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Posted by : CanasOminous
Nov 15, 2014
Uma Crônica Pokémon do cotidiano escrita por Canas Ominous.
Eu já tinha perdido esperanças em uma Diancie. Participei de todo o tipo de competições e sorteios para conseguir uma,
mas não teve jeito. Fiquei a invejar as Diancies dos outros jogadores que
conseguiam dezenas de panfletos para dar e distribuir para os amigos, e que
provavelmente acabaram atrapalhando outros que tentaram conseguir o
seu de maneira justa, atravessando longos caminhos para buscar panfletos em algumas poucas lojas específicas espalhadas pelos polos do Brasil. Pra ser bem sincero, eu já estava de saco cheio dessa
história de Diancie, o evento tomou dimensões completamente diferentes do
esperado, o que rendeu até mesmo matérias pela PBN que comentou o fracasso que
foi essa distribuição, onde um queria sair ganhando em cima do outro. Típico jeitinho brasileiro.
E tudo por causa de um simples
Diancie.
Dia 15 de Novembro. Eu já estava de
saco cheio dessa criaturinha. Faltava um único dia para a distribuição acabar e
eu nem me importava mais em conseguir uma, mas aconteceu que alguns amigos me
convidaram para ir no Karaokê lá na Liberdade em SP, e aproveitar um pouco, relembrar
os velhos tempos, ficar na zoeira. Aceitei com o maior prazer, mas fui
surpreendido quando disseram que nós iríamos de trem, depois pegaríamos um
metrô (aí enfrentaríamos dragões, passaríamos por catacumbas perdidas para
finalmente chegarmos ao destino. Uma verdadeira missão!). Ao menos é o que parecia para mim, pois a verdade
seja dita, eu nunca havia andado de trem. Já seria uma experiência e tanto.
A demanda começou logo pelas 9 da
manhã em pleno sábado de feriadão. Fizemos nosso caminho, chegamos à Liberdade e
prosseguimos com a viagem. A experiência no trem e no metrô se revelou muito
bacana mesmo depois de ficarmos em pé por algumas horas, cheirar algumas axilas alheias e
tomarmos trancos que quase nos derrubavam no chão, mas nada que seja diferente para
a rotina dos paulistas. Alguns podem me achar caipira, mas tem que ser
paulistano pra aguentar a rotina dos paulistanos! Empurrões de gente que não
olha para você e finge que você nem existe, xingamentos porque você está do
lado errado na escada rolante (juro que eu não sabia dessa), e robôs que seguem sua vida contínua sem dar
muita importância ao que acontece ao redor.
Mas, retornando ao Diancie...
Terminada nossa viagem pela Liberdade, a demanda continuou seguindo quando
surgiu a ideia de passarmos pela Avenida Paulista. Mais labirintos e desafios
no subterrânea nos aguardaria antes de chegarmos ao nosso destino! Brinquei com meus companheiros
de viagem dizendo que eu tinha algo de importante a fazer na Livraria Cultura,
pois ouvira falar que estavam distribuindo Diancies por lá, mas eu apostava que
todos já estavam esgotados por se tratar do último dia...
— Ei, algum de vocês vai passar
pela Paulista? — perguntei.
— Sim, moro lá perto. Por que?
— Será que você não quer pegar um
Pokémon pra mim? — falei num tom brincalhão, e fui recebido com uma
risada.
— Ah, sim, claro. A Avenida
Paulista está cheia de Pokémons andando nas ruas! — ele riu.
Acabou que realmente passamos pela
Paulista, e estando lá, não custava nada dar uma passada na Livraria Cultura
(até porque andar em livrarias é vida, eu passaria por lá de qualquer maneira,
rs.) Eu nem estava ligando para o Diancie. Não queria me decepcionar ao
perguntar nos caixas e me responderem: Acabou. A última pessoa que veio aqui
levou as últimas 200 folhas, a promoção está concluída. Mas digo que cheguei
até o representante local, sentindo-me como aquelas criança que acaba de começar sua
jornada aos 10 anos de idade atrás de seu Pokémon Inicial, e perguntei:
— Moço, sobrou alguma Diancie?
O rapaz sorriu e me entregou uma das
folhas, afirmando que tive sorte, pois era o último dia da promoção e eles não
receberiam mais nenhum código.
Cara. Um Diancie. Eu finalmente havia
conseguido um Diancie!
Pelo visto, minha jornada de uma cidade à
outra rendera frutos. Enfrentei trens e metrôs pela primeira vez na vida (minhocas gigantes do subterrâneo e dragões de metal). Andei de ônibus quando
necessário, e não sou o maior fã dessas criaturas também. E para melhorar, no
mesmo dia presenciamos uma manifestação em São Paulo, mas por sorte ela era
pacífica e não rolou tiroteio ou pancadaria (ou seria necessário usar meu
Diancie para nos protegermo!).
Aproveitamos para dar uma passada no
Starbucks também, onde fui recebido por um pequeno muffin com uma vela
improvisada em cima, passando frio pelo vento forte de uma chuva iminente que
se aproximava, e o fogo da vela quase a se apagar.
— A gente esqueceu o seu bolo, mas
compramos esse aqui para comemorar seu aniversário que foi na semana passada! —
disse um de meus companheiros.
Nossa, então além do Diancie, ganhei
também uma grande tarde ao lado de pessoas maravilhosas que passaram por todas
essas maluquices comigo, amigos com quem compartilhei anos excelentes no Ensino
Médio, e que a amizade foi mantida através de correntes de ferro mesmo apesar
de todos os empecilhos da vida adulta.
Quem não é de São Paulo sabe o caos que a
cidade pode parecer, caso não estejam habituados. Não sou nenhum bicho do mato
que nunca viu a Cidade Grande, mas andar em suas ruas movimentadas e atravessar
uma avenida que nunca para são experiências bem excitantes. Sem contar o medo
de ser assaltado. A cidade não é conhecida por ser uma das mais pacíficas,
então andamos olhando para trás, desconfiados de todo mundo ao nosso redor.
Após 12 horas na cidade, ao cair da
noite, finalmente retornei à minha cidade natal, para o conforto de meu lar. A volta
se deu em uma longa trajetória de ônibus, e ao chegar em casa fui ativar o
código e pegar meu Diancie, só para deixa-lo lá. Eu já não estava tanto na
empolgação de jogar Pokémon como nos dias antigos, mas é sempre legal fazer parte de algum evento especial que será marcado. Mas, por algum motivo, aquele Diancie me parecia
especial, eu só não entendia porque.
Quem teve acesso ao código e viu a pequena cena que acontece logo na sequência vai entender o que estou falando. Entrando no Centro Pokémon,
dois criados aparecem e nos pedem para dar nosso Diancie recém adquirido para seu mestre, pois ele é fissurado em Pokémons lindos e blá, blá, blá.
Porra! Eles querem meu Diancie depois de
eu enfrentar minhocas metálicas nos subterrâneos de São Paulo, passar 12 horas
de caminhada com gente me olhando torto ou que provavelmente nem sabe que eu existo, conseguir um dos últimos exemplares, voltar para casa vivo com meu
celular e sem possíveis sequelas, e eles ainda têm a cara de pau de pedir o MEU
Diancie?!
Mas, conforme a historinha continua, o
mestre deles chega e afirma:
“Desculpe-me por atrapalhá-lo. Eu
realmente aprecio os esforços de meus companheiros em conseguirem um Diancie
para mim, mas... [...]
Você somente irá valorizar algo que foi
adquirido por suas próprias ações, seus próprios esforços, ou até mesmo sorte.
E somente então, terá verdadeiramente valor.
Para ser bem sincero, eu o invejo. Mas eu
o parabenizo por conquistar seu Diancie de modo que venham a se tornarem
parceiros. Meus parabéns! A lenda diz que Diancie protege seus companheiros de
eventuais acidentes. Eu lhes desejo boa sorte, e que vocês possam continuar se
aventurando juntos.”
Peço desculpas aos que conseguiram sua
Diancie por sorteios, que clonaram, trocaram no GTS, ou que moravam do lado do local de entrega do evento ou
que receberam sua adorável companheira por meio de algum amigo ou irmão. Para
essas pessoas, o Diancie pode ser só um Pokémon raro com Cherish Ball que provavelmente nunca
mais voltará a ser distribuído. Foi uma chance única, e ao mesmo tempo, uma experiência
única.
Talvez o Diancie realmente tenha sido um
símbolo de proteção para mim, que desconfio até da
própria sombra, e ele me deu a proteção que eu e meus amigos precisávamos. Fui para a grande metrópole, enfrentei todo o tipo de
loucuras para conseguir captura-la, passei por grandes aventuras e, afinal de contas, somente então percebi o porque daquele Diancie ser tão
especial. Posso não ser especial, não fui só eu que tive esforço para consegui-la, pois sei que cada um tem a sua própria história a ser contada. Algumas mais simples, outras mais incríveis, e outas simplesmente aumentadas em mentes que gostam de enxergar o mundo de maneira diferente.
Para todos os guerreiros que conseguiram
suas Diancies no mundo afora, seja por esforço ou por sorte, por códigos ou por trocas; como
dito pelo velho homem; que ela seja especial para vocês que batalharam para conquista-las,
afinal, um treinador deve batalhar por seus Pokémon! E somente então ele será valorizado.
E assim, nossa jornada continua...
E aí? Gostaram dessa pequena crônica do cotidiano? Até onde habita a experiência real, e até onde vai a imaginação? Este, meus caros companheiros, foi um pequeno capítulo especial que elaborei neste último dia de distribuição da Diancie para entreter os velhos seguidores de Sinnoh que ainda curtem minhas histórias de Pokémon. Se você não conseguiu uma Diancie, não perca as esperanças e aguarde por uma futura distribuição. Pode não ser uma Diancie como essa, mas novas chances aparecerão. Você pode tentar trocar Pokémons por ela, mas de uma maneira ou de outra você terá de batalhar para conseguir, e assim, certamente ela também será especial para você — Canas Ominous.