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Posted by : CanasOminous
Oct 22, 2013
Support Conversation (Tom Sawyer x Eva)
Gênero: Amizade;
Tema: Por que alguns animais vivem menos do que os humanos?
Quando um cachorro chega por volta de seus 15 anos, ele morre.
Então amamos essa criaturinha durante 15 anos, só para vê-la morrer?;
Notas: Falando um pouco mais sobre Tom Sawyer
e sua influência dentro da guilda.
e sua influência dentro da guilda.
Outro dia fiquei sabendo que Pokémons vivem menos que humanos. [A maioria das espécies como a minha, pelo menos...]
Tudo bem, isso não é algo muito legal de se saber, e muito menos de se contar. [Eu não deveria ter ficado ouvindo a conversa do meu treinador durante tanto tempo até depois do anoitecer.] Quero dizer, por quê? Qual o motivo? Por que desintegrar a felicidade daqueles que já andam tão preocupados com tantas outras coisas? Por que Arceus não fez com que todos nós vivêssemos a mesma quantidade e compartilhássemos dessa vida juntos?
Por que alguns sempre têm de ir antes?...
Não lembro bem para onde eu queria fugir naquele dia, mas sei que eu não queria parar...
Foi quando tropecei em alguém que estava deitado dormindo debaixo da sombra de uma árvore. Digo, quem é que ainda faz isso? Nunca vi ninguém que visse um belo dia e o escolhesse para cochilar justamente no caminho da rota em fuga de uma garota desesperada. Eu estava com tantos problemas na cabeça que nem vi quando pisei na cara de Tom Sawyer por acidente. Só parei porque o berro de dor dele doeu em meus ouvidos.
— CAIM!! — ele parecia um cãozinho que teve seu rabinho pisado quando dei um pulo sobre ele, mas quase morri de dó depois por aquele acidente.
— S-Sawyer? Me desculpe, eu não tinha visto você aqui, não deu pra te ver atrás da árvore!
— Oxi... Cruz credo, o que foi isso? Parece que eu fui chutado por uma força desconhecida! Deve ser um monstro invisível...
Ele passou a mão em seu rosto machucado depois que eu quase o pisoteei, mas não parecia zangado. Muito pelo contrário, estava mais é preocupado. Comigo.
— Sério, ocê tá bem mesmo, Eva? Num se machucou? Tá parecendo preocupada... Num fica preocupada, não. Foi sem querer, eu não queria ficar no seu caminho...
— Sawyer, o que está dizendo? Eu estou ainda mais deprimida porque acabei de pisar na sua cara, e você ainda está me tratando tão bem! É que eu, eu... Não estou legal, não estou mesmo.
Apoiei-me no tronco da árvore com as mãos no rosto. Eu ainda estava muito atordoada com minhas últimas descobertas, e para piorar, o Sawyer agora tinha sido machucado por uma falha minha e vinha todo contente perguntar das novidades.
— Eva, Eva! Viu só como o dia tá bão dimais da conta? Num fica assim triste não. Dá um sorrisinho maroto pra eu!
— Descobri algumas coisas que eu não devia, Sawyer...
— Ara, então é só bater na caixola e esquecer. Faz que nem eu! Joga fora tudo que não precisa.
Ele sorriu e estendeu a mão para mim.
— Num carece de me chamar de Sawyer. Só Tom tá bom, e meus amigos me chamam de Tommy. Sawyer é o nome do sujeito chique que vive dentro de mim, esse é o inteligente, forte e astuto; mas ele leva a vida de um jeito que num gosto muito... Uso esse só de vez em quando. Gosto mesmo é do Tom. Tom é mais legal.
Até então eu nunca tinha reparado muito naquele Rioluzinho, mas foi naquele dia que eu o conheci melhor. Na realidade, acho engraçado como a presença de Tom passa quase despercebida na guilda, uma vez que ele é um amor de pessoa. Gentil, carinhoso, simpático, sempre leal e fiel, adora brincar. Além do mais, é um guerreiro esplêndido! Aquele é o Sawyer.
O Sawyer não tem medo de batalhas, explosões, e nem de inimigos com o dobro do seu tamanho. Já o lado "Tom" dele parece meio bobão junto das outras pessoas, elas tendem a julgá-lo pela maneira como fala e leva sua vida adiante. Porém, quando você senta e tem a oportunidade de conversar, percebe que esse cãozinho tem algo de especial...
— Tom, me diga... Você tem medo de alguma coisa?
— Oxi, nem me fala! Morro de medo de trovão. Daqueles que faz um barulhão, assim, ó! CABOOM! — ele sonorizava e fazia caras e bocas com muitos gestos. — Também tenho medo de queimadas, de ficar perdido na floresta, e tem algo que é o pior de tudo...
— O que seria? — perguntei curiosa.
— É uma coisa ruim demais da conta... Coisa de Darkrai! Melhor ocê num saber...
— Conte-me, Sawyer!
— Tá bom. Secador de cabelo. Cruz credo, aquele negócio faz um barulhão danado, parece que vai explodir! VOOOOSH-UOOOSH, SHOOOH!
Acabei caindo na risada sem querer, mas por sorte o Tom não se ofendeu. Percebei que ele poderia não temer encarar um exército inteiro em sua frente, mas tinha medos bobos como os secadores de cabelo. Na realidade, lembro que nas guerras da guilda ele sempre estava lá, na linha de frente. O Chaud chegou a protegê-lo algumas vezes, esse garoto praticamente atrai problema, tive medo de que quando eu voltasse ele não estivesse mais na guilda nos esperando, mas por sorte isso nunca aconteceu...
[E espero sinceramente que nunca venha acontecer.]
É como eu havia dito: Por que alguns têm de ir antes? Os últimos dias têm sido difíceis para mim, vi coisas que eu não esperava, fiquei com o coração na mão, prestes a explodir. Naquele dia eu estava desamparada e preocupada. Por ter pisado na cara dele, achei no mínimo justo compartilhar o motivo de minha urgência.
— Ouvi nosso treinador dizer que Pokémons vivem menos que eles...
— Hm — Sawyer balançou a cabeça positivamente.
— E ele se refere a uma média bem maior. Não sei quanto deve ser, e não sou boa nessa parte de cálculos quando o Chaud me ensina, mas... Tenho medo do que possa acontecer num futuro distante.
— Hm — Tom Sawyer balançou a cabeça novamente, estendendo os braços atrás da cabeça e deitando na grama debaixo da árvore.
Ele não devia achar aquilo nada legal, então por que parecia tão tranquilo?
— Sawyer, quando falo sobre viver menos, estou falando de... morrer.
— Oxi, nem me fala dessas coisas ruins, Eva! — ele pareceu libertar-se do transe no mesmo instante. — Isso traz maus presságios...
— É disso que estou dizendo, não consigo aceitar que não poderei estar com meu treinador até o final, quando ele mais precisar...
— Mas ele nunca vai ficar sozinho. Nós temos um montão de gente na guilda! Tem o chefe dragão, o pinguim alado, o atirador maluco, as mulheres bonitas... Ele nunca vai ficar sozinho, Eva, nunquinha.
Sawyer virou-se para mim e segurou minhas duas mãos de maneira que eu não esperava.
— Eu também nunca vou deixar ele ficar sozinho. Nem você.
Fiquei encarando aquele rostinho dele, tão bondoso e inocente, com uma terrível marca de sapato na bochecha esquerda que fazia meu coração doer toda vez que o encarava. Mas ainda assim, ele estava ali, todo sorridente e feliz. Pouco a pouco a dor em meu coração diminuía.
— Quer ouvir um segredo? — Tom perguntou.
— Diga-me.
— Um que ninguém pode saber.
— Pior do que do secador de cabelo? — eu acabei rindo sem querer, e ele acenou:
— Oxi, muito pior!
Sawyer olhou para os lados desconfiado, queria ter certeza de que ninguém estava nos observando naquela colina tão distante da guilda.
— Eu tenho é medo de três coisas: A primeira é de secador de cabelo, como ocê já bem sabe. A segunda é de crescer. E a terceira... É de ficar sozinho.
Sozinho. Ficar sozinho. Esquisito... Aquilo me fez pensar, mergulhar em meus próprios pensamentos por horas, algo que só posso definir agora depois que parei e refleti sobre aquilo durante muito, muito tempo... Pokémons são criaturas desafortunadas, pois ao contrário dos humanos que viram adultos da adolescência, quando alguns Pokémons viram adolescentes, o tempo deles nesta terra se esgota. No fim das contas, acho que eu e o Sawyer tivemos o mesmo medo, mas visto de maneira diferente.
"Olá, meu caro treinador. Tenho 15 anos agora. Já fiz tudo que eu queria e tinha direito: Batalhei, protegi você, amei bastante, brinquei, ri e me diverti mais ainda. Então, agora eu vou morrer."
...Então quer dizer nós gastamos grande parte de nossa vida com os humanos, eles cuidam da gente e nos tratam com carinho e amor, só para nos ver morrer. E não há nada que alguns Pokémons podem fazer para prolongar isso, simplesmente está na nossa natureza... É duro ouvir isso, mas é a realidade. A realidade que vivo tentando evitar.
— Olha só, Evinha, escute com bastante atenção... Se um prometer para o outro que nunca vai deixar o outro sozinho, automaticamente o outro não ficará só pelo fato do outro não estar mais aqui. Oh, falei bunito?
— Acho que deu pra entender — tentei dar-lhe um sorriso doce.
— Se ocê prometer que num vai me deixar sozinho, prometo também num sair do seu lado. Um sempre vai estar aqui pelo outro. — Ele dizia de maneira confortante, sempre tão próximo de mim e com seu sorriso espontâneo. — Ei, quer ouvir mais um segredo?
— Você e seus segredos, Tom Sawyer!
Ele riu encabulado, mas logo falou:
— Eu amo vento! Amo parques! Amo brincar e nadar! Eu sinto medo de um montão de coisas, mas eu amo muito mais. — O Rioluzinho contava-me contente todas aquelas revelações de sua vida particular. Nada que não fosse difícil de se perceber. — Então, o que acha da gente ir dar uma volta e roubar algumas frutas na guilda vizinha?
— Roubar frutas? Mas eles costumam estar armados com espadas, lanças e machados! Têm arcos com flechas afiadas, canhões, armas automáticas e raio laser, tudo para impedir que qualquer invasor passe diante de suas muralhas. Seria muito perigoso!
— E justamente aí tá a graça, Eva! Vem logo, vamos nos divertir de montão!
Vou ser bem sincera, comecei a me interessar mais sobre esse garoto. Um pouco do Tom, um pouco do Sawyer. O sujeito que vive a vida da melhor maneira possível, simplesmente por viver e por estar ali, por fazer as coisas que gosta e tudo que tem direito. Por não ter medo de [quase] nada. Eu quero que o Chaud o conheça, quero que ele também possa ensiná-lo tudo que ensinou para mim e que com o tempo tenhamos um novo aluno na classe, acho que ele não iria se importar...
Quero que o Tom esteja lá conosco, porque até hoje nunca o vi pertencer a nenhum lugar. Ele simplesmente estava aí, feliz da vida, amigo e desconhecido de todos, uma pequena incógnita. Eu me preocupando com os festivais fúnebres precoces de minha morte, e ele se preocupando em, simplesmente, viver.
Pois é. Talvez seja por isso que todos da guilda o admiram tanto. Acho que é porque sua vida não é lógica nem planejada, e sim, um explosivo paradoxo. E sinto que eu nunca conhecerei ninguém tão genuinamente feliz por viver.
Dedicado ao meu amigo, para que ele viva por mais 1.000 anos.
Baseado na história de "Meu Cachorro Paradoxo".
Image by: Aram287