Archive for May 2012

Fire Tales 15

Quando a escuridão toma conta e as estrelas assumem suas posições no céu é o momento para que os Fire Tales estejam na ativa. Um a um o cansaço cotidiano lhes atinge e os Pokémons começam a cair no sono, descansando para na manhã seguinte iniciar mais uma maratona de batalhas e treinos.
A fogueira estava apagada, por mais que a noite terminasse sempre estavam presentes aqueles que se mantêm ativos durante a madrugada; sejam sentinelas, defensores, ou apenas crianças problemáticas que não querem ir para a cama. O gigantesco Lairon estava de braços cruzados em um dos portões da guilda, ele mantinha sua posição quando avistou uma linda moça aproximar-se com algo nas costas. Gardevoir acabava de retornar com um Togepi irritado que àquela altura já havia se rendido aos esforços da moça, que estampava uma expressão de vitória em seu rosto sereno.
Image by: Leeca

Da próxima vez que você sair sem pagar, eu te trago acorrentado. — disse Gardevoir com um sorriso em seu rosto. Karl já estava perfeitamente aconchegado nas costas da senhorita que o carregava como se  fosse uma pena. O Senhor Lairon não pôde esconder uma risada rasteira.
Boa noite, senhor Atros. Ou melhor, bom dia! Já é quase de manhã — desejou Sophie com um aceno.
O guerreiro de metal retribuiu da mesma maneira.
Faltava pouco para que o sol se evidenciasse de forma tímida atrás das montanhas no horizonte. A escuridão começava a desaparecer e aquele silêncio perpétuo só era interrompido por alguns Starlys que saíam de suas casas para buscar alimento para suas famílias. Togepi estava revoltado por não poder ficar acordado por mais tempo.
Você tá balançando muito. — disse o Togepi frustrado.
Está falando dos meus peitos? — perguntou Gardevoir.
Que isso, tia. Tô só falando, essa cabeça dos adultos só fica pensando em bobagens o tempo todo...
Bobinho, eu tenho poderes psíquicos e posso ler seus pensamentos, esqueceu?
Maldita. Tem esse detalhe. Preciso tomar cuidado com as minhas ideias, vai que daqui a pouco você tem uma visão dessa minha imaginação fértil de adulto.
Você é só uma criança. — respondeu Gardevoir, como se aquela frase tivesse sido a mais repetida naquele mês, sendo que a resposta do pequeno também era sempre a mesma.
Eu não sou criança para ficar dormindo cedo, me deixa em paz! — reclamou.
Todas as crianças da guilda vão dormir cedo para estarem dispostas a aproveitarem um longo dia de trabalho e diversão. E com você, não será diferente.
Assim que Gardevoir abriu a porta de seu bar pôde encontrar uma menininha sentada em uma das mesas com a cabeça baixa. A intuição feminina de moça pôde ouvir choros abafados vindo daquela figura deprimida. Sophie largou Togepi na entrada no mesmo instante e correu para ver o que havia acontecido.
Roselia, o que houve? O que está fazendo aqui?
A pequena não respondeu, somente uma voz oculta pôde ser notada das sombras perto da adega do bar.
Romances de infância. — disse Murkrow, apoiado em uma das paredes com os braço cruzados.
Ela está triste porque o Shellos foi embora. — acompanhou Chimchar, que estava sentada em cima do balcão com suas pernas a balançar rapidamente.
Gardevoir sentou-se de forma lenta ao lado de Roselia, mas a menininha continuava de cabeça baixa como se não desse muita importância para aquilo. Sophie encostou suas mãos no ombro da rosa na tentativa de consolá-la.
Akebia, não precisa sofrer em silêncio... Nós estamos aqui para ajudá-la...
POR QUÊ?? — gritou Roselia, que fez com que a mulher ao seu lado desse um salto da cadeira — Por que aquele maldito-desgraçado-fidamãe foi me deixar para ficar com outra?? Com OUTRA garota?? Como é que pode, eu sou tão feia assim? Nós dois éramos almas gêmeas e fazíamos tudo juntos; brincávamos, corríamos, riamos, tomávamos banho juntos... E ele me larga como se eu fosse um saco de adubo? Buaaaaah...
Roselia voltou a bater a cabeça na mesa e ficou assim por um tempo. Gardevoir levantou-se um pouco sem reação enquanto Togepi ria do outro lado.
Depois dessa a guilda inteira já deve ter acordado. — disse Togepi.
Acredite, tia Sophie. Já fizemos de tudo para tentar animá-la. — continuou Chimchar.
Sim, eu tenho experiência e sei muito bem como é perder alguém que ama, mas esse ocorrido aqui deve ser um nível elevado. — respondeu Gardevoir assustada.
Karl sentou-se ao lado de Roselia que batia o braço na mesa e resmungava algumas palavras desconhecidas com o rosto colado na mesa. O Togepi apoiou seus cotovelos em frente à garota e tentou dizer de forma séria.
Oe, rosinha. Vamos ter um papo de gente grande.
ROSINHA?? — gritou ela novamente, apoiando seus braços na mesa com força — Rosinha era o apelido do Shellos!! E agora você continua me lembrando dele?!
O quê?! Você é uma rosa, eu só te chamei pelo diminutivo!
Eu não quero sofrer, me deixe a só! Oh, como ele pode me fazer sofrer tanto? Acho que eu nunca mais vou amar ninguém...
Quem te fez sofrer, bobinha? O Barney?
Roselia levantou-se e caiu nos braços de Togepi que corou levemente enquanto a pequena chorava de forma dramática. Ele lançou um olhar para Gardevoir que ria da situação, normalmente era Togepi quem sempre dizia ser um adulto, e agora ele podia ver como era difícil lidar com aquela situação.
Eu sou tão feia assim? Sou uma criatura tão abominável? Por favor, Karl, faça-me o favor de tirar a minha vida para que eu não sofra mais por esse amor perdido, minha existência nesse planeta é irrelevante a partir de agora! — dizia Roselia.
Togepi largou-a no chão.
Se toca, manola. Tu quer se vingar do maluco? Então vira a mina mais bonita do pedaço e pare de se condenar por sua existência. Mostra pro cara o que ele perdeu e comece a acreditar em você, daí tu conquista o que você quiser, demoro?
Roselia estava de joelhos em frente à Togepi. O garotinho voltou para o balcão e sentou-se ao lado de Chimchar aguardando uma reação de Roselia. A doce florzinha parecia refletir, tentava compreender cada palavra dita para começar a mudar sua vida a partir daquele dia. Togepi virou-se para Gardevoir e puxou a barra de sua saia.
Na moral, eu sou tão irritante assim também? — perguntou Karl olhando para Sophie.
Consegue ser ainda pior. — brincou ela.
Depois dessa eu prometo melhorar.
Roselia ainda estava de joelhos, tentou limpar as lágrimas com as mangas de sua roupa, e então se levantou. Gardevoir voltou a apoiar-se na mesa em frente à Akebia, tocando levemente em seus cabelos esverdeados com fios que lembravam a seda. Era possível imaginar que as duas eram mãe e filha pela grande semelhança que compartilhavam. Sophie era a figura materna para todos na equipe, e ver um de seus filhos sofrendo era a maior dor que podia sentir.
Querida, entenda. O Shellos era um grande amigo seu, mas vocês nunca tiveram nada. Ele tem todo o direito de escolher o que fosse melhor para ele, encontrando alguém que o completasse, mas garanto que ele para sempre irá guardar você no coraçãozinho dele.
Você acha mesmo que o Panetto lembraria de mim, tia Sophie?
Com certeza, mas você não pode se fechar para o passado. Deve vive de olhos abertos para o futuro.
Gardevoir esticou a mão para Roselia que ergueu-se num pulo. A pequena não chorava mais, seus olhinhos ainda estavam vermelhos e melancólicos, mas sua tristeza foi aos poucos diminuindo. Agora ela já podia sentir-se bem melhor.
Eu preciso de alguém que ocupe o espaço que o Panetto deixou.
O Togepi pode ser seu parceiro. — disse Gardevoir.
O quê? Vendido como um pedaço de queijo?!
Roselia agarrou o braço de Togepi e o rastejou para fora do bar, aquilo o manteria entretido por alguns dias dando um tempo de descanso para a exausta dona do bar. A moça caminhou até o balcão e perguntou se Murkrow e Chimchar gostariam de algo, mas os dois já pareciam estar de saída. Chimchar deu um salto para descer do balcão, a macaquinha parecia nunca dormir, e por sorte, seu protetor sofria de crises de insônia e se encontrava na obrigação de protegê-la há todo minuto.
Vai um drink, Al Capone? — perguntou Sophie.
Não, agradeço a cortesia, Senhorita. Já estamos de saída também. Tenho que proteger essa pequena antes que se meta em confusão de novo.
Essas crianças... — suspirou a mulher com um sorriso estampado em seu rosto — Sempre estão nos trazendo problemas, um maior do que o outro, mas no fim das contas percebemos que tudo isso vale a pena. Ô, se vale.
Gardevoir sorriu, e preparou o bar para em breve abri-lo e iniciar mais uma rotina naquela manhã. O corvo negro caminhava de forma sorrateira e olhos desconfiados. Em breve o sol estaria se erguendo, e aquilo o incomodava. A noite era quando se sentia mais confortável. De repente, Chimchar deu um pulo no ombro do corvo e agarrou seu pescoço.
Tio Al, o que vamos fazer de bom hoje?
O que você desejar, minha pequena. — assentiu o corvo.
Vamos visitar todo mundo, todos da equipe! Podemos acordar um por um e colocar o pessoal para dançar, fazer uma competição de dança! Pelo menos nessa eu poderia participar, né?
Sim, mas você teria que me ensinar, não sou bom nesse tipo de atividade.
Hah, hah... É simples, Al! Dois para lá, dois para cá, e comece a sentir a música em seu coração!
Chimchar tentou segurar nas mãos do homem, retirou uma de suas luvas negras e pôde notar palmas muito machucadas e cicatrizadas. A pequena olhou para as marcas atentamente, Murkrow pegou as luvas de volta e tornou a colocá-las com pressa.
Tempos antigos. — disse Murkrow.
Dói? — ela perguntou um pouco assustada.
Não mais. — assentiu de imediato.
Você é muito forte, não é, Al?
Sim, vou protegê-la de qualquer perigo necessário. É a minha missão.
Eu não preciso de proteção, sou a guerreira mais poderosa e bela do mundo! Quero dizer, por enquanto ainda não, mas quando eu for juro que vou te proteger! Ninguém nunca mais vai fazer mal algum ao meu tio!
Sim, minha jovem, tenho certeza que ainda será a mais poderosa de todas.
O corvo agiu com velocidade para trás da macaquinha, envolvendo-a com braços protetores e um sorriso sereno. Chimchar riu com o abraço, sentia cócegas no pescoço. Apesar de ser uma figura muito misteriosa e quieta, ao lado de Chimchar era o único momento em que o corvo negro sentia-se livre para agir como era com aqueles que amava.
Né, quando eu crescer, será que serei bonita?
Por que a pergunta?
Curiosidade! Você acha que eu serei bonita?
Murkrow sorriu e suspirou, sua pequena estava crescendo mais rápido do que imaginava. O homem ajeitou o chapéu e passou a mão nos cabelos finos da criança.
Você será. Ficará linda, não tenho dúvidas disso.
Chimchar sorriu encabulada, dando pulos de alegria.
Então, Al, quando eu crescer você casa comigo?
A pergunta repentina fez o corvo tropeçar nos próprios pés, quase indo de encontro ao chão. Levantou-se ainda se tentando se recuperar, ajeitou seu chapéu amassado e pediu para que repetisse a proposta súbita.
O-O quê?
Ué, quando eu crescer você casa comigo?
Murkrow pigarreou, pensava ter escutado errado, mas as palavras foram ditas novamente.
Ah... Lyndis... Primeiro você precisa gostar de alguém de uma forma especial. Depois, e beeeeem depois, você pensa em casamento.
Ela estava de costas para Murkrow, ergueu seu braço e com um toque sereno tocou no rosto marcado de seu protetor, dizendo com palavras confusas:
Então, quando eu crescer, você ainda gostará de mim?
É o meu dever protegê-la.
Não estou falando de proteger, quero dizer algo como gostar de verdade.
Murkrow ficou em silêncio, com um gesto delicado tirou a palma da mão de Chimchar de seu rosto. Ajeitou o paletó e o chapéu, procurando por palavras que não fossem tão ousadas.
Não poderei estar ao seu lado para protegê-la para sempre, e quando esse tempo chegar, você deve ser forte. — disse Murkrow, direcionando seu olhar para Chimchar — Porém, posso garantir algo. Mesmo que você não veja, a sombra sempre te acompanha. Não perca seu tempo pensando nisso agora, existem coisas mais importantes a se fazer.
A macaquinha sorriu, correu bem mais a frente dando cambalhotas e pulos, seu protetor apenas a acompanhava.
Né, Al! — ela disse ao longe, fazendo o corvo direcionar o olhar para a pequena — Quando eu crescer eu ainda vou gostar de você, tá? Eu vou me tornar forte para poder te proteger também! — gritava, com um sorriso estampado no rosto e as mãos acenando para o maior que a olhava surpreso.
Murkrow abaixou o chapéu e sorriu, vendo que a macaquinha já corria novamente sem direção.
A Sophie tinha razão, — disse sorrindo — essas crianças crescem muito rápido. — e voltou para acompanhar sua protegida.
Image by:  Leeca

Enquanto corria, Chimchar pôde ouvir o som de ferro indo ao encontro de metal. A macaquinha apressou o passo e aproximou-se da área do ferreiro, notando Bastiodon em frente à uma fornalha sem nenhuma armadura e com um martelo em mãos. O Pokémon fóssil forjava um escudo, pro mais cedo que fosse ele batia com tanta força que era possível sentir sua raiva sendo exalada naquela atividade. A macaquinha pulou para próximo do rapaz e desejou-lhe um ótimo dia, o rapaz virou-se e cumprimentou-a sem dizer mais nada.
Chaud! O que está fazendo?
Forja. — foi seguido de mais uma martelada.
Né, você tinha que ensinar esse tipo de coisa para a gente! Adoro essas habilidades diferentes, você deve ser o melhor ferreiro do mundo! Temos os melhores membros na nossa guilda! — disse Chimchar, vendo que Chaud tentava forçar um sorriso, por mais triste e cansado que parecesse — Parece que hoje todo mundo decidiu acordar mais cedo... Né, você também não dorme?
Estou esperando por alguém. — respondeu de forma rápida.
A macaquinha ergueu as sobrancelhas e também sorriu. Sentou-se próximo da bigorna de metal aguardando que a "tal pessoa" também chegasse. O corvo negro ergueu seu olhar quando a figura gélida de uma mulher aproximou-se do ferreiro. O calor e o suor cobria o corpo de Chaud, que era marcado pelos músculos bem definidos e uma máscara que nunca revelava sua expressão, e ao seu lado, havia apenas a figura meiga e singela de uma mulher com um livro em mãos. Glaciallis aproximou-se de seus companheiros timidamente, abaixou a cabeça imaginando que não haveria ninguém nas proximidades por conta do horário. Não queria chamar atenção.
Bom dia... — desejou ela de forma tímida — Hm... Vocês também ficam acordados à esse horário?
Insônia. — disse Murkrow, seguido de uma risada que apontava em direção de uma macaquinha histérica ao seu lado.
Já está na hora de colocarmos todo mundo para despertar! É cedo, cedo! Tempo de se divertir e festejar.
Glaciallis riu tentando tampar o sorriso com uma das mãos. A disposição e a animação de Chimchar a encantavam. Ao seu lado, a dama de gelo pôde ver a figura de um homem muito alto aproximar-se com uma toalha em mãos. A mulher corou, e Bastiodon permanecia com seu olhar sério e centrado. Froslass entregou o livro nas mãos de Chaud e abaixou a cabeça, recuando na medida que sua timidez se elevava.
O livro é ótimo... Obrigada pela recomendação.
De nada. — respondeu ele de forma serena, segurando brevemente na mão da moça para receber o livro.
Como de costume, por trás de toda bela mulher comprometida existe uma figura ciumenta de um homem insuportável. O General Duskull parecia sentir quando alguém dirigia a palavra para sua suposta noiva, e exatamente naquele momento o fantasma surgiu como um pai atencioso que não permite que mais ninguém se aproxime de suas filhas.
Eu sabia, continuas a tentar roubá-la de mim! Como não pude perceber tal traição bem debaixo de meus olhos?
Chaud abaixou a fronte, e pela primeira vez, pareceu perder a paciência. Ele soltou o livro da mão da moça e caminhou em direção de seu superior, encarou-o diretamente no olho remanescente, e em seguida bateu o livro com tanta força no peito de Duskull que o militar até recuou pelo impacto que recebera. Chaud deixou o objeto cair nas mãos do fantasma e disse de forma ríspida:
Eu não quero nada com ela. Entendeu?
O General abaixou a fronte e pareceu ser intimidado somente pela tonalidade de Bastiodon. Logo deixou a área e voltou a fazer seja lá o que estivesse a fazer antes. Chaud não pegou o livro, não disse nada. Fez apenas um aceno com a cabeça para Froslass e voltou para dentro da biblioteca. Glaciallis ficou entristecida pela recepção, seu amigo começara a agir de forma diferente nos últimos tempos, da mesma forma que o passar das semanas havia começado a se afastar de todos os integrantes.
C-Chaud... — as palavras na boca de Glaciallis quase não puderam ser ouvidas.
O que houve com ele? — perguntou Chimchar.
Eu não sei... Ele se afastou de todo mundo, se isola na biblioteca e não tem mais tempo para nada. Desde que comecei a andar com o General ele tem agido assim... Tem sido um cavaleiro de uma figura melancólica... — suspirou Glaciallis — Eu sei que também deixei de frequentar a biblioteca, deixei de falar um pouco com ele pelo ciúmes do General, mas eu não quero que ele tenha raiva de mim. É o que eu menos desejo nessa vida...
Senhorita Glaciallis, certa vez ouvi um dizeres popular de minha terra: Tudo que nós fazemos de bom, recebemos o dobro de volta.
O que quer dizer com isso, Senhor?
O corvo negro apenas ajeitou o chapéu.
Digo que se o Chaud a acolheu durante todos os dias em que você sentiu dificuldades, então ele ainda há de conhecer alguém que o complete e desempenhe o mesmo papel que ele desempenhou em sua vida. Este rapaz ainda não conheceu alguém que fitasse esse espaço vazio. Ainda não.
Glaciallis acenou com a cabeça de forma pensativa, era aquilo que ela mais desejava. Torcia para que Chaud conhecesse alguém que fosse tão importante em sua vida que ele voltasse a pensar que ela valia a pena. A dama de gelo agradeceu o apoio de Murkrow e Chimchar, e assim, voltou para sua cabana.
"Tudo que nós fazemos de bom, recebemos o dobro de volta." Um dia cada um daqueles Pokémons receberiam o dobro por todos os seus esforços, seja cuidando de um garotinho irritante que nunca queria dormir cedo, ou dando os cuidados necessários para uma macaquinha hiperativa que prometera ser a mais forte do mundo. Eles apenas precisavam aguardar. Dê tempo ao tempo, e deixe que ele faça o resto.

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NOTAS: Só alguns comentários bem rápidos. Acredito que vocês devem ter percebido que dentro dos Fire Tales também temos capítulos que se separam em grupos. Por exemplo, da última vez que vimos a Gardevoir conhecendo o Togepi foi no oitavo episódio, e o início do de hoje foi como uma segunda parte para aquele ocorrido. O mesmo aconteceu com o encontro do Bastiodon com a Glaciallis, quando eles se conheceram lá de volta ao oitavo episódio também. Se associarmos esses vários capítulos e juntarmos todos eles num único pode-se dizer que formaremos uma história para cada membro da equipe. O capítulo de hoje trouxe três partes de caminhos distintos. Got it? É apenas uma curiosidade, se vocês começarem a entrelaçar cada acontecimento poderão descobrir muito mais sobre seus Pokémons favoritos em nossa fic, pois eles não são apenas instrumentos de batalha, são personagens como qualquer outro. Abraços, gente!

Hidden Power

Image by: Salanchu
Uma dúvida frequente na mente de muitos leitores e pessoas que utilizam de suas táticas para o jogo são os Hidden Powers. Em nossa história temos um exemplo claro, o Porygon-Z do Luke que tem acesso à tal movimento com o tipo Fire, mas, como entender a mecânica de um movimento tão complexo? Provavelmente vocês já viram muitos movesets dizendo que é possível mudar o tipo do Hidden Power. Apesar de ter uma mecânica bem complicada e que influencia outros fatores complexos como IVs, tentei aprender um pouco sobre este enigmático ataque e compartilhar um conhecimento mais básico à respeito do assunto para quem nunca ouviu falar ou entendeu sua mecânica.

O que é o Hidden Power?

O Hidden Power é um ataque do tipo normal introduzido na geração II (G/S/C). Ele aparenta ser apenas um movimento normal, mas esconde mais segredos do que você imagina. O Hidden Power pode variar seus tipos, qualquer um existente, isso explica porque aquele Unown lunático conseguia causar às vezes um dano super efetivo em seus Pokémons sendo que o golpe era sempre o mesmo. O movimento inflige dano usando uma base e um tipo determinado pelo Individual Value do seu pokémon, e pode variar de 30 até 70.

Resumidamente, o que influencia no tipo do seu Hidden Power é se cada IV é par ou ímpar. O que influencia no poder é o resultado do resto da divisão de cada IV por 4. Quanto maior o número de IVs cuja divisão por 4 resulta em resto 0 ou 1, mais fraco o Hidden Power. Quanto mais restos 2 ou 3, maior o poder do Hidden Power. (Essas contas já foram o suficiente para torrar os meus neurônios da semana.) Os atributos mais importantes para o poder, pela ordem de mais para menos importante, são: Sp. Defense, Sp. Attack, Speed, Defense, Attack, HP.

Como saber o tipo do Hidden Power?

Existem os métodos mais antigos e aqueles mais novos que facilitam o trabalho em grande parte. O uso de calculadoras específicas fornecidas por sites como a Serebii.net permitem um cálculo exato dos IVs para atribuir o tipo do elemento que o Hidden Power será, e é o meio mais sofisticado para se calcular com precisão a força de seu poder oculto. Não é necessário saber os IVs, inclusive, saber o Hidden Power logo de cara pode ajudar no cálculo de IVs mais tarde. Contudo, para se determinar o poder do Hidden Power, a calculadora é necessária, apesar que normalmente não se usarem Hidden Power sem o cruzamento adequado.

O método mais antigo utilizado é o do Kecleon. O treinador entrava em uma batalha qualquer com o Pokémon com Hidden Power e um Kecleon adversário, ou até mesmo o seu próprio numa batalha em dupla, se lhe fosse conveniente. Em seguida, o treinador deveria usar o Hidden Power no Kecleon de forma que o Pokémon mudasse o elemento para o tipo que o movimento estivesse atribuído, caso fosse do tipo Ghost, nada iria acontecer devido à imunidade do Kecleon.

O método milhões de vezes mais simples passou a ser introduzido na Geração IV, a partir de Platinum. Em Black e White, na cidade de Mistralton, existe um NPC no centro pokémon que diz qual é o tipo exato do Hidden Power do seu pokémon. Em HeartGold e SouSilver esse sujeito estará em Celadon City, e dentro do Game Corner em Platinum.

Qual a utilidade de um movimento que pode variar o tipo?

O Hidden Power pode pegar muitos oponentes de surpresa, vamos citar como exemplo o Porygon-Z do Luke. Naturalmente, ele não pode aprender ataques do tipo fogo ou lutador, e criando uma movepool mais vasta com auxílio do poder oculto ele é capaz de surpreender o adversário e causar danos imensos. O Hidden Power mais utilizado nos Porygons é o do tipo Fighting, mas no caso do Luke, ele foi presenteado com um tipo Fire. Já que nenhum dos dois tipos podem ser aprendidos por meio de ataques normais, eles se tornam a única opção para surpreender oponentes do tipo pedra e metálico por exemplo, que sofreriam grandes danos pensando que teriam facilidade ao lidar com um Pokémon normal.

Como mudar o tipo do Hidden Power?

Infelizmente, não é possível mudar o tipo do Hidden Power, pois assim que o pokémon nasce, seus Individual Values já são decididos (É como por exemplo as chances dele nascer shiny, nascer com a nature certa, etc). O que você pode tentar é fazer com que o pokémon venha com os IVs certos estudando os métodos de Breeding e Individual Values desde o princípio de sua criação e treinos, mas aí é assunto para outras postagens.

Nota: Este artigo é parte integrante do blog Aventuras em Sinnoh. A cópia total ou parcial é tida como plágio.  É preciso a nossa autorização para que possa ser compartilhado. Agradecimento especial aos fórum da Pokémon Mythology e à Bulbapedia.

FanArt - Bia-chan V

Nome: Hana (Bia-chan) 
Idade: 12 anos
Estado: SP 
Técnica: Lápis HB / n°2 

"ESTOU DE VOLTA! Bem, aqui eu tentei desenhar os cabelos deles de uma forma meio diferente da do original. E só vou desenhar esses dois agora já que são os meus favoritos, haha."

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Eae, Bia-chan! Opa, dessa vez você trouxe um desenho feito à mão, que bacana! Devo dizer que ultimamente tenho feito somente desenhos que acabo por colorir no computador, mas tenho uma sensação estranha... Parece que os desenhos que eu costumava levar horas pintando no lápis de cor me agradam mais do que aqueles que eu faço pelo computador. É como se todos os meus melhores desenhos coloridos no Photofiltre não se comparassem à minha obra mais simples com lápis de cor. Seria por uma questão de tempo que levamos trabalhando em algo? Dentro de mim ainda guardo um profundo afeto por qualquer tipo de desenho bem rabiscado, adoro esboços, e sinto que eu poderia fazer um livro só com imagens desse tipo. Eu sempre via seus desenhos coloridos pelo PC, mas agora ver um feito à mão deu uma sensação diferente, eu gostei bastante, Bia! E o cabelo deles nesse estilo ficou bem característico, é como se você desse o seu próprio brilho para os personagens. Está de parabéns!

Notas do Autor (Capítulo 38)

Senhores, aqui está um novo capítulo. Eu estava um pouco de saco cheio e jogando tudo para o alto ontem, então preferi nem tocar o blog, mas tirando alguns minutos de paciência consegui dar uma amenizada para trazer  o capítulo e retornar aos meus afazeres. Tive uma prova tensa de Comunicação Aplicada, então esperamos que eu possa ter ido bem para garantir alguns dias de férias e quem sabe terminando as aulas mais cedo eu possa adiantar meu progresso em Sinnoh. Não tenho pensado em nada novo para cá, tenho somente algumas postagens reservadas, mas esse estoque está chegando ao fim. Vamos esperar que ele sobreviva até o fim de Junho para que possamos ter mais tempo e disposição no fim da aula.

Sobre o Capítulo
Agora, alguns fatos sobre o capítulo. Esse aqui deve ter pego vocês de surpresa, e com ele, dei mais ênfase a uma figurinha que já estava bem desaparecido na equipe do Lukas, nosso amigo Shellos. A partir de agora o Riley e a Marley seguirão caminhos opostos, e dessa maneira retornaremos aos bons tempos em que ficavam só os cinco inseparáveis amigos em Hearthome. Com o início do Arco de Pastoria vocês já podem perceber que eu prometo boas e novas para os personagens, devo dizer que cada acontecimento desses capítulos farão vocês vibrarem! Seja por ódio, por estarem surpreso, ou simplesmente porque o capítulo foi épico. Acontecimentos que te deixarão boquiabertos por algumas decisões que os personagens podem tomar. Afinal, eles são humanos, e humanos cometem erros. Olha, não explorei muito as descrições dessa vez, não sei bem o motivo, mas acho que o capítulo já ficou grande mesmo não falando sobre esses pontos.  Tenham uma boa leitura, ou então espero que possam ter tido uma boa leitura. (Nunca sei se os leitores leem essas notas antes ou depois do capítulo...)

Novo Projeto
Minha vida está parada. Além da faculdade não faço mais nada, nenhum curso, nenhum trabalho, nem academia. Cara, e o ser humano não pode descansar, eu preciso urgentemente colocar minhas atividades em prática. Já me acostumei com essa nova vida, e com isso, irei aos poucos colocando meus projetos em ação. E aqui no mundo virtual não deixarei vocês de fora, estarei trazendo uma nova fanfiction. Não vou dar mais detalhes por enquanto, mas vou postá-la em algum site grande como fiz com Burning Love. Para aqueles que se apaixonaram pelo estilo que coloco em meu mundo Pokémon nas histórias, estarei trazendo um roteiro que posso dizer que é simplesmente o meu mais surpreendente. Uma comédia dramática, em breve vocês podem conferir Heart of a Child, meu novo trabalho.

AVISO: As imagens das respectivas Trainer Cards apresentadas no episódio e do Capítulo de forma geral serão ajeitadas na segunda feira. Preciso do meu editor de imagens que não se encontra presente no Notebook que estou usando no momento.

Capítulo 38

O despertar do mundo onírico ao som de ondas era a sensação perfeita para desejar nunca acordar, mas a viagem obrigava os aventureiros a continuarem seguindo seu caminho em busca dos verdadeiros sonhos. A pequena cabana no Grand Hotel Lake permanecia oculta por uma fina camada de luz que iluminava as persianas da sala, aquela noite havia sido a mais calma e aconchegante de todas, e os jovens mal podiam esperar por regressar às praias de areia branca da região.
Riley havia sido o primeiro a estar de pé, aproveitou para usar o banheiro e realizar seus afazeres antes dos demais, como fazer a barba que tanto odiava em busca de seu rosto liso e macio. Os próximos a acordarem foram Lukas e Marley, que estava sozinha na cama. Vivian havia rolado e caído próximo do colchão onde o loiro estava, ou simplesmente havia se dado por vencida na guerra de travesseiros da noite passada e despencado de sono ao lado do amigo. Milagrosamente, Luke não havia sido o último, parecia muito mais calmo apesar de todos os conflitos que rondavam nos últimos dias. Os dois se cumprimentaram num rápido aceno, de forma que Riley desse seu espaço para que Luke entrasse no banheiro, o homem há algum tempo havia andado pesquisando os motivos da mudança súbita na personalidade do jovem. E no fim de algumas ligações e pesquisas havia confirmado sua teoria, Luke tinha uma doença.
Dawn havia sido a última a acordar, e por isso teria um tempo para refletir enquanto o grupo se revezava para usar o banheiro. A garota deixou o bangalô e foi em direção da porta de trás da cabana, ela saiu e logo de cara pôde ver a beleza incondicional do oceano. Ela se sentou na ponta da escadaria e permaneceu lá por um tempo ouvindo o toque suave das ondas a sua frente e a brisa da manhã passar por entre seus calos lisos como o sopro de uma mulher apaixonada.
— Uma visão linda. — afirmou Riley, encostado em um dos pilares de madeira que sustentavam a cabana. Dawn acenou com a cabeça ainda sonolenta, soltando um longo suspiro.
— O mar fez coisas terríveis em minha vida, mas eu simplesmente não consigo deixar de gostar dele. — sorriu a garota.
— Eu poderia comparar sua frase à um certo garoto? — disse Riley, vendo uma interrogação surgir no rosto de Dawn que demorou um pouco até entender o trocadilho.
— Refere-se ao Luke?
O homem sentou-se ao lado da moça limpando os sapatos envernizados. Ele parecia pensar cuidadosamente antes de qualquer palavra.
— Eu e a Marley estaremos indo embora hoje, vamos seguir caminhos diferentes a partir daqui. Porém, tenho algo para lhe dizer à respeito do jovem Luke, algo que há muito tenho notado.
— Diga-me, então.
— Jovem Dawn, tenho visto tanto quanto vocês a atitude de Luke nas últimas semanas desde que o conheci. Em minha própria aventura eu convivi com uma pessoa que conhecia muito de doenças da área de saúde, a Senhorita Cheryl, e hoje acredito que todas aquelas conversas sobre biologia me foram úteis em algum momento da vida. — disse Riley com um sorriso rasteiro, em seguida retomando a posição de seriedade — Eu receio que o Luke sofra de megalomania.
Dawn surpreendeu-se de primeira instância.
— E o que seria isso? É uma doença grave? — perguntou ela preocupada, tentando não chamar a atenção dos outros dentro da cabana.
— É um transtorno psicológico em que o doente tem ilusões de grandeza e superioridade. Com essa doença o sujeito tem até mesmo a ignorância de não pedir a ajuda dos amigos para realizar seus afazeres. Gêmeos possuem genes semelhantes, logo, o Lukas também pode desenvolver isso. — explicou Riley.
O homem soltou um longo suspiro, mas em seguida tornou a falar:
— Peço que tome conta dos dois. Esse transtorno não possui cura, mas podemos perceber que o Luke se sente melhor quando vocês ficam do lado dele e fazem coisas que ele gosta. Pode parecer um mimo exacerbado ficar fazendo tudo para um jovem, mas, por favor, tome conta deles. Certifique-se de me avisar com o Pokégear caso precise de qualquer ajuda, você é a mais velha, e por isso, mais responsável. Tome conta dos dois.
Dawn acenou com a cabeça, percebendo o grande dever que agora lhe fora incumbido. Riley tocou levemente no ombro da garota, e deixou o pé da escadaria. Por um momento Dawn queria poder tê-lo ao seu lado o tempo todo, Riley era mais experiente e cuidadoso, ela sentia como se não fosse mais capaz de cuidar de seus amigos sozinha. Talvez eles fossem grandes o suficiente para cuidar de si próprios sem ajuda, mas a função de Dawn era mais do que somente fazer companhia, ela devia proteger aqueles que amava.

Assim que todos terminaram suas necessidades de uso do banheiro eles deixaram a cabana. Continuavam a serem os únicos jovens no resort mais lindo de Sinnoh, e por isso causavam a maior bagunça. O sorriso exagerado de Luke voltava a aparecer, ele já fazia suas brincadeiras novamente e até não conseguia esconder as zoações para cima do bom amigo Stanley. 
Riley direcionou-os até o balcão e encerrou o uso do bangalô em seu nome, deixando-o para ser alugado novamente. O rapaz ajeitou seu chapéu e encarou o céu plúmbeo daquela amanhã. Era hora de dizer adeus.
— Acho que é uma despedida. — disse Marley entristecida.
— Temporária, espero eu. — acompanhou Riley.
O homem lançou um rápido olhar para Dawn como se reafirmasse: Tome conta destes dois garotos, eles são especiais para todos nós. Infelizmente os veteranos precisavam continuar seu próprio caminho, e assim, o grupo seguiria em direção de Pastoria para uma nova competição e um ginásio de Luke.
— Fica tranquilo Mr. Handsome, desses dois garotos a gente toma conta. — aprontou-se Vivian.
— Nós já passamos por Pastoria e estaríamos indo para Veilstone, mas depois de encontrar esses três e lembrar-se de todas as nossas aventuras... Acho que vamos seguir com eles por mais uns dois dias. — disse Stanley.
Luke tocou no ombro de seu amigo e lhe deu um abraço de agradecimento. A presença do parceiro era importante naquela ocasião, logo, Stanley achou melhor certificar-se de ficar ao lado dele para lhe dar apoio.
— Fico muito feliz que vocês estejam indo conosco, vai ser tão bom lembrar-se daquela semana em Hearthome! Vamos nos divertir muito. — disse Lukas.
Riley demonstrou um ligeiro sorriso, pois sabia que os jovens agora estariam em boas mãos. Mesmo que Stanley e Vivian não fizessem noção do transtorno psicológico de Luke, eles sentiam isso. Era uma ligação extrema de seus corações.
Marley andou em direção de Lukas e o abraçou intensamente, ela não sabia quando seria a próxima vez que se encontrariam, mas a presença com ele por um longo tempo lhe ensinara muitas coisas.
— Obrigada por abrir meus olhos, vou encontrar alguém que me complete. — disse Marley.
— Tenho certeza que será alguém muito especial, conte comigo sempre que precisar. — assentiu Lukas num cumprimento, retribuindo o abraço.
Marley olhou para Vivian ao seu lado e demonstrou um sorriso, dando uma rápida piscadela na sequência.
— Te espero nas finais do Grande Festival. É bom que esteja lá, ou vai perder o prêmio.
— Hah. Não pense que somente pelo fato de você ter deixado meu Lukas-kun em paz que eu vou parar de azucrinar, vou continuar te perseguindo agora por vontade própria. — respondeu ela.
Riley caminhou em direção de Luke e tocou no ombro do jovem.
— No fim do ano teremos a realização da Liga Pokémon. Você ainda tem muito tempo para treinar, mas vá com calma, não se apresse, faça tudo no seu tempo. É importante seguir seus sonhos, mas não se esqueça daqueles que estão ao seu lado para torná-lo real.
Luke agradeceu e prometeu um dia enfrentar o home quando ele se tornasse mais experiente. Riley e Marley partiram, ainda olhando para trás buscando as recentes lembranças de amigos que manteriam no coração. Algumas vezes era necessário encerrar uma equipe, mas as memórias da amizade deles manteriam a chama acesa dentro do coração de cada um.

• • •

A Rota 213 era um caminho litorâneo que ligava a cidade de Pastoria até a entrada do Hotel Grand Lake que dava passagem até Sunyshore. O sol brilhava muito, naquela ocasião não fazia frio, mas era possível notar nuvens que se aproximavam na distância, era muito provável que fosse chover na manhã seguinte ou ainda na mesma noite.
Vivian andava com os braços entrelaçados nos ombros de seus amigos. De um lado estava Dawn e do outro Lukas, todos cantavam e rodopiavam com seus pés sentindo a areia do mar e alguns Pokémons acompanhando-os com passos ríspidos. Luke estava mais atrás de todos, Stanley hesitou por um momento e notou seu amigo que caminhava tão lentamente que logo seria esquecido. O loiro caminhou até o seu lado e colocou a mão em seu ombro.
— Vamos lá, campeão. Ânimo nessa parada! O sol está brilhando, podemos nos divertir e seguir nosso caminho até o Great Marsh de Pastoria, já ouviu falar? — perguntou Stanley.
— Já, meu pai me levou quando eu era criança, mas eu não gostava muito. Disseram que uma vez eu caí na lama e saí de lá parecendo o Glenn Combs. Heh, heh... — comentou Luke, revelando um sorriso descontraído — Eu estava ansioso para chegar ao ginásio...
— Não, não, não. Vamos nos divertir, nos alojar no Centro Pokémon e aproveitar nossa estadia por lá. Vamos deixar as batalhas para depois, a Dawn disse que você tem estado muito tenso ultimamente.
Vivian voltou-se para trás com seus amigos praticamente sufocados em volta de seus braços finos. Ela soltou os dois e sentou-se na beira da praia, olhando para o alto e tampando sua vista pelos fortes raios do sol que atingiam seus olhos grandes e emocionais.
— Ufa, que calor! Vamos aproveitar mais um pouco, gente. Pastoria não sai do lugar. Podemos ficar aqui na areia e montar uma fortaleza gigantesca!! — disse a ruiva.
— Castelo de areia! Parece ser uma boa! — assentiu Lukas.
Numa situação como aquela, Luke diria que o ato de montar um castelo de areia era algo “infantil”, mas nenhuma palavra saiu de sua boca. Ele apenas depositou sua mochila ao lado e retirou sua camiseta para ajudá-los com o processo de criação de sua fortaleza.
— Faz muito tempo que não faço isso. — comentou Dawn — Me traz uma lembranças tão antigas de Dewford, em Hoenn. Era um tempo que eu não tinha os problemas que tenho hoje.
— Oxi, me desculpe então, Senhorita Responsável. Com quinze anos já reclamando de dor nas costas e falando de problemas? Poxa, com treze eu ainda estou brincando de boneca e assistindo desenhos animados. Você está ficando ultrapassada, querida. — brincou Vivian.
— Ah, isso que a Vivian mencionou é verdade. As crianças tentam crescer antes de seu tempo, querem ser mais maduras e responsáveis, e quando finalmente se tornam adultas sentem saudade de ser criança uma última vez. — mencionou Lukas.
— Eu tenho orgulho de ser criança! Viver sem problemas, é a minha filosofia de vida. Vai falar que vocês não assistiam essas paradas? — disse Vivian com um sorriso, continuando a emoldurar a aparência de seu castelo de areia.
“Amadurecer antes de seu tempo. Tentar agir como um adulto sendo que é somente uma criança.” Aquelas palavras lembravam Dawn a respeito de um certo garoto que estava apoiado de costas para ela fazendo círculos na areia com a ponta do indicador. Dawn virou-se e segurou Luke dando-lhe um forte beijo no bochecha, ela sorriu enquanto o jovem continuou sem entender muito bem o que havia acontecido.
— E agora, o que eu fiz para ganhar um beijo desses? — indagou ele surpreso.
— Nada, você simplesmente está do meu lado. Gosto quando você fica assim perto da gente. Então venha cá! Ajude-me a montar um castelo de areia.
Luke aproximou-se do grupo e ajudou-o com a tarefa. Ele até mesmo havia liberado alguns Pokémons para se refrescarem. Seu grupo inteiro era do tipo que não se dava bem com o mar. Titânia não era muito chegada em água; Gabite odiava claridade, Porygon-Z tinha sérios problemas com a maresia do oceano; Froslass não poderia ficar no calor. Pelo menos o jovem Mikau e Bastiodon poderiam se preparar para os próximos desafios.
A Milotic de Lukas chamava atenção das crianças em volta, ela mantinha toda a equipe protegida dos perigos que o oceano poderia trazer. Stanley estava com seu grandioso Gyarados, a serpente se divertia ao lado de Mikau que ainda o desafiava para uma batalha de titãs quando ele evoluísse. Dawn ficava somente na beira, terminando o castelinho de areia ao lado de Luke. O garoto colocou duas pequenas conchas no topo do castelo e o finalizou com grande êxito.
— Pronto. O que fazemos agora? — perguntou ele.
— Todos os castelos são construídos com um único objetivo. — respondeu Dawn, levantando-se e esticando a mão para o garoto.
— Vamos destruí-lo!
Humanidade. Sempre se vangloriando da destruição. Luke e Dawn riam enquanto olhavam o castelinho ir por água abaixo e ser coberto pelas ondas, Dawn veio a tropeçar nos montes de areia e foi de encontro aos braços de Luke. Os dois se entreolharam, mas o garoto logo a jogou na água e caiu em cima dela.
— Aww, você poderia ter me segurado! — resmungou Dawn.
— Hah, hah, hah... Eu não, você é muito pesada!
—Seu bobo!! Eu te adoro.
Dawn segurou uma das mãos de Luke e o beijou enquanto o garoto sentia os cabelos negros e molhados da garota cobertas pelo sal do mar. Vivian e Lukas estavam ao lado dos dois, em seguida a ruiva esboçou uma feição de nojo.
— Ew... Vocês vão ficar se beijando aqui no meio da praia? Casalzinho é triste, sempre chamam os amigos e depois ficam de grude-grude para o resto segurar um Litwick gigante. — disse Vivian.
— Eu sou o único forever alone da equipe. — brincou Stanley.
— Ahh, não me venha com conversa, porque não é por falta de opção!! Vamos sair logo daqui antes que essa doença de namorados pegue em mim e eu perca o controle também.
Logo Lukas e Vivian saíram da água na companhia de Stanley. Provavelmente Luke e Dawn ficariam naquela situação por mais um algo tempo. Vivian estava vestida com seu singelo biquíni enquanto seus dois amigos andavam ao seu lado como seguranças, um com as mãos no bolso e o outro de braços cruzados. A menina segurou nas mãos de seus amigos e saiu de lá saltitante.
— Cantem comigo! Você deve compreender que nem tudo vai ser só diversão. Pois um dia, meu amor, a tristeza e a dor, também virão. ♪
— Ei, essa não é a música do...
— Shh!! Ainda não terminei.

“Nós vamos ficar juntos em todo lugar, quando não há caminho algum
Você vai nos seguir, e então vamos descobrir
Somos mais do que mil, somos um! ♪

— Ae, Lukas, você não tem noção do que é ouvir ela cantando e dizendo essas coisas a viagem inteira. Fico feliz que agora tenha alguém pra compartilhar essa dor comigo. — brincou Stanley.
— Ora essa, sua capivara barriguda, vou morder sua cabeça pra parar de dizer essas coisas ruins sobre mim para o Lukas-kun! Ele vai ficar ainda mais assustado.
Vivian começou a correr atrás de Stanley enquanto os dois riam como dois amigos que se consideravam muito. A ruiva praticamente o alcançou, chegou a encostar no calção de banho do garoto, mas levou um tombo imenso e foi de cara no chão após escorregar em algo molhado. Vivian virou-se imediatamente e viu uma criatura no chão.
— Por Arceus, esmaguei um Pokémon! — gritou Vivian.
Havia uma pequena lesma esticada pelo chão. Stanley retirou um graveto debaixo de uma árvore e aproximou-se dos restos mortais da criatura.
— É... Acho que tá morta.
— Cruz credo!! Eu matei um Pokémon inocente! O que será que era esse negócio? Não dá nem mais pra fazer uma autópsia, olha a aparência desfigurada dele!
— Viu só, eu disse que você estava gorda. — brincou Stanley.
Lukas aproximou-se da criatura e tocou sobre ela com as mãos. O Pokémon gemia, só estava um pouco machucado, mas não morreria sendo pisoteado por uma garota normal. (Mas quem sabe uma Vivian gorducha...) Lukas segurou o Pokémon com suas duas mãos e com uma feição assustada levou-o para o mar.
— É um Shellos verde, do oriente. Acho que ele já estava muito machucado quando a Vivian pisou nele, mas não se preocupe, a situação dele já era ruim. Não precisa ficar com peso na consciência! — disse o garoto, vendo uma aura negra surgir em volta da cabeça de sua amiga.
Lukas agachou com o Pokémon em seus braços e o colocou na água do mar, mas de repente, a criatura começou a aumentar de tamanho.
— Mano! É uma LESMA cara, e você simplesmente jogou a bicha num mar repleto de SAL!! Agora sim o bicho vai morrer.
— Ele não é uma lesma, é um pepino do mar!! E parem de ficar piorando ainda mais a situação do bicho, o problema é que ele só precisava de um pouco água, sua pele havia secado por conta do sol forte, é só isso.
O pequeno Shellos ficou por um tempo na água até recuperar sua consciência. Vivian e Stanley estavam em frente às ondas para que não acertassem diretamente na criaturinha que agora se recuperava. Aos poucos o Shellos verde já voltava a se mover. Olhou para Lukas que o salvara e o agradeceu subindo em seu braço. O Pokémon havia sido curado.
— Muito bom, Lukas, você poderia ser criador. — disse Stanley.
Os três trouxeram o Shellos em suas mãos até onde Luke e Dawn estavam alojados com seus pertences. O garoto abaixou o Pokémon e mostrou-o para Dawn. Ele tinha os olhos brilhantes e um sorriso de ponta a ponta típico da espécie.
— Que gracinha. — disse Dawn.
— Oe, não vai capturar mais um bicho desses não. Você já tem um Shellos inútil, dois Shellos inúteis já é demais. Aposto que se depender desse seu sujeito você adotaria todos os Pokémons feridos que encontra em nossa jornada. — disse Luke.
— É uma fêmea, poderia fazer casal com meu companheiro.
— Fêmea? E por que a fêmea é verde e o rosa é macho? Sei não hein, para mim aquele seu Shellos continua muito suspeito.
Lukas preferiu ignorar o comentário do irmão. Ele chamou por seu Shellos que no momento brincava ao lado de Roselia e Milotic. A criatura rastejou até o lado de seu mestre e aguardou a mensagem. Lukas ficou de joelhos e mostrou a pequena Shellos que agora parecia completamente recuperada, embora ainda mancasse do tropeço que Vivian dera em cima dela.
— Será que para todos os lados que eu vá há um casal? Isso já está começando a ficar chato, eu também quero um. — disse Vivian.
Os dois Shellos pareceram rodopiar um em volta do outro enquanto se examinavam, ficaram nessa competição por tanto tempo que aquilo até parecia dar tontura naqueles que os observavam. De repente, puderam-se ouvir barulhos de trovões.
— Ah, qual é! Estava um sol tão lindo, e agora aquelas nuvens chegaram para acabar com nossa brincadeira. — resmungou Vivian.
— É melhor nós arrumarmos nossas coisas e seguirmos até Pastoria, já tivemos a oportunidade de nos divertirmos bastante por hoje.
Lukas segurou seu Shellos no colo, mas a figura verde agora o olhava com uma feição de enorme dúvida e tristeza. O jovem sentiu-se como se tivesse separado um casal que se amava muito. Pôde ouvir Luke chamar por ser nome enquanto se distanciavam.
— Vamos lá cara, antes que essa chuva nos pegue na metade do caminho!
Lukas acenou para a Shellos de cor esverdeada, e partiu. Os jovens apressaram seu passo em direção da cidade, mas um fato curioso era que as nuvens se dissiparam novamente. O sol ardente estava de volta implorando para que os banhistas voltassem.
— Poxa, Kyogre, decida-se logo! Ou deixa o Senhor Groudon em paz ou para com essa conversinha de trazer sol e chuva pra confundir a nossa cabeça! — gritou Vivian socando o ar e fazendo gestos estranhos.
— Vocês querem voltar? — perguntou Stanley.
— Vamos, vamos, sim. Aproveitar até de tarde, afinal, não sabemos quando será a próxima vez que veremos uma praia!
O grupo ajeitou suas mochilas e voltou em direção da Rota 213 para mais um banho de sol. A Shellos verde continuava ali, parada. O Pokémon de Lukas pareceu fazer uma estranha dança mesmo no colo de seu treinador, e assim, as nuvens de chuva voltaram. Um fato curioso é que o oceano continuava em constante harmonia, não havia sinal algum de fúria em suas águas salinas.
— Tá de brincadeira? As nuvens estão ali, ainda mais carregadas! Certeza que vai vir um toró daqueles. — disse Vivian — Vamos pra Pastoria agora, não quero mais perder meu tempo aqui depois dessa.
Seus amigos seguiram a rota novamente, mas antes Lukas agachou na altura da Shellos esverdeada e esticou o braço para que ela subisse e fosse ao encontro de seu companheiro cor de rosa. O garoto deu um sorriso e voltou a correr.
Não houve nem a oportunidade de aumentar o passo. Um forte estrondo anunciou a chegada da chuva, os pingos caíam de lado e dançavam ao toque da areia que se dissipava nos pés dos aventureiros. Por mais que corressem, a chuva parecia segui-los. Dawn estava irritada por ter todas as suas vestes molhadas, apenas implorava para que não houvesse outra inundação como na Rota 215 e que todos o seus pertences fossem destruídos novamente. Luke retirou sua blusa e colocou sobre a garota para que ela não molhasse tanto os seus cadernos e aparelhos, Vivian gostaria de ter alguém que fizesse o mesmo, mas Lukas estava muito ocupado com os dois Shellos em seus braços.
— Puxa, Stanley, seria tão bonito se alguém me protegesse da chuva!
— Com certeza, pena que esse tipo de garoto não existe mais.
— Ahh, seu desgraçado, arranca essa bermuda pra me proteger dessa droga de chuva logo!!
O grupo continuou a correr tão depressa que nem sequer tiveram tempo de olhar para toda a beleza natural de Pastoria. A chuva havia pegado todos os treinadores desprevenidos, ninguém carregava um guarda-chuva em seus pertences, era como se ela tivesse surgido sem ter sido uma obra da natureza. Não havia raios, somente água. Muita água. Eram pingos grossos que cortavam as nuvens e molhavam as pessoas sem causar danos maiores, mas aquilo ainda não evitava desastres naturais.
Eles finalmente alcançaram o Centro Pokémon que estava muito cheio naquela ocasião. A maioria das pessoas apenas aguardava a oportunidade da chuva parar, mas ela não ia embora, estava concentrada justamente em Pastoria.
— Chove, mas como chove! Chuva, chuvisco, chuvarada, por que é que chove tanto assim? — indagou Vivian.
— Aqui estamos protegidos, vamos alugar um quarto e esperar até que essa tempestade dê uma passada. Justamente hoje que eu gostaria poder ter tido a oportunidade de apresentar Pastoria pra vocês? — disse Stanley.
Os jovens alugaram dois quartos e subiram as escadas. Optaram por ficarem todos unidos e conversarem um pouco, as garotas preferiam só voltar para seus alojamentos quando desse a hora de dormir. Aquela ocasião era perfeita para colocar todos os assuntos em dia, e saciar as lembranças que tiveram ao lado de seus melhores amigos em Hearthome.
Stanley contou detalhadamente para Luke como havia sido sua vitória contra o líder Wake na cidade. O loiro teria de enfrentar Maylene na próxima cidade, ele não tivera a mesma sorte da garota estar numa reunião e enfrentar apenas um de seus discípulos. Maylene nunca perdia sua fama de ser uma das líderes mais duronas na hora da queda. Luke ouvia tudo atentamente, e de certo modo, falar de sobre o assunto de ginásios com ele ainda preocupava Dawn, se dependesse dela o garoto não iria competir em mais nenhum.
Dawn caminhou até um dos sofás e debruçou-se sobre ele, levantando uma das persianas do quarto. A chuva não parava, continuava em volta de Pastoria, o mais chato era poder notar que a Rota 213 estava lindamente iluminada pelo sol.
— Estranho, tenho a impressão de que só está chovendo nessa cidade. — disse Dawn.
— O nome disso é zica, alguém aqui está com uma macumba doida. — retrucou Vivian.
Luke levantou-se e caminhou em direção do banheiro do quarto. Lukas estava lá dentro, havia acabado de sair com seus dois Shellos no ombro. As criaturinhas pareciam adorar a umidade, e um banho de água fria seria a melhor forma de recuperá-los.
— Ah, não me diga que você capturou esse Shellos verde!
— Eu não a capturei, ela está apenas nos acompanhando. Só por enquanto.
Luke calou-se e coçou sua cabeça de forma pensativa. Ele não poderia fazer nada quanto ao jeito caridoso de seu irmão, sempre ajudando Pokémons e pessoas. Foi assim que ele havia capturado Budew na rota 202, lembranças antigas do início de suas aventuras.
Luke voltou-se para a cama, mas sentiu algo caindo em sua cabeça. Ele olhou para o alto e notou uma goteira.
— Nossa, eles devem ter nos dado o quarto mais vagabundo do Centro. Tem até goteira!
Stanley também sentiu algo em sua mão esquerda, outro pingo, outra goteira.
— Uma não, várias.
Aos poucos os pingos começaram a aumentar, Dawn levantou-se assustada e correu para seu quarto para ver se seus livros e seu Pokégear estavam a salvos. O problema da goteira era justamente no quarto dos garotos.
— Eu vou reclamar com a gerência, como é que pode uma coisa dessas?
Quando Luke preparava-se para sair, ele notou que as goteiras ganhavam força e agora caíam como uma verdadeira chuva dentro de um cômodo. Vivian deu um pulo e caiu no colo de Stanley, pois a água subia muito rapidamente.
Lukas olhou para os dois Shellos em seu ombro, e eles continuavam fazendo danças estranhas com suas cabeças como se invocassem algo. Uma lâmpada surgiu-lhe, assim como a solução para aquela forte chuva.
— É claro! A habilidade dos Shellos! — disse Lukas.
— O que têm elas? — perguntou Luke.
Storm Drain. Eles atraem qualquer movimento aquático para perto de si, acho que eles estavam tão felizes que atraíram todas as chuvas da região para onde estamos. Isso explica as nuvens repentinas que se formaram na praia.
Lukas correu levando os dois Pokémons para longe. A água do cômodo secou como uma poça no deserto, mas aquilo não mudava o fato de que os móveis estavam todos encharcados.
— Droga, como é que vamos ficar num quarto cheirando a mofo e todo molhado? Não podemos alugar outro, ficaria muito caro! — disse Stanley.
— Isso quer dizer que... Nós vamos ter que ficar no quarto das garotas? — perguntou Luke, lançando um olhar de relance para Dawn.
— Nuuuussa, deixa eu descer lá na gerência então e falar desse problema das goteiras, sorte que deixei uma grana guardada para não ter que passar por um sufoco como esse. Imagina ter que ficar do lado dessa Vivian de novo? Como se já não bastasse todos os outros dias da aventura. Hah, hah... Hah... Gaaaaaaah...
Vivian já estava dando uma chave de braço em seu pobre companheiro de viagem.

• • •

Lukas correu para longe do Centro com os dois Pokémons em suas mãos. Colocou os pequenos sobre um pântano cheio e folhas e um pouco de lama. Seu Shellos cor de rosa lançou um olhar para seu treinador e tentou entender o motivo daquilo, pois podia notar claramente a feição de tristeza no rosto de seu treinador
— E-Eu não posso, Shellos! Vocês precisavam ficar juntos, não quero separá-los.
Lukas segurou o choro e lembrou-se do dia em que capturou o pequeno. Desde então Shellos e Roselia haviam formado uma linda amizade, e ele imaginava qual seria a reação da florzinha ao descobrir que seu companheiro havia partido. Shellos rastejou até eu treinador e apoiou-se nele.
— Por favor! Eu quero o melhor para você! Desculpe-me por não treiná-lo bem, não tivemos a oportunidade de participar de nenhuma competição, mas você sempre será meu amigão. Você encontrou uma parceira, siga ao lado dela.
O Pokémon hesitou, Lukas soltou um suspiro olhando para os pingos da chuva caírem sobre seu rosto molhado.
— Eu quero o melhor para você.
A Shellos esverdeada ficou a observar treinador e Pokémon conversarem. Lukas agachou na altura do pequeno e tocou em sua pele coberta pela lama, o garoto ajeitou os cabelos e retirou a boina encharcada, levantando-se na sequência.
Shellos permaneceu quieto, mas em seguida confirmou com a cabeça a troca de olhares, partindo ao lado de sua parceira esverdeada. A cada passo a lesma hesitava e olhava para trás para ver se ainda era observado. Lukas acenou e continuou ali, vendo seu companheiro partir para seguir seus maiores sonhos.

Aos poucos a chuva cessou, e o jovem se encontrou obrigado a voltar para o Centro. Caminhou tempo todo pisando nas poças d’água e algumas vezes observando seu próprio reflexo. Shellos havia encontrado sua alma gêmea, mas no fim das contas, onde estava a sua própria? Era uma mistura de felicidade por saber que seu amigo seguiria um caminho melhor, e ao mesmo tempo uma decepção por se perguntar: Será que eu mesmo estou seguindo o melhor caminho para minha vida?
Quando Lukas regressou seus amigos ainda limpavam o quarto de toda a sujeira causada pelo Storm Drain. Quando Stanley e Luke foram ao balcão de atendimento alegaram que o defeito era por conta do Centro, mas a direção afirmou que o banho havia sido deixado ligado, e agora eram os usuários se responsabilizavam por sua limpeza. Luke e Stanley tinham vassouras em suas mãos enquanto eram vigiados pelas duas garotas que apenas riam da ocasião.
— Só me sobrava essa, dois Pokémons destroem tudo, e a gente limpa. — resmungou Luke.
— Pense bem, Lucky. Poderia ser pior, você poderia estar no mesmo quarto da Vivian, e acredite, ela não deixa ninguém dormir de noite.
Os dois amigos lavavam o chão de seu quarto quando puderam ver Lukas chegar com uma feição de cansaço e tristeza. Dawn logo se deu conta, e percebeu de imediato que algo ruim havia acontecido.
— Eu deixei o Shellos ir embora com aquela fêmea da espécie... — disse ele de forma chateada.
— É uma pena, querido, mas pense que agora ele estará num lugar melhor com aqueles da mesma espécie. O Shellos é muito grato por tudo que você fez, e garanto que ele nunca se esquecerá de seus favores. Venha, entre aqui e fique no quarto conosco até você se recuperar. — e fechou a porta. 
Luke deu um grito pasmo.
— Pivete maldito!! Continua cativando as garotas com seu charme!
— Hah, hah, hah... Ficou pra trás hein, Lucky. Agora limpa logo esse chão se não a gente só vai dormir na manhã seguinte.

Com a partida de Shellos Lukas encontra-se arrasado, mas ele sabe que foi o certo a se fazer para que seu adorado Pokémon tenha uma vida melhor. Partidas são necessárias, mas o pequeno jamais esquecerá o treinador que cuidou dele por tanto tempo. Um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol, e a única maneira de se ver o arco-íris é aguardar por ela.


      

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