Posted by : CanasOminous May 29, 2013

Support Conversation (Al Capone x Connie)
Gênero: Drama, Romance;
Tema: "Seria possível criar uma rival romântica para Lyndis
que possa competir pelo coração sombrio do Al Capone?"
Passado, infância, neblina, mulher desmaiada, surpreendente e charmosa;
Sugestão da leitoraLaísa Cristina.

      Assim que a porta foi aberta Al teve de agir com destreza para esquivar-se de um enorme e fofo travesseiro que era arremessado para o outro lado da sala em sua direção. O homem continuou ali parado com as sobrancelhas franzidas encarando os dois jovens que se divertiam com uma interminável guerra de travesseiros, no meio da madrugada.
O corvo da noite virou-se, encarou o estado do quarto e soltou um longo suspiro ao ver que Lyndis e Karl vestiam apenas seus pijamas ignorando a o horário e as obrigações monótonas da rotina que a próxima semana traria. Al fez apenas um sinal com o indicador e proferiu as seguintes palavras:
 Vocês dois. Cama. Agora.
Lyndis saiu correndo pelo quarto para enfiar-se no cobertor, empurrando Karl que corria para todos os lados em direção de seu colchão ao lado também. Al sorriu com a obediência de seus pequenos protegidos, porém, a essência de criança daqueles dois jamais o deixaria descansar tão cedo.
 Desculpa aí, tio Al. Não era pra ter te acordado, cara... — desculpou-se Karl.
 Fique tranquilo, meu jovem, sepre tive sérios problemas para dormir, então quando saí da casa para tomar um pouco de ar fresco acabei me deparado com essa batalha de gladiadores que vocês estavam travando — respondeu o homem com um sorriso sereno e acolhedor.
 Ele nunca dorme, Karl. Eu pelo menos nunca vejo, tenho a impressão de que quando ele senta e fica encarando o vazio de olhos abertos ele dá um ligeiro cochilo discreto  respondeu Lyndis com uma risada.
 Sim, minha querida, eu durmo, sim. Só tenho dificuldades, mas espero que a insônia não seja algo pelo qual vocês passem algum dia. — Al foi em direção da cama de sua afilhada, sentou-se na beirada e cobriu-a de maneira paternal.  E isso me faz pensar por qual motivo continuam acordados. Não se esqueceram da missão amanhã, certo?
 Dormir é para os fracos — brincou Karl, cruzando os braços e encarando o homem de maneira séria, o que o fez sorrir.
 Além do mais, o que a Sophie dirá quando souber que eu não cuidei bem do filho dela?
 Qual é, tio. Ela nunca deixa eu dormir tarde, é só dessa vez...
Al levantou-se novamente, indo em direção de uma cabeceira e acendendo uma luz de canto.
 Vamos lá, durmam. É só ficar em silêncio que o sono vem.
 Mas eu não consigo, quero fazer algo, estou agitada!! — dizia Lyndis numa enorme empolgação.  Ei, Al, conta uma história para a gente.
O homem parou ao olhar para trás, mas depois riu e desligou a luz, preparando-se para sair.
 Ahh, seu malvado, é só uma história! Você é da máfia, deve ter muita coisa para contar, missões inesperadas, intrigas e conflitos, gangues inimigas, paixões!
 Não tenho histórias para contar. Pelo menos, não para crianças — brincou ele.
 Não somos crianças  respondeu Karl frustrado, sentando-se no colchão como se esperasse pelo início das maravilhosas aventuras do Corvo da Noite.
Al passou a mão em seus cabelos negros, afinal de contas, ele já não conseguiria dormir mesmo, lembrar algumas histórias poderia ajudá-lo a esquecer de seus problemas. Ele voltou, sentando-se ao lado de Lyndis que lhe abria um espaço na cama. O homem olhava atentamente para a luz de uma vela no canto do quarto, pensando ao certo no que dizer.
 Escolham um tema  pediu ele.
 Mulheres  afirmou Karl de imediato.
— Máfia, lembranças, traição e emoção! — apressava-se Lyndis, com mil ideias na cabeça.
Al Capone deu uma risada com uma expressão surpresa em seu rosto cansado.
 Tudo isso? Vou ver se dou conta... E se consigo lembrar de algo que...  ele fez uma longa pausa — ...tenha ficado marcado em minha infância de alguma maneira.
 Não consigo imaginar você mais moço. Pra mim, você sempre será um tiozão  respondeu Lyndis com um sorriso, dando um forte abraço no homem.
Al acariciava os cabelos ruivos da garota ao lembrar de cada instante pelo qual passara há muito, muito tempo atrás.
 Todos nós já fomos jovens uma vez, minha querida... Todos nós já fomos apaixonados, ingênuos, e erramos muito... Hoje restam as lições que levamos para toda uma vida como um aprendizado eterno. Resta a experiência, que passamos de geração em geração para nossa família.

• • •

Era noite, e lembro bem que o céu da cidade estava levemente coberto por uma fina camada de nuvens que deixavam o ambiente hostil, inóspito, repleto de seus segredos a cada viela sendo que as passarelas continuavam em um silêncio permanente.
Tenho essa estranha mania de reparar no mundo ao meu redor, pois foi assim que fui criado. Caminho cada metro olhando para trás certificando-me de que não sou seguido, tenho olhos desconfiados para as pessoas que sequer sabem que existo. Aprendi a não confiar, e muito menos a acreditar; mas nem sempre foi assim... Acredito que muito disso venha da experiência, ideias que colocam em nossa mente, que vão sendo moldadas através de erros que procuramos evitar repeti-los. De certo posso dizer que os erros são essenciais para nosso aprendizado, e indispensáveis para alcançar a perfeição. Mas ainda são erros, e por isso devem ser evitados.
A fina garoa que caía não dispersava a camada nublada que dominava a cidade. Tenho um certo apreço por subir aos lugares mais altos e examinar o mundo como se eu fosse um ser livre, um ser capaz de esticar as asas e ir para onde quiser. Mas a verdade é que ninguém é livre. Quando pensamos que temos controle para fazer tudo que desejarmos, percebemos que ela nos engana de muitas maneiras...
No meu caso, ela chegou como uma paixão. Um suave e terno sentimento de algo mais forte do que simples palavras poderiam definir, que no fim acaba por tornar-se aquela reclusão sobre tudo que sofremos.
Ainda penso se eu deveria ter ignorado aquilo que vi.
Uma mulher, uma mulher deitada em um beco escuro e asqueroso da cidade horripilante dos homens. Ela estava lá, com um dos braços enfaixados e as roupas negras cobertas por um pouco de sangue no abdômen. Meu pai sempre me ensinou que não devemos confiar nas mulheres, os deveres de nossa família são mais importantes, e elas nos persuadem para fazer parte dela. É preciso escolher a dedo quem deve e irá fazer parte de nossa família, afinal, somos uma máfia.
Mas naquele dia ignorei qualquer concepção.

Saltei do alto daquele prédio, planando com asas negras de corvo que desapareciam na escuridão do céu. Ao aterrissar, fui caminhando ligeiramente em direção da moça que parecia inconsciente e desacordada.
Sua presença passava quase despercebida ali. Sou perito em enxergar na escuridão, mas mesmo assim eu apenas a notei pelo sangue que lhe escorria. Agachei sutilmente para encará-la e verificar sua pulsação, e lentamente ela abriu seus olhos de maneira cansada e febril.
 Me ajude...  foi tudo que ouvi antes dela fechar os olhos e parar de falar.
Eu não soube dizer se ela ainda respirava após ter dito aquilo, ou se por um momento sua alma foi agarrada por Giratina e traga de volta por um jovem cavalheiro que jamais poderia ter deixado uma mulher em apuros.
Tive receio de tocá-la, ela tinha estranhamente o perfil de uma mulher que cativava a minha atenção.  Eu costumava ser muito almejado pelas moças em meu território por conta da influência que meu pai exercia na máfia, mas sempre fui cauteloso com quem eu escolhia. Acredito que um jovem precise amar, não?
Notei que a misteriosa moça tremia, então, retirei meu sobretudo e a cobri. Agarrei-a no colo de maneira mansa, e olhando para os lados discretamente perguntei-me se alguém nos observava. Não era uma ideia aceitável levar uma estranha para dentro de sua casa, afinal, nunca se sabe suas interligações... Mas olhando no rosto dela naquele instante eu senti tanta serenidade... Tive compaixão e curiosidade, meu instinto mais profundo desejava saber mais sobre ela.
Então, parti dali imediatamente, levando-a para um local seguro onde pudesse ser tratada. Meu quarto localizava-se no interior de uma grande mansão, mas tive dificuldades para fazer meu caminho até lá sem ser notado. Sou o filho mais novo de outros quatro irmãos, e meu pai é o tipico homem que sabe de tudo. Está sempre de olhos abertos, dando conselhos, ele sabe dizer o que é o certo e o errado.
Ao passar pela porta de frente eu imaginei que todos estariam dormindo, e torci para que ninguém aparecesse. Pude deixar a mulher misteriosa em minha cama, mas sua febre aumentava e corri para a cozinha em busca de um pouco de água quente e remédios. No caminho, meu velho senhor estava sentado em sua poltrona vermelha com a feição desgastada e os olhos entreabertos.
 Você chegou tão tarde, filho...  disse meu pai com uma voz rouca.
 Papá...  fiz um cumprimento gentil, mas ainda alvoroçado por esperar não ser descoberto.  Eu não devia ter deixado o senhor esperando...
 Não se preocupe, não se preocupe...  respondeu.  Eu apenas não consigo dormir quando sei que um de meus filhos está aí fora, nesse mundo que tanto temo.
O velho Corleone ajeitou-se em sua cadeira e fez um sinal com a mão para que eu o deixasse.
 Agora vá, vá. Leve logo esses remédios para a garota... Buonanotte, filho...
Não sei dizer ao certo qual foi minha expressão nesse instante, mas subi correndo logo em seguida. Realmente, era impossível enganar aquele velho Honchkrow observador, mesmo com a idade avançada pesando em suas costas nada escapava de seus olhos.

Entrei no quarto e ajoelhei-me ao lado da mulher enferma. Coloquei a água quente em sua cabeça e fiz o possível para aquecê-la. Ao entrar em contato com aquele calor tão aconchegante ela abriu os olhos e olhou para mim. Tinha um olhar tão sereno e calmo... Eu poderia dizer que eu observava uma estátua de mármore, pois era impossível enxergar seus pensamentos, mas por algum motivo ela ainda me encantava.
 Você está cuidando de mim  afirmou com sua voz singela.
 Na medida do possível — respondi apreensivo.
 Obrigada, moço. Obrigada...
Não demorou para que ela caísse no sono, mas fiquei ali observando cada detalhe de seu corpo. Ela parecia machucada no busto, mas não muito seriamente. Fiquei imaginando que tipo de pessoa poderia fazer mal a algo tão belo. Conclui que ela era da raça dos Staraptors, uma guerreira como eu, muito próxima de minha espécie. Porém, seu braço direito estava aparentemente machucado, o que poderia ter sido ocasionado de uma queda brusca.
Ah, foram tantas perguntas naquela noite, e acredito que meus problemas com insônia começaram a surgir nesse ponto. Eu nunca mais consegui dormir bem. Ficava observando-a cada minuto, cada dia. Sua recuperação contínua e sua aproximação em minha vida tornava-se cada vez mais intenso.
Mal pude notar o sol clareando naquele dia, e quando ela abriu seus olhos novamente, mais recuperada, seu sorriso fez tudo valer a pena.
 Oi... Você de novo.
 Eu  foi a confirmação mais tola que já fizera até então, mas sorri de uma maneira acanhada o que a fez rir.
Seu nome era Connie. Ao menos deveria ser um apelido, pois eu nunca soube sua identidade verdadeira. Connie não foi de falar muito nos primeiros dias, ela costumava ficar quieta, agradecendo toda a ajuda que eu lhe dera.
Foi aos poucos assim que ela me conquistou, de maneira singela, perguntando como ela poderia retribuir... E quando notei, eu já me apaixonava por ela.
Connie era forte, e apesar da recuperação lenta ela não tardou em começar a empenhar-se para fazer sua parte. Apresentei-a aos meus irmãos de família, e como todo parente mais velho a maior graça em suas vidas era fazer graça dos mais novos. Eles adoravam dizer que Connie era minha cara metade, e que a noite em que ela apareceu em meus braços era como um sinal da pessoa ideal.
Mas meu velho pai apenas a observava. Para ele, Connie era uma intrusa na família.
Não o culpo. Uma máfia como a nossa está repleta de inimigos por toda a região, e todos eles procuram uma forma de nos derrubar onde somos mais frágeis. Eu sou o caçula, sempre serei o mais novo e, portanto, o foco. Connie era uma companheira e tanto para mim, mas em meio à tantas conversas ela começava a fazer perguntas demais.
— Diga-me, Al. Como anda seu velho pai? Ele está bem de saúde?
 Ele não vai cair tão cedo, acredite em mim. Acho que ele consegue levar essa família adiante por mais umas duas gerações — respondi com um sorriso.
Ficamos deitados em uma rede do lado de casa, observando o céu noturno. Connie ajeitou-se em meu braço, aninhando a cabeça em meu peito.
 — Ainda penso em como retribuir tudo aquilo que você fez por mim... — ela disse com a voz gentil.
 Ei, eu já lhe disse que você não me deve nada — a repreendi. — Você faz parte desse lugar agora, dessa família.
 Verdade?
No momento em que Connie perguntou aquilo com tanto entusiasmo ponderei se eu deveria ter pensado mais antes de falar algo tão importante. Meus irmãos tinham o direito de encontrar suas parcerias e trazê-las para casa, então, por que eu também não deveria pensar no futuro?
 Claro que sim — assenti, mesmo depois de muito pensar.
 Isso é tão bom... e você confia plenamente em mim?
 Com certeza.
 Eu também confio em você, sou capaz de fazer qualquer coisa por você. Qualquer coisa.
As perguntas de Connie tornavam-se mais frequentes, e eu achava inclusive estranho tanto interesse dela por nossa máfia. Nós não temos o costume de nos abrirmos à estranhos, mas Connie não era uma estranha. Ela era minha.
O tempo passou, e nós estávamos cada vez mais próximos. A família já aceitara em partes, mas meu pai ainda não. O velho Don Corleone sentava-se à ponta da mesa com todos seus filhos em um horário sagrado do jantar, e ter uma "impostora" para ele não era comum. Costumavam ser apenas eu, meus irmãos, nossa mãe e o velho senhor na ponta. Meu pai ainda lançava olhares rápidos para os arredores, mas não dizia muito. Quando Connie teimava em interrogá-lo de algo particular, ele não respondia. Eu era obrigado a sussurrar em seu ouvido para que ela compreendesse:
 Não discutimos trabalho à mesa.
O jantar era um momento sagrado para todos nós, e jamais falávamos desse tipo de problemas no único instante em que todos estávamos juntos para usufruir da culinária de nossa mãe. Por um instante senti raiva de meu pai por ser tão rude com minha companheira. Era claro que ele agia como se ela não existisse.
Foi então que tudo começou a se reverter.
 Alphonsus Capone — disse Corleone, de uma maneira que me faz tremer até hoje quando ele me chama pelo nome inteiro. — Venha até minha sala.
Entrei em seu aposento e soltei um suspiro ao notar que eu era o único. Nenhum de meus irmãos estavam ali, então, o caso era comigo. Meu pai foi até sua mesa e sentou-se coçando a cabeça lentamente conforme pensava nas palavras certas a se dizer. Logo ao seu lado estavam outros dois velhos.
Um deles era um senhor imenso, de cabelos emaranhados, corpo troncudo e barba grisalha. Ele devia ter quase a idade do meu pai, mas mesmo assim parecia um lutador de boxe que nunca perde a forma, este era Salvatore Rossi, o Tyranitar, um dos mais fiéis amigos de meu velho. O outro era mais baixo, franzino, tinha cabelos longos e o rosto aparado. Mas mesmo assim, seu rosto demonstrava tanta sabedoria que eu tinha medo de um dia desafiá-lo para um duelo de xadrez. Seu nome era Franceso D'alviano, o Weaville, outro senhor de idade, inseparável amigo de meu pai.
 Per favore, poderiam deixar eu e meu filho a sós?
Quando meu pai pedia para que aqueles dois deixassem a sala era porque a situação estava crítica. Sentei-me suando, pensando em qual era a burrada que eu fizera naquela semana. Don passou a mão nos olhos demonstrando cansaço, e após respirar fundo anunciou:
 Onde está sua namorada, a Connie?
 Passando o fim de semana com os parentes, meu bom pai.
 Tem certeza? Sicuro? — ele me questionou de maneira fria.
 Absoluta — respondi com firmeza.
Ele ajeitou-se na poltrona e continuou a questionar.
 E onde ela costuma ficar nas tardes, quando está longe de você?
 Depende do dia, ela costuma fazer compras, vai ao salão, acerta contas no banco... Creio que... Creio que é o que qualquer mulher madura faz.
 Você tem certeza?
Dessa vez me senti assustado, mas acenei de maneira breve.
 Absoluta.
 Figlio, è il su amore? Você a ama? — meu pai fez essa pergunta, e no mesmo instante um sorriso involuntário formou-se em meu rosto. Eu quis afirmar: Sim, sim, eu a amo de todo meu coração, eu jamais a deixarei para trás! Afinal, nós, da máfia, não suportamos traições. Meu velho suspirou, abrindo sua gaveta particular onde ele demonstrou um adesivo rasgado tão discreto que nem os melhores espiões teriam notado. Ele estava rompido, o que demonstrava que alguém, fora ele, abrira a gaveta.
 Nenhum de meus homens faria isso. Sei disso porque eu confio neles de tal maneira que eles são considerados meus irmãos, e quando se trai sua própria família na máfia, você é castigado.
— Está insinuando que a Connie roubou os arquivos confidenciais? — eu o pressionei, de tal maneira que pensei que eu fosse perder o controle. Não pude acreditar que meu pai a julgasse sem ter nenhuma prova.
 Não estou insinuando nada, — ele respondeu de maneira séria — mas quero que você vá tirar à prova por si só.
E irei.
Senti um ódio tremendo, como ele poderia dizer algo tão terrível sobre alguém como a Connie? Mas, no fim, meu velho sempre estava certo, sempre. Ainda lembro de algumas palavras que meu pai me disse naquela noite: Todos nós precisamos aprender a evitar os erros do passado, filho. Eu sempre confiei em você, mas não nela. Eu acreditei em você, mas não nela. Da mesma forma que você a amou, mas não ela.
             Vou mandar o Francesco e o Salvatore atrás da garota com urgência. Tenho uma reunião marcada com nossos companheiros de guilda... Pretendo reunir-me com o Bartolomeu e o Ereon, pois o conteúdo contido naquele documento era de vital importância.
Connie dissera que estaria na casa dos parentes aquela noite, e por um momento perguntei-me se ela realmente estaria lá.
 Pai, eu.... Não posso acreditar nisso.
 Você é meu filho, vocês são minha vida, e alguém está tentando estragar ela. A traição é paga com a punição, Alphonsus.
 Então peço para que não envie o Francesco ou o Salvatore atrás da Connie. Eu mesmo irei.
Corri para a estação onde meu pai indicou, e de maneira discreta tentei observar tudo dentro. Lá estava Connie, com documentos sigilosos de meu pai, copiados com tal perícia e habilidade que eu jamais teria notado. Senti meu coração ferver, meu punho fechou-se e comecei a imaginar: Por quê?! Depois de tudo que fiz, tudo que passamos, por que aquilo tinha que acontecer? Por que ela tinha de ser assim?
Ela provavelmente espera para entregar aqueles documentos nas mãos de um comparsa. Por sorte, meu pai era um homem sábio e precavido. Em pleno período em que a guilda Legacy dominava a região pode-se dizer que tínhamos inimigos aos montes que tentavam nos derrubar. Eu só nunca imaginei que eles estivessem tão perto esse tempo todo.
Não esperei sequer que Connie saísse da delegacia. Subitamente ela virou-se, como se sentisse minha presença. Seus olhos serenos brilharam, e ela esboçou um sorriso suave e tentador, um sorriso pelo qual me apaixonei durante todos esses meses que se passaram.
 Está frio, não? — ela perguntou com uma tranquilidade assustadora.
 Como quando nos encontramos. Como quando eu a resgatei desse lugar imundo, e a acomodei em meu refúgio de segurança. O refúgio que você tenta destruir.
Connie desviou o olhar, não demonstrou ressentimento, tristeza, pesar, nada; o que teria me aliviado muito. Ela apenas permaneceu séria e falou:
 É apenas trabalho, Al.
 T-Trabalho?  eu sentia meu coração palpitar mais depressa sempre que ela falava comigo.  Você me enganou, traiu minha confiança, e teve intenções de destruir minha família! Mas eu não irei permitir. Como pôde fazer que eu me apaixonasse por você dessa maneira, para no fim você dizer que tudo isso era apenas... apenas...
 Trabalho — ela repetiu.
Ela disse assim, sem nenhuma explicação, sem nenhum arrependimento. Ela sabia que fora desmascarada, e eu conhecia muito bem sua maneira de lidar com as coisas. Era de uma tranquilidade e segurança que chegava a me impressionar. Connie era decidida e misteriosa como uma pintura impossível de se decifrar. Nós éramos como pássaros que esperavam viver uma vida toda atrás de seus sonhos. Porém, naquele instante senti como se ela atirasse uma pedra em mim.
 Você era o mais frágil de todos, a fraqueza de meu inimigo. Eu sou de uma guilda rival, Al. Estamos em lados opostos. Aquele dia que você me encontrou nesse mesmo lugar foi tudo planejado, todos os nossos encontros, tudo que você me contou. Eu o agradeço de coração pela companhia e pelas informações, você foi uma peça essencial para tudo isso, mas agora acabou.
 Sim, acabou — confirmei.
Ela sabia que iria morrer.
Um crime na máfia é pago com a vida, e eu tinha concertado o erro que eu cometi. O eco foi ensurdecedor, mas nenhuma luz foi acesa. Eu fiquei sozinho ali naquele lugar, como se os últimos meses jamais tivessem existido. Connie estava caída no chão, e agora eu sabia que ela jamais poderia voar. A traição resulta na punição em nossa família, e Connie jamais deveria ter feito parte dela.
Demorei muito tempo para aprender isso, e hoje vejo como eu era ingênuo, apaixonado, tolo e infantil... Realizamos muitas escolhas erradas, e espero não repeti-las como naquela vez.

• • •

Ao terminar de contar sua história, Al já tinha retirado os sapatos e estava com as pernas cobertas ao lado de Lyndis que derramava algumas lágrimas incontidas. Karl permanecia sério, não sabendo se confortava a menina, se ficava na sua ou simplesmente esperava para saber se havia algo mais além daquele desfecho.
Lyndis soluçou antes de falar:
 A-Al... Isso não devia ter acontecido com você, ela traiu sua confiança, ela te traiu... Ninguém deveria passar por isso, muito menos você, muito menos você... dizia Lyndis com a voz chorosa, abraçando o homem com força.  Eu nunca vou trair você, Al!! Eu jamais faria algo assim para você. Juro.
 Eu sei, minha querida.
Houve uma longa pausa, e por um instante Al imaginou se não teria ido longe demais com suas histórias. Se sua tentativa era aquietar os dois jovens, então ele havia finalmente conseguido, mas agora um clima denso de pesar dominava todo o quarto. Já passava das quatro horas da manhã, e suas crianças precisavam de algo melhor a pensar além de todo aquele drama melancólico de sua vida na máfia.
 Venha aqui, minha pequena — disse Al Capone, confortando a menina em seus braços. — Isso faz tanto tempo... Eu era um garoto cheio de dúvidas, e aprendi muito desde então. Essas escolhas podem mudar nosso destino, é preferível cair cedo para não tombar mais tarde.
 Cara, eu não sei se abraço a Lyn ou se fico aqui deprimido, mas se eu abraçasse ela eu estaria fazendo isso na frente do pai dela, ai pega mal, ai vai parecer que rola um clima, mas tudo isso é tenso cara, é tenso demais... Tenso no sentido de que te faz pensar e te deixa triste... Triste pra caramba... Mano. Tô triste.  dizia Karl inconformado.
— Ora essa, meu intuito era apenas deixá-los cansados para que fossem dormir. O que houve com o sono de vocês? — sorriu o homem.
— Agora mesmo que não vou dormir. Dormir é apara os fracos — respondeu Karl.
 Não, meu caro. Dormir é apenas para os fortes, que conseguem aguentar o peso das memórias.
Lyndis o apertou mais forte com os olhos avermelhados. Al sorriu ao acariciá-la, e agora tinha percebido que deveria contar muitas outras histórias para fazer aqueles dois jovens adormecerem, a menos que eles decidissem passar a noite em claro com ele.
Mas, de fato, aquilo era bom. As histórias faziam que Al esquecesse de seus maiores problemas. Soltá-las era como livrar uma prisão que o atormentava, e de hora em hora o que antes o condenava parecia transformar-se em uma lembrança. Um erro. Um aprendizado.
          Era apenas mais um vento que soprava, e mesmo que ele não o sentisse jamais deixaria de se lembrar de seu toque.

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  1. Sem palavras para expressar porque dizer que ficou ótimo iria ser muito repetitivo, porque s capítulos sempre são ótimos(isso sou eu enrolando porque são 1 hora da manhã e eu tô morrendo de sono e sem saber o que escrever) e é com esse comentário sem sentido(porque eu já esqueci que eu escrevi e tô com preguiça de ler) que eu me despeço de vocês. chau
    De: Firewall

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  2. Y.Y Canas, como pôde?? Agr estou triste, parabéns vc conseguiu y,y . Antes eu achava q a Connie seria perfeita e tals e eu adorava ela, agr q a conheço, a odeio (seria uma forma meio literal de q as aparências enganam e q só devemos julgar depois de conhecer kkkkkkkkk)
    Mas enfim, parece que vai sobrar o Al e a Sophie mesmo neh, ja q a Connie morreu y.y
    Mas enfim, ela era de alguma guilda conhecida ou alguma importante, ou é só um fato recorrente?
    E parabéns Canas, foi melhor do q eu espera (meio ao contrário) mas me surpreendeu muito e me fez gostar ainda mais do Al, tadinho, ser traído dessa forma, agr eu to com vontade de reviver a Connie e matar ela de novo ¬¬
    Bem Canas, espero pelo próximos capítulos, supports e Fire Tales q acredito que estaram em um mesmo nível, ou até melhor. Te vejo na próxima, bye!!!

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  3. Oi, Laísa! Ah, nossa, que bom que gostou! Fiquei muito tempo pensando em como bolar aquele SC que você havia sugerido há tanto tempo, e com tantos detalhes que você havia dado ficava cada vez mais difícil... Vou ter que admitir que nem sempre fica como a pessoa espera, mas tive que adaptar algumas coisas para que o roteiro fluísse, até porque o próprio personagem meio que molda sua própria história, não teria como isso mudar. Já digo de antemão que adoro suas sugestões de Support, todas elas, e mesmo que nem sempre eu consiga fazer certinho como você queria as suas ideias servem para me inspirar a mostrar um lado do personagem que muitas vezes nós não imaginávamos ver.

    Vejamos a Connie. Não tinha como ela ter uma possível relação com o Al Capone, não tinha. Eu adoraria ter feito uma comédia romântica envolvendo ele, mas nossa, isso é tão difícil... Tem personagem que torna extremamente complicado a criação de algo com determinado tema. É como usar o Aerus para drama, o Watt para suspense ou o Atros para comédia. Até pode dar certo, mas acabei percebendo que deixar o Al Capone com seu jeitão solitário era o melhor a se fazer. Você sabe como sou com meus personagens, né? A gente nunca sabe quando eles podem reviver, e quem sabe uma certa Connie pode vir a aparecer quando menos esperamos! Gosto de deixar essas lições em meus episódios, e certamente podemos extrair algo dessa história. Sabe mais sobre o Al mostra o motivo pelo qual ele desconfia tanto das pessoas. Esse é o jeito dele, a verdade é que nem eu sei se ele seria capaz de amar alguém tão cedo...

    Mais uma vez eu a agradeço por essa grande sugestão que gerou um episódio como esse. Estive pensando em algo bacana entre o Vista e o Mikau, e também estou apenas no aguardo de Hearthome para trabalhar com aquela história dos Sharpedos do Aquário e o Mikau. Olha só! São sugestões que colaboraram para o progresso até mesmo da história central, isso para você ter noção de como elas foram bem vindas kkk Vou indo nessa agora, galera. Tem muita coisa boa pela frente, então o jeito é continuar de olho e não perder nada. See ya!

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