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- Dream Den (Capítulo 4)
Posted by : CanasOminous
Feb 19, 2014
Para os brinquedos seria uma longa e perigosa caminhada até o quarto do lado. Eles moviam-se nas sombras, e nunca sabiam quando os inimigos poderiam acordar ou quando o velho escritor chegaria. A noite continuava fria e silenciosa, e cada passo representava um campo minado que estalava sons e barulhos desagradáveis na madeira do chão.
Sauron tentava acompanhar os passos ligeiros do Mentor que guiava sua pequena comitiva. O assassino era ágil e discreto, suas passadas pareciam mais leves do que pena, enquanto logo atrás o Senhor da Escuridão vinha andando com pés de chumbo. Abbys olhava para trás de minuto em minuto para repreendê-lo.
— Silêncio! Suas partes são feitas de que? Nem parece que foi feito na China! — indagou a mulher de cabelos avermelhados, fazendo um sinal de silêncio com o indicador.
— Dessa maneira não conseguiremos manter a discrição — respondeu Mentor, um pouco incomodado. — Senhores, é melhor adiantarmos o passo e chegarmos logo à nossa base, pois o inimigo continua ativo mesmo durante o anoitecer.
— Hm, pensei que nós fôssemos os inimigos... — comentou Sauron.
— Tudo é uma questão de perspectiva — respondeu o Mentor.
Os três fizeram seu caminho até a sala ao lado que estava com a porta entreaberta. Empurraram-na fazendo todo silêncio do mundo e partiram para debaixo das cadeiras e mesas de jantar, escondendo-se em alguns caixotes jogados e muitas outras ferramentas que eram raramente usadas. Sauron estava com as mãos unidas, ainda mais ansioso para continuar sua aventura.
— Uau, fazia tempo que eu não saía do quarto da chefia e me aventurava tão longe.
— Você ainda não viu nada, senhor — respondeu Abyss. — Pretendemos expandir a nossa base, mas por hora representamos a resistência e lutamos contra o poderio dos brinquedos que são os preferidos. Eles abominam a presença dos invasores.
— Quem são os invasores?
— Nós — continuou o Mentor. — Para os demais brinquedos, apenas eles têm o direito de ficarem à mostra, enquanto nós ficamos nas sombras das caixas, perdidos e esquecidos.
— Ah, qual é, todo brinquedo passa por isso! — respondeu Sauron com uma risada.
Abyss e Mentor se entreolharam, devolvendo o olhar para o guardião negro.
— Nós não.
Os três continuaram seu caminho até a próxima e última porta que dava entrada para um armazém, longe do quarto do escritor e de todo o movimento. Ali era o único lugar onde os brinquedos da Liga do Mal podiam reunir-se e bolar seus planos malignos. Ficava perto da cozinha, e tinha uma vasta planície da sala de estar, logo, eles poderiam travar uma guerra e destruir os invasores que tentassem invadir sua fortaleza no armário abandonado.
— Nossos batedores conseguem chegar até mesmo à cozinha, dá para imaginar? Facas enormes muito maior do que espadas, câmaras de fogo para queimar os inimigos, prisões gélidas para aprisionar e punir aqueles que nos desrespeitam... Existe lugar mais aterrorizante do que esse?
— Falando desse jeito, qualquer lugar fica tenebroso... — disse Sauron com uma risada.
— Falando desse jeito, qualquer lugar fica tenebroso... — disse Sauron com uma risada.
Mas o cavaleiro negro bateu palminhas, contente.
— Estou ansioso, muito ansioso.
— Estamos quase chegando, senhor.
Mentor foi em direção da porta do armário e tentou abri-la, mas não obtinha muito sucesso. Ele chamou por Sauron, que por ser maior e mais forte, conseguiu abri-la e garantir passagem para seus companheiros.
Eles chegavam à sua base. Por um instante a escuridão prevaleceu, mas logo alguém ligou um pequeno abajur conhecido como Lava Lamp. Iluminados por uma luz alaranjada em um ambiente pouco espaçoso e bem calorento, Sauron se encontrou em seu santuário. Viu outros brinquedos com quem já compartilhara espaço, velhos amigos, novos rostos, mas todos eles tinham uma identidade em comum: Estavam ali para servir a Liga do Mal.
— Aquele ali é o Witch King of Angmar? Com seu maça de ferro e a coroa de plástico? Caramba, nós lutamos juntos tantas guerras quando o chefe ainda brincava com a gente! — disse Sauron, sendo tomado por um surto de nostalgia de muitos anos que se passaram. — Já matamos muitos brinquedos juntos, bons tempos.
— E ainda tem muito mais para ver — respondeu Abyss — Venha, queremos apresentar-lhe nossos demais companheiros. Muitos aderiram à Liga nos últimos dias, e agora, com o senhor do nosso lado, nada poderá nos deter de alcançarmos o controle do Quarto do Escritor.
Sauron escalou os caixotes, dando uma olhada em tudo com olhos arregalados. Muitas ferramentas de ferro estavam ao seu dispor, caixas de jogos vazias, livros aos montes e também capas de CDs serviam como apoio.
Apesar de não serem muitos, ele sabia que ali estavam os melhores. O Mentor fora o responsável por cuidar de seus exércitos como um regente, até que o verdadeiro líder chegasse; e com a chegada do Senhor do Escuro, tudo mudaria.
Sauron caminhou em direção de Witch King, fazendo um cumprimento.
— Ei, amigo. Pensei que tivesse sido aposentado quando foi levado para a gaveta.
O cavaleiro negro fez um cumprimento com a mão, seguido de um gesto educado. Ele não tinha voz por ser um brinquedo sem rosto, mas tinha sua própria maneira de comunicar-se.
Sauron respondeu.
— É bom vê-lo em serviço, companheiro. Você já foi um dia o melhor de meus generais, e tenho certeza que continuará a honrar tal posto.
Abyss chamou por seu senhor e apresentou os demais.
— Temos alguns Pokémons em nossa causa, dentre eles um os irmãos Reshiram e Zekrom.
— Ah, aqueles que vinham no McDonald’s? Eu morava no bloco ao lado deles e eu costumava vê-los jogando cartas e reclamando da vida todos os dias... Conheço aquela galera como ninguém — respondeu Sauron.
— Mas nossos inimigos são poderosos, eles tem um Regigigas.
— Um Regigigas com menos de 10 centímetros — respondeu Sauron, colocando a mão no ombro da boneca enquanto caminhava. — Ora essa, querida Abyss Anarchy, vocês se preocupam com coisinhas tão pequenas e insignificantes... Nossa desvantagem é numérica, mas garanto que com nossas mentes avançadas poderíamos pegá-los de surpresa e derrota-los.
— Certamente, meu senhor... — respondeu ela. — Continuando, temos também dois almirantes de One Piece, só não sei o que houve com o terceiro, acho que o Canas esqueceu de comprá-lo... Temos ao nosso lado um homunculus de Full Metal Alchemist, e também monstros gigantes de jogos. Contamos com um exército de soldados fiéis à nossa causa, e espero que seja o suficiente para o senhor.
Sauron caminhou até a ponta de um caixote, olhando de cima para o império que vinham construindo para ele, e somente ele.
— É formidável — respondeu o Senhor da Escuridão. — Por muito tempo vivi sozinho. Um dia já fui grande, mas o tempo tirou tudo de mim. Ele faz isso com os brinquedos, seus donos os esquecem, enquanto os mais velhos ficam palpitando em seu ouvido: Você vai mesmo ficar com essa coisa de crianças? Você nunca vai crescer?
— Sei bem como é... — respondeu Abyss. — Já estamos cansados de saber disso.
Sauron apertou seus punhos num ódio incontrolável.
— Perdi amigos que foram doados ou esquecidos, mas gosto de acreditar que eles estão num lugar melhor. 10 anos, senhorita Anarchy. 10 anos vendo o mundo seguir seu caminho, e eu não podia fazer nada. Para um brinquedo isso é bastante tempo. Conheci alguns que eram ainda mais fantásticos, mas eles tinham peças faltando e os parafusos enferrujados — ele olhou para seus dedos que faltavam na mão esquerda. — Eu estou praticamente inteiro, e pronto para liderar mais uma guerra.
Sauron ajeitou sua capa e voltou-se para seus aliados.
— Por que invocaram meus poderes para este lugar? Já sinto que minha maldade volta a ser como era, e estou pronto para liquidar qualquer um que entre em meu caminho.
Mentor sentou-se sobre alguns CDs antigos e esticou as pernas.
— Você é poderoso. Tem mais experiência do que todos nós juntos, embora ainda não tenha descoberto. Quanto custou na sua época?
— Custo? Não faço ideia — assentiu Sauron. — Talvez uns 99 reais.
— Sério? — Abbys parecia pasma. — Outro dia eu estava olhando na internet e vi que seu preço subiu para 500 reais. Minha nossa, o custo de vida mudou mesmo...
— Acreditamos que você seja o único capaz de destruir o Escritor, apenas você pode nos dar essa chance.
— Custo? Não faço ideia — assentiu Sauron. — Talvez uns 99 reais.
— Sério? — Abbys parecia pasma. — Outro dia eu estava olhando na internet e vi que seu preço subiu para 500 reais. Minha nossa, o custo de vida mudou mesmo...
— Acreditamos que você seja o único capaz de destruir o Escritor, apenas você pode nos dar essa chance.
Todos os brinquedos ali presentes ouviam a história impressionados, cheios de ambição perante o sucesso iminente. Sauron também liberava todas as suas ideias, mas pigarreou antes de dar uma notícia.
— Não vai dar certo.
Mentor olhou-o de relance com desdém, escondendo sua visão debaixo do manto negro. Ele havia guiado os demais por tanto tempo, e quando o escolhido apareceu, percebia que as coisas não seriam tão fáceis quanto imaginava.
Abyss segurou-o com uma das mãos como se o alertasse: Tenha calma. Devemos obedecê-lo. Ele sabe o que faz.
— O que exatamente o leva a crer nessa hipótese? — indagou o Mentor.
— Há alguns anos, antes mesmo que os humanos pensassem em criar vocês, houve a terrível guerra liderada pelos Dragões do passado, e aquela com certeza foi a batalha mais intensa que já vi. Mesmo saindo vitoriosos, os dragões que cuspiam fogo e tinham a pele resistente que plástico foram todos jogados nas profundezas da gaveta da eternidade... Ninguém nunca mais os viu — contou-lhes Sauron. — Força não importa, os humanos é que tomam as decisões, e isso nunca vai mudar.
O silêncio prevaleceu, antes que o Mentor concluísse.
— Então temos de eliminá-lo.
— Não dá, é impossível — respondeu Sauron. — Os humanos são imensos, eles chegam a ter quase dois metros de altura, são monstros! Nunca vi um brinquedo com mais de 50 centímetros, exceto pelos antigos dragões deluxe edition do meu tempo, criaturas magníficas! E também tinha aquela versão exclusiva super legal do Max Steel com armas e canhões, comandado a controle remoto. Ahh, se ainda tivéssemos um daqueles do nosso lado, até poderíamos ter uma chance.
Mentor era um brinquedo inteligente, parecia que fazia parte de sua essência aquela habilidade. Ele ponderou por algum tempo, antes de cogitar uma possibilidade:
— O senhor é o único que viveu no quarto do escritor durante todo esse tempo. Nós o observamos, e de onde você vivia, era possível ter uma visão perfeita do notebook do jovem humano.
— Continue — pediu Sauron.
— Nós precisamos da senha dele. Com estes números em mãos, poderíamos apagar seus arquivos do computador e eliminarmos aquela secretária eletrônica chata conhecida como Sinnoh. Ele perderia seus preciosos arquivos, fotos secretas do facebook, histórias do Aventuras em Sinnoh, desenhos, tudo; teríamos a chance perfeita de atacar.
— É como o coração dele — explicou Abyss. — Em outras palavras, o Canas está viciado em seu computador, e nós vamos acabar com isso.
— Ahh, vocês estão fazendo um tremendo favor à ele! — respondeu Sauron com uma risada, o que calou os demais.
— Perdão? — indagou o Mentor.
— Bom, esse cara fica tempo demais no computador mesmo, não vejo mal nisso... Pensei que fôssemos atacar outros brinquedos ao invés de ficar apagando dados. Acho que é por isso que os humanos não entendem quando alguns arquivos deles somem sem que saibam.
Mentor pegou um pequeno pedaço de desenho rasgado e estendeu-o sobre uma mesinha feita de caixas de fósforo, pegando a ponta de um grafite descartado para escrever.
— Se destruirmos o humano, ganhamos acesso ao seu quarto. Ele é o guardião da casa, aqui dentro ele exerce poder sobre nós, logo...
— Exterminamos o guardião, e temos acesso ao tesouro — concluiu Abyss.
— Tesouro? — perguntou Sauron. — Eu gosto de tesouros.
— Eu me refiro ao prêmio, o controle absoluto. Os tesouros vem depois. Pilhagens, objetos raros, pilhas para bateria aos montes! Ganharíamos até mesmo um lugar de prestígio no quarto. Seremos os novos mandantes do universo, a Liga do Mal reinará supremo — assentiu a mulher.
Sauron relaxou em seu assento, examinando aquela ideia com atenção.
— Eliminamos a Sinnoh, e o Guardião vai logo em seguida... O plano certamente é interessante, mas vai por mim, derrotar aquela mulher não vai ser nada fácil.
— Canas, já terminou o capítulo de sexta? Canas, já criou os novos personagens? Canas, já escreveu o Support que você prometeu pra sua irmã? Canas, já respondeu os comentários dos seus leitores? Canas, já foi visitar o blog hoje? Canas, estou com saudades, cadê você?!!
— Meu. Deus. Sinnoh... Eu estou morrendo, me deixa em paz... — respondeu o rapaz, deitado em sua cama com a cara enfiada no travesseiro.
— Não está, não. Se estivesse, estaria ardendo em febre, vomitando, e aí sim eu estaria realmente preocupada. Você está com preguiça, preguiça entendeu? Vamos lá, é hora de trabalhar, cadê o ânimo de sempre?
— Sumiu depois de 3 anos nesse projeto... — respondeu o jovem escritor, escondendo-se em sua coberta.
A luz fraca do notebook era a única a iluminar o quarto, e Sinnoh não ficou muito contente em ser ignorada. Ela ligou uma música no máximo, o que obrigou o garoto a levantar-se dali e correr para diminuir o volume.
— Você é louca? Vai acordar o prédio inteiro!
— Ahh, que bonitinho, você me deu atenção! — respondeu ela. — Senta aí, vamos trabalhar. Falta tão pouco para terminarmos, estamos quase chegando na Liga Pokémon, força!
Canas coçou a cabeça e esfregou os olhos.
— Nossa, faz meses que não escrevo nada... Acho que perdi a prática.
— Perdeu nada, é só ler algumas histórias antigas e a inspiração logo volta. Você tem tanta coisa boa guardada para o final, não podemos parar agora! Sem contar que toda a Aliança voltou a ficar empolgada, falta pouco para inaugurarmos os novos blogs.
— Algum comentário novo?
— Alguns.
— Sinnoh, eu não posso ficar acordado até tão tarde todas as noites... Daí eu acordo meio dia, e aí? O que falo para os outros? Eles vão achar que eu fiquei fazendo o que até as quatro horas da manhã?
Sinnoh examinou-o bem antes de falar.
— Bobeira — ela acenou com a mão, ignorando tudo que fora dito. — Abre o Word e começa a escrever o Capítulo 94, estamos para começar a primeira casa contra a Elite dos 4, e eu estou muito ansiosa!
O rapaz passou a mão em seus cabelos, exausto.
— Foi mal, Sinnoh. Não dá mais.
— Ahh, Caninhas, vamos lá! A noite é tão maravilhosa e tranquila, é o melhor momento que você tem para se concentrar e escrever, você mesmo me disse isso.
— Minha vida está uma bagunça.
— Quer que eu chame a Wiki? — Sinnoh deu uma risadinha. — Só ela para alegrar os seus ânimos, não é? Acho que você está mesmo é precisando de uma festa daquelas, venha aqui ficar conosco um tempo, podemos nos divertir, conhecer algumas pessoas novas, e...
— Sinnoh eu preciso dar um tempo.
A mulher ficou quieta do outro lado da tela no mesmo instante.
— Você... Tá falando sério?
Ele acenou com a cabeça.
— Tipo, sério, sério mesmo? Você... Quer dar um tempo de mim?
— N-Não é isso, Sinnoh... Eu adoro ficar o tempo que for necessário conversando com você, tendo ideias e melhorando uma história que venho cultivando há muito tempo, mas é que... Nossa, por que estamos falando como se isso fosse um relacionamento sério?
— Ohh, por favor, vá! Já ouvi o suficiente — ela começou a fazer drama. — Como poderei viver com esse peso em minha vida? Ignorada, jogada para escanteio como um programa medíocre e insignificante? Ohh, que tristeza...
— Sinnoh, chega. Vou desligar — respondeu o escritor, levantando-se para apagar a máquina quando a mulher quase pulou para fora da tela.
— UOW, UOW, UOW! Calma aí, eu estava só brincando! Fica só mais um pouco vai. Sei que você não vai levar a sério essa coisa de parar de escrever, e... Senhor Canas, tire já o cursor do mouse de cima do “desligar”!
— Boa noite, Sinnoh.
— NÃO! — ela deu um grito alto, que teria assustado a todos se o rapaz não estivesse usando fones de ouvido.
— O que houve? Aconteceu alguma coisa?
— É que... — ela abaixou o rosto um pouco envergonhada. — É que eu gosto de ver você dormir.
O rapaz deu de ombros àquela singela confissão, por fim, apertando o botão.
— Boa noite, Sinnoh.
— Canas. Canas. Caninhas, por favor, não me fecha — ela rogou conforme via que a tela do computador perdia o brilho e se preparava para desligar. — Por favor, por favor, por fav...
E apagou-se por completo.
Se o escritor tivesse realmente parado naquele dia, provavelmente esta história não estaria sendo contada hoje. Porém, muito tempo se passaria até que ele percebesse que todo o tempo que passara com Sinnoh fora tão especial, e que ele sentiria muita, muita, muita saudade dela.
Certas coisas são assim, elas só recebem o devido valor quando se perdem. E nós nunca sabemos quando elas podem vir a acontecer, geralmente veem de uma vez, quando menos estamos esperando. Torçamos que não seja tarde para que o escritor pudesse redimir-se. Alguns fatos da vida são assim, terminam de maneira inesperada. Um acidente, uma atitude, um gesto, uma palavra.
CONTINUA...