Archive for September 2022

A Conclusão de Sinnoh 2.022

"Está feito", disse Frodo Bolseiro.

"Sim, Sr. Frodo", respondeu Sam. "Acabou agora."


E com esse trecho de O Senhor dos Anéis em mente, me pego pensando que é a segunda vez que eu "termino" o Aventuras em Sinnoh. A primeira foi lá na Liga Pokémon em fevereiro de 2015, e de lá para cá se passaram 7 anos. Muito mais do que imaginei. Ainda me surpreendo pelo fato do blog continuar vivo, e com alguns visitantes ocasionais aqui e ali. Lá no fundo sinto que ainda sou o mesmo, porque estou sentado no mesmo lugar e usando mesmo notebook velho com quase uma década de existência.

Mas, de alguma forma, acho que TUDO está diferente. O mundo virou um lugar bem estranho.


Sinnoh 2.0 foi uma brincadeira antiga que surgiu assim que a fanfic terminou. Quando uma coisa que as pessoas gostam muito termina, é normal estar no hype e querer saber mais. Lembro que pouco tempo depois de Naruto acabar, logo vieram os boatos do filho dele, Boruto, e eu só conseguia pensar: "Isso devia ter acabado há muito tempo".

Bem, talvez o blog também tivesse de ter acabado também, mas ainda me pego passeando por aqui, lendo comentários antigos e reencontrando alguns velhos rostos quando tenho a oportunidade. 


Com o término do The Post-Game, as histórias que eu tinha para contar aqui terminaram. Consegui entregar um fim que eu sempre quis dar para meus personagens, matar a saudade, e de quebra concluir umas pontas soltas que me incomodavam. Me diverti muito. Deixo meus sinceros agradecimentos ao Dento que puxou meu pé por incontáveis anos para escrever esse arco, e hoje posso vir aqui de cabeça erguida para confirmar que o terminei.

Fica o gancho para uma continuação da continuação, e quem sabe até um Aventuras em Hisui? Bom, aí já não é comigo, mas uma história começa quando um escritor se pergunta: "O que será que vem depois dessa página?"


No início desse ano eu fiz um post falando sobre minha vontade de comprar bonecos da linha Scale World de Pokémon, e eu consegui. A foto de capa está aí para provar (só faltou o Luke).

Ontem também chegou o Vol. 1 da saga Diamond & Pearl nos mangás, e eu percebi que estou esperando essa desgraça desde 2014 quando a Panini lançou Black & White aqui no Brasil, e só agora eles voltaram à quarta geração para eu finalmente acompanhar essa obra. Venho evitando ler desde então, porque eu prometi a mim mesmo que só leria quando tivesse uma edição física em mãos, até para evitar me espelhar na história enquanto eu produzia AeS. Ainda não li o volume, mas estou ansioso para começar. Como cuidei dessa região por 12 anos, eu provavelmente vou achar bem esquisito enxergar os personagens de uma forma tão diferente *risos* Às vezes sinto que eles são só meus.


Acredito que este post marque um final para o blog como o conhecemos. Sem mais histórias. Não tenho mais nada para contar (acho que eu falei a mesma coisa em 2015, mas enfim).


Obrigado pelas memórias. Obrigado pelas visitas e comentários que ainda guardo como um pequeno tesouro. Obrigado à VOCÊ que leu e fez parte dessa história comigo.


The Post-Game 7 [FINAL]

 

No momento em que Amy pôs o pé para fora do portal, ela se reteve. Todo o esquadrão da Polícia Internacional fazia ronda e cercava o local com suas faixas amarelas com os dizeres em letras garrafais “não ultrapasse!” que nenhum cidadão ousava burlar. Parte da guarda costeira de Sinnoh também fora acionada, assim como detetives, investigadores e alguns curiosos de plantão.

A primeira reação de Amy foi recuar um passo e voltar para dentro do Distortion World onde era mais seguro, mas Martha pediu-lhe licença e passou em sua frente, correndo em direção dos seus sobrinhos que a aguardavam ansiosamente. Luke e Lukas a receberam com um abraço caloroso, quase indo ao chão no momento em que ela se jogou nos braços dos meninos.

— Tia Martha, você está bem! Que alívio — disse Lukas com a voz chorosa.

— Me perdoem pelo susto, meus queridos. Eu não queria... eu estava fora de mim.

— Tá tudo bem, tia — respondeu Luke preocupado. — Nós não fazíamos ideia onde você tinha ido parar, não temos notícias suas há meses.

— Mas se tem alguém que conhece cada canto deste universo, essa pessoa é a Paula.

Amy, que até então apenas os observava de longe, deu-se conta da mulher que caminhava em sua direção. Ela era muito alta e tinha longos cabelos perolados, mas a expressão franzida e irritadiça apagava parte da beleza e plenitude que costumava habitar seu olhar. Amy deu dois passos para a direita e saiu da frente da fenda antes que a mulher gritasse: “Mova-se depressa!”.

Com os braços estendidos, Paula abriu as palmas do mão no ar e fechou os braços num movimento cruzado, como se dobrasse as amarras do universo à própria vontade. O portal para o Distortion World retorceu-se, vibrou e emitiu uma energia densa para então ser selado, intransponível, como sempre deveria ter estado.

Mesmo sem entender, Amy fez menção de agradecê-la, mas a mulher lhe deu as costas e desapareceu em um corredor escuro da montanha. Até mesmo Luke estranhou tal atitude, o que o levou a interrogar seu irmão:

— Tá tudo bem com a Paula?

— Ela ficou bem irritada quando pressentiu esse portal sendo aberto... — lamentou Lukas. — Nós não tivemos tempo de conversar muito no caminho para cá, mas ela disse que isso a colocaria em uma séria encrenca com as outras divindades. Espero que ela consiga resolver e tudo termine bem...

— Eu também. E falando nisso, será que o senhor pode me explicar por que não retornou nenhuma das minhas chamadas nos últimos dias? — falou Luke, escondendo a frustração por trás do deboche. — Tava tão ocupado que não teve nem tempo de dizer ao seu irmãozão que chegou bem? Hein, hein?

— Credo, você tá falando que nem a mamãe! — brincou Lukas, afastando-o de perto de si. — Onde eu estava não tinha sinal. E digamos que era um pouquinho... distante daqui.

— Não acredito que você foi visitar outra região sem mim!

— De forma alguma! É só que a Paula queria que eu conhecesse um dos planetas favoritos dela, porque eles estão na temporada onde acontecem as supernovas.

— Ah — ele soltou uma exclamação. — Perto de você minhas aventuras até perdem a graça.

— Eu sempre vou preferir as nossas aventuras, Luke.

Os Irmãos Wallers guiaram tia Martha para que ela fosse atendida pelos paramédicos. Parte da operação havia sido organizada por tio Marshall, que estava em seus últimos anos na polícia procurando por um substituto. Com a confusão toda envolvendo a aliança entre Rockets e Galactics, seu intuito era manter a mídia o mais longe que pudesse para que isso não manchasse os compromissos da Liga Pokémon ou seus sobrinhos. Charon e os demais tiveram o laboratório apreendido e todos os instrumentos de pesquisa confiscados, e seriam interrogados em breve. Com o vulcão da Stark Mountain controlado, não havia mais o que temer.

E além de Marshall, havia outros rostos que encheram Luke e Lukas de saudades. Quando Stanley ficou sabendo que Luke poderia estar em apuros, ele foi correndo chamar sua namorada Vivian para dar o devido apoio moral. Não que eles pudessem oferecer grande ajuda, mas a intenção era o que mais contava.

— A cavalaria chegou! Graças a Arceus cheguei a tempo! — bradou Vivian, erguendo duas sacolas de supermercado como se segurasse o Santo Graal.

— Ô, glória! Manda pra cá! — berrou Luke do outro lado.

Vivian arremessou com precisão um Soda Pop para cada um de seus amigos. Havia também salgadinhos, bolachas e doces para beliscar e matar a fome antes que desse a hora do almoço. Luke e Stanley se cumprimentaram com um aceno só deles e brindaram a mais uma missão bem sucedida.

— A nossa sequência de batalhas na Battle Tower ainda tá de pé? — indagou Luke.

— Sim, eles entenderam que era uma emergência. Não se pode controlar a barriga — brincou Stanley. — Por sinal, a Dawn está bem depois de toda essa loucura?

— Sim, nós a levamos para a enfermaria até que a polícia controle a situação por aqui, mas eu mesmo ainda não a vi — falou Luke, procurando pelo chefe do setor. — Ô, tio Marshall! A gente tá livre para ir?

— Ainda não, meu rapaz. Preciso de vocês para preencher só mais alguns documentos — respondeu o homem com uma prancheta em mãos. — Restaram poucos membros dos Galactic em operação, e por sorte não houveram casualidades. Estamos investigando o paradeiro do ex-executivo Petrel dos Rockets, mas ainda não o encontramos. Eu vou precisar que todos os envolvidos continuem por aqui. Inclusive você, senhorita.

Marshall apontou com o lápis na direção de Amy que tentava sair de fininho. A garota suspirou, pois a última coisa que queria no momento era o envolvimento da polícia em seus afazeres. Marshall entregou a prancheta para outro oficial, caminhou em sua direção e a chamou para uma conversa em particular. Ele encostou-se à parede e retirou o chapéu para abanar-se por conta do calor, como quem tem uma conversa casual.

— Você é a Srta. Green? — perguntou o chefe da polícia, quase como se confirmasse.

Amy fez que sim com a cabeça, cautelosa e impaciente.

— Entendo. Estou ciente do seu histórico com esses criminosos.

— Isso já faz muito tempo. E se te consola, eu mesmo vim aqui para limpar a bagunça que eles deixaram — respondeu Amy.

— Fique tranquila, não vim com o intuito de pressioná-la. Estou no encalço dos remanescentes dos Rockets que estão atuando em Sinnoh há muito tempo, mas espero que esta seja a última vez.

— O senhor não vai deixar isso vir à tona, ou vai? — indagou Amy por fim.

— Senhorita, eu não quero problemas. E da mesma forma que você busca discrição, eu trabalho nas sombras — falou Marshall, e atrás dele pôde-se ver as asas de um enorme Honchkrow se movimentarem como se fosse um sobretudo em suas costas. — Eu nunca te vi, e você nunca me viu.

— Já até esqueci que tivemos essa conversa — respondeu Amy, aproveitando a chance para escapar pelos fundos antes que alguém sequer se desse conta de que Amanda Green, a herdeira dos Rockets, pusera os pés na região. — Até logo, oficial

 

i

 

Quando Dawn acordou, mal pôde acreditar em seus olhos. Estava de mãos dadas com sua amada Cynthia, com todos seus amigos ao redor que não via há tanto tempo. Seus olhos se encheram de lágrimas ao dar-se conta de que o tempo nunca seria capaz de romper o laço que havia construído com eles, pois eles sempre iriam ao seu encontro quando ela precisasse.

— Oh, minha pequena — Cynthia aproximou-se e deu-lhe um beijo na testa. — Está tudo bem agora. Você está segura.

Dawn sentou-se na maca e levou a mão ao peito, pois ainda respirava com dificuldade. De um lado recebeu o apoio da atual, e do outro, o ex. Quando seus olhos se encontraram com os de Luke, ela teve um lampejo de todos os anos que passaram juntos — da segurança que sentia e da certeza que poderia conquistar o mundo junto dele —, e do outro estava Cynthia, por quem era perdidamente apaixonada.

— Vocês vieram por mim — disse Dawn com a voz chorosa. — Acho que estou fadada a sempre ser a garotinha indefesa do grupo. Me desculpem por sempre dar trabalho...

— Ai, menina, já tá falando besteira — interrompeu Vivian, enfiando uma bolacha recheada de morango na cara dela. — Cala a boca e come.

— O que aconteceu para que todos viessem aqui me ver? — indagou Dawn.

— E precisa de motivo? — perguntou Lukas. — Eu acho é que ficamos tempo demais longe. Precisamos marcar algo com mais frequência, e sem essa de “vou ver e te aviso”. Eu quero uma reunião da velha guarda de Sinnoh pra ontem!

Todos riram e aproveitaram o momento de confraternização com nostalgia de sobra. Dawn ainda estava terminando seu pacote de guloseimas quando alguém bateu à porta e pediu licença ao entrar. O detetive Looker fez sua entrada triunfal, como se fosse uma celebridade famosa que seria recebida ao som de aplausos e a união de inúmeras bocas abertas em sinal “O” conforme seu sobretudo esvoaçava no ritmo do ventilador de canto improvisado.

Mas no instante em que ele entrou, Vivian soltou uma indagação:

— Por que tem um cara fazendo cosplay de Detetive Wobbuffet na porta?

— Saudações. Eu sou o Observador, mas vocês podem me chamar de Looker. Estou aqui em nome da P.I. para verificar o bem estar da Agente D.

Todos os presentes na sala viraram o rosto em direção de Dawn que mordiscava balinhas de jujuba coloridas.

— Quem, eu?

— Claro. Você se lembra que este foi o codinome que eu lhe dei... não lembra? — indagou Looker, encarando com desapontamento a expressão no rosto de Dawn. — Qual é, foi no Capítulo 8, nem faz tanto tempo...

— Irmão, eu não lembro nem o que eu comi ontem — respondeu Luke.

— Enfim — Looker se recompôs e ajeitou a gravata. — Há muitos anos eu me infiltrei nessa região a fim de estudar mais sobre as facções criminosas que atuavam em Sinnoh. Fiquei muito tempo no encalço do executivo Proton, desde o incidente do incêndio nas proximidades da Rota 202 para ser mais exato.

— Rapaz, isso me lembrou aquela vez que fomos atacados por uma horda de Bidoof doidos. Vocês lembram disso? — indagou Stanley.

— Pode crer — confirmou Luke. — Eu achava eles inúteis na época, mas pensando hoje em dia, bem que eu queria ter um Bidoof no time. Bidoof são maneiros.

— E foi como nos conhecemos! — disse Vivian empolgada, abraçando Lukas ao se lembrar de como tinha uma quedinha por ele. — Ih, foi mal. Esqueci que tenho namorado agora.

Enfim — Looker pigarreou mais alto, tentando retomar o assunto. — Chegou aos meus ouvidos que ele pode ter alguma conexão com a Comandante Mars dos Galactic. O que vocês sabem sobre isso?

— Nada — Lukas balançou a cabeça.

— Nadica de nada. Nunca ouvi esse nome na minha vida — concordou Luke.

— Hm. Suspeito — ponderou Looker, sem se dar por vencido. — Bem, acredito que isso agora seja tarefa para a polícia local, então vou me abster.

— Ah, lembrei! — disse Dawn em sinal de surpresa, apontando subitamente na direção do detetive. — A última vez que fiquei sabendo, o senhor havia se envolvido em um tiroteio. Eu jurava que estivesse morto.

— Morto?! Aquilo tudo foi um disfarce para que eu saísse de cena! — retrucou Looker com convicção. — Eu me permiti ser atingido, para que assim o inimigo não levantasse mais suspeitas sobre meu envolvimento. Passei algumas semanas no hospital e depois saí de licença para passar um tempo em Alola descans-- digo, trabalhando arduamente.

— Oh, estou impressionada! O senhor planejou tudo mesmo — mencionou Dawn.

Seus amigos se entreolharam. Só mesmo Dawn para cair na conversa daquele detetive fajuto.

— Vocês devem estar pensando que eu não fiz nada durante minhas fér-- digo, minha missão em Alola. Pois é justamente por esse motivo que vim aqui hoje — falou Looker, fazendo suspense. — Vocês já ouviram falar sobre fendas?

A menção daquela palavra fez Cynthia se levantar, como quem não deseja que aquele assunto seja levado em diante.

— Detetive, receio que a paciente precise descansar. O horário de visitas já encerrou.

Looker a encarou em silêncio por alguns segundos, mas logo percebeu que estava em clara desvantagem. Por mais que tivesse o desejo e interesse de pedir a ajuda daqueles jovens para seguir com seu estudo sobre as fendas temporais, reconheceu que não conseguiria nada em Sinnoh. Os Ultra Wormhole ainda era assunto sigiloso até mesmo para as autoridades, e por mais que a situação exigisse urgência, talvez fosse melhor não envolvê-los naquilo.

— Bem, então não era para ser — lamentou o detetive, vestindo seu casaco. — Me desculpem se pareço excêntrico, mas é que não posso evitar. Meu tempo em Sinnoh finalmente está chegando ao fim agora que meu trabalho aqui está concluído.

— Mas você não fez nad--

Stanley tampou a boca de Vivian antes que ela machucasse o pouquinho de dignidade que restava àquele pobre homem.

Looker girou nos calcanhares e fez um último aceno breve para os jovens heróis que fizeram parte de sua história.

— Adeus. Que os ventos do destino permitam que nossos caminhos voltem a se cruzar algum dia! — disse o detetive, fazendo um som de vento com a boca para dar efeito conforme fechava a porta, ainda mantendo contato visual.

 

Cynthia continuou ao lado de Dawn para ajudá-la a reunir seus pertences e levá-la de volta para casa assim que os médicos a liberassem. A operação da polícia estava quase no fim, e como prometido, tio Marshall conseguira desviar toda a atenção da mídia para um incidente envolvendo o descontrole dos Heatran que quase ocasionou na erupção do vulcão.

Os dois irmãos se sentaram próximos à ribanceira para observar o nascer do sol. Stanley e Vivian também se uniram a eles, e logo o grupo que originalmente se aventurara por Sinnoh quando criança estava reunido outra vez. A montanha dava uma bela visão do Monte Coronet que se erguia diminuto no horizonte, assim como a região norte de Sinnoh toda coberta de neve até a costa e o castelo da Liga Pokémon ao leste.

— Puta merda — falou Luke por fim. — Eu amo Sinnoh. Grande parte da minha vida passou-se nessa região, e sou muito grato por ela. Obrigado por fazerem parte disso.

— Deu de ficar todo emotivo agora? — indagou Stanley. — Até parece que nunca mais vai voltar.

— Eu conheci muitos lugares junto da Paula, mas devo admitir que meu coração sempre estará aqui — comentou Lukas.

— E eu vou aonde vocês forem! — mencionou Vivian. — O que acham de organizarmos uma nova aventura só nós quatro, como nos velhos tempos?

— Eu topo — falou Luke. — O que acham de semana que vem?

— Ih, já tenho compromisso — falou Lukas.

— E nós temos a disputa da Battle Tower remarcada, cabeção — acrescentou Stanley.

— Ô porra, mas será que gente velha nunca consegue marcar nada? Vou ter que começar a marcar horário com três meses de antecedência na minha agenda de celebridade — disse Vivian raivosa, mas logo a situação toda os fez rir e concordar que a vida nunca mais seria a mesma, e a graça estava justamente naqueles momentos tão raros e preciosos que eles compartilhavam.

Luke ria contente quando sentiu um minúsculo pedregulho acertar-lhe. Levou a mão à boina na cabeça e olhou para trás a tempo de ver alguém se esconder atrás de uma árvore. Ao reconhecê-la, ele se levantou e foi em sua direção, sendo recepcionado por Amy que já se despedia às pressas.

— Ei. Eu quero te agradecer pelo que fez pela nossa tia — falou Luke. — Não fazíamos ideia que ela tinha perdido um filho e como isso a afetou. Dessa vez ela preferiu contar com a nossa ajuda para se reabilitar, e iremos tomar conta dela.

— Família é tudo — concordou Amy. — Vim só me despedir porque também estou voltando pra casa.

— Minha tia me contou um pouco do que vocês passaram no Distortion World, e... é um lugar complicado, eu também já estive lá.

— Não achei nada demais — disse Amy como quem faz charme, mantendo em segredo absoluto tudo que vivenciara no mundo da antimatéria. Ela puxou a boina do rapaz para baixo e revelou aquele sorriso típico que somente Amanda Green sabia dar. — Se cuida, campeão.

— Como sabe que conquistei esse título? — perguntou Luke.

— Um Campeão sabe reconhecer o outro — respondeu Amy com uma piscadela.

— Não brinca! E nós nem tivemos uma batalha pra valer! Topa um acerto de contas definitivo?

— Vai ter que ficar para depois — disse Amy apressada, olhando para ver se alguém mais a observava.

Lá longe Vivian forçava os olhos para descobrir quem era a biscate que Luke estava conversando, e após remexer suas memórias mais remotas e longínquas, ela apontou na direção de Amy e soltou um berro que fez a montanha estremecer:

É a mina que roubou a minha bike quando eu era criança!

— Vai ser rancorosa assim no inferno, garota! — retrucou Amy enquanto corria na direção oposta e saltava pelos barrancos até desaparecer do mapa.

 

ii

 

No momento em que Cynthia girou a chave na fechadura, as duas soltaram um longo suspiro prazeroso. A tardezinha se despedia e elas finalmente estavam em casa após aquela loucura toda dos últimos dias. Duke estava ansioso para contar a novidade aos seus companheiros Pokémon, mas ao dar o primeiro passo, suas patas desengonçadas escorregaram em sabão e ele foi deslizando pelo chão como se estivesse em uma pista de gelo.

Dawn e Cynthia largaram as malas na varanda ao se darem conta da música alta que vinha da festança que acontecia na piscina. Buck contratara um DJ que agitava com as músicas mais badaladas do momento, ele também convidara algumas amigas para desfilarem de biquíni enquanto Cheryl cuidava dos comes e bebes. Até mesmo Riley descansava em uma boia com o formato de Lapras tomando um refresco. Todas as cascatas estavam ligadas, as luzes coloridas cortavam o céu como holofotes. Algum doido até mesmo saltou da sacada no segundo andar, fazendo um tremendo splash! que jogou água para todos os lados.

Verity ao menos não parava quieta no meio de toda aquela gente, e ela parecia estar adorando! Nunca antes Cynthia a vira se divertindo tanto, principalmente por tê-la mantido muito tempo trancada dentro de casa, sem contato com o restante do mundo.

— Calma. Respira. Nós vamos arrumar tudo — disse Dawn bem lentamente, pronta para acalmar os nervos de sua companheira.

Mas, para sua surpresa, Cynthia começou a rir.

— Quer saber? Que se dane.

Ela arrancou as roupas da viagem, ficando apenas com as roupas de baixo que mais pareciam com um top e uma calça de ginástica. Ela não devia mais nada a ninguém, e estava cansada de viver escondida dos olhos da mídia que teimaria em caçá-la até os confins do mundo para denegrir a sua imagem. Dessa vez seria diferente. Ao invés de: “Ex-campeã é vista causando tumulto em sua casa de veraneio”, seria muito mais interessante a manchete: “Ex-campeã sede a maior festa da última década!”.

Dawn chamou Duke, ainda se acostumando com o fato de que não poderia mais levá-lo no colo. O Prinplup parecia muito contente com sua nova forma, e tanto Milady quanto Isaac ficaram extremamente orgulhosos da evolução do estimado filhote.

O pinguim subiu até o topo da cachoeira artificial e deu um salto com Verity em suas costas. Buck e os demais aplaudiram a manobra, e mandaram mais uma rodada de refrigerante e muita espuma.

Tudo naquele mundo era tão diferente e novo para a garotinha. Cynthia tomou a filha nos braços e a ergueu no alto, e junto de Dawn elas abraçaram a menina cujo sorriso não cabia mais no rosto.

Obrigada! Obrigada! Obrigada! Vocês são as melhores mamães que eu poderia pedir! — disse Verity, explodindo de alegria.

— Oh, minha querida... Você é o meu presente dos céus — falou Cynthia com a voz mansa.

— Eu não quero voltar — contou a pequena. — Aqui é muito mais legal do que Hisui. Por favor, se eu puder ficar mais um pouquinho...

— Ninguém vai te tirar de nós. Nunca — Cynthia assegurou-lhe. — Seu segredo está seguro conosco. E se algum dia você tiver de voltar para o lugar de onde veio, pode ter certeza que suas mamães irão buscá-la. Nem que para isso precisemos enfrentar as divindades!

— Eu amo vocês!

Verity as envolveu em seus bracinhos e desejou nunca despertar daquele sonho.

 

iii

 

49º andar, 49ª vitória. A última vez que Luke sentira suas mãos tremerem tanto havia sido na batalha contra Ike Smithsonian na Liga Pokémon. Stanley se aquecia no banco ao lado, com os três melhores de seu time prontos para a batalha em dupla. Fire Tales e Red Fortress reunidos. Os holofotes todos centralizados neles.

— E lá vamos nós outra vez — disse Stanley a um dado momento. — Vai ficar com dor de barriga de novo?

Luke limpou o suor da testa, procurando se concentrar.

— Eu nunca pensei que fosse ficar tão ansioso por enfrentar o tio Palmer em batalha.

— Qual é, você cresceu vendo o meu velho dormindo no sofá de casa depois do almoço. Tem como ser intimidado por isso? — brincou Stanley. — Só mais uma batalha e batemos o nosso recorde. Quem derrota o Tower Tycoon recebe uma medalha oficial. E como o bom colecionador que você é, aposto que vai querer uma dessas no seu Garchomp.

— Ô, se quero. Eu vim aqui pra isso — confirmou Luke, terminando de alongar os braços. — Então ‘simbora que essa batalha vai entrar pra história!

No momento em que a porta do ginásio se abriu, uma multidão aplaudiu a chegada de Luke Wallers e Stanley Tycoon ao 50º andar da torre. Ainda havia uma longa caminhada rumo à 100º vitória consecutiva, um marco que pouquíssimos treinadores na história haviam conquistado, mas a batalha de Nº 50 era muito aguardada pela força do adversário e seus convidados ocasionais.

Palmer estava do outro lado da arena, aguardando de braços cruzados. Ele parecia calmo e tranquilo como Stanley por fora, mas sabia que era só questão da batalha começar para que os dois liberassem tudo que vinham guardando.

Luke preparou a Dusk Ball de seu Garchomp e Stanley fez o mesmo com a pokébola de seu Torterra, mas antes que a batalha tivesse início, Palmer fez um sinal e pediu que eles aguardassem.

— Só um minutinho. Meu parceiro de batalha ainda não chegou.

Como se tudo tivesse sido combinado, uma abertura no chão se abriu exalando fumaça por toda a arena. A plateia aguardou ansiosamente a chegada da figura misteriosa que se erguia, e então uma mulher soltou um grito ensurdecedor que foi seguido por milhares de outros que preencheram a torre de comoção e euforia.

Viu-se um homem elegante de terno e braços estendidos, usando seus óculos escuros e com a barba um pouco mais grisalha do que anos atrás. Walter Wallers, ex-campeão de Sinnoh e pai de Luke revelou-se como o parceiro de Palmer para aquela batalha em duplas. A multidão agora estava mil vezes mais empolgada, fazia quase duas décadas que ninguém via Walter participar de uma disputa Pokémon oficial.

Walter retirou os óculos escuros e revelou um sorriso franco na direção de seus adversários.

— E aí, filhão. Gostou da surpresa?

— A gente tá fodido — concluiu Luke do outro lado.

— É — concordou Stanley, sem mais nada a acrescentar.

Luke e Stanley jamais ultrapassaram o 50º andar da torre.

 

iv

 

Paula estava parada diante das ruínas no Spear Pillar. A mulher fechou os olhos e seu corpo foi envolvido por uma luz ofuscante, expandindo em proporções até transformá-la em sua forma original. Palkia, a entidade controladora do espaço, fora convocada para uma reunião do Grande Conselho dos Pokémon Lendários que só acontecia quando o equilíbrio do mundo se via afetado.

Aquilo não era um bom sinal.

Um feixe de luz cortou o horizonte e atingiu o cume da montanha. O mármore branco refletia os degraus mágicos que se formavam em direção aos céus em uma escadaria infinda. Palkia começou então sua longa subida rumo ao Templo de Arceus, onde tudo tivera início.

A guardiã cumpriu todo o percurso em silêncio, como se sofresse sua penitência. Estava ciente do que iria acontecer, mas vinha tentando adiar aquilo há muito tempo.

Quando o som e a luz por fim não puderam mais acompanhá-la, Palkia se viu diante do grande tribunal. Acima dela estava Arceus em sua onipotência, cujos mil braços moldaram o mundo como ele era. À sua direita estava Dialga, seu irmão de criação, à esquerda de Giratina cujo olhar ardiloso pousava na Guardiã do Tempo.

“Pearlutina Palkia”, disse a voz de Arceus que preenchia todos os lugares. “Tu estás diante de teu Criador porque não cumpriste com tua tarefa. As fendas continuam a aparecer, ameaçando a realidade como a conhecemos. Isto deve cessar”.

“Eu venho cumprindo minha obrigação desde minha existência, meu Senhor”, respondeu Palkia. “Não voltará a se repetir”.

“Não mesmo?”, indagou Giratina com a voz capciosa. “Pois eu lhe digo que uma humana adentrou meus domínios quando me foi prometido que isto nunca mais voltaria a acontecer. E adivinhem? Repetiu-se, um sopro para nossa existência. Está se tornando mais comum do que imaginávamos.”

“Tu és a protetora do espaço, mas o que resta se não fores capaz de exercer tua função?”, indagou Arceus.

“O que me resta?”, indagou Palkia, cada vez mais furiosa. “A cada ciclo humano sou privada daquilo que mais amo. Se me resta algo, são as correntes às quais sou incumbida”. Palkia ergueu os braços e mostrou as amarras perpétuas. “Pai, alguma vez eu o desapontei? Por que exiges tanto de mim e não fazes o mesmo com meus irmãos? O que lhe ofereço nunca será o suficiente?”.

“Teus irmãos estão exatamente onde deveriam estar”, respondeu Arceus. “Ofereces teu tempo aos homens, e já não a vejo mais entre as divindades. Estás te tornando parte deles”.

“Os humanos são perigosos”, mencionou Giratina. “Cada dia mais ousados, e não me surpreenderia se logo decidissem por desafiar até mesmo a ti, meu Pai.”

“Eles são sua criação, como todos nós!”, disse Palkia em sinal de frustração.

Arceus escutou cada um dos argumentos em silêncio, e meditou por muito tempo sobre qual decisão tomar. Giratina exigia cautela, e enxergava através da maldade e do desejo por poder dos humanos que um dia eles iriam se rebelar. Palkia desde sempre acreditara no amor, enxergava com curiosidade a busca pelo conhecimento, orgulhava-se da força de vontade e regozijava-se por todas as emoções que um simples humano poderia causar mesmo em uma entidade como ela.

Sentia muito a falta de Lukas, e lutaria até o fim para preservar o mundo onde ele vivia.

“Dialga”, Arceus o chamou por fim. “Estás em silêncio há muito tempo. O que tens a dizer?”.

O Guardião do Tempo encarou sua irmã com quem compartilhava um vínculo mútuo atemporal. Ele não escondia sua frustração em saber que Pearlutina vinha se ausentando da vida nos céus, que todo seu tempo e pensamento eram dedicados aos humanos. A falha nas rupturas do espaço vinha se tornando frequentes, pois agora ela não sabia como dividir a vida como divindade de sua forma ordinária.

“Eu sinto sua falta, minha irmã”, lamentou Dialga.

“Mas eu ainda estou aqui”, retrucou Palkia. “E sempre estarei.”

“Não. Você não pode mais me ceder o seu tempo, pois precisa do seu espaço agora.”

“Não seja egoísta. Logo você, que tem todo o tempo do mundo!”

“Silêncio!”, bradou Arceus. “Sinto as emoções no coração de cada um, e com isto chego ao meu veredito final. Pearlutina Palkia, tu serás proibida de visitar o mundo dos humanos pelo próximo milênio, ou até que livre-se de toda esta raiva que habita em teu coração.”

As correntes nos braços de Palkia a apertaram com mais força. Sua angústia foi tamanha que os céus estremeceram e uma galáxia inteira foi fendida. Giratina enrolou-se relutante e Dialga lamentou que sua irmã sofresse por seus atos. Arceus manteve-se firme em sua decisão, e dela não abriu mão.

Mil anos. Nunca mais voltaria a encontrar Lukas naquela existência. Demoraria muito tempo até encontrar seu herdeiro, aprender a conhecê-lo do zero, descobrir seus trejeitos e características que tanto adorava, mas e se ele passasse a temê-la? O mundo já teria mudado de forma, e talvez nem existissem mais humanos até lá. Mil anos podiam passar como um sopro para as divindades, mas seus olhos se encontraram com os de Dialga e ela sentiu uma raiva que não poderia ser medida.

“Eu nunca irei perdoá-lo”, vociferou Palkia, consolidando a rivalidade que desde tempos imemoriais vinha sendo evitada. “Você pagará pelo seu silêncio”.

“Não permitirei nenhuma ameaça em solo sagrado”, bradou Arceus. “Contenha-se”.

“Vocês estão tentando me transformar na vilã dessa história”, respondeu Palkia, dando as costas para sua família e para todos os valores que conhecia. “E, quando isso acontecer, terão de lidar com as consequências”.

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