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Notas do Autor (Capítulo 99)
O Capítulo 99 não é necessariamente o fim da fanfiction, mas é o último passo rumo ao final. É aqui onde sonhos se colidem, onde a Liga Pokémon finalmente alcança o seu fim e, arrisco dizer, que atingimos o nosso ápice desse projeto, o desfecho.
Aguardem na próxima semana o Capítulo 100, um último Fire Tales para se despedir (devidamente) de nossos adorados Pokémon e o tão aguardado Epílogo. Todavia, hoje é dia de Aerus e Titânia, decidiremos batalhas, romances e objetivos; estejam preparados para ler esse capítulo e que ele não seja apenas uma leitura banal ou cotidiana de seu dia, mas o fim de um ciclo para o início de outro.
Se você já leu, conte-nos qual foi a sensação. Se você chorou, se sentiu-se vazio, completo, tranquilo, ainda mais triste do que nunca, com vontade de acertar um soco na cara do autor e desenhista por ilustrações tão maravilhosas, hah, hah. Nos encontraremos uma última vez nos no derradeiro Capítulo 100, no mês de comemoração do aniversário de 4 anos de nossa boa Aliança Aventuras. Estejam lá! #OneLastTime
Capítulo 99
VS.
Titânia
O
fim estava mais próximo do que se imaginava. Os ventos traziam uma brisa leve e
salgada que vinha do mar, uma sensação de frescor que parecia limpar suas
almas, como se eles estivessem prestes a nascer de novo uma última vez.
Aerus
olhou para o horizonte. Paredes quebradas e rochas estavam empilhadas, tudo ao
seu redor já estava destruído e acabado. Batalhas intensas foram travadas desde
que chegara na Liga Pokémon, a própria estrutura da ilha parecia ter sentido
cada tremor a ponto de afundar no mar, mas deveria aguentar um pouquinho mais.
Os primeiros raios de sol se revelaram. Amanhecia. Havia deixado o anoitecer e
os pesares, e nem se dera conta do tempo passar. O silêncio daquelas primeiras
horas matinais era carregado e cheio de uma ansiedade que não se calava.
O
vento limpou a fumaça que se levantara após a explosão. Onde estava ela? Quando
iria aparecer? Iria ataca-lo desprevenido para colocar um fim naquele duelo o
mais rápido que pudesse?
— Eu estou aqui.
Ambos se encararam por longos minutos. Um
olhar que trazia uma mistura de felicidade por finalmente se reverem, mas
desejando que fosse numa posição diferente. Havia desamparo em cada um.
Exaustão. A vontade de terminar logo tudo aquilo. Tantas palavras presas na
garganta que agora não saíam. Eram como dois amantes que se amaram um dia, mas
seguiram caminhos diferentes de modo que o destino os impedisse de se juntarem
novamente.
— Ei, Tih — a voz de Aerus vacilou. Soou
mais como um desconhecido do que gostaria. — Como está?
A mulher olhou para a fortaleza destruída
ao seu redor. Era como um cenário pós-guerra, em que dois generais de facções
inimigas se deparam em uma caminhada pelos campos destruídos de suas nações. A
sensação não poderia ser mais angustiante.
— Bem. E você?
O Garchomp assentiu a cabeça, mas logo se
calou. Aquela sensação esquisita continuava. Watt os encarava de longe, em
silêncio. Tinha o Dragão Dourado ao seu lado, e juntos eles também observavam
tudo em silêncio. Será que a luta começaria, ou eles continuariam conversando,
como se nada tivesse acontecido? O esquilo agachou e levou as mãos até a
cabeça, transtornado.
— Seth, o que eu faço? Tudo que eu
gostaria era poder voltar para casa com os dois, mas, infelizmente sei que
nunca conseguirei.
— Só um vai voltar — respondeu o homem,
sério. — Você teria a capacidade de escolher?
Watt voltou a olhar para seus amigos e
abraçou sua cauda. Não queria nem pensar naquela possibilidade.
Titânia começou a andar na direção de
Aerus. A reação do rapaz foi de recuar dois passos. Não sabia se ela vinha para
abraça-lo ou ataca-lo, era impossível dizer. Embaixo daquela armadura de ferro
existia uma mulher que ele não conseguia mais alcançar. Não havia nenhum
obstáculo entre ambos e, mesmo assim, sua hesitação prevalecia.
— O que houve? — indagou Titânia. — Está
com medo de mim?
A maneira como a mulher afirmou tais palavras
poderia ser um desaforo, mas ela logo sorriu. Aquele sorriso que o fizera
apaixonar-se por ela.
— Ah, mas é claro que está! — a serpente
falou. — Sempre amedrontado e fugindo da monstruosa Titânia que vem para te dar
broncas, não é mesmo, senhor Draconeon?
— Ainda
sou a mesma criança daquela caverna, batendo na porta de entrada — disse Aerus,
relembrando-se de seus dias solitários na Wayward
Cave. — As paredes eram
pesadas, mas eu as derrubei e saí para que o mundo me recebesse. Eu não tenho
medo de mais nada.
— O medo — a mulher repetiu aquela
palavra, desviando o olhar. — Medo de perder nosso lar, nossos amigos, nossa
família.
— Refere-se aos próprios sentimentos ou
aos meus?
— Acho que essa afirmação é válida para
nós dois.
Com mãos vagarosas, a serpente retirou a
espada de sua bainha. Anima Argentum brilhava com os primeiros raios de sol
mais do que qualquer ouro ou metal precioso daquele mundo. Apontou-a contra seu
adversário, mas tão lentamente que parecia estar apenas demonstrando-a. Aerus
também ativou suas lâminas ocultas, movendo apenas os músculos do antebraço.
— Devemos começar? — indagou Titânia. —
Falta tão pouco...
— Quando quiser — as palavras de Aerus
vieram carregadas de um pesar. — Quanto antes terminar, melhor. Pelo bem de
todos nós.
O primeiro golpe veio por parte de
Titânia, que mergulhou sua espada com tamanha força que quebrou a defesa do
dragão, causando-lhe um rasgo no braço. Aerus agiu, mas sua lâmina errou o
alvo. A mulher movimentava-se com a suavidade de uma fada e a destreza de uma
dançarina. Os anos certamente lhe fizeram bem, mas Aerus não admitiria aquilo
na frente dela.
— Acha que melhorei? Vamos lá, diga. Eu
quero ouvir você dizer que estou mais forte do que nunca — Titânia brincou, e
seus ataques não mentiam, ela lutava com um misto de fúria e compaixão. Ao
mesmo tempo que esperava mata-lo, queria aproveitar só um pouquinho mais,
enquanto ainda tinha tempo.
— Acho que você perdeu alguns quilos. Não
te alimentaram direito? — Aerus respondeu num tom cômico.
— Eu deveria levar isso como um elogio?
Titânia girou com uma das pernas e usou a
outra para dar um chute forte no rosto do dragão, mas Aerus foi ágil em
defender-se com o braço direito. Ele também havia melhorado, e como! Poderia
não reconhecê-lo naquelas circunstâncias. A criança brincalhona e problemática
desaparecera e dera lugar não mais a um menino, mas um homem, e ela poderia
orgulhar-se, afinal, fora a responsável por seu amadurecimento.
— O menino cresceu — afirmou Titânia.
— E a mulher parece que não mudou
absolutamente nada — Aerus brincou. — Que tipo de maldição você usou para
continuar bonita assim?
— Isso sim eu posso considerar um elogio —
ela riu, mergulhando a espada lateralmente numa velocidade intensa, mas errando
o alvo.
— Eu adoro a maneira como você me
agradece! Tentando arrancar a minha cabeça. Acho que vou ter que acabar logo
com nossa brincadeira.
— Estávamos brincando até agora? —
Titânia indagou.
— Sim? — Nem Aerus tinha certeza da
resposta. A serpente riu discretamente.
— Não quero vê-lo chorar depois de
perder.
— Não me subestime.
Onde estava a sua família? Independente
do lado que procurasse, não via mais ninguém.
Quando era pequena, Titânia sempre se
perguntou se algum dia terminaria sozinha. Amava os Fire Tales, mas também
aprendera a amar os Remarkable Five. Se gostava tanto assim de sua antiga
guilda, porque simplesmente não os deixava ganhar? Uma vitória, e todo o
sofrimento acabaria. Estava cansada sem nem ter começado, como se só estivesse
absorvendo todas as energias negativas e o sofrimento de cada um que
participara da guerra. Era uma esfera no centro do universo, sugando tudo ao
seu redor; sofrimento e dor.
Mas, ao pegar-se pensando em Luke Wallers,
lembrava-se do que o ensinara e da maneira como acompanhara o garoto crescer.
Via em Aerus o reflexo de seu treinador, seu mestre. Eles eram praticamente a
mesma pessoa, somente separados por uma existência.
No fundo, será que todos os treinadores
eram iguais? Todos lutavam buscando apenas a vitória, ou havia algo mais?
Quando era jovem, a serpente não compreendia tais perguntas, mas o tempo lhe
trouxera as respostas. Sua jornada lhe dera experiência para encarar o mundo,
do bom e do pior, aprender com os fracos e lutar ao lado dos fortes.
E aprendera tanto com seus amigos, tanto,
tanto... Cada um deles parecia lhe trazer um novo ensinamento, um pedacinho a
acrescentar em sua vida.
Titânia,
trate de nunca fumar, mulher. É uma merda — dizia Tashiki, com um cigarro na mão.
Você
é habilidosa com uma espada! É por isso que minha irmã sempre me ensinou a não
subestimar uma mulher — ela ouvia Sonnen dizer, e enchia-se de orgulho.
Você
aprende a saborear o lado doce da vida quando conhece o amargo — Presidente sempre
repetia, em prol de suas experiências.
Você
é uma mulher incrível, de personalidade forte, convicções fixas. Honrada, bela
e justa. Qualquer uma gostaria de ser como você, acredite — repetia
Bonna Party incessantemente.
Adoro
os seus peitos — comentava Davy Jones.
Seja
a rainha que você nasceu para ser — ouvia a voz de iDie. — Não se ajoelhe perante ninguém.
Seria aquele o seu novo lar, de fato?
Havia trocado tudo que tinha por eles, e não se arrependia, mas quando via o
rosto de Watt, espantado, a contemplá-la como uma possível ameaça, chegou a
vacilar.
Amava os Remarkable Five.
Mas amava ainda mais os Fire Tales.
— Titânia. — Aerus a chamou, seco.
— Sim?
— Eu queria sorrir, mas não estou
encontrando forças.
Ela mordeu os lábios inferiores. Aquilo
doeu mais do que o corte mais profundo em seu peito.
Somente o som de metal com metal era
ouvido. Uma batalha sem torcedores, sem provocações. Não havia tambores, música
ou trilha sonora.
Titânia respirava pesado tentava trocar olhares com
Aerus, mas ele continuava usando aquela porcaria de óculos escuros, desde que
era um garotinho. E como odiava aquilo! O par de óculos a impediam de poder
enxergar os olhos dourados que ela tanto adorava, como se fosse proposital. Só
os via de relance quando um feixe de luz passava por entre eles, mas a vida
toda pensou se não conversava com um homem que tentava ocultar seus
sentimentos.
Ah, mas não podia culpa-lo. Fazia a mesma coisa, só
que com uma armadura. E apesar de toda a sua proteção corporal, sentia-se
desprotegida por dentro. Contra aquilo nunca poderia defender-se. Olhares e
emoções que a atravessavam como flechas atiradas a meio metro de distância,
flechas que atravessavam seu corpo e lhe causavam dor, mas não tiravam sua
vida.
— Vocês se
conhecem há muito, muito tempo, não? — Seth perguntou para Watt.
— Sim — ele
suspirou, abraçando sua cauda, exatamente como fazia desde que era apenas uma
criança. — Eu tinha medo de que eu
nunca fosse ser encontrado, mas hoje estou aqui, e não vou fugir.
— Consegue
perceber que essa batalha é entre vocês três?
— Como assim? —
perguntou o esquilo.
— Você está
aqui, assistindo-os. E os dois lados querem vencer para vê-lo feliz, mas isso
também causaria a sua infelicidade. Os dois lados querem ceder, e ao mesmo
tempo não querem. Sem mover um único dedo, você também será ferido por cada
golpe mortal nesse duelo final.
— Eu não posso derrotá-la! — Aerus
finalmente encontrou forças para gritar, mas não de uma maneira que se julgasse
inferior, mas que ele não teria coragem de tomar a iniciativa quando a hora
chegasse. — Eu não vou conseguir!
— Força, ao invés do medo. — Titânia
repetia toda vez que mergulhava sua espada contra ele, fazendo com que toda a
estrutura ao seu redor tremesse. — A
hora chegou! Derramarei uma lágrima por todas as vezes que batalharmos, mas é
inevitável, porque minhas lágrimas não serão necessariamente de tristeza, mas
de todas as lembranças maravilhosas que vocês me propuseram até o dia de hoje!
Aerus parou de atacar.
— E-Eu não quero...
Não vou conseguir derrotar você... — o dragão sibilou com a voz trêmula.
Titânia abriu bem seus braços e começou a sorrir.
— Mas é claro
que não vai — ela respondeu com sua risada adorável. Estava insinuando que
aquela criança birrenta jamais poderia vencê-la? — Eu sou feita de titânio, lembra?
Enquanto lutavam,
ela sorria. Seus lábios moviam-se com uma serenidade terna que lhe davam a
impressão de que se moviam por si só. Ela cantava uma canção, bem baixinho, não
queria que ninguém ouvisse. Era só para aquietar aquele coração que continuava
batendo acelerado em seu peito, como uma cantiga de ninar para quem teima em
não descansar.
"Outro dia, outro amanhecer
Estou voltando para onde eu pertenço, e eu nunca me senti tão forte
Eu sinto que não há nada que eu não possa tentar
Se você já perdeu uma luz antes, esta é pra você
Os sonhos são para você
Estou voltando para casa"
Aquela música. Já ouvira antes... Mas onde?
Ah, nossa. Os fogos de artifício na cidade de
Hearthome. Já fazia tanto tempo que até se esquecera. Onde mais? Na Ilha de
Ferro, talvez. Sempre ouvia aquela música quando sua vida atingia um novo
patamar, e lá estava ela mais uma vez. Era a hora de avançar de nível, pular de
fase, terminar uma era e iniciar a próxima.
Aerus podia ver que ela cantava. Estava claramente
cantando, no meio da batalha de suas vidas. E quando sua voz deixou de ser
ouvida, ele ainda escutava a música perdida em algum lugar de seu coração,
ecoando longe entre memórias há muito esquecidas.
— Mais atenção, Aerus Draconeon! Ou vou finalizá-lo
antes que tenha chance de defender-se!
Maldita música que acabou com a sua vida e com todas
as maneiras como enxergava o mundo até então.
Os estilhaços dos óculos escuros caíram no chão,
sendo espalhados pelo vento. Aerus nem tentou recuperá-los, já estavam
destruídos. Seus olhos dourados brilhavam com a intensidade do sol, mas não
exalavam ira ou fúria. Estava pasmo, vira a lâmina da mulher passar a pouco
mais de um centímetro de seu rosto, mas continuava vivo. Pelo visto, ela queria que continuasse assim.
— Bem melhor —
Titânia falou com um sorriso. — Agora consigo saber como está se sentindo.
— Você... Nunca
conseguiu enxergar? — indagou Aerus.
— Por mais você
que tenha sido o garotinho com quem cresci junta, que vi passar de um soldado
até tornar-se um líder, que tenha sido aquele que melhor se expressava e mais
compaixão demonstrava; nunca pude compreendê-lo por completo. Dizem que as
pessoas mais felizes são as que mais escondem coisas. E quando defino “coisas”
é porque eu realmente não sabia o que era. Mas agora sei.
Titânia apontou
a espada na garganta do dragão.
— Esconder a
tristeza em prol da felicidade — a mulher afirmou. — Sempre se demonstrando
feliz para que as pessoas ao seu lado também estivessem felizes. Sempre
pensando nos outros, como eu. Mas e agora que não há mais ninguém aqui? Por que
nós devemos nos manter felizes?
Aerus não
gostou muito do comentário que ouviu. Ativou suas lâminas mais uma vez e
contra-atacou a espada da serpente, desviando-se dela com velocidade e tomando
distância.
— Outrage! — o Garchomp preparou seu
ataque.
Titânia fincou
sua espada no chão, como uma lenda que se prepara para brandir sua espada
sagrada.
— Earthquake.
Um novo terremoto formou-se. As ondas bateram com
mais força na base da fortaleza. Pedras se movimentaram e pilares racharam, mas
não havia praticamente mais nada a ser destruído. Aerus se esquivava da
magnitude causada, pulando fendas e partindo rochas ao meio. Quando Titânia
preparou-se para ataca-lo mais uma vez com sua espada, foi surpreendida por um
golpe que arremessou a lâmina para longe.
Assim que a fumaça se desfez, ela viu que o dragão
tinha Anima Argentum em mãos.
Não se tratava de estar desarmada. Já dera conta de
caras maiores somente com os punhos. Porém, naquela ocasião, a arma significa
um símbolo. O símbolo da Liga, da Elite, do Campeão. E já estava cansada de
tudo aquilo, só queria terminar logo o fim que viera adiando o máximo que pôde
durante todo aquele tempo. Mas uma hora o tempo se esgotaria, abraçando-a,
levando-a para onde mais ninguém pudesse encontra-la.
— Eu vou me
manter feliz — começou Aerus — porque eu gosto de ser feliz, droga! E não é
você e nem ninguém que vai me fazer mudar de ideia, Tih, porque quando eu era triste
eu não tinha ninguém. A minha felicidade é minha para eu compartilhar com quem
eu quiser, nem que seja para guardar só pra mim mesmo.
Titânia desviou
o olhar, mas dessa vez não sorriu.
— Eu quero ser
feliz de novo, Aerus... E sei onde encontrar esta felicidade, só não sei serei
digna de recebe-la mais uma vez.
Os dois
trocaram olhares.
— Acha que é
tarde demais? — a serpente perguntou.
— Você devia
ter avisado antes...
— Aerus
Draconeon, seu rosto está vazando — Titânia brincou ao dizer com tranquilidade,
as mãos baixas, o jeito sempre cômico que só surgia quando estava com as
pessoas que amava.
— E-Eu não
consigo... Já disse que não consigo — afirmou o dragão com a espada tremendo em
mãos. Ele chamou o nome do amigo duas vezes, e na terceira gritou: — Watt...
Watt... WATT! Me perdoe por isso, cara. Mas eu não vou conseguir.
Seth os observava
com seriedade.
— E espera que
a Liga termine com um empate? Que tudo que vocês lutaram para conquistar até
aqui seja em vão? Vamos lá, guerreiro, seja mais do que sentimentos e emoções
mistas no campo de batalha.
— Ele tem razão
— continuou Titânia, intrometendo-se na conversa. — Vamos lá, termine aquilo que começamos há tanto
tempo. Combinamos que não haveria empates, que só um lado sairia vencedor,
lembra?
A serpente direcionou seu olhar para o pequeno
esquilo, sentado em um canto. Ao notar que ela o observava, Watt levantou-se
prontamente, aproximando-se o máximo que pôde, mas sem influenciar na luta.
Havia prometido que seria forte, e já provara sua força ao continuar de pé até
ali, vendo cada um de seus amigos cair e ainda manter-se inteiro.
— Tih? — o
esquilo chamou.
— Watt, meu
querido Watt... Vocês foram a coisa mais importante que já aconteceu na minha
vida! E por mais que os livros abominem o uso da palavra “coisa”, eu a uso por
simplesmente não saber como demonstrar de um jeito melhor todo o carinho que
sinto por vocês, o quão são importantes para mim.
“São as coisas
da vida. Aquelas que não sabemos como nomear, e que, ainda sim, fazem parte de
nós.”
Os olhos dourados de Aerus se encontraram com os de
Titânia. Olhos negros, frios como pedra, tão profundos que parecia que ele
poderia cair lá dentro. E quando luz e sombra se encontravam, uma explosão era
causada no universo pelo simples fato de que eles não poderiam se encontrar.
Jamais.
Aerus segurou a espada com mais força. Era chegada a
hora.
— Eu quero
estar com você quando amanhecer, Tih. Quero ver os primeiros raios de sol de uma nova amanhã, só para ter certeza de que continuamos vivos, um com o outro —
murmurou o dragão.
— Então venha. Eu
sou à prova de tudo, não temos mais nada a perder. Seus golpes irão ricochetear
em mim, e eu não vou cair, porque
eu sou Titânia! A sua Titânia.
O corpo dela ainda estava quente em seus braços.
Adorou o fato de que tinha o sol para contemplá-los, uma vez que Titânia nunca
gostara muito do frio e da solidão da noite. O calor da manhã os aquecia, mas
aos poucos a temperatura foi diminuindo.
Aerus contemplava aqueles lábios intocados, e ria
quando pensava num moleque insuportável que a provocava por nunca ter beijado
ninguém. Pelo menos até então, devia estar se guardando só para ele. Era quase
uma santa. Santíssima! Uma imagem a ser venerada, um símbolo para os fracos e
oprimidos, uma meta de vida.
E sentia em seu coração aquela sensação estranha,
que talvez fosse ser nomeado como uma “coisa estranha” pela mulher, um
sentimento novo que até então eles nunca haviam experimentado, pelo menos não
de forma tão impactante. Ou melhor, ele sempre aparecia assim, meio tímido,
esperando a atitude do outro, mas sem querer tomar iniciativas ou ir longe
demais.
Os braços de Titânia estavam fracos demais para
segurá-lo, mas nada impedia seu velho companheiro de equipe de fazer algo por
ela. Naquele momento eles se tornariam um, quebrando algumas leis da física
onde dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar, mas com um sentimento tão
forte que durou um milésimo de segundo que valeu por uma vida inteira. Teria
saído em jornada de novo só para sentir aquilo. Nem que fosse em uma nova
reencarnação.
Um beijo. Daqueles simples, de quem não sabe direito
o que está fazendo, que se pergunta: Será
que beijei bem? Será que precisa ser molhado ou tem um tempo certo de duração?
Os olhos automaticamente se fecharam e os dois viajaram por uma imensidão
indescritível, e quando Aerus abriu-os novamente percebeu que sua parceira
estava sorrindo. Aquele sorriso que tanto adorava, e não se cansava de repetir.
Gostaria de pintá-la como uma francesa e pendurá-la em seu quarto, ou quem sabe
uma escultura. Só para observá-la todos os dias, e tinha certeza de que nunca
iria enjoar.
Dentro de todos seus pensamentos malucos, só
percebeu que havia acabado quando não havia mais como continuar e ela já não
correspondia.
— Você lutou bem — disse Ike Smithsonian. — Esta batalha que me apresentou aqui, foi incrível.
Tive meu tempo para treinar e ser o melhor. Seu pai viu grandes nomes se
erguerem e deixarem esse pódio, e assim, a vida continua. Agora me ergo aqui,
passando adiante a conquista de ser o Melhor. É assim que me sinto quando passo
adiante o legado para os mais novos. Não deixe morrer tudo aquilo que
batalhamos para conseguir.
Luke Wallers, um menino que tornou-se jovem, que não
precisou crescer antes da hora e abandonar seus trejeitos de menino para encarar
a vida, agora, Campeão. Ainda havia tempo até tornar-se adulto, mas iria
aproveitar aqueles momentos só um pouquinho mais.
Ele levantou-se e partiu na direção oposta do Hall
da Fama. Não disse palavra alguma, não agradeceu, não demonstrou felicidade e
nem pulou de alegria. Foi uma sensação mais do que inesperada para o garoto
explosivo que atingira o maior sonho de sua vida, e que agora não passava de um...
sonho realizado. Daqueles inalcançáveis, impossíveis, que nunca acontece.
Talvez não estivesse preparado.
Ainda não sabia o próximo passo, mas de uma coisa
tinha certeza: Sua mente estava tranquila.
— Para onde está indo? —
Ike perguntou, surpreendido. — Rumo ao espaço entre as palavras dos livros?
Luke riu,
virando-se para trás.
— Nem eu sei, para ser bem sincero. Mas se um dia você
também for para lá, vamos nos encontrar.
Luke ainda tinha alguns deveres a fazer, certas
pessoas a agradecer e outras a consultar. Enfiou uma das mãos no bolso, tirou
sua boina e sentiu a brisa atingir seu rosto. Lukas, seu irmão, foi recebê-lo
logo na entrada. Somente os dois. Dawn, Cynthia, Paula, Vivian e Stanley
decidiram que dariam um tempo para os gêmeos antes de saírem gritando e
comemorando, como amigos loucos fazem, e Luke agradeceu aquilo. Eram pessoas
importantes, seus amigos fiéis, e pensou em como teria feito tudo de novo só
para eles.
Estava exausto e indisposto a ouvir gritos
escandalosos, então, agradeceu com um aceno o silêncio que Lukas lhe
proporcionara, aquecido somente por um abraço.
Antes de partirem, Luke perguntou para Ike:
— E por sinal,
não se importa se eu deixar meus amigos por aí um tempo, não é? — indagou o
treinador, referindo-se aos seus Pokémon. — Eles precisam de um tempo só deles
também, porque a Liga foi uma lição muito mais para eles do que para mim. Mesmo
que eles não soubessem. Eu tenho o que desejei a juventude inteira, então, está
na hora de acordar e seguir em frente. Mas, por favor, deixe-os aí por um
tempo. Essa é uma vitória mais deles do que minha.
— Ou melhor, eu
diria que foi uma vitória nossa, não
é mesmo? — indagou Lukas com um sorriso.
— Falou tudo,
pivete. Brofist — Os dois tocaram os
punhos fechados e deram uma risada ligeira que parecia quase idêntica.
Ike assentiu com a cabeça. Caminhou em direção dos
dois jovens e juntos voltaram pelo caminho de entrada, exatamente como Walter
Wallers um dia fizera ao perder seu posto. Passariam em cada uma das casas,
desceriam da fortaleza destruída e, por Arceus, passariam em uma lanchonete porque
já estavam morrendo de fome!
Seth, o Dragonite, observava a cena distante. Aerus,
Watt e Titânia estavam reunidos, todos os três sob a luz do sol que os
iluminava. Imaginava se não era aquele o sentido da Liga. Valorizar os que ama
enquanto ainda os têm; vivenciar os pequenos momentos; superar-se. Incontáveis
anos naquela jornada, e só agora tinha a resposta. Talvez já a tivesse há muito
tempo, mas só agora, no fim de tudo, é que ela fazia sentido.
Alçou asas e partiu como um meteoro no céu. Um
Dragão Dourado que perambula pelo mundo, observando as pessoas e Pokémons,
aprendendo com elas. E aqueles três lhe haviam ensinado uma coisa que ele
jamais esqueceria: Que aquela aventura... Ah, aquela aventura! Passariam os anos até que fosse uma mera lembrança
distante, mas aquela aventura ele não
esqueceria. Pelo menos, não os que fizeram parte dela, direta ou indiretamente.
O vento causado pelas asas do Dragonite gerou uma
brisa suave. Watt ergueu os olhos e teve a impressão de que viu uma estrela
cadente em plena luz do dia. Viu pétalas se formarem, ou eram escamas de ouro?
Elas tomavam cores, saindo do papel como nunca as imaginara.
Ali estavam eles. Abriu um sorriso, porque
finalmente estariam juntos mais uma vez. Dessa vez por um longo, longo
tempo...