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Posted by : CanasOminous
May 23, 2012
Feixes de luz transpassavam por entre as persianas apodrecidas do depósito. Fazia muito frio para o horário, era por volta das oito da manhã, e seria impossível dormir naquele local com o barulho e com a movimentação que aos poucos começava a se formar. A pequena garotinha permanecia a dormir sobre a camada fina dos cobertores que a esquentara durante toda a noite. Dawn se levantou e esfregou seus olhinhos ainda cansados, olhou a sua volta, mas não viu ninguém, abraçando seu pequeno Mudkip de pano para aliviar o medo de encontrar-se em um lugar desconhecido sem mais ninguém por perto.
A menina se levantou e tentou subir em cima de uma das caixas sem êxito. Com um rápido impulso ela pulou, mas caiu, batendo sua cabeça numa madeira logo atrás. Dawn começou a chorar pela dor que sentia, e por sorte o choro havia sido suficiente para chamar atenção de alguém. Celia surgiu de trás de uma das caixas com o cabelo todo despenteado e vestindo ainda as mesmas roupas de ontem, ela tinha olheiras profundas e não parecia ter dormido desde a noite passada.
— Finalmente você acordou. — disse a mulher.
Celia arrumou os cabelos ensebados de sua cabeça penteando-os com as mãos, ela se sentou em cima de uma das caixas e ficou a fitar Dawn, sem sequer se dar no trabalho de ver se a criança havia machucado a cabeça. A menininha sentou-se em cima da área acolchoada novamente e abraçou seu bichinho de pelúcia.
— Cadê o tio Ed? — perguntou a garota.
— Ele trabalha de manhã, tentando conseguir alguns trocados na praça. Já que eu trabalho só de noite eu tive que ficar aqui te esperando, e quem diria que no fim das contas eu serviria de babá de criança. Estou louca para me livrar de você. — respondeu Celia.
Dawn não se deu conta da ofensa que a moça dissera, Celia simplesmente não ligava para o que dizia. Ela sacou a mão de seu bolso e retirou uma caixinha de cigarros, acendendo um e exalando aquela fumaça fétida na frente da criança. Dawn abraçou o Mudkip contra seus bracinhos curtos e esperou, até sentir uma tímida vibração em sua barriga. Ela olhou para os lados, e disse:
— Estou com fome...
Celia tragou a fumaça e em seguida a soltou. Após refletir um pouco sobre aquela triste cena lembrou-se como era ruim para uma criança passar por necessidades como aquela. Porém, não sabia muito que fazer. Estava acostumada a ver pessoas passarem fome, mas com uma criança era diferente.
— Não tenho comida agora, preciso usar o dinheiro para outra coisa, mas acho que de tarde podemos ir para o albergue de Jubilife. Não podemos ficar escondidas aqui no depósito a manhã inteira, vamos trabalhar. — disse Celia.
A moça levantou-se num salto e se preparou para deixar o depósito, deixando Dawn para trás a fitá-la. Celia se virou e chamou por ela mais uma vez com um rápido movimento, e só então a menina se levantou.
A pequena cidade de Sandgem não era muito populosa, mas tinha alguns mercados e ruas estreitas que permitiam a passagem das pessoas sem que fossem notadas. Celia balançava sua bolsa enquanto acenava para alguns homens na região, Dawn a seguia, tentando alcançar a mão da mulher em vão. Quando a tocava, Celia a retirava como se um inseto a incomodasse, seguindo novamente seu caminho pela sequência.
— Tia Celia, para onde estamos indo? — perguntou Dawn.
A moça parou no mesmo momento e encarou a criança com severidade.
— Tia? Você tem noção de quantos anos eu tenho?
Dawn parecia tentar fazer as contas em suas mãozinhas limitadas, mas aquele número já começava a ficar muito grande. Celia soltou um suspiro e voltou a andar não dando bola para aquilo, Dawn apenas segurou sua mochila com seus poucos pertences e voltou a caminhar.
— Esse vilarejo é Sandgem. É bem pequeno e monótono, e por isso eu prefiro a correria de Jubilife, lá tenho um público maior. Você vai ir para lá junto comigo, tudo bem?
Dawn acenou a cabeça, sem muitas opções. Esperava encontrar logo Ed e se livrar daquela mulher esquisita que continuava sem dar a mínima atenção para a pequena. As duas seguiram pela rota 202 por algumas horas, naquele horário não havia nenhum treinador na área, e os policiais não faziam a ronda, logo, as duas podiam caminhar normalmente. Celia não era uma bandida nem nada, mas tinha sua entrada proibida por aquelas áreas, e vê-la caminhando ao lado de uma criança não seria uma boa ideia.
Dawn nunca havia visto algumas das criaturas daquele local, constantemente perguntando para Celia o que eram, embora ela também desconhecesse.
— Você não é treinadora?
— Não, uma licença e os equipamentos necessários para esse tipo de tarefa são caros, e eu também não tive a oportunidade de virar treinadora quando tinha sua idade, acabei por seguir outro caminho. — disse ela.
— Que caminho? — perguntou Dawn.
Celia fez uma careta como quem não queria comentar, ela apenas chamou por Dawn e apertou o passo para que as duas logo chegassem à Jubilife. Em pouco tempo, a criança havia voltado para a cidade grande. Ainda estava na esperança de encontrar seus pais, embora a ânsia por ver Ed e seu piano fosse ainda maior. Celia caminhou até um dos vários albergues da cidade, as paredes eram todas em branco e se podia ver um grande movimento de pessoas mais pobres que iam e saíam naquele horário. Todos com condições muito precárias, os albergues em sua maioria eram frequentados por aqueles de pouco poder aquisitivo, e por isso possuíam um baixo-custo monetário de modo que as pessoas permanecessem lá somente para ter um pouco de conforto.
Celia adentrou o local e pediu uma estadia para que quatro pessoas pudessem se alojar durante a noite. Ela retirou o dinheiro que ficava guardado em algum lugar de camisa e entregou para o sujeito que cuidava do balcão. O homem olhou para Dawn surpreso, de modo que a garota recuasse e abraçasse as longas pernas de Celia para evitar ser vista.
— Essa garotinha é a sua filha? — perguntou o homem.
— Claro que não, e eu tenho cara de quem teria uma filha? — perguntou ela com desprezo.
— Eu não sei, julgando o tipo de trabalho que você faz...
Celia saiu do local aos murmúrios de ofensas. Já havia feito a hospedagem para seus companheiros no albergue, então poderia finalmente sair de lá. Celia caminhou até um bar que parecia estar abrindo suas portas naquele exato momento. Ela entrou e sentou-se numa mesa do fundo, descansando os pés que já se se esgotavam pelo salto alto que ela usava.
— Ainda estou com fome. — disse Dawn, apoiando sua cabeça sobre a mesa.
— Então pede um pão na chapa para o homem, eu... pago. — disse Celia com receio até mesmo de dizer aquela última palavra.
Dawn era muito envergonhada, e por isso nem mesmo conseguia pedir a comida. Celia já perdia a paciência com a criança, mas seria obrigada a aguentá-la como um favor à Dean e Edward, a quem devia muitas contas. O pão com manteiga chegou para a criança que se deliciou com cada pedaço enquanto Celia bebia uma cerveja.
— Pronto, já comeu para o dia inteiro. — disse Celia.
— Obrigada, Tia Celia. — disse Dawn, notando a careta que a moça fazia cada vez que a chamavam de “tia”. As duas permaneceram em silêncio por um tempo, até Dawn perguntar novamente: — O que é isso que você está tomando? É refrigerante?
Celia soltou uma longa risada.
— Claro, claro que é refrigerante.
— Posso tomar?
— Claro que não, menina! Não notou minha tonalidade irônica?
Celia cessou seu sorriso e olhou novamente para Dawn. Estava claro que ela não estava brincando quando perguntou o que era aquilo. Celia sabia muito bem que bebidas alcóolicas faziam mal, mas não ligava. Por um momento teve até vontade de dar para a garota, só para ver o que acontecia, mas em sua cabeça sentia que uma vez na vida deveria tentar fazer uma boa ação.
— Você não pode tomar, isso faz mal.
— Então por que você está tomando?
Celia ficou quieta novamente. Ela sabia de todos os males que aquilo causava para si mesma, mas nunca tivera ninguém que a impedisse de tomar aquilo.
— Estou tomando porque eu quero, mas você nunca deve fazer isso.
— Então não toma também não, Tia Celia. Vai te fazer mal.
Tudo bem. Àquele ponto ela estava convencida, deixaria a bebida passar, mas a conversa com a criança ainda não havia terminado. O copo de vidro permaneceu lá até que esquentasse.
As duas foram interrompidas no momento em que um sujeito entrou correndo dentro do bar, Dean deu alguns saltos e escondeu-se atrás da porta até ver dois policiais seguindo para o caminho oposto. Ele então suspirou aliviado, e aproximou-se da mesa onde Dawn e a mulher estavam.
— Já foram embora. — disse Celia.
— Ninguém consegue correr tanto quanto eu. — respondeu Dean, sacando um saco de seu bolso e jogando-o na mesa — Peguei uma grana, mas não muita coisa. Tem mais comida, não sou do tipo que rouba bolsa de gente na rua. Eu roubo o que roubam da gente.
Dawn levantou-se da cadeira e pegou uma das frutas, até aquele momento Dean sequer havia se dado conta da presença da criança. Ele esticou seu braço da cadeira e passou a mão nos cabelos negros da menina.
— E aí, Dawnzinha. — disse ele com um sorriso.
— Por Arceus, vocês me deram a pior tarefa do mundo. Só porque eu trabalho de noite não quer dizer que eu vou ter que cuidar dessa garota toda manhã, não é? — perguntou Celia.
Dessa vez Dawn parecia ter ouvido o que Celia dissera, a moça olhou para a criança com indiferença, mas uma voz triste e chorosa ecoou:
— Eu pensei que nós fossemos amigas... — disse Dawn com tristeza.
— Olha só o que você fez, a garota tá chorando! Caramba Celia, será que não consegue ser gentil uma vez na sua vida?— afirmou Dean.
— E-Eu não tenho culpa se ela é sensível, como quer que eu lide com crianças se nunca fiz isso na minha vida? — indagava a moça.
Dean colocou os braços em volta de Dawn e deu alguns tapinhas nas costas, como dois amigos se cumprimentam quando visitam um ao outro. Dawn ainda chorava baixinho, mas encostou a cabeça na regata suja do rapaz, permanecendo naquela posição por um tempo.
— Eu também não sei o que fazer com criança, o que fazemos agora? — perguntou Dean.
— Entregamos pra polícia? — sugeriu Celia.
— Claro que não, se a gente aparece lá na frente com uma criança eles levam nós três juntos, e não pense que eu sairia tão cedo. O Ed pediu para cuidarmos dela, você sabe o que aconteceu com a família dela. — afirmou Dean, abaixando o tom de voz para que a menina não escutasse aquilo.
Celia soltou um longo suspiro e se levantou.
— Vamos procurar o Ed e deixar a garota com ele. Já que a ideia foi dele, então ele deverá arcar com as consequências também.
Os três se levantaram e deixaram o bar. Ainda faltavam algumas horas para o horário de pico, mas as ruas movimentadas de Jubilife nunca cessavam. Eles rumavam pelas estradas e a todo momento precisavam estar de olho para ver se a menininha não havia sido atropelada por qualquer carro ou Pokémon que fosse. Dawn não estava acostumada com uma cidade tão movimentada, vivera a vida toda na calmaria de Dewford, e tudo aquilo poderia vir a ser um pouco traumatizante.
Dean e Celia pararam em frente a um semáforo e logo Dawn os alcançou. A menina andou até o lado do rapaz e segurou em sua mão, esperando para atravessar a rua. Aquilo era o certo a se fazer, nunca deixar uma criança para trás. Dean olhou para o lado um pouco assustado, vendo uma risada rasteira no rosto de Celia pela expressão súbita que o rapaz fizera. O sinal abriu, eles atravessaram. Até poderiam ser tachados como uma família feliz, afinal, os três se pareciam muito.
Enquanto eles caminhavam Dean soltou as mãos da criança e deu um pulo para trás, se escondendo no muro de uma casa. Alguns policiais faziam a vigia, e ele não poderia ser visto. Era um ladrão, e já bem conhecido pelos guardas da cidade.
— Vão procurar o Ed na praça, eu pego outro caminho.
Dean se distanciou, e agora eram Celia e Dawn novamente. A criança segurou a mão da moça enquanto elas caminhavam pelas ruas, e agora seria Dean quem teria dado risada se tivesse visto a expressão de Celia quando sentiu aquilo. As duas caminharam por mais um tempo e chegaram à praça. Lá estava Ed de baixo da árvore com um pequeno violão e seus óculos escuros. Uma latinha de alumínio o acompanhava, mas estava vazia. O homem continuava a tocar suas belas canções sem receber muito sucesso.
— Tá indo bem hoje, hein? — ironizou Celia, notando a latinha vazia.
Ed interrompeu sua melodia, pegou sua bengala e checou a lata, notando então que estava vazia. O homem soltou uma breve risada com seus dentes amarelados e os lábios ressacados.
— Eu tenho certeza que ouvi o barulho das moedas, mas acho que aqueles moleques safados vieram e levaram tudo de novo.
— Malditos, o Dean poderia estar aqui para dar uma surra neles. — praguejou Celia.
Dawn caminhou em direção do cego e sentou-se ao seu lado. A garota tinha uma respiração e um cheiro tão característico que o homem a notava sem que ela precisasse dizer qualquer palavra, ele tocou então em seus cabelos e apontou para o violão.
— Só escute essa canção, mas sinta no coração.
Ed segurou o violão com imenso carinho, e então começou a tocar. Era como se Ed tocasse especificamente para as duas, as cordas que se mexiam ecoando as mais diversas notas encantava Dawn. Primeiro o Piano, depois aquele violão. Aos poucos sentia algo mais em seu coração, um desejo de ter aqueles instrumentos para si e leva-los como parte de sua vida. Celia sentou-se mais adiante onde havia sol, e assim, todos juntos passaram a escutar aquela triste canção com a voz sofrida do homem cego que agora a recitava. Era uma lamentação, um lamento que ninguém podia ouvir.
“Seu coração está à solta, você arriscou tudo
Por algum motivo, não parece mais que estou em casa.
Seu corpo dói... Tocando seu violão e eliminando o ódio no suor
Os dias e as noites parecem todos iguais, o uísque tem sido um incômodo
E não perdoa a estrada que por dentro chama o seu coração.
E aqui não é lugar para o tipo cansado
E aqui não é lugar para perder a cabeça
E aqui não é lugar para ficar para trás
Pegue seu coração louco e tente mais uma vez.”
Por algum motivo, não parece mais que estou em casa.
Seu corpo dói... Tocando seu violão e eliminando o ódio no suor
Os dias e as noites parecem todos iguais, o uísque tem sido um incômodo
E não perdoa a estrada que por dentro chama o seu coração.
E aqui não é lugar para o tipo cansado
E aqui não é lugar para perder a cabeça
E aqui não é lugar para ficar para trás
Pegue seu coração louco e tente mais uma vez.”
Suas mãos tinha bolhas e calos, eram todas marcadas pelas manhãs inglórias em que era roubada por sujeitos ainda mais incapacitados. Dawn ouvia tudo com enorme atenção. Podia sentir a letra e o sofrimento na voz de seu velho tutor. O homem continuou a tocar em vão, afinal, ninguém teria tempo para ouvir o coração em dias corridos. Ed terminou sua canção, e entregou o violão nas mãos da garotinha.
— A música não está somente aqui, — disse o homem, apontando para a cabeça de Dawn que olhava para a ponta do indicador do sujeito, que em seguida direcionou-se para o peito — ela está aqui, no coração.
Os três permaneceram parados ali por um momento, até que se pôde ver cinco garotos chegando em direção da praça. Ed ouviu que era um grande grupo, mas não podia saber quem era. Dawn imediatamente os reconheceu, eram os meninos que tentaram acedia-la em sua primeira noite em Jubilife. Assim que eles avistaram Ed perceberam que seria o momento da vingança.
— Olha só, o ceguinho e seus trocados. — disse um dos garotos.
— Ora, não estou com nada hoje. As pessoas são muito apressadas, não têm mais tempo sequer para ouvir uma boa canção.
Um dos sujeitos avançou contra o homem e pegou o violão de suas mãos. Dawn deu um pulo tentando retirar, mas foi empurrada pelo grupo de garotos que agora estava em uma maior companhia.
— Você bateu num dos nossos aquele dia, agora a gente vai só devolver.
Ed parou de sorrir, enquanto encarava o chão com seus óculos escuros. Celia deu um salto de sua cadeira e avançou em direção do homem cego. Os garotos o ergueram e o jogaram no chão, começando a espancá-lo no meio da praça. Não era possível dizer se ninguém via ou se fazia questão de fingir que não vê. Celia meteu-se no meio e foi capaz apenas de retirar a pequena Dawn que caía aos prantos ao ver aquela cena.
— Seus moleques de rua, parem com isso!
— Se manda daqui, idiota. — respondeu outro, empurrando Celia para longe.
Por mais que Celia tentasse, ela era apenas uma mulher. Não havia nada que ela pudesse fazer enquanto o pobre homem cego gemia de dor em meio ao preconceito e a raiva daqueles garotos, ele recebia vários pontapés daqueles garotos imundos e sem coração.
— Ed, Ed, Ed!! — gritava Dawn numa tentativa em vão.
O tumulto só foi interrompido no momento em que pôde se ouvir um sujeito correndo na velocidade de um Arcanine. O rapaz tinha uma arma em suas mãos e apontou para os garotos que pararam no mesmo instante ao vê-lo.
— Deem o fora daqui, agora.
Os garotos saíram correndo, deixando o velho homem para trás. Era Dean quem havia salvado seus amigos. Ele era a figura mais franzina e aterrorizada de todos ali, mas tinha uma arma de fogo, e aquilo assustava. Até mesmo Celia surpreendeu-se com a agressividade do homem, Dean guardo o equipamento em seu bolso e agachou na altura de Ed, colocando-o no ombro para levá-lo até algum centro ou hospital.
— N-Não... Não me levem para o hospital, não posso ir para lá.
Dean fez uma feição de raiva como alguém que só agora havia se lembrado daquele detalhe. Celia parecia eufórica não sabendo o que fazer com o velho Ed, mas o homem apenas indicou que o levassem para o depósito ou qualquer local escondido.
— Leva o tio Ed pro hospital, ele está doente! — disse a pequena Dawn.
— A gente não pode, Dawnzinha. — disse Dean de forma chateada, pensando cuidadosamente numa forma de explicar aquilo para uma criança inofensiva — O Ed está morto para o governo, ele não existe mais.
A garota não entendeu aquela mensagem de imediato, mas apenas seguiu o grupo até uma área mais afastada da cidade na fronteira com a Rota 202. Dean colocou o homem num cobertor branco, e saiu. Celia ficou cuidando de Ed por um tempo até que Dean voltasse, Dawn continuava aos berros.
— Por que o tio Ed não pode ir para o hospital? Por quê?
Celia segurou nos ombros da garota e a fez sentar-se. Ed estava quase inconsciente, mas permitiu que a mulher explicasse brevemente como funcionava seu esquema.
— O Ed tinha uma família muito bonita no passado, ele tocava músicas para mantê-la, mas isso nunca rendeu muito dinheiro. — dizia ela tomando o máximo de cuidado com cada palavra proferida — Eles também passaram por muitas dificuldades, como nós, agora. Então, o Ed forjou sua morte para que o seguro pagasse sua família com uma renda bem pequena. Ele decidiu deixá-los para que eles sobrevivessem e por isso hoje ele está morto para o governo. O Ed é um indigente, ninguém pode saber que ele está vivo, ou retirariam o seguro.
Foi o tempo de Celia terminar a historia que Dean voltou com alguns medicamentos, sabe-se lá de onde. Nenhum deles tinha muita noção de saúde, ou muito menos esses cuidados higiênicos, mas Dean tinha conhecimento em mecânica, para ele era tudo a mesma coisa.
Eles permaneceram ao lado do velho homem a tarde toda, até que ele se recuperasse. Foi um dia trágico, ninguém havia conseguido dinheiro, e Celia optou por não trabalhar aquela noite e ficar ao lado do cego para que não houvessem mais ataques. Com a noite se erguendo sobre suas costas, eles precisavam sair do sereno. Dean levou o grupo até o quarto do albergue que já estava alugado, e por lá ficaram a noite a toda.
Seus amigos trouxeram alguns pães e água para que o homem fosse aos poucos se recuperando. Ed ainda gemia de dor, não havia sequer uma enfermeira para cuidar dos ferimentos, quando um dos moradores passavam por maus bocados o máximo que podiam fazer era garantir um caixão.
Enquanto eles se recuperavam, Celia e Dawn foram até o banheiro para que tomasse mum rápido banho e aproveitassem a disponibilização do banheiro no local. A mulher retirou suas roupas e entrou na companhia da pequena garota, a água escorria por seus corpos enquanto a mulher enxaguava os longos cabelos de Dawn que estava sentada em sua frente. Celia sorriu e disse:
— Seus cabelos são lindos, cuide bem deles.
— Obrigada... — agradeceu Dawn.
— Você era mais parecida com a sua mãe ou com seu pai?
— Acho que com a mamãe, todo mundo fala que eu sou a cara dela. Quando eu encontrar meus pais vou apresentar eles pra vocês.
Celia mordeu seus lábios como se tentasse evitar a comoção. Se as lágrimas rolaram por algum motivo era impossível dizer, pois já teriam se fundido com as gotas frias do chuveiro. Todos sabiam que os pais de Dawn haviam falecido, estavam desaparecidos há pouco mais de uma semana, e naquele ponto não se esperava mais encontrar sobreviventes. Ninguém ousava contar nada para a criança.
O banho terminou e as duas saíram. O velho Ed tentava se recuperar, estava sentado na cama com bandagens mal distribuídas e logo estava sorrindo com a bengala intacta e os óculos sujos.
— Já estou inteirinho de novo. Vaso ruim não quebra. — disse o homem, soltando uma longa risada.
Dean deu um tapa nas costas do velho que quase o desmontou novamente.
— Cara, você quase mata a gente de susto. Aquela pivetaiada está merecendo uma surra, vou juntar um pessoal e entrar naquelas partes mais tarde.
Ed segurou no braço de Dean e o alertou.
— Vingança não leva em nada, não faça para os outros aquilo que não quer para você.
Dean fez um rápido aceno com a cabeça e se calou. Aquela manhã havia sido muito conturbada para cada um deles, especialmente para Dawn. A garota sentou-se no chão ao lado da cama do velho homem e abraçou seu braço, entrelaçando as duas mãos e falando com a voz baixa:
— Você ainda vai me ensinar a tocar piano?
— Mas é claro, eu sou um compositor famoso, ganho muito dinheiro com isso. Quando eu ensinar tudo, você vai poder comprar seu próprio piano, vai conhecer pessoas fantásticas e seguirá seus maiores sonhos. Nunca se esqueça disso.
A noite fria passou como um vento que leva o que restou para bem longe. Dawn descansou abraçada ao seu Mudkip, enquanto Celia jazia deitada logo ao seu lado quase adormecendo. A criança aconchegou-se ao lado da mulher, que a abraçou num movimento acidental para se esquentar. Dawn finalmente a abraçou, podia sentir-se protegida por sua mãe, pelos amigos, pela família. Sua nova família.
Yo Canas! Adivinha de onde estou comentando agora? Da biblioteca do Colégio cara, vim cedo para fazer trabalho. Só é foda ter que observar cada passo que alguém dá '-' kkk
ReplyDeleteO capítulo tava muito louco, começamos com algumas descobertas sobre os personagens, e julgo que a Célia teve um passado muito difícil e ainda acredito que um dia ela já foi como a Dawn, mas as circunstâncias a tornaram assim. Será quem nossa pequena protagonista poderá ensinar alguma coisa a mais para sua "nova família"? Fico no aguardo, o enredo está ótimo, mas dando uma de Dawn ainda tenho esperanças de que seus pais estejam vivos. Não... Impossível... Mas sei que nas suas estórias você sempre vai achar um jeito de nos surpreender =] Parabéns mais uma vez cara, abraço ae Canas o/
Haos, concordo plenamente com vc cara, eu ainda acho que os pais dela estão vivos, e Dawn ainda ensinara muito mais a Celia, cara me derreti todo, ainda mais que coloquei a musica para tocar, e li aquela parte que ele é surrado, fiquei imaginando e chorei. Ficou bom, espero ansioso pelo próximo, té mais.
ReplyDeleteHey Canas, mas que formidavel capítulo, estou sem palavras!
ReplyDeleteEstou adorando esta série (Já sei meu voto para melhor especial saga diamante). Conhecer o passado da minha favorita é... incrivel. Mas, vamos as minhas avaliações:
O que mais gostei: A Célia se mostrando um pouco mais gentil.
Melhor acontecimento: Dawn e Célia se dando "bem"
Melhor descrição: Sentimentos de Dawn, é claro.
O que precisa melhorar: Nada!
Yoo Canas!
ReplyDeleteTo gostando bastante do especial da Dawn, ele ter um ar de maturidade, e é quase que inteiramente drama, acho muito difícil um escritor conseguir escrever gêneros tão diversificados, as vezes acredito que dentro de você há varias personalidades, cada uma delas especialista em algo (há aquela que desenha, que escreve, que fica fazendo piadas, que fala sobre o lado bom e ruim da vida, dentre muitas outras).
Sabe, há pouco tempo (pouco mesmo) eu li o Capitulo 37 (aquele que o Stanley e a Vivian retornam), perdi a conta de quantas vezes morri de rir com aquela dupla, porem, três postagens para frente, me deparo com o passado trágico da Dawn.
Meu especial favorito até o momento é o ex-Elite dos 4, porém Sadness Orchestra ganhou o meu respeito a um bom tempo.
A realidade das cenas, e a precariedade da vida de todos presentes neste especial, são um relato do cotidiano.
Acho que o mais divertido de ler esta história foi conhecer cada integrante dela, o modo como você contorna as palavras para transmitir a verdade no subconsciente do leitor é incrível, e é exatamente por isso que Sadness Orchestra quebra e destrói qualquer taboo sobre as fics de Pokémon!
Canas na moral... você demorou para começar um livro só seu! O meu apoio você já tem.
A parte do Ed cantando na praça com seu violão ficou perfeita... as vezes essa musica não serviu só de uma parte integrante da história, mas ela pode tocar até nós leitores!
Cara... ta de parabéns! Ta arrebentando neste especial!
Flw