos de sua geração. Ela, Melyssa Wallers, foi uma das
coordenadoras mais emblemáticas e famosas dos Pokémon Contests sediados na
região, tendo conquistado inúmeras vezes o Grande Festival. Apesar da idade —
que não revelava para ninguém —, mantinha sua jovialidade aflorada, talvez pela
excelente genética. Tinha longos cabelos lisos e negros, assim como seus olhos,
que podiam passar de um olhar terno, delicado e carinhoso para um olhar
penetrante e furioso em poucos segundos.
Ele, Walter Wallers, até hoje é considerado o maior
treinador Pokémon de Sinnoh. Seu legado é seguido por diversos jovens que
querem imitar suas técnicas de batalha e tentar bater seu recorde de Campeão,
afinal, conseguira a proeza de manter o título por anos. Agora marcado pela
idade, podiam-se ver diversos fios brancos por entre o cabelo outrora castanhos
— o que dava, de fato, um charme a mais ao velho. Seus olhos verdes, apesar das
rugas, ainda mantinham o brilho de quem nunca havia perdido a curiosidade e a
paixão por tudo o que fazia.
Dentro da casa, espalhadas pelas estantes e paredes
nos corredores, havia diversas fotos de Walter e Melyssa com duas crianças.
Dois meninos, gêmeos, que apesar da semelhança física, eram completamente
diferentes na personalidade e nos ideais. Luke Wallers, o mais velho — por
apenas três minutos —, almejava seguir os passos de seu pai e ser o maior
treinador Pokémon do mundo. Já Lukas Wallers, o irmão mais novo, tinha o
objetivo de se tornar um Top Coordenador como sua mãe. Após passar uma
temporada em Jubilife morando com os avós enquanto frequentavam a Escola de
Treinadores, os dois irmãos voltariam para casa logo mais e dariam início ao
maior presente que poderiam ganhar ao comemorar 13 anos de idade, a permissão
para iniciar suas jornadas Pokémon.
— Estou ansiosa para vê-los... — suspirou Melyssa
enquanto cortava alguns legumes próxima a pia da cozinha.
A mulher preparava um almoço
especial para recepcionar os filhos. A cozinha era modesta, tinha tamanho o
suficiente para abrigar aparatos tecnológicos, como um micro-ondas, geladeira,
um fogão de seis bocas e armários de madeira onde panelas, potes e outros utensílios
de cozinha eram armazenados. Seu marido mantinha a concentração sentado à mesa,
fatiando cautelosamente algumas batatas. Sobre a mesa, um livro de receitas
aberto, dando à mulher as orientações necessárias para o prato que estava
fazendo.
— Depois de tantos meses sem
vê-los, estou com saudades. Quero ver quem cresceu mais — comentou Walter com
um sorriso carinhoso.
A concentração na cozinha impediu o
casal de notar o tilintar de um sino de bicicleta no jardim da frente. Uma
garota jovem, que devia ter por volta de 14 anos, conferia o endereço dos
Wallers em seu Pokétch — Pokémon Watch, no termo original de fábrica — cor de
rosa, um dispositivo que se assemelhava a um relógio com tela digital, onde
diversos aplicativos, incluindo mapas e bloco de notas, podiam ser instalados
para auxiliar o treinador em sua viagem. Na cesta acima da roda dianteira da
bicicleta, um Pokémon pinguim de penugem azul encarava sua treinadora e achou
engraçado quando uma rajada de vento frio fez os longos cabelos negros da
menina voarem para seu rosto e atrapalhar sua visão. Apesar de estar vestindo
um gorro branco na cabeça e um grosso cachecol no pescoço, não pôde evitar
sentir um arrepio.
— É aqui, Duke. Número 289,
Twinleaf Town. É a casa dos Wallers... — concluiu por fim após conferir pela
décima vez que era o endereço que procurava. — Obrigada pela companhia.
A menina retornou Piplup para a
Pokébola e, guiando a bicicleta a passos curtos, andou pelo caminho de pedras
do jardim.
O soar da campainha chamou a
atenção do casal. Sincronizados, seus olhos se cruzaram e as sobrancelhas se
ergueram.
— Está esperando alguém? Os meninos
só chegam por volta das duas.
— Não, meu bem. Olhe o fogo pra
mim, eu vou atender — pediu Melyssa ao marido se dirigindo à porta da sala
enquanto limpava as mãos no avental.
Pelo olho mágico, a mulher não
reconheceu a garota, mas, de vez em quando, jovens treinadores costumavam vir
pedir autógrafos ao famoso casal, apesar de ser a primeira vez que batiam a
porta àquela hora da manhã.
— Olá, dona Wallers. Meu nome é
Dawn Manson, sou assistente do Professor Rowan, da cidade de Sandgem —
apresentou-se a garota com um sorriso meigo.
— Oh, olá querida! — respondeu
Melyssa de forma surpresa. — Por favor, entre.
Dawn curvou levemente a cabeça para
Melyssa em um gesto de agradecimento pelo convite. Encostou a bicicleta em
frente à porta e tirou seus sapatos, como já tinha como costume. A menina foi
conduzida pela mulher até um aconchegante sofá e admirou por um breve instante
o que pôde da decoração da casa, afinal, não era todo dia em que se entrava na
residência de celebridades.
— Então, a que devo a visita de uma
das assistentes do estimado Professor Rowan? — questionou Melyssa para a menina
enquanto voltava da cozinha com uma pequena xícara e uma garrafa de chá quente.
Dawn fez uma cara de desapontamento
por um instante, o que foi notado por Melyssa.
— Não gosta de chá, querida? Que
tal um café? Walter, poderia vir aqui, por favor?
— N-não! Não é isso que eu... —
disse a menina tentando se justificar.
— Sim, querida? — A figura de
Walter Wallers fez Dawn sentir um gelo no estômago, daqueles que se sente
quando se está diante de alguém muito importante.
— Poderia, por favor, passar um
café pra nós? — pediu Melyssa gentilmente.
— Senhor Wallers! — exclamou a
menina levantando-se subitamente do sofá, tão embaralhada nas palavras que
acabou repetindo-as. — Meu nome é Dawn Manson, sou assistente do Professor
Rowan.
— É um prazer, jovem. Como está o
professor?
— Está bem.
Um silêncio constrangedor tomou
conta do lugar. Melyssa, com passos rápidos, se dirigiu à cozinha para mexer as
panelas e abaixar a intensidade do fogo. Ao voltar, percebeu que Dawn estava
angustiada, como se tivesse algo a dizer e não conseguisse colocar pra fora.
Talvez pela pressão da presença de Walter e Melyssa, mas havia ainda coisas a
serem preparadas para a chegada de Luke e Lukas e não havia tempo a perder.
— Você tem algum recado do
Professor Rowan pra nós? — questionou Melyssa na iniciativa de por um fim àquela
reunião esquisita.
— Erm... Sim... — respondeu a
menina, tentando manter a firmeza na voz, apesar do claro nervosismo que
sentia. — É sobre a encomenda de Pokémon iniciais solicitados para seus filhos.
— O que tem ela? — perguntou Walter
para Dawn depois de ver Melyssa apertando a ponta do avental de cozinha, como
fazia quando começava a ficar preocupada. — Aconteceu algo?
— Pra falar a verdade, sim... —
respondeu a menina de forma receosa, hesitando antes de formular cada palavra.
— Senhorita Manson, o que houve? —
Walter tornou a perguntar, dessa vez de forma um pouco mais firme.
— Vocês sabem... Estamos no auge da
temporada de iniciantes. Ultimamente, muitos treinadores estão saindo em
jornadas...
— Claro, todos têm grandes sonhos.
Até nossos filhos irão começar suas jornadas esse ano — assentiu Melyssa.
O suspense rodeou a sala. Os
Wallers encaravam Dawn, pois sabiam que ela não trazia noticias muito boas. Era
evidente a ansiedade e o nervosismo presentes no casal.
— Eu sinto muito mesmo, mas o
Professor Rowan não tem Pokémon iniciais para oferecer aos seus filhos.
O silêncio foi quebrado pelo som da
panela de pressão liberando o ar pelo pino vermelho em sua tampa. Melyssa
arregalou os olhos e abriu a boca em sinal de desgosto. Dawn os observava
cautelosa, afinal, havia acabado de decepcionar o maior casal de Sinnoh e a culpa
era totalmente sua.
— Não pode ser... — disse a mulher
angustiada.
— Eu s-sinto muito! — desculpou-se
outra vez a menina.
Melyssa começou a andar de um lado
para o outro com as mãos na cabeça.
— O que vamos fazer? — perguntou em
voz alta. Walter a encarava de forma preocupada.
— Calma, querida, vai dar tudo
certo. Não perca a cabeça! — e levantou-se, dirigindo-se a ela.
Dawn aproveitou o momento em que
Melyssa era consolada pelo marido para sair dali o quanto antes.
— Err... Se vocês me dão licença, preciso
ir embora. Era só isso o que eu tinha pra dizer pra vocês — curvou-se diante o
casal e tentou dirigir-se até a porta.
— Onde você pensa que vai? —
perguntou Melyssa para a garota de forma tão séria que os pelos da nuca da
menina se arrepiaram. Pasma, Dawn virou-se para a mulher e assustou-se com o
olhar sanguinolento disparado em sua direção.
— Meu amor, tenha calma, a menina
não tem culpa. Eu tive uma ideia — Walter começou a falar cautelosamente, se
colocando entre a esposa e a jovem assistente. — Senhorita Manson, eu e minha
esposa precisaremos sair para resolver isso. Por favor, cuide do almoço.
Walter apressou-se e pegou algumas
Pokébolas de cores vibrantes dentro de uma gaveta na estante.
— Cuidar do almoço? Mas eu não sei
cozinhar! — exclamou Dawn começando a ficar em desespero. No entanto, Walter
não lhe deu a atenção devida.
— Tem um livro de receitas em cima
da mesa. Siga as instruções, você vai se sair muito bem. Não iremos demorar
muito.
O homem pegou a mão da esposa e
caminhou com pressa em direção à porta, abrindo-a em uma velocidade
impressionante enquanto Melyssa, meio atônita, só teve tempo de pegar um par de
casacos pendurados no cabideiro de madeira. Do lado de fora, Walter sacou uma
PokéBola do bolso da calça. Um raio branco foi visto e, aos poucos, a forma de
um fabuloso Tropius pôde ser vista no jardim, o que fez Dawn suspirar por um
breve instante. Suas asas lembravam folhas de bananeira que dançavam com o
toque do vento. Em seu pescoço, as bananas maduras exalavam um aroma doce que
logo chamaram a atenção de alguns Starlys que se abrigaram em ninhos ali
próximos.
— Para onde vamos, querido? —
perguntou Melyssa enquanto embarcava no enorme Pokémon.
— Vamos encontrar bons Pokémon pros
nossos filhos. Conheço alguns lugares fantásticos e pretendo capturar algo que
os agradem — explicou Walter.
— Mas... e eu?! — choramingou Dawn.
Melyssa apontou o dedo indicador
para a menina.
— Nem pense em sair daí sem
completar o almoço! — exclamou de forma ameaçadora. — Receba nossos filhos e
invente alguma história. Se você fizer algo errado... Vai se arrepender de ter
nascido!
Dawn choramingava baixinho enquanto
via os Wallers desaparecerem cada vez mais no azul do céu Sinnohano e não soube
dizer até onde ela estava brincando. O Tropius abriu suas enormes asas e alçou
voo, desaparecendo no céu forrado de nuvens.
— O Professor Rowan não vai gostar nada, nada
de saber disso...
Um estampido alto fez Dawn soltar
um gritinho. Um flash de luz emanou de sua bolsa e logo a forma de Duke
apareceu na frente da garota.
— Pip? — questionou o Pokémon.
— Duke! Como foi que você saiu?
— Plup! — piou o Pokémon de forma contente.
— Quer saber? Deixa pra lá...
Dawn e Duke entraram novamente no
interior da residência dos Wallers. A garota se jogou no sofá e encarou o teto
por alguns instantes enquanto se perdia em pensamentos. Ela não sabia cozinhar,
mas não queria enfrentar a fúria de Melyssa Wallers. Duke reparou que sua
treinadora não estava bem e tentou consolá-la, ficando ao seu lado e dando
tapinhas em seu cotovelo.
— O que é que eu vou fazer agora? —
perguntava para si mesma. Ela não sabia se achava graça da situação ou
esbravejava de indignação.
i
Os irmãos Wallers pedalavam
ansiosos pela estrada da Rota 202 que levava à Twinleaf. O vento congelante
soprava e os atingia com vontade, ameaçando fazer até mesmo a inseparável boina
de Luke voar, mas o garoto a segurava com a mão esquerda enquanto a outra
guiava o guidão da bicicleta. A ansiedade em chegar em casa os fazia enfrentar
qualquer situação.
— Ansioso, Lukas? — perguntou ao
irmão.
— Não muito... — respondeu o gêmeo
de forma tranquila.
— Pois eu estou, cara. Quero
escolher logo o meu Turtwig e mostrar pro mundo que eu sou o melhor! E também
rever nossos pais, né? É claro! — exclamou Luke com um sorriso ofegante.
Com a aproximação de Twinleaf, os
irmãos Wallers começavam a se familiarizar com as paisagens e a relembrar as
tantas histórias que viveram por aquelas bandas quando eram mais novos. Mal
sabiam eles que naquele mesmo instante, a então desconhecida Dawn Manson estava
com dificuldades de amarrar um avental em sua cintura fina. Após se certificar
de que havia dado nós o suficiente, a garota voltou a atenção para o livro de
receitas aberto em cima da mesa.
— “Batatas gratinadas”? Será que
era isso que os Wallers estavam fazendo pro almoço? — quis saber Dawn prestando
atenção ao redor de si. Percebeu as batatas descascadas em cima da mesa que
outrora estavam sendo cortadas por Walter e suspirou aliviada que ela não teria
de inventar um prato novo — bastava apenas dar prosseguimento à receita que já
estava sendo feita.
A menina sorriu apoiando os punhos
nos dois lados da cintura.
— É isso, Duke! Acho que não deve
ser tão difícil cozinhas batatas, né? É só... batata, fica bom de qualquer
jeito — comentou a menina enquanto folheava o livro vermelho de receitas de
Melyssa.
BATATAS
GRATINADAS
Ingredientes
- 5 batatas
médias
- 150 ml de
leite
- Sal, pimenta
do reino, noz moscada e alecrim a gosto
- Manteiga ou
margarina para untar o refratário
- Queijo ralado
para polvilhar
Pré-aqueça o
forno a 190°C.
A menina olhou para o fogão e notou
que o forno já estava ligado. Havia uma boca desocupada, resolveu utilizá-la
para preparar o prato. Ao acionar um dos botões, o fogo da panela de pressão
desligou. A garota coçou a cabeça e girou o próximo botão, que fez com que
outra panela desligasse.
— Por que esses aparelhos não vêm
com legenda? Como eu vou saber o que liga o quê?
Piplup olhou para uma prateleira ao
lado do fogão onde havia uma caixinha de fósforos. Pegou impulso e com certo
esforço pulou na pia, a atravessou e pulou para pegá-la com o bico. Dawn notou
que Duke apontava para a caixinha no bico e depois, para o fogão, o que a fez
entender a ideia. Assim que uma das bocas do fogão que ela havia apagado sem
querer reacendeu, um sorriso largo se formou em seu rosto.
— Conseguimos passar da primeira
fase, Duke! Agora, será que dá pra deixar o fogo mais forte? — perguntou a garota, girando o botão e
apagando uma das bocas novamente. — Opa, é pro outro lado...
Após aprender a dominar o fogão, a
atenção de Dawn voltou-se para o livro de receitas, onde passou a seguir as
instruções para preparar o prato.
— “Unte um refratário com a margarina ou manteiga...”. O que é um refratário? — questionou para si mesma
olhando ao redor e reparando em cima da pia que havia uma forma de pudim. —
Bom, vai essa panela esquisita mesmo... “Em
seguida, corte as batatas em fatias”. Acho que o senhor Wallers facilitou
essa parte do trabalho pra nós — sorriu a menina para Duke. — “Disponha as batatas cozidas no refratário, tempere o leite com o sal, pimenta, noz moscada e alecrim...”, onde é que
eu vou achar essas coisas?
A atenção de Dawn voltou novamente
para a pia da cozinha, onde Melyssa cortava os legumes. Havia um pote de vidro
com uma etiqueta gasta com uma palavra em outro idioma escrito: “SUGAR”.
— Achei! Esse aqui é o sal!
Duke exclamou em desespero para
Dawn.
— P-piplup, pip!
— Não se preocupe, Duke, eu não vou
colocar muito. Eu sei o que estou fazendo — tranquilizou a menina para o seu
Pokémon enquanto colocava cinco colheres de açúcar nas batatas.
ii
Os irmãos Wallers pedalavam
tranquilos pela margem do misterioso Lake
Verity, um lago natural que banhava a divisa entre Twinleaf Town e a Rota
201, cheio de vida. Pokémon eram vistos correndo entre as árvores da grande
floresta que o rodeava, e até mesmo nas águas podia-se ver Goldeens e Seakings
fazendo saltos e malabarismos de forma majestosa, balançando suas caudas em
movimentos suaves. Mesmo com a neve espalhada pela copa das árvores e pela
grama que se estendia até onde os olhos poderiam enxergar, as suas águas, por
algum motivo mágico, nunca eram congeladas. Luke e Lukas observavam tudo
sentindo um misto de nostalgia e encantamento.
— Ei Lukas, se liga! É aquele lago
que costumávamos brincar quando éramos pequenos.
— É verdade... Já faz tanto tempo
que não passamos por aqui. Vamos dar uma parada, irmão, eu não aguento mais
pedalar — disse Lukas passando as costas da mão esquerda na testa e limpando o
suor.
As árvores balançavam fracas com a
brisa gélida soprada. Os pinheiros cortavam o céu com seus longos galhos e o
chão embaixo delas estava inteiramente coberto por pinhas. Aquele lugar
costumava ser tão pacífico e contar com certa misticidade que era comum que os
moradores da região viessem até ele para esquecer-se de seus problemas enquanto
admiravam as belezas naturais do local. Os irmãos Wallers caminhavam pelas
alamedas que davam acesso ao lago e surpreenderam-se por encontrarem o lugar
exatamente como era em suas memórias, como se protegido por um véu em que o Tempo
e suas marcas não tivessem efeito.
— Olha só! O lago parecia tão
grande quando a gente era pequeno... e continua enorme — riu Lukas, relembrando
de sua infância enquanto olhava para as águas.
— Você que não cresceu, pivete —
brincou Luke.
— Temos a mesma altura, não adianta
tentar parecer maior que eu — rebateu Lukas.
Os irmãos Wallers iniciaram uma
discussão que foi interrompida no momento em que os dois se deram conta da
presença de um homem estranho próximo à margem em que estavam próximos. Ele observava
uma caverna misteriosa que jazia no centro do Lake Verity que muitos diziam ser
o lar de um Pokémon lendário, apesar de ninguém nunca ter conseguido alcançar a
sua entrada. O homem era alto e tinha cabelos acinzentados, com um rosto que,
diferente do lago, era marcado pelo tempo. Sua expressão séria não era nada
convidativa. Trajava um uniforme cinza que deixava evidente seus músculos
definidos, o que lhe fazia ser uma figura a ser temida. Com os braços para
trás, o homem sequer piscava.
— Quem é esse tio? — sussurrou Luke
para o irmão.
— Sei lá... Não lembro de ter visto
ele antes em Twinleaf. Ei, ele tá vindo pra cá.
Os irmãos nem tentaram disfarçar
que não haviam percebido sua presença. O homem caminhou de forma tranquila na
direção dos meninos.
— Com licença — pediu com sua voz
grave, sendo prontamente atendido pelos gêmeos.
Ao vê-lo se distanciar, Lukas
voltou a comentar com o irmão:
— Que cara estranho, né?
— Deixa quieto, cara. Vamos, quero
ver se a minha marca na árvore dos Starlys ainda tá lá! — disse Luke saindo em
disparada.
— Não antes de mim! — retrucou
Lukas correndo atrás dele como um reflexo.
***
— “Espalhe pedacinhos de margarina sobre as batatas”, “polvilhe queijo
ralado e coloque no forno até ficarem douradas”... Já fizemos tudo isso,
mas será que era pras batatas ficarem tão pretas? Acho que é porque elas devem
ter fritado, e coisa frita é boa, né? — concluiu Dawn, satisfeita com o próprio
trabalho.
— Plup... — piou o Pokémon em um suspiro de decepção.
— Acho que já tá bom da gente ir,
né, Duke? Eu vou deixar as batatas no forno, já terminei o almoço então eu acho
que não tem problema de eu ir embora antes de eles voltarem. Eu não quero nem
ver como são os filhos deles... Devem ser tão extravagantes quanto os pais.
Dawn se certificou de fechar a
porta quando saiu. Pegou a bicicleta estacionada no jardim e partiu em direção
à Sandgem, com Piplup na cestinha em sua frente.
Conforme se dirigia para a Rota
201, a menina ia deixando a casa dos Wallers e grande parte de Twinleaf Town
para trás. Um Pokémon chamou a sua atenção, pulando alegremente de galho em
galho nas árvores que permeavam a cidade.
— Aquele é um Kricketot, não é?
Preciso escaneá-lo na PokéDex — comentou Dawn enquanto estacionava a bicicleta
e procurava pelo dispositivo na bolsa. Estranhamente, o aparelho não se
encontrava no bolso em que a menina tinha certeza que havia deixado. — Duke,
ela sumiu! Minha PokéDex sumiu! Será que eu a deixei na casa? Impossível, eu
não mexi nela enquanto estava lá. A não ser que... Eu a tenha deixado cair no
Lake Verity enquanto estávamos procurando os Pokémon para o Professor Rowan!
Ele vai ficar furioso, precisamos encontrá-la depressa!
Dawn voltou a pisar com força nos
pedais da bicicleta e se dirigiu veloz na direção do Lake Verity.
iii
Lukas e Luke corriam por entre as
árvores procurando o pinheiro que os garotos se lembravam de ser tão velho
quanto a própria vila, tendo sido plantado ainda no tempo de seus avós. Lukas chamou
a atenção de Luke para a gigantesca árvore que erguia-se como a rainha entre
suas irmãs, de maior pompa e soberania. O mais velho correu em direção a ela,
mas travou no momento em que ouviu um estampido. Ao olhar para o chão, notou um
dispositivo cor-de-rosa que tinha duas telas e que agora estavam separadas.
— Opa. Pisei em alguma coisa que não
podia... isso era importante? Parece um celular — comentou Luke ao levantar o
estranho objeto.
— Isso não é um celular, é uma
PokéDex! Vimos uma na escola, lembra? Parecia novinha... E se o dono vier
buscar? — perguntou Lukas, preocupado. — Você deveria prestar mais atenção por
onde anda, Luke!
— Deixa isso aí — riu o garoto em
resposta. — Ninguém vai perceber. E se deixou cair, é porque é descuidado. Não
tem como descobrir que foi quebrado pela gente, qualquer coisa fala que foi um
Pokémon.
— Seu desastrado... — disse Lukas
enquanto pegava o objeto das mãos de Luke. — Se o dono aparecer, eu vou falar
que foi você.
Mas seu irmão não parecia
preocupado. Aliás, claramente não ouviu a ameaça de Lukas, visto que estava
distraído checando o grande pinheiro.
— Ahá! Tá aqui, o buraco feito
pelos Starlys! Tomara que minhas pedras raras ainda estejam escondidas — disse
o garoto em êxtase, colocando a mão dentro do buraco no tronco. — Brilhantes!
Reluzentes! Fantásti--AI! Minha mão!
Luke rapidamente tirou a mão do
interior do tronco e começou a agitá-la para dissipar a dor. Fora bicado por um
Starly que saiu furioso de dentro de seu novo ninho.
— Luke... O que você fez...? —
perguntou Lukas em certo tom de urgência. Diversos Starlys selvagens começaram
a aproximar-se dos irmãos de forma ameaçadora. Os Pokémon se aglomeraram e
começaram a bicá-los para proteger seu território.
— Caramba, Lukas! Me ajuda aqui, porra! — gritava o menino para o irmão.
— Mas você quer que eu faça o quê,
meu Arceus? — gritava Lukas de volta em desespero enquanto tentava afastar
revoadas de Starly selvagem ao redor de si.
Dawn aproximava-se com a bicicleta quando
reparou que os Starlys atacavam dois meninos atrapalhados que berravam um com o
outro pedindo ajuda e tentando afastar a nuvem de pássaros de si.
— Duke, nós precisamos fazer alguma
coisa pra ajudar! — exclamou a menina para seu Pokémon, que assentiu com a
cabeça. Os dois desceram da bicicleta e saíram correndo em disparada na direção
dos irmãos que claramente não sabiam agir em equipe.
— Lukas! Faça alguma coisa sem ter
que bater na minha cabeça!
— Quer que eu faça o quê? Quer que
eu faça o quê? — gritava o mais novo em resposta, já sentindo os braços
cansarem de tanto balançar a mochila contra os Starlys.
— Duke, use o Bubble! — ouviu-se uma voz feminina.
As bolhas de Piplup pegaram os
Starly de surpresa, fazendo com que as aves se dissipassem para o topo das árvores
novamente.
— Ei, vocês tão bem? Vocês se
machuc--
A pergunta de Dawn fora
interrompida por um inesperado crack,
um estampido de algo sendo pisado e quebrado. A menina fez uma cara de espanto
e seus olhos encheram de lágrimas.
— M-minha P-PokéD-Dex!
Lukas aproximou-se do irmão enquanto
o ajudava a se levantar e cochichou baixinho:
— Eu avisei que o dono iria voltar
pra buscar a PokéDex... Conta pra ela que foi você quem quebrou.
— Cê tá louco? Ela vai ficar mó
brava! Vou só agradecer e tá tudo certo — Luke respondeu, caminhando em direção
da menina que havia sentado no chão com os olhos marejados enquanto reunia os
destroços de seu aparelho. — E aí mina, obrigado por nos ajudar a espantar
esses bichos.
— Seja educado! — Lukas deu uma
cotovelada nas costelas do irmão.
— Ai! Aff, tá bom... Eu sou Luke e
esse aqui é o meu irmão, Lukas. A gente mora aqui perto, não gostaria de ir até
nossa casa? Nosso pai pode tentar arrumar esse... bagulho.
Dawn olhou para Luke e enxugou as
lágrimas. Voltar para o laboratório com a PokéDex destruída não era uma opção,
então restava aceitar o convite daqueles meninos.
— M-muito obrigada... — ela agradeceu
enquanto guardava os destroços dentro da bolsa. — Vocês não sabem que não podem
mexer com Pokémon selvagens sem ter um Pokémon consigo? É perigoso.
— Ah, n-nos d-desculpe p-pelos
p-problemas que c-causamos... — gaguejou Lukas.
— Liga não. Meu irmão não consegue
falar direito com mulher, ele fica trocando e repetindo palavras, é mó
engraçado — Luke acabou rindo enquanto fugia das tentativas frustradas de Lukas
de tentar fazê-lo calar a boca.
— Obrigado por acabar com a minha
reputação! Agora estou tão sem graça que eu não sei mais o que dizer... — Lukas
tentou esconder a face com a boina, o que fez Dawn revelar um sorriso por sua
meiguice.
— Não se preocupe. Acho que é
normal para garotos com a sua idade não saberem como lidar com garotas ainda.
Eu até acho uma gracinha.
Lukas ficou mais vermelho do que seu cachecol
rubro. Ele gesticulava com as mãos sem parar na tentativa falha de se
expressar-se.
— D-desculpa p-pelo a-alvoroço que
causamos. Não vai s-se repetir. Meu irmão queria pegar os artefatos dele e
acabou assustando os Starlys.
— Ei! São mais do que artefatos,
cara, são fósseis Pokémon ainda não descobertos! Um dia eu vou me tornar um
treinador poderoso possuindo diversos Pokémon ancestrais! — corrigiu Luke, enfiando
a mão dentro do buraco do pinheiro antigo e recolhendo as pequenas pedras que
estavam guardadas lá dentro para depois colocá-las na mochila. — Elas têm um
valor emocional muito grande pra mim, tá ligado, pivete?
— “Pivete”? Mas vocês não são gêmeos?
— perguntou Dawn reparando na extrema semelhança entre os meninos.
— Sou três minutos mais velho que
ele. Isso me dá poder.
— Só se for o poder de ser um
grande retardado — murmurou Lukas.
— O que disse, pivete?! — retrucou
Luke de forma agressiva.
— Nada, nada. Esquece — respondeu
Lukas para abafar a briga.
— Vocês dois são engraçados —
comentou Dawn entre risadas.
Os três deixaram o Lake Verity
pedalando juntos. Enquanto faziam o caminho pela Rota 201, evitavam a grama
alta para não se encontrarem com outros Pokémon selvagens, visto que só Dawn
parecia ter um Pokémon consigo. Foram pedalando e jogando conversa fora e mal
perceberam quando entraram de volta em Twinleaf. A garota foi ficando
preocupada, visto que aproximavam-se da área da cidade onde encontrava-se o
endereço dos Wallers. Já era possível de se ver a fumaça que emanava da
residência. Ela ainda estava preocupada com o almoço que havia preparado —
teriam os Wallers já retornado para receber os seus filhos?
Quando ela parou de pedalar, os
irmãos Wallers a imitaram.
— O que houve, Dawn? Você parece
nervosa — comentou Lukas.
— Nada não... Mas será que não
podíamos passar um pouco mais longe daquela casa ali?
— Ué. Mas aquela é justamente a nossa casa — riu Lukas.
Dawn petrificou imediatamente ao
ouvir aquelas palavras. Seria o destino ou simplesmente o azar? Em nenhum
momento ela havia percebido que aqueles garotos eram simplesmente os filhos dos
Wallers, justo a família que a garota procurava manter distância.
— Ah, jura? N-nossa! — exclamou a
menina suando frio. — Olha a hora, eu preciso ir! Lembrei de um compromisso,
nos vemos depois!
Porém, antes de ela sequer poder
dar meia volta, viu o sol ser tampado. Um grande Tropius surgiu e, em um piscar
de olhos, pousou a metros do trio de forma triunfal. De suas costas, Walter e
Melyssa desembarcaram como verdadeiros reis, majestosos e elegantes. Melyssa,
quando avistou seus filhos, deixou o marido para trás e correu para abraçá-los.
— Luke! Lukas! Como vocês
cresceram, estão tão bonitos! A obaa-san
cuidou bem de vocês? Como foi a viagem? Luke, isso é um machucado? Lukas, você
está lindo! O que aconteceu? Não me escondam nada! — dizia a mulher de forma
eufórica.
— Deixe-me vê-los também, Melyssa! —
Walter aproximou-se um sorriso enorme. — Como vocês estão crescidos! Estão
prontos para capturar Pokémon, meus filhos?
Aquela cena bonita não impediu Dawn
de soltar um grito desesperado.
— Aaaaaaaaaah!!! — e correu de um
lado para o outro com as mãos na cabeça.
— Senhorita Manson, até recepcionar
nossos filhos você o fez, muito obrigado! — agradeceu Walter, abraçando-a e
deixando Dawn vermelha.
— Você já conhecia nossos pais,
Dawn? — perguntou Luke.
— Não! Quero dizer, sim. Quero
dizer, não sei! — respondeu a menina sem graça.
— Nos conhecemos hoje! Vamos
entrar, porque quem cuidou de fazer um almoço fabuloso foi ela — exclamou
Melyssa, conduzindo o grupo para o interior da residência.
— F-fabuloso? — murmurou Dawn.
— EBA! — gritaram os gêmeos em
uníssono.
***
A forma de pudim com o que
aparentemente eram as batatas gratinadas preparadas por Dawn mantinha-se
intocada no centro da mesa. Havia um silêncio mortal entre os presentes. O
cheiro de queimado infestava a casa — ainda que Melyssa e Walter tenham
discretamente aberto todas as janelas da casa para tentar dissipá-lo —, a
menina sabia que tinha estragado tudo.
— Me desculpem... — murmurou a
garota, segurando a vontade de chorar.
— Não precisa se preocupar, está
com a cara ótima — exclamou Walter em uma tentativa de descontrair. O homem
levantou-se e serviu-se de uma pequena fatia do prato e levou uma garfada até a
boca. Luke, Lukas e Melyssa o encararam, esperando alguma confirmação de que
era seguro ingerir. Ao sentir o sabor, Walter quase cuspiu, mas usou um copo
d’água que havia deixado estrategicamente próximo ao prato para engolir.
— Está ótimo! — disse o Sr. Wallers, com uma
classe que só ele esbanjava.
Luke sentiu confiança nas palavras
do pai e serviu-se com um generoso pedaço da gororoba cozinhada por Dawn.
— BLÉRGH! ISSO TÁ HORRÍ--AI! — Luke
foi interrompido por uma cotovelada nas costelas. — Tá louco, pivete?! Por que
me bateu?
— Shhh! Cala a boca. Não fale assim
da comida dela — alertou Lukas com um cochicho para o irmão. — Tá com uma cara
ótima, Dawn... parece marrom glacê.
— Marrom glacê? Mas...
— Bom trabalho, Dawn! — parabenizou
Melyssa sem ter tocado no cardápio.
Luke partia para o terceiro copo de
água. O gosto amargo do prato de Dawn não saía do seu paladar. Detestava ser
contrariado, não compreendia o motivo de sua família não dizer a verdade para ela,
mas sentiu que deveria fazer o mesmo.
— É... Não está tão ruim — elogiou
Luke com um sorriso forçado.
Dawn não havia se tocado que
trocara o sal pelo açúcar. Ela enxugou as lágrimas e deu um lindo sorriso aos presentes
na mesa. Resolveu se servir também e, ao colocar a primeira garfada na boca,
quase vomitou.
— VOCÊS MENTEM MUITO MAL! —
exclamou a menina, nervosa. Os Wallers se entreolharam e caíram na risada, o
que fez Dawn Manson rir também.
O resto do dia passou rápido. Após
o almoço — que Melyssa prontamente se ofereceu para refazer e negou,
educadamente, toda e qualquer tentativa de Dawn de auxiliá-la —, os Wallers e a
menina sentaram-se na sala e trocaram conversas sobre Pokémon e aventuras. Walter
analisou sua PokéDex e chegou a mencionar que no seu tempo não existiam tais
geringonças, sem contar que elas eram inacessíveis para a maior parte dos
treinadores por conta do seu alto custo e manutenção. Sugeriu que ela fosse
sincera com o Profº Rowan e contasse o ocorrido, e por conhecê-lo há anos, sabia
que o velho pesquisador com toda certeza seria generoso em consertá-la.
Dawn aproveitou para compartilhar
sua rotina no laboratório como assistente do Professor Rowan enquanto Luke e
Lukas se interessavam pelo fato dela se envolver intrinsecamente com os
Pokémon. Os irmãos contaram sobre suas aventuras na escola e em Jubilife City,
discutindo para ver quem entre eles contava mais glórias. Walter e Melyssa
escutavam de forma atenta cada uma das histórias daquelas crianças e às vezes
se deixavam levar pelas lembranças das aventuras que tiveram quando tinham a
idade delas.
O sol ia se pondo no horizonte, o
que deixou o céu, outrora azul, em um laranja intenso. Os Starlys voltavam para
seus ninhos enquanto Bidoofs corriam para suas tocas nos bosques. A visita de
Dawn terminava junto com aquele dia marcante.
— Foi ótimo almoçar com vocês. Muito
obrigada, senhor e senhora Wallers! — disse a menina enquanto montava em sua
bicicleta.
— Você será sempre bem-vinda,
senhorita Manson — disse Walter de forma gentil.
— Foi um almoço... doce — riu
Melyssa.
— Até logo, Dawn! — despediu-se
Lukas enquanto Luke acenava da porta.
— Me desculpem por tudo... Foi um
grande prazer estar com vocês! — exclamou a menina partindo de volta em direção
à Rota 201, pela quarta vez naquele dia.
A bicicleta parou a alguns metros,
para surpresa dos Wallers.
— Ah, é! Não se esqueçam de passar
no laboratório para pegarem suas PokéDexes! — gritou ela para os irmãos antes
de voltar a pedalar. Luke e Lukas se entreolharam e sorriram. Amanhã seria o
grande dia para eles.
— Vamos pegar nossos primeiros
Pokémon, Luke! — exclamou o menino, feliz.
Walter e Melyssa se entreolharam.
Juntaram-se as mãos e acompanharam Dawn desaparecer pela longa estrada que
levava à saída da cidade. Luke tornou a reclamar do almoço preparado por Dawn e
como estava feliz com a partida da menina, afinal, ele podia finalmente comer
sem surpresas enquanto Lukas rebatia dizendo que o almoço estava bom, sim.
A noite caiu silenciosa. As
estrelas tomavam conta do céu e brilhavam como nunca antes, como se elas
próprias estivessem ansiosas para assistir o desenrolar das aventuras daqueles
dois garotos que logo cedinho partiriam para iniciar sua própria jornada
Pokémon. Murkrows voavam rondando as árvores, fazendo sombra à luz da lua. O
vento soprava fraco, fazendo sussurros assustadores e balançando os galhos das
árvores em uma coreografia fantasmagórica. Twinleaf Town era lar de mais uma
noite de tempos estranhos que vinham rondando Sinnoh nos últimos meses.
No entanto, Luke e Lukas pareciam
não ter nenhum tipo de receio com o mundo lá fora.
— O sonho de se tornar um Mestre
Pokémon começa amanhã, cara... — murmurou Luke, deitado na cama de cima do
beliche.
— Top Coordenador. É isso que eu
serei — complementou Lukas, com os olhos fechados esperando o sono chegar.
Walter e Melyssa observavam
cautelosos pela brecha na porta. Abraçados, o casal assistia os filhos
dormirem.
— Como cresceram... — comentou
Walter.
— Estão bonitos como você —
respondeu Melyssa. O homem sorriu, mas logo voltou a ficar sério.
— Me pergunto se fizemos a escolha
certa... — comentou ele, tirando uma Pokébola do bolso e olhando para ela de
forma intrigada. Melyssa tirou uma segunda Pokébola do bolso do avental e
também a olhou com preocupação.
A um amanhecer de distância, estava os sonhos distintos de Lukas e Luke Wallers. O esforço de Dawn, apesar do resultado inesperado, acabou por ser reconhecido por aqueles que ela não tinha a menor pretensão de impressionar. Uma nova jornada, uma nova aventura se iniciará. Uma busca incessante na realização de cada sonho.
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