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Posted by : CanasOminous
Feb 11, 2014
Support Conversation (Chaud x Tom Sawyer )
Gênero: Amizade;
Tema: Em uma noite chuvosa, Chaud encontra-se com Tom Sawyer
escondendo-se na biblioteca, os dois descobrem que
por mais corajoso que seja o guerreiro, todos possuem medos;
Sugestão da leitora: Leeca.
Chaud trancava os portões de acesso da ferraria. O lampião em sua mão lutava para ficar aceso em meio à ventania causada pela tempestade naquela noite. Era água e raios para todo o lado, parecia que Zapdos tivera uma de suas discussões em família e acabara por descontar toda a raiva nos pobres Pokémons que nada tinham a ver com aquilo.
O
ferreiro pegou a chave e guardou-a, mas quando apalpou um dos bolsos da calça
percebeu que ainda estava com a chave da biblioteca.
— Só espero não ter esquecido as janelas abertas...
— ele comentou em voz baixa, já imaginando a destruição em massa de seus adorados livros caso aquilo tivesse acontecido.
Soltou
um longo suspiro e saiu na chuva. Precisaria certificar-se de que nada de ruim
acontecesse com aquele ambiente tão importante para os integrantes da guilda.
Ou
melhor, eram poucos os membros que frequentavam a velha biblioteca. Mas o ferreiro ainda sentia-se na obrigação de protegê-la, como se fosse um santuário só seu.
Fora
Chaud e a própria Glaciallis, ocasionalmente Isaac ia procurar alguns livros de
receita ou Al Capone passava por lá para tentar livrar-se da insônia; mas, na
maioria das vezes, a biblioteca permanecia fechada sem a visita de qualquer leitor.
Chaud
seguiu até o local com passos rápidos e viu que a porta estava entreaberta. Continuava
sério e apreensivo, mas surpreendeu-se ao notar que as janelas estavam todas
fechadas, o que o poupou de ver tantos livros que Glaciallis adorava
molhados e cheirando a mofo na manhã seguinte.
De
repente, um estrondo. Um raio iluminou todo o corredor da biblioteca e Chaud
teve a certeza de que viu um vulto. O trovão veio logo em seguida. Ele
imediatamente trocou o lampião de mão e sacou uma espada longa que ficava em
sua bainha. Não ergueu a voz e nem intimidou-se, pois sabia que alguém estava
ali junto dele, mas para sua surpresa, o que viu foi praticamente um
cachorrinho indefeso num canto escuro da biblioteca. Era Tom Sawyer.
Tom Sawyer nem se moveu. Continuava encolhido em
seu canto com uma roupa que mais parecia um pijama listrado todo molhado. Estava descalço. Os
olhos estavam arregalados e ele tremia de frio, ou talvez medo.
— Eu odeio barulho — ele falou, antes de ser
surpreendido por um trovão e repetir cada vez com mais ênfase, tampando as orelhas. — Odeio barulho,
odeio barulho, odeio barulho...
— Admito que prefiro locais calmos e tranquilos —
Chaud falou pensativo, olhando para a janela e a tempestade que os cercava lá fora. — E, por coincidência, você escolheu um bom lugar para
descansar. Esteja tranquilo, Tom Sawyer, pois aqui estará em segurança.
Chaud colocou o lampião junto do Lucario que
sentiu-se melhor por pelo menos ter alguma luz para consolá-lo. Ele deixou o
jovem enquanto continuou sua ronda pela biblioteca, certificando-se de que
todas as janelas estariam devidamente fechadas.
Tudo estava em ordem. Ao retornar, perguntou:
— Há quanto tempo está aqui?
— Num sei não... Acho que faz bastante tempo —
respondeu Tom, com as mãos abraçando seus joelhos e os olhos ainda fixos nas chamas do lampião. Ele suava e tremia, mas já estava passando.
— Você fechou todas as janelas antes que
começasse a chover.
— Desculpa, senhor. É que se eu fechasse, iria
diminuir o barulho.
— Mas eu estava agradecendo-o por isso — o
ferreiro sorriu por baixo da máscara de ferro. — Este seu ato salvou alguns
livros de uma terrível tragédia. Bom trabalho.
Chaud falou com um aceno da cabeça, indo em
direção do jovem e sentando-se sobre uma pilha de livros que usara como
banqueta.
— Você gosta da biblioteca? — ele perguntou.
— Foi o único lugar que achei aberto para me
proteger da chuva... — respondeu Sawyer, e na luz Chaud conseguia ver
claramente que ele estava todo molhado.
O homem levantou-se, buscou uma toalha e um
cobertor para o pequeno todo encolhido. Chaud aumentou a intensidade do lampião
para que ele aquecesse mais, e Tom agradeceu com vários acenos da cabeça.
— Obrigado, muito obrigado. E não se preocupe,
porque logo estarei indo embora.
— Fique o quanto quiser — respondeu Chaud. — E
por sinal, onde você está dormindo agora? Imaginei tê-lo visto próximo à
fogueira central há algumas semanas.
— É o lugar onde eu tava dormindo... — respondeu
o Lucario. — Mas com essa chuva não dá, tô todo ensopado!
— E você não tem aonde dormir?
— Eu arranjo — Tom Sawyer respondeu com um
sorriso inocente e esperançoso.
Sawyer contraiu-se em seu canto ao ver um
relâmpago e prever que logo o trovão viria. Chaud nem se mexeu, não gostava de
chuva, mas não a temia tanto quanto aquele garoto. Parecia que cada estrondo
era uma tortura para ele.
— Você não vai dormir lá fora. Fique aqui essa
noite — disse o ferreiro. — A biblioteca não possui nenhum local muito
confortável, mas levando em conta que todos os dormitórios da guilda já estão
ocupados, pelo menos você terá proteção da chuva essa noite.
— É muita gentileza sua, senhor — Tom abraçou suas pernas
e aqueceu-se nas brasas do lampião.
— Já disse que pode chamar apenas de Chaud.
Sawyer ajeitou-se em seu canto.
— Como está a Evinha? Você a vê sempre?
— Já disse que pode chamar apenas de Chaud.
Sawyer ajeitou-se em seu canto.
— Como está a Evinha? Você a vê sempre?
— Algumas vezes — disse o ferreiro. — Tenho estado
muito ocupado para cuidar dela, o torneio tem conseguido tirar meu sono.
Todavia, ela é boa em dar suas escapadas para ouvir algumas histórias. Hoje ela
disse que viria, mas com essa chuva duvido um pouco que queira sair do conforto
de seu lar.
— Acho difícil também, — respondeu Tom — ela tem uma cama quentinha e uma lareira das boas. mas eu
viria! Gosto de contar sobre as minhas aventuras, então imagino que ouvir
histórias também seja bom.
— Gosta de ler?
— Não sei ler — ele foi bem sucinto, mas parecia orgulhar-se daquilo. — É muito difícil, não consigo
imaginar uma história minha sendo prendida no papel, porque são tantas! Acho
que seria impossível contar todas elas, então, prefiro apenas vivê-las.
Outro trovão ribombou nos céus, e Sawyer
espremeu-se em seu canto ainda mais com as mãos na cabeça.
— Só quero que pare de chover logo, com essa
barulhão não consigo me concentrar em mais nada, nem em dormir!
Chaud deu um sorriso breve e afirmou:
— Você tem medo de barulho.
— E de secador de cabelo — Tom protegia a cabeça
com um livro aberto. — Odeio esses trecos! Tenho medo de um monte de coisa, de
trovão, de fogos de artifício, de moeda dentro de latinha...
Chaud sorriu, como se estivesse disposto a
continuar ouvir as histórias do aventureiro uma vez que aquilo ao menos
conseguia distraí-lo dos sons lá fora. Tom parou de falar e voltou sua atenção
para o ferreiro, com o rosto escondido na penumbra.
— O senhor é do tipo que não tem medo de nada.
— Todos nós temos medos — Chaud respondeu, taciturno.
— Num acredito! — respondeu Tom com uma risada. —
Com o seu tamanho e o seu porte, até os trovão tinha que ter medo de você!
Chaud sorriu novamente.
— O medo muitas vezes nos ajuda a seguir em
frente. Ele nos ensina a valorizar o que se deve — ele falou, pensativo. —
Tenho medo de morrer de novo. De acordar em um tempo diferente, como aconteceu
da última vez.
Sawyer estava com a boca entreaberta.
— Você é tipo um alienígena?
— N-Não exatamente, mas pode-se dizer que venho
de um tempo muito, muito distante do atual. Em uma Era em que os Pokémons ainda
guerreavam com espadas e os reinos lutavam pela supremacia.
— Ah. — Tom Sawyer parecia não ter entendido
muito daquela conversa, mas levou-a adiante. — É como dormir, e de repente
descobrir que estou... sem vocês. Acho que também tenho medo disso, de ficar
sozinho. Mais um pra minha lista.
Chaud parou e respirou fundo.
— Compreendo. Então acho que nossos medos são
muito semelhantes.
Foi ouvido o som da porta sendo aberta, e Chaud
virou-se ao ver Eva do outro lado, vestida com uma capa de chuva e não se dando
nem ao trabalho de bater antes de entrar. Ela estava toda encharcada, mas os
olhos brilhavam e sua capa de proteção amarela realçava ainda mais seus olhos
violeta tão expressivos.
— Tommy? Eu não sabia que você estaria aqui
também! — disse Eva.
— Ei, Evinha! Pensávamos que não viria mais por
causa da chuva — respondeu Tom. — Desculpa por invadir o momento particular de
vocês dois, é que eu vim me esconder da chuva aqui, e acabamos nos
desencontrando.
— Eu já estava quase indo embora — respondeu
Chaud com um sorriso. — Mas creio que ainda tenha sobrado tempo para uma
história, não?
Eva ficou muito animada de ver os dois ali. A
moça retirou a capa de chuva e foi até um dos corredores da biblioteca, onde
pudesse ficar fora de vista. Ali despiu-se, e quando revelou-se vestia um pijaminha
rosa junto de um travesseiro fofo que provavelmente viera guardado em sua
mochila. Ela jogou-se em cima de Sawyer, enchendo-o cheio de carícias.
— Gostei do seu pijama — disse Eva.
— Não é um pijama, é só a minha camisa de
dormir... — defendeu-se Tom.
— Então é um pijama.
— Oxi, num é tudo a mesma coisa?
Enquanto suas duas crianças riam e conversavam,
Chaud levantou-se e foi procurar alguns livros para que pudesse contar alguma
história. Eva e Sawyer já eram bons amigos, e assim que conseguiram encontrar
um lugar confortável aguardavam ansiosamente a história que o guerreiro teria
para contar.
— Foi uma baita sorte eu vir parar aqui na
biblioteca! Agora vou poder ouvir uma história do tio Chaud!
— Tio Chaud não... Me sinto ainda mais velho do
que sou — o homem respondeu com uma risada.
— Ahh, Tommy, você ainda está todo encharcado!
Venha aqui, deixe-me abraçá-lo para te esquentar mais — falou Eva. — Não está
adiantando! Você continua tremendo. Não está doente, está?
— Eita, nem brinca com essas coisas! É que o
barulhão dos trovões me assustam, e quando penso neles, todos os meus ossos
tremem sem eu querer.
Tom e Eva pararam de tagarelar quando ouviram um
último trovão, ribombando longe e anunciando que muito em breve a chuva estava longe de acabar. Ainda assim, os dois juntaram suas coisas e foram para perto de Chaud
onde ele estava sentado, jogando seus travesseiros e cobertores em cima dele.
— O que estão fazendo? — indagou o ferreiro.
— Vamos acampar perto de você, aí o medo passa —
respondeu Eva, aninhando a cabeça no ombro do ferreiro e abraçando com ainda
mais força o seu braço. — Até porque você não tem medo de nada, Chaud.
— Evinha, mas ele disse que tem medo de algo,
sim! — assentou Tom Sawyer.
— Tá brincando?
— Ele disse que tem medo de perder a gente.
— Ahhh, isso é tão fofo, Chaud! — ela o abraçou
com mais força, derrubando-o no chão.
A noite foi seguindo, e assim que Chaud começou a
ler o seu livro não demorou muito para que os dois caíssem no sono. Não porque
a história estava ruim, mas porque estava realmente exaustos e fizeram de tudo
somente para que os três pudessem estar ali reunidos, desfrutando daquele
momento.
O homem fechou o livro com cuidado e observou o
lampião que estava quase se apagando. A chuva já passara, e Tom provavelmente
nem notara quando o barulho cessou e nenhum outro trovão o atormentou naquela
noite.
Pensando em como faria para levar Eva de volta
para seu quarto sem que ela fosse descoberta por Milady, e como deixaria Tom
Sawyer na lareira naquela noite úmida e silenciosa, Chaud viu que não teria
outra alternativa. Ocasionalmente Eva puxava a orelha do amigo, e Tom
resmungava de noite tendo alguma aventura no mundo dos sonhos. Chaud retirou sua
máscara de ferro, apagou o lampião e ajeitou melhor o cobertor e travesseiros
que estavam jogados aos montes no carpete da biblioteca.
Seu quarto teria de ficar vazio naquela noite,
pois preferia passar mais um tempo com as duas crianças que dormiam em seu colo
de maneira tão confortável e aconchegante que chegava a dar sono nele.
— Vocês não precisam ter medo de nada — disse
Chaud, dando um beijo suave na testa de cada um. — Eu estou aqui.