Posted by : CanasOminous Jul 26, 2013

Soundtrack to My Life


— Vou sentir falta daqui...
Luke, Lukas e Dawn estavam lado a lado, cada um deles encarava os altos prédios da cidade que por muito tempo os acolheu como um verdadeiro lar. Lembranças do Hotel Deluxe Heart, da reunião com os Elites, da batalha contra os Rockets, de seu encontro com Cynthia, das competições e das lutas travadas...
Tudo aquilo seria armazenado na memória dos jovens que tratavam aquela despedida como a perda de um verdadeiro amigo que ficava para trás, mas ainda os acompanharia para sempre em seus corações. Hearthome fora sem sombra de dúvidas o local agraciado pela melhor visita de suas vidas, e eles sabiam que não voltariam para lá tão cedo.
— Se Hearthome fosse uma mulher, eu teria dado um beijo nela — disse Luke com uma risada, fazendo Dawn dar-lhe um empurrão.
— Agora começou com essa mania de dar vida para tudo? Pra você tudo quanto é coisa tem vida agora! Só falta você imaginar que Hearthome seria uma moça alta, peituda e de um imeeenso coração! Vai criar a personalidade dela também?
— Poxa, vocês não sabem brincar mesmo, hein... — respondeu Luke, terminando de arrumar sua mala e ajeitando a mochila nas costas. — Vamos nessa, galera. Temos um longo caminho a percorrer até Sunyshore.
Os três deixaram o portão da cidade, mas teimavam em olhar para trás com o sentimento de que a cidade acenava para eles e sorria de maneira angelical, desejando que pudesse vê-los o quanto antes, e acima de tudo, que jamais esquecessem os dias passados sob seus cuidados.
Eles tomariam um caminho já percorrido. Passariam pela Rota 209 mais uma vez, seguiriam por Solaceon até Veilstone, e de lá alcançariam o Hotel Grand Lake na Rota 213, passando pelo Valor Lakefront em direção da Rota 222, a última estrada antes de Sunyshore. A partir daquele ponto os Irmãos Wallers já estariam em território conhecido. Haviam morado grande parte de sua infância naquela cidade, os arredores eram repletos de lembranças e traziam consigo a ansiedade de vê-los mais uma vez.
Logo na saída para a Rota 209, Dawn surpreendeu-se ao notar que Cynthia os aguardava de malas prontas. A ex-campeã estava repleta de bagagens e parecia preparar-se para sair de férias durante muito tempo. Quando avistou a garota, ela correu em sua direção como se somente a aguardasse.
 — Ei, Dawn! Eu estava te esperando. Fiz o possível para vir despedir-me antes que vocês deixassem a cidade.
Luke lançou um olhar primeiro para as malas arrumadas da ex-campeã, e depois para o sorriso que sempre se formava no rosto de Dawn quando elas se encontravam. Naquela longa semana na cidade, Luke viu sua garota estar mais feliz do que nunca.
— Você pretende ir com a gente? — perguntou Dawn.
— Infelizmente, não. Daqui para frente voltarei a trilhar meu caminho, e quero deixar com que vocês descubram todas as surpresas que uma aventura pode proporcionar.
A ex-campeã voltou-se para Luke e sorriu, ajeitando a boina na cabeça do menino.
— E você, jovem Lukas.
— Luke. — Corrigiu ele.
Cynthia riu, pois sempre confundia os dois.
— Você é quem vai competir pela última insígnia, não? O Volkner é um líder de ginásio formidável, mas acredito em seu potencial para derrotá-lo. Teríamos tido uma luta incrível se eu ainda detivesse o posto, mas não estou. Espero que possamos batalhar algum dia.
— Nós iremos, quem sabe — Luke sorriu em resposta.
— Sigam seus sonhos, crianças. Eu já realizei o mais importante dos meus, mas nunca devemos parar de procurar por novos! Suba lá e torne-se o campeão. Vá lá e seja o melhor coordenador do mundo. Siga em frente e, simplesmente, viva.
Cynthia voltou a carregar suas malas, pedindo que um grande Gastrodon e sua Roserade a ajudasse na viagem. A loira deu um beijo no rosto de cada um antes de distanciar-se e acenar com carinho.
— Ainda nos veremos antes do fim.
E seguiu de volta para a cidade antes que seu voo se atrasasse.
Luke olhou para Dawn que tinha uma feição apaixonada. Há tempos ela tinha aquela expressão estampada, na realidade era desde que eles haviam chegado à Hearthome e encontrado Cynthia. Agora que a loira ia embora, parecia que um pedaço da equipe havia partido.
— Você gostava dela?
Dawn virou-se para Luke ao ouvir aquilo.
— O que disse?
— Você sabe... A Cynthia. Tipo, você gostava muito dela, no sentido de gostar, gostar mesmo, entende? — Luke enfiou as mãos no bolso e olhou ao redor. — Por que você não vai com ela?
A menina arregalou os olhos.
— O que você está dizendo?
— Bem, você sempre quis tornar-se pesquisadora, e a Cynthia é provavelmente a melhor de Sinnoh. Ela te ensinou coisas novas, em uma semana ela tornou sua vida mais produtiva do que todo esse tempo desde que nos conhecemos! Vocês duas se dariam muito bem viajando juntas...
Dawn olhou para a sombra de Cynthia que já se distanciava no horizonte.
— Sabe, isso teria sido muito legal, mas... Eu comecei essa jornada com vocês, quero terminá-la com vocês — disse a garota, segurando na mão do rapaz e dando-lhe um selinho no rosto. — Só não me diga que você estava com ciúmes?
— Eu? Com ciúmes de uma mulher? Tu tá doida?! Só porque a Cynthia é linda, tem tudo que sempre quis, exala bondade e bom humor, também tem um Garchomp, e ama o que faz acima de tudo? Psshhtt... Nada a ver. Nada a ver. — Luke remexeu-se com uma risada exagerada, pegando suas coisas e voltando a caminhar.
Quando Lukas passava ao seu lado, seu irmão não hesitou em perguntar:
— Psiu, não conta pra Dawn cara, mas... Me responde uma coisa... Acha que eu sou um bom partido?
— Isso é a mesma coisa que perguntar se eu escolheria você ou a Cynthia — Lukas respondeu com um sorriso meigo, abaixando a boina de Luke e deixando-o sem ver por onde andava. — Deixa de ciúmes e cuida logo da namorada linda que você tem. Ela te adora. E eu também, irmão.

A partir daquele ponto, o caminho não teria mais volta.
Era uma jornada longa e cansativa de cinco dias até o outro lado da região, seguindo um ritmo tranquilo e sem pressa. Os irmãos Wallers estariam fazendo de volta uma rota já percorrida, e cada ponto marcado despertava a nostalgia intensa em seus corações de que tudo aquilo havia passado. Agora restava apenas a reta final, o sentimento de um dever cumprido que aproximava-se cada vez mais.
Eles estavam exaustos. Não fisicamente, mas psicologicamente. Sair na aventura de suas vidas era o maior sonho de qualquer criança, mas isso sempre requereu muito de sua potência. Eles precisavam esforçar-se para conseguir o que mais queriam, precisavam deixar de lado as mordomias e o conforto para ir atrás daquilo que mais desejavam.
Era uma exaustão do sacrifício, de algo que valera à pena. Voltar para Sunyshore seria como regressar à casa após tantos anos. Mesmo que não morassem mais em sua cidade natal, ela ainda lhe trazia lembranças de quando os jovens ficavam a encarar o céu noturno por muito tempo, sem problema algum para preocupar-se. Era com pesar que as estrelas estavam todas ocultadas por nuvens espessas que anunciariam a chegada de uma frente fria nos próximos dias, mas nem isso poderia diminuir o ânimo dos viajantes.
— O que pretende fazer quando chegar em Sunyshore? — perguntou Lukas, deitado na grama encarando o céu nublado enquanto seu irmão se escondia em seu saco de dormir e refletia profundamente sobre aquilo.
— Para ser sincero, eu não sei. Não quero desafiar o Volkner...
Lukas sentou-se para encará-lo mais de perto, sentindo o conforto e o cheiro tão característico de seu irmão, impregnado nos cobertores envelhecidos. O moreno perguntou:
— Por quê? Você está com medo de enfrentá-lo?
— Não é isso... — Luke suspirou, notando que não havia maldade na voz do irmão, apenas preocupação. — Tenho medo é de saber como será minha vida depois disso tudo. Depois da oitava insígnia, depois da Liga, depois de ser campeão...
— Isso está meio longe para pensar agora, não? — indagou Lukas. — E você não viu como a Cynthia está feliz? Ela percorreu exatamente o mesmo caminho que você, e depois de tanto tempo continua sonhando!
— Ela é uma verdadeira fonte de inspiração... — comentou Luke. — Mas cada ser humano possui uma vida diferente, uma maneira diferente de traçá-la... Cara, pra falar a verdade... Eu não queria terminar...
Lukas soltou um suspiro e voltou a deitar-se, encarando o céu escuro iluminado apenas pelas brasas da fogueira do lado de fora. Ele aninhou-se em seu cobertor, e mesmo não tendo uma resposta encorajadora, sabia que precisava fazer com que seu irmão encarasse o que haveria dali em diante.
— É como pensar no sentido da vida. Qual o sentido disso tudo, se no fim vamos todos morrer?
— Já refleti sobre coisas assim... E quanto mais penso, mais revoltado e confuso eu fico — respondeu Luke um pouco incomodado, virando-se para seu lado e fechando os olhos. — Deixa esse assunto de lado... Boa noite, Lukas.
— Luke — ele chamou uma última vez. — Faça com que tudo isso valha a pena. Um dia todos nós teremos de encarar o fim, mas não quer dizer que o fim seja necessariamente o “fim”. A vida continua, sabe aonde? Na memória das pessoas, irmão. Nas lembranças delas. Nós seremos lembrados.
Lukas ajeitou-se em sua cama, e por fim fechou os olhos para também tentar adormecer.
— Nós seremos lembrados...

A equipe já se aproximava do Valor Lakefront após cinco dias de viagem exaustiva. Eles não haviam feito paradas para compras ou rever velhos amigos. Tinham um objetivo, e só parariam quando Sunyshore chegasse. Enfrentaram treinadores que ficavam cada vez mais poderosos devido à Liga Pokémon que chegaria no fim do ano. Os desafios aumentavam, e cada vez mais eles precisavam preparar-se para tudo que estava por vir.
A Rota 222 estava logo a sua frente, um caminho lindo que seguia pela costa acompanhado de palmeiras e uma belíssima visão do mar. A partir dali os jovens estariam entrando em território da cidade mais almejada e ensolarada de Sinnoh. Sunyshore era uma referência com suas luzes e o clima sempre belo que predominava o ano inteiro.
Mas justamente aquela semana estava, estranhamente, muito mais gelada. Parecia que uma tempestade de aproximava, e o tempo ruim não estava disposto a ir embora tão cedo.


— Essa maldita cidade faz sol o ano inteiro, as noites são abafadas e as manhãs insuportáveis. Quando saímos da escola íamos direto dar um pulo na piscina. E hoje, quando estou me preparando para a batalha da minha vida, Arceus decide mandar um dilúvio de novo!! Culpa de Tornadus e Thundurus que devem estar querendo descontar na gente!! — Luke praguejava em vão.
— Eu adoraria ter visto essas praias cheias e movimentas, mas o mar também está meio turbulento... Fica para a próxima, Luke — dizia Dawn na tentativa de acalmá-lo.
Os jovens agora caminhavam bem próximos, cada qual com seu devido guarda chuva a ocultar-lhe a face. Era uma daquelas chuvinhas fracas que não molham, mas te obrigam a proteger-se. Eles esperavam encontrar algum abrigo em pousadas da costa, pois as palmeiras balançavam com força e anunciavam a chegada de uma tempestade ainda mais forte nas próximas horas.
Enquanto andavam, puderam notar que um casal caminhava junto, de mãos dadas, seguindo a passos curtos e lentos na praia. Eles pareciam não ligar para a chuva e nem para quem os observava, pois estavam juntinhos observando o mar, sentindo algumas gotas frias passarem sua barreira e tocar-lhe o corpo quente em contato com o parceiro amado.
Quando Lukas os viu, ficou encarando-os de longe por um tempo.
— Algumas pessoas não precisam ter um dia belo e ensolarado para serem felizes, não? — disse Dawn com um sorriso ao seu lado.
— Sim... Eu queria ter todos os meus amigos aqui por perto para clarear o meu dia também. Este seria o maior desejo.
Os três rumaram a uma pousada na beira da praia. No momento estava vazia e sem movimento, até porque eles estavam fora da temporada de turistas e o mal tempo havia feito questão de espantar o restante deles. Luke alugou um quarto pequeno com o dinheiro que tinham, e como nos velhos tempos ele parecia não importar-se de dormir no sofá contanto que Dawn tivesse uma boa noite de sono.
— Por que não dormimos juntos na cama? Ela é de casal, eu não iria ocupá-la inteira — dizia a moça com um ar sedutor, tocando seu indicador levemente sobre o peito do rapaz.
— Qual é, Dawn... Meu irmão está junto, ia ficar um clima meio estranho. Nós não vemos a Paula dando uns amassos nele, e nem espero ver.
— Tudo bem, tudo bem... Mas se começar a trovejar eu irei colocar vocês dois juntos comigo. Sempre tive esse medo de trovões e barulho alto...
Após guardarem suas bagagens e verem como era o quarto, os jovens seguiram até o pequeno salão de entrada decorado com uma madeira típica da costa e com lampiões de querosene brilhando fracos na varanda.
Luke e Lukas estavam sentados do lado de fora, ouvindo os pingos de chuva e observando as ondas irem e virem na areia pertinho da praia. Foi então que aquele mesmo casal do guarda chuva aproximou-se, eles estavam escondidos debaixo das asas do equipamento, e quando alcançaram a pousada, Lukas fixou seu olhar nos dois.
Quando o guarda chuva foi fechado, o rapaz revelou um sorriso que mal cabia em seu rosto.
— Vivian? Stanley?
A ruiva tinha o cabelo encharcado e as botas amarelas molhadas. Estava de mãos dadas com um loiro ao seu lado, mas ao ter aquela agradável surpresa os dois imediatamente se soltaram. Era impossível dizer se ela chorava, ou o dia chuvoso havia deixado seu rosto úmido e encoberto por lágrimas de felicidade.
— L-Lucky? Dawn? M-Meu Lukinhas?!
Vivian deu um salto, pulando diretamente na cadeira de balanço que seus amigos estavam sentados ao ponto de derrubá-la. Sua voz alta era a única ouvida por todos os arredores da pousada, e Stanley ainda estava surpreso com aquele encontro tão oportuno.
Vivian segurava no rosto de Lukas com carinho e ternura. Ela o apertava como se tivesse medo de deixá-lo escapar, e sua voz rouca não conseguia esconder a felicidade sentida.
— M-Meu Arceus, são vocês mesmo! São vocês! Eu estive com tanta, tanta, tanta saudade, é impossível medi-la!! Eu nem sabia que vocês estavam vindo para Sunyshore!! Que dia horrível para encontrar-se, mas que momento maravilhoso para ver vocês todos do nosso lado mais uma vez!!!
— Vivian, você está linda, parece que seu cabelo foi tingido com o brilho do sol — elogiou Lukas, abraçando a amiga como se não houvesse amanhã. — Meu desejo foi realizado... Obrigado.
Os cinco logo entraram na pousada, deixando lá fora o frio e os guarda chuvas molhados. Seguiram direto para o quarto alugado onde poderiam finalmente conversar e falar mais sobre tudo que acontecera. Eram eles, Vivian Chevalier e Stanley Tycoon, os rivais mais antigos e adorados pelos Irmãos Wallers, e também seus melhores amigos.


Stanley sentou-se em uma poltrona como um velho que precisa de descanso, enquanto Vivian pulava de um lado para o outro na pequena cômoda que mal parecia suportar cinco adolescentes agitados lá dentro. A ruiva foi se esgueirando atrás do loiro até agarrá-lo por trás, não contendo a felicidade e o ânimo em encontrar seus amigos mais uma vez.
— Stan, Stan, Stan!! Não estou conseguindo acreditar, estou tãooooo feliz!
— Isso foi bem inesperado mesmo. Há quanto tempo não nos víamos? Acho que foi em Pastoria a última vez, e ainda nos dispersamos com aquele clima tenso após a batalha de ginásio... — o loiro tentava relembrar os momentos quando Luke sorriu e acenou.
— Ihh, cara, passado, passado. Vamos deixar tudo isso de lado e aproveitar as coisas boas que chegaram agora! Era de vocês que precisávamos para alegrar o nosso dia cinza e chuvoso.
Vivian deu um pulo na direção de Dawn que estava sentada sobre a cama.
— Menina, seu cabelo cresceu!! Ficou lindo! Eu deixei o meu mais curtinho e dei uma repicada, curtiu?!
— Adorei, Vivi! E você também está mais alta, encorpada, e... com peitões! O que você fez para deixá-los desse tamanho? E essas coxas?? O Stan está te fazendo correr muito atrás dele?— brincava Dawn ao fazer cócegas na amiga.
— Hah, hah, hah... Esse aqui? Ihh, eu é que sou o homem da relação! Ele não se mexe para nada. É tipo um pseudo-príncipe encantado, mas por enquanto dá pro gasto! Loiro, de olhos cor de mel, atencioso e carinhoso... Fala se não é descrição de um príncipe? Aí chega na hora e a gente se depara com esse bicho feio, magricela e cara de bobo.
Stanley e Vivian trocaram olhares raivosos por um instante, antes que a moça disparasse em sua direção e o enforcasse com o braço fazendo-o perder o fôlego.
— Tô brincando, meu Tamagotchi desengonçado!
— Ruiva, sua maneira de demonstrar carinho é contagiante — dizia Stanley, que apesar de ter um olhar enfurecido não escondia que estava adorando aquilo.
Lukas ajeitou-se em sua poltrona ao perguntar:
— Vocês estão namorando...?
A resposta veio antes do que ele esperava.
— NÃO!! Não, não, não, nunca, jamais!! — Vivian negava com todas as forças. — Eu estive só me preparando para recebê-lo, meu querido, esse tempo todo eu estava ao seu aguardo, eu jamais iria traí-lo!!
— Mas eu lembro de ter visto vocês dois caminharem de mãos dadas na praia.
Vivian prendeu a respiração e ficou ali, sem ter o que dizer. Voltou a olhar para Stanley que tinha o olhar baixo, mordendo os lábios inferiores como se demonstrasse certa angústia. Vivian olhou para ele, e depois para Lukas, e depois voltou a encará-lo. Sentiu vontade de chorar de novo, mas agora sabia que não era mais por felicidade.
— L-Lukas-kun, me desculpe, eu... Não consegui te esperar.
— Então vocês estão namorando mesmo? Que arraso!! — disse Dawn empolgada, tentando cortar o clima. — Eu e o Luke também estamos, parece que todos nós estamos compromissados agora!
— É, mas eu acabo de negar que namoro na frente do meu próprio namorado — disse Vivian entristecida, voltando a encarar Stanley. — Me desculpa, loiru. Eu falei sem pensar... Sempre falo.
— Ah, tudo bem, eu... Já tô acostumado. — Stanley coçou a cabeça, demonstrando claramente que ainda estava constrangido.
O clima ficou tenso por alguns minutos até que Lukas perguntasse.
— Mas Vivian, notei que você não reparou que eu estava me aproximando. Quero dizer, lembra quando você costumava sentir o meu cheiro há centenas de quilômetros? O que houve dessa vez que eu passei quase do seu lado e você nem reparou?
— E-E-E-E-Eu não sei... Não sei o que está acontecendo comigo, não sei!!
Lukas sorriu em resposta.
— Eu sei. Você está amando.
Stanley ergueu seu olhar em direção do garoto, e Lukas continuou:
— Amando loucamente, apaixonadamente, perdidamente. A pessoa que você jamais imaginou ser capaz de sentir algo. É normal que dois viajantes que seguem viagem sozinhos sintam algo especial um pelo outro. A verdade é que você ainda consegue sentir e localizar uma pessoa mesmo há quilômetros de distância, mas agora essa pessoa está do seu lado! Você não sabe como fico feliz com essa notícia.
— Aí, Stan! Conseguiu domar essa guerreira!! Não vai deixar ela tomar conta da relação, hein?  — brincou Luke, dando um tapa na cabeça do rival.
Vivian e Stanley trocavam olhares, extremamente corados. Mais uma vez a ruiva falou:
— M-Mas Lukas-kun, e você? Eu sou sua companheira eterna, vi você crescer, eu te carreguei no colo, (apesar de termos a mesma idade) não posso suportar a ideia de que você está sozinho!!
Lukas revirou os olhos e sorriu:
— Eu não estou mais sozinho, Vivian.
Lukas segurou em seu colar que começou a brilhar com uma luz fraca. A chuva lá fora continuava, e foi muito de repente que uma mulher alta e de longos cabelos rosados entrou no quarto, já apertado pela quantidade de pessoas lá dentro.
Vivian e Paula trocaram olhares por segundos que pareceram durar horas. Luke sentiu seu coração palpitar, nem ele imaginava como seria o encontro daquelas duas. Esperava que um holocausto fosse iniciado, ou que talvez elas pulassem na lama do lado de fora socando a outra na cara e puxando o cabelo até que uma das duas simplesmente deixasse de existir.
Mas Paula apenas encarou a ruiva. Vivian estava sem saber o que dizer, e com uma conclusão oposta a tudo que teriam imaginado, Paula riu com a presença da garota e acenou com a cabeça:
— Você tem um sorriso lindo — disse a Guardiã do Espaço.
Estranhamente, aquele encontro havia sido muito diferente do que todos esperavam. Não houve bombas, não houve fogo, não houveram batalhas e muito menos gritarias exageradas para todos os lados, como era de costume.
Era impossível dizer se tratava-se de alguma espécie de magia negra, ou se Vivian estava enfeitiçada para não causar todo aquele alvoroço que sua reputação dizia. A ruiva olhou para o chão e depois ajeitou o cabelo atrás da orelha com uma risadinha oprimida.
— Obrigada. Seus cabelos também parecem pérolas! Dá pra contar onde você pinta? Não que eu queira mudar o meu, mas é sempre legal dar uma variada.
— É natural — Paula respondeu — Você é a Lendária Ruiva de quem tanto me falaram... Vou te dizer, eu esperava encontrar uma hidra de sete cabeças e dentes afiados pelo terror psicológico que fizeram em mim quando fosse vê-la pela primeira vez.
— Quem disse essas bruxarias?! — indagou Vivian, revoltada. — Foi você, Lucky-chan?? Comece a correr moleque, vou te mostrar que minha hidra já tem umas 100 cabeças para acabar com você!!

Passaram-se algumas horas, e pouco a pouco os jovens iam se soltando como nos velhos tempos em que eles, e apenas eles, seguiam suas jornadas em busca de seus sonhos. Era um clima manso e honesto, de pessoas que não queriam esconder seus segredos, completamente embriagadas pela amizade e com o desejo de apenas compartilhar um pouquinho de sua vida com quem lhe era importante. Eles estavam em uma das varandas cobertas da pousada, estavam apenas eles ali. Ficavam deitados sobre grandes sofás repletos de almofadas numa roda de modo que cada um fizesse parte daquele grupo, e ninguém ficasse excluído, nem mesmo Paula.


A chuva continuava fraca lá fora. Luke acendera um lampião, ajeitando os móveis para que todos pudessem sentar-se em um círculo e conversassem a noite toda. Lukas pediu para que a recepção trouxesse alguns frutos do mar para petiscos, e Stanley revelara algumas latinhas de refrigerante para que todos tirassem aquele gosto salgado da boca.
Estavam todos reunidos ali, melhores amigos, cada qual com seu devido parceiro. Tudo parecia tão diferente, mas ao mesmo tempo, novo. Pareciam velhos de meia idade com suas esposas que ao reencontrar os velhos amigos ficavam relembrados das desventuras que causavam na época da juventude, ainda que tudo aquilo fosse tão recente na memória deles. Sabiam que os dias já não eram como antes, mas não seria por isso que eles deixariam de se divertir. A noite estava apenas começando.
— Minha nossa, e vocês tinham de ter visto a cara da Dawn quando eu pulei da cachoeira da Rota 208! Naquele dia a gente encontrou vocês, mas alguns minutos antes a gente e beijou pela primeira vez — dizia Luke empolgado, abocanhando mais um salgadinho enquanto ria ao lembrar-se de tudo aquilo.
— E você fazia graça de mim por ter perdido o BV pela primeira vez com quinze anos — relembrou ela, dando um empurrão no namorado.
Vivian quase deu um salto da cama.
— Uow!! Só com quinze?!! Caramba, hein, Dawn! Quase que ficou para titia!!
— Não dê corda para ele, Vivi! Desculpa se não sou dessa geração de vocês que sai aí beijando qualquer pessoa antes mesmo de saber soletrar o próprio nome.
— Okay, okay, admito que a minha primeira vez foi bem esquisita. Eu beijei uma prima minha. É meio esquisito de falar, mas foi um acidente. Acabou rolando — disse Vivian, apontando uma lanterna para seu rosto como se fosse contar uma história de terror. Ela ficou em silêncio antes de gritar: — Parem de olhar para mim como se eu fosse uma alienígena!! Eu já disse que foi um acidente!
— Todos nós possuímos segredos — comentou Lukas, deitado no colo de sua companheira. — Gosto de ouvir o segredo dos outros quando eles estão dispostos a compartilhar. É como se eles depositassem confiança em nós a ponto de revelar qualquer coisa.
Vivian soltou um suspiro, e quando estava para dizer algo um forte raio surgiu, seguido de um trovão que abalou toda a estrutura da pousada. Dawn encolheu-se nos braços de Luke. A ruiva deu uma risada sinistra e pegou uma lanterna.
— E já que estamos falando sobre coisas embaraçosas, vamos fazer o jogo da verdade ou desafio. Está na hora de descobrir coisas horríveis a respeito de cada um de vocês! Mua, hah, hah, hah!!
— Nãooo, isso é pior do que história de terror! — lamentou Dawn.
— Sabem como se joga isso? — questionou Stanley.
— Você deve desafiar a pessoa a dizer uma verdade? — perguntou Paula, acariciando os cabelos macios de Lukas que estava deitado em seu colo. Ele explicou melhor.
— Tipo isso. O jogador tem de escolher entre dizer a verdade, ou completar um desafio dado pela pessoa que fez a questão.
— Que brincadeira maldosa, mas ao mesmo tempo, muito interessante... — respondeu Paula com certa curiosidade.
— Começa aí, Ruiva — continuou Stanley.
— Eu adorava brincar disso com minhas primas de Azalea, algumas chegavam a sair chorando, outras caíam na porrada! Adoro essa brincadeira. Que os jogos comecem.
Vivian rodou uma garrafa pet no chão que apontou para ela própria e Dawn que estava do outro lado. A ruiva teria de fazer uma pergunta e Dawn tinha de respondê-la. Ela pensou, pensou, pensou, e por fim olhou em direção da moça e riu.
— Qual o hábito mais irritante que seu namorado tem? Vamos descobrir algumas coisinhas do Lucky-chan. Hih, hih, hih...
Dawn ajeitou-se em seu lugar.
— Bom, ele olha muito para outras garotas... Mas acho que o mais irritante mesmo é ele ter ciúmes de mim com outras mulheres.
Stanley caiu na risada ao ouvir aquilo.
— Fala sério, Lucky! Ciúmes da sua garota com outra garota?
— Manolo, tu não sabe, é que você não viu a loiraça que estava dando em cima dela! Tenho todos os motivos do mundo para desconfiar... Minha vez de perguntar. Dawn, você já beijou outra mulher?
A garota parou e começou a suar frio. Até mesmo Vivian ficou mais apreensiva e Lukas chegou a levantar-se quando ela demorou a dar uma resposta.
— Bem, eu... Nem está na sua vez!!
— Ou diga a verdade, ou...
— Vai um desafio.
Seus amigos se entreolharam, e depois Luke caiu na risada.
— Tá bem, tá bem. Fique com seus segredinhos. Vai lá no balconista e pede mais uns três refrigerantes... Vai um fácil só dessa vez.
Dawn acenou e logo deixou a sala. Stanley perguntou no mesmo instante:
— Quem era a loira?
— Maldita Cynthia, o charme dela cativa até as outras mulheres...
Assim que Dawn retornou com os refrigerantes, a brincadeira continuaria.
Stanley teria de perguntar algo para Lukas.
— Você já fez xixi na calça por não ter tido tempo de ir ao banheiro?
— Que pergunta ridícula! Só quando eu era muito pequeno, mas isso conta?!
Paula deu uma risadinha.
Em seguida, era ela quem estaria fazendo uma pergunta para Luke.
— Se você tivesse apenas 24 horas de vida, o que faria?
— Cara, isso é bem difícil... Costumo viver meus dias sempre esperando o amanhã, sempre formulando projetos, então não sei se eu seria capaz de aproveitar como devo. Mas para ser bem sincero, eu poderia passa-lo aqui com vocês, nessa roda de amigos, exatamente como estamos!
Outro trovão ribombou lá fora quando Luke rodou a garrafa que agora apontava para Vivian e Dawn, mais uma vez. Era a ruiva quem faria a pergunta.
— Olha lá, hein? Você já me colocou em uma cilada agora há pouco...
— Tranquila, fofa. Você já traiu seu namorado?
— VIVIAN!
— Pessoal, não é por nada, mas acho que vocês estão inventando algumas regras, e... — Stanley estava encolhido em seu canto até Vivian sufoca-lo com uma almofada.
— Pssssssht!! Calado. Minha brincadeira, minhas regras. O jogo é meu e eu faço o que eu quiser. Tô louca é para fazer uma pergunta para a Paulinha, me aguarde... Opa, tenho que desafiar a Dawn a fazer alguma coisa, né? Deixa eu ver...
Logo Dawn estava aceitando mais um desafio, imitando um Ducklett no meio da praia debaixo da chuva enquanto seus amigos riam.
— Já chega, galera. Está congelado lá fora. Entra logo, Dawn, você vai pegar um resfriado com essa chuva — disse Luke, cobrindo a moça com uma toalha e abraçando-a para que pudesse aquecer-se.
A garrafa girou muitas, muitas vezes. As horas se passavam e os jovens mal notavam, queriam que o tempo tivesse parado ali para sempre. Eles riam e falavam alto, a equipe da recepção veio reclamar duas vezes, mas não havia praticamente ninguém na pousada e eles continuavam a rir da brincadeira.
Na próxima vez que a garrafa foi girada, seriam os gêmeos os participantes.
— Tudo bem, irmão — disse Lukas. — Qual a coisa mais constrangedora que você já fez?
Luke deu uma risada na hora, como se soubesse exatamente o que contar.
— Cara, tinha uma mocinha que era apaixonada por mim no colegial... Aí ela me chamou para ir em uma festa junina... Estava bem frio, que nem hoje, e eu falei: Hoje está frio, não? Então ela esticou as mãos para que pudesse me esquentar, e eu dei um tapa na mão dela ao gritar: TCHUUU!!! Brincadeirinha!!!
Seus amigos não se aguentaram de rir com aquela confissão, e até mesmo Paula não escondia o riso.
— Que maldade! — disse a mulher.
— Ahh, qual é, nós éramos só amigos, ela é quem queria ir além! Putz grilla, tem outra!! E foi recentemente ainda! Eu tava indo pro banheiro do shopping quando vi uma loira linda sentada em uma banqueta lá perto. Eu fiquei encarando a moça, e ela também retribuiu o olhar. Mas o foda é que eu nem tinha me tocado que eu tava secando ela, foi acidente, eu juro! Aí ela sorriu, e eu sorri de volta...
— Eu lembro dessa!! — continuou Lukas. — Então o Luke veio até mim com um sorriso de orelha a orelha, e falou: Cara, vi uma mina mó gata no banheiro agora há pouco. Ela sorriu para mim, e quando eu sorri de volta ela caiu na risada. Deve ter me achado atraente! Eu fiquei prestando atenção no rosto do meu irmão e eu respondi: Nossa, você está com um pedaço de carne no meio do dente.
— É assim que faz as minas caírem na risada. Gosto de fazê-las sorrir. Em compensação, minha reputação já era. Espero nunca mais encontrar aquela mulher...
Até mesmo Luke ria da gafe que cometera, tanto que compartilhava aquela experiência com seus amigos. Eram muitas revelações para uma noite só. Os trovões continuavam soando ameaçadores do lado de fora, mas por um instante todos haviam se esquecido que eles estavam lá.
Luke pegou a garrafa e girou:
— Beleza, galera. Já é quase meia noite e nós estamos fazendo barulho demais, vamos amenizar. Essa é a última antes da gente pensar em outra coisa para brincar.
A garrafa parou, e mais uma vez apontou para Vivian e Dawn fazendo com que todos os demais já imaginassem o que viria.
— Por favor, Vivian, seja bondosa comigo...
— Você já foi “íntima” de alguém em algum lugar público?” Hah, hah, hah...
Dawn passou a mão em seus cabelos já aceitando a derrota.
— Okay, chega. Estou cansada de responder. Manda um desafio logo.
— YES!! Eu sou a mestra das perguntas embaraçosas!! É por isso que todo mundo detesta brincar disso comigo! É que nem jogar dois ou um de dois, eu sempre ganho! Deixa eu ver, deixar eu ver... Hm... Já sei!! Eu desafio você a tomar banho com todos nós juntos!!
— Atchôo!! — a garota espirrou, limpando o nariz. — Como é?
Por um instante todos os olhares se voltaram para Vivian que cruzou as pernas e esticou os braços no sofá.
— Yeah, vamos tomar banho todos juntos! Foi culpa minha você ter saído na chuva lá fora imitando todo tipo de Pokémon existente, e depois ficou tomando refrigerante gelado e tomando friagem na varanda. Agora você está resfriada por minha causa, vou ficar tristinha! Vamos arcar com as consequências, vamos entrar no ôfuro da pousada!!!
— Ôfuro? — indagou Paula.
— É tipo uma hidromassagem... Meio íntima. O certo mesmo é jacuzzi, mas é melhor não contrariarmos a Vivian... — disse Lukas com uma risada.
— Vamos lá, galera, nós fizemos algo parecido quando estávamos em Hearthome, e nem faz muito tempo!! Gente, sorry por morrer de amores por banheiras, mas é tãoooo sexy!
Por um instante o silêncio prevaleceu, mas Stanley que estivera quieto até então coçou a cabeça a sorriu.
— Eu topo.
— Você mudou mesmo, hein? Aprendeu a seguir o ritmo da Vivian? — brincou Luke, notando que Dawn realmente precisava de um banho quente, e ele não perderia aquela oportunidade por nada. — Eu também apoio a ideia, seria muito... divertido.
— YEAH!! Lukas-kun, só falta você e a Paulinha.
— Bem, eu... — o garoto revirou os olhos, vendo na expressão de sua companheira que ela também parecia muito interessada em experimentar algo novo. — Que mal tem, né?
Os jovens saíram do quarto e seguiram até um dos pequenos salões da pousada. De fato, havia uma banheira ali. Vivian sabia porque já estava hospedada lá há um pouco mais de tempo, e finalmente encontrara companhia para experimentá-las como tanto sonhara.


— Eu pensei em vir com Stanley, mas fiquei com medo dele me atacar e perder o controle. É que eu sou muito gostosa, sabe? Aí eu seria obrigada a ficar com ele — dizia a ruiva, já vestida apenas de toalha de banho para entrar no ôfuro.
— Isso se não fosse o oposto, né... É mais provável que você é quem enlouquecesse aí dentro — disse o loiro com uma risada, segurando num dos braços de Vivian que voltou-se para ele e chegou bem pertinho de seu rosto.
— Ora, ora, está ficando animado? Saca ó a beleza do meu corpitcho!
Vivian virou-se para ele a arrancou a toalha.
Luke e Stanley gritaram de medo.
— Auuuuuuugh!! Não, não, não!! Eu não quero ver o que você tem aí embaixo, Vivian!!! Cubra já isso, e... Ah, você está com roupa de banho.
— Claro que estou, seus mané. Não queria que todo mundo ficasse pelado aqui, né? Só faço isso com minhas primas de Azalea, machos são forbidden. Vamos logo, vistam-se. Sou eu que não quer ver o que vocês, homens, têm guardado aí. Por enquanto.
Vivian finalmente entrou na banheira, seguida de Dawn, Stanley, Luke e Lukas. Quando Paula preparou-se para entrar, o ôfuro praticamente já transbordava, e com a altura da mulher tudo chegou ao seu limite e água escorreu para todos os lados, fazendo os demais rirem.
— Opa — disse Paula um pouco sem graça.
— Caramba!! Tá meio gordinha, hein, amiga? — caçoou Vivian.
— Ah, me desculpe, é que os meus peitos são um pouco grandes — respondeu a mulher levantando-os para cima e para baixo, uma vez que Vivian não tinha nada daquilo para glorificar-se. Lukas ria enquanto seu irmão segurava um sangramento nasal.
— Saquei, saquei... Então o Lukas-kun sempre curtiu mulheres turbinadas... É por isso que eu nunca consegui nada — comentou Vivian um pouco arrependida. — Pega nada, sempre tem alguém que curte uma vareta. Né, Loiro?
— Não sei de nada... — respondeu Stanley.
Luke ajeitou-se mais ao lado de Dawn, de modo que pudesse sentir os contornos de seu corpo e envolvê-la com carinho. Ele voltou seu olhar para seus rivais e perguntou:
— Mas me diga aí, vocês dois. Também estavam indo para Sunyshore?
— Na verdade estávamos saindo de lá — respondeu Stanley. — Eu... Eu perdi para o Volkner.
Luke quase gelou ao ouvir isso, pois sabia que Stanley era poderoso, e ainda assim, havia sido derrotado. Vendo que o rapaz ficara triste em tocar no assunto, Vivian logo tentou animá-lo.
— Mas foi uma batalha animaaaaal! Meu Loiro deu tudo de si, mas aquele cara é um monstro. Só falta uma insígnia para ele, e uma fita para mim. Estamos voltando para Hearthome para competirmos por lá.
— Puxa, se não fosse por isso nós iríamos convidá-los a se juntarem conosco... — disse Lukas um pouco chateado. — Acho que mais uma vez acabamos nos desencontrando. Cada um para um lado.
— Pois é, nesses dias fica bem difícil marcar encontros com os amigos... — comentou Stanley. — O tempo vai passando e você começa a perceber que cada encontro com as pessoas que você gosta valem ouro.
Os seis integrantes se entreolharam, um pouco tristes porque logo aquele encontro maravilhoso teria um fim. Já havia parado de chover, e eles nem haviam notado. Dawn aninhava-se nos braços de Luke enquanto todos os demais continuavam em silêncio encarando os rostos e as expressões de seus amigos como se somente o fato de tê-los ao lado já era seu maior presente.
— Bom, amanhã já estaremos de saída. Iremos para Sunyshore, e Stanley... — chamou Luke em direção de seu rival. — Pode deixar que eu vou acabar com o Volkner por você.
— Quero ver, parceiro. Vai lá e mostre para aquele cara que ninguém é invencível — sorriu seu rival de maneira amistosa. — E também é bom começar a treinar, cara. A Liga Pokémon no fim do ano está bem longe, mas todos que vão participar estão iniciando uma rotina excessiva de treinos. E no fim das contas, haverá apenas um vencedor.
— Só tem uma coroa, deixa o verdadeiro rei governar — respondeu Luke com uma risada.
Vivian esticou seus braços para os lados e apoiou as pernas sobre seu namorado. Todos ficaram em silêncio mais uma vez, vendo as chamas nas velas crepitarem e a noite passar lentamente.
— Só eu que sinto como se a minha vida tivesse uma trilha sonora? — perguntou a ruiva com uma risada. — Neste instante, é como se um passarinho estivesse cantando em meus ouvidos. Ele está dizendo o seguinte: Ei, todos nós sabemos que é tarde, e você deve ir para a cama. Sei que a vida é difícil e dormir faz bem para você, mas às vezes a vida é tão difícil que você simplesmente não quer dormir. Então venha, vamos dar uma volta por aí...
— Ouviu isso em alguma música? — perguntou Dawn.
— Nope. Eu sei lá, inventei agora... Eu só não queria voltar para o mundo normal.
— Então proponho um juramento! — Luke levantou-se num pulo. — Um juramento da amizade. Sei que é bobinho, mas vamos lá, coloquem suas mãos aqui e vamos selar nossa amizade.
Todos apoiaram as mãos sobre as de Luke, de modo que todas elas estivessem juntas exatamente no centro da banheira. O rapaz olhou para os lados, para sua garota, seu irmão, seu melhor amigo e a namorada dele, para uma lendária guardiã do espaço... Todos eles faziam parte de sua vida, e ele jamais iria esquecê-los.
— Vamos lá, no “três” todos nós vamos jogar nossas mãos para o alto e selar nossa amizade! Um, dois, três, já!
Prevaleceu o silêncio.
— Era no “três” ou no “já”? — perguntou Stanley.
— Desculpe, sou meio lenta quanto ao sentido que os humanos dão para algumas coisas. Qual exatamente nossos intuito com isso? Estamos invocando algum tipo de espírito? — perguntou Paula.
— Ahh, chega disso. — respondeu Vivian, levantando-se da banheira. — Minha mão já está até enrugada, sou tipo uma velha. Galera, proponho uma última partida! Desafio todos nós a dormirem no mesmo quarto, naquele cubículo que vocês alugaram, o que acham? Eu chuto e soco durante a noite. Quem ficar ao meu lado vai levar porrada.
— A Dawn levanta — respondeu Luke com uma risada. — E também fala sozinha, já ouvi ela falar uma linguagem mais esquisita do que a dos Unown!
— Tudo bem, crianças. Hora de ir para cama — respondeu Paula, acolhendo todos em seus braços e preparando-os para dormir. Lukas parecia descontente.
— Eu não queria dormir... Amanhã tudo volta à rotina normal... Cada um para um lado.
— Mas sempre vai haver uma próxima oportunidade. Não é isso que você falava? Os pequenos momentos? A morte é certa em nossa vida, mas são esses momentos que fazem toda a diferença. Espere por eles, torça por eles. E você perceberá que sua vida valeu a pena.
Eles mal poderiam esperar pela próxima.

      

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  1. Mais um episodio incrivel Canas! Estava com tanta saudade da Vivian e do Stanley cara,você não faz ideia e pensar que agora só vou ver eles de novo no grande festival e na liga já me traz um pensamento: "Vai ser épico".

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  2. Eu também estava cara, eu também estava... E é engraçado, por mais que o tempo passe eu nunca me canso de adorar trabalhar com a Vivian. Gosto quando ela está presente, gosto de elaborar falas e ocasiões que ela está envolvida, porque isso me faz sentir-se bem também! Eu queria muito que ela seguisse viagem, mas nossa ruiva acabaria por tornar-se um peso morto nos próximos capítulos, e nesses momentos finais preciso mesmo concentrar a equipe apenas na Dawn e nos irmãos Wallers.

    Cara, a Liga será incrível, com toda certeza. Ela vai se sobressair um pouco sobre o Grande Festival, nada que vocês não saibam, mas ainda terei que pensar em meu trunfo que vai mostrar porque a Vivian é tão especial e adorada. Esse de fato foi a despedida dela, não a veremos mais assim tão espontânea com suas brincadeirinhas e abraços inesperados, mas nem por isso deixaremos de vê-la sempre agitada como de costume. A Vivian é uma personagem muito especial. Foi uma das primeiras a serem criados, e todo o carinho que dei para ela fez com que ela se tornasse uma linda flor! Valeu pelo comentário ae parceiro, até a próxima.

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  3. E num é que os capítulos sempre melhoram? Kkk
    Cá estou eu, dentro de um carro, viajando com a família e lutando com muita raça e determinação pra arranjar sinal e ler Sinnoh. Mas, como no fim os poderes de Vivi juntamente com Paula são fortes que as macumbas sobre mim colocadas, eu consigo ler o capítulo. E, devo dizer, valeu cada batalha por sinal. Kkk!
    Não seu como vc fez isso, senhorito Canas, mas esse capítulo deu uma sensação tão boa! Uma sensação de reencontro de velhos amigos. Uma sensação tão boa! Kkk! Sério, ficou muitíssimo fodástico esse capítulo. Muito prefeito, em todos os sentidos!
    E me impressionei com Vivi. O armagedon mudou. Virou gente, mas continua a mesma pentelha que tudo mundo apreendeu a amar e rir com ela. Kkk!
    E como assim o Stanley perdeu? Como assim, produção? Ele não tem um Torterra super fodástico (como todos os Torterras)? Drinian, you let me down. But there it's still hope got you. On the league. Make sure you shine there. I order you! Kkkk!
    Me despeço agora doido pra chegar semana que vem e ver que que vai acontecer em Sunyshore.
    Adieu, good people!
    Moacyr

    PS: vivian te amo! Kkk!

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  4. Grande Moa, você captou exatamente a mensagem do episódio! Era essa sensação que eu queria passar, e nesse friozinho ainda... Foi um capítulo grande no quesito de palavras, são cerca de 5.000, e mesmo assim a gente nem nota, parece que elas vão fluindo e se encaixando conforme a conversa dos personagens flui! Sim, o Armagedon mudou, eu mesmo fiquei atiçando a curiosidade de vocês ao pensarem que a Vivian sairia descendo o pau em todo mundo, mas qual é, isso nunca poderia acontecer! A essência dela está aí dentro, ela não precisa fazer piada toda hora, não precisa tentar uma comédia forçada, esse nunca foi o intuito dela. O que a Vivian procura é fazer as pessoas sorrirem, e nisso eu posso dizer que ela é a Melhor.

    Cara, o Drinian perdeu para o Volkner. Um Torterra sendo derrotado por Pokémons elétricos, você percebe que o bagulho é TENSO. Mas fique tranquilo cara, uma coisa que poucos devem ter percebido é que... o Stanley nunca apareceu lutando sério. Verdade, ele perdeu algumas vezes, acho que pra Fantina e pro Volkner, mas ele nunca lutou contra o Luke dando tudo de si. E nessa hora, meu chapa, vocês perceberão porque o zé mané do Capítulo 6 é o rival mais destemido dessa região. E o Drinian estará lá! Esse Torterra ainda não mostrou seu verdadeiro potencial, vou mostrar porque eles são conhecidos como os lendários "Iniciais" kkk

    Obrigadão pelo comentário ae, Grande Moa. Sunyshore cara, essa cidade... Nossa, tenho pensado nela o mês de Julho inteiro! Muitas revelações, muitas descobertas, ainda tem muita coisa pra contar. Quero trazer cada capítulo nesse nível, e irei continuar me esforçando com os especiais de modo a descontraí-los no meio da semana. Estou preparando a última página do Diário de Dawn... Cara, quem diria que isso teria um fim?

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  5. Man, que capítulo!
    Você não precisa criar batalhas épicas e Contests para ter um capítulo foda. Eu adorei este, pelo simples fato de que focamos na amizade dos personagens e aqueles típicos momentos em que nos vemos jogando conversa fora e rindo. Cara, Verdade ou Desafio é o jogo da discórdia! kkkkkkkkkk' Sempre sai coisa engraçada, mas é preciso tomar cuidado com quem se joga, sempre tem alguém pra botar lenha na fogueira e destruir algumas amizades. E quem diria que a Vivian e o Stanley realmente começariam a namorar? Posso dizer que eles formam um casal muito legal kkk

    Algo assustador foi que a Paula e a Vivian não se destruíram, cara! kkkkkk Devo dizer que acho que a ruiva é a única pessoa do planeta capaz de dar trabalho para a Guardiã do Espaço. É o tipo de briga que ninguém sabe quem ganha, ela é capaz de fazer até os deuses se renderem kkkkkkkkk Brincadeiras à parte, achei legal que elas acabassem jogando suas indiretas para mostrar que ainda não se entendem completamente. Eu ri ao longo do capítulo com as frases da Vivian, e não pude deixar de sorrir durante aquele momento no ofurô. Pequenas reuniões assim são épicas, cara. Adorei termos reencontrado a Vivi e o Stan (que por sinal também foi derrotado pelo Volkner. Como será a batalha dele com o Luke??). Uma pena que cada um vá para seu lado. O ponto positivo é que na Liga veremos todo mundo reunido novamente! kkkkkk Daí aposto que vamos ter momentos sérios, mas também teremos risos mesclados no meio. Já pensou Vivian X Paula X Marley? kkk O Lukas que se prepare!

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  6. E aí cara! Bom, agora é hora de tomar vergonha na cara e tirar o atraso (SHIT, isso sempre acontece)!

    "Soundtrack to my life", hã? Se não me falha a memória, você tinha uma oneshot com esse nome. Estou errado? Sei lá! UAHUAHHAUHAUHUAHU

    Reencontrar a Vivian e o Stanley foi tão agradável, porque sua história chegou em um ponto onde os leitores vão apreciar esses temas mais nostálgicos, especialmente aqueles que acompanham a fic desde o início. Ainda mais eu, que fui o primeiro a comentar em toda a história de AES! Me acho pouco, não é mesmo?

    De toda forma, essas pequenas passagens que nos fazem lembrar os momentos mais clássicos da aventura são sempre legais. Eles possuem uma mágica esquisita que te dá uma sensação de paz e serenidade, ainda mais quando você se lembra de que tem um grande evento pela frente.

    O encontro da Vivian com a Paula... Me desculpe, mas eu realmente pensei que Sinnoh seria destruída. Ainda bem que ninguém se feriu... Mas acho que as duas podem ter sacado qual era a da outra, e preferiram manter a paz pelo Lukas? Só sei que a cena da briga de mulher na lama seria hilária! UHAUHAHAUHUAHUAHUHA Eu sei que você pensou em fazer isso, não esconda nada da gente!

    Enfim cara, vou me adiantando aqui para mais tarde poder ler outro capítulo. Não quero estar atrasado quando a Liga chegar. E você sabe que quando eu invoco de tirar o atraso em determinado limite de tempo, eu faço! AUHUHAUHAU

    Até mais cara!

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  7. Cacetada, Caninhas. Terceiro cap que leio hoje, e terceiro coment que não sei por onde começar.
    Vamos quebrar o protocolo e ir do final mesmo. Os pequenos momentos.... Ah, os pequenos momentos. Eles são essenciais, os mais essenciais, arriscaria dizer. Acho que minha filosofia de vida é aproveitar os pequenos momentos, pois, de fato, eles que tornam tudo único. Uma cena pode te fazer eleger um capítulo como preferido. Uma brincadeira pode transformar um dia destrutivo em alegre. Uma conversa pode transformar um colega em amigo. Na verdade, "amizade não é uma grande coisa, e sim várias pequenas juntas", uma vez li.
    E vamos falar de Vivian e Stanley, os mais adorados rivais, como mencionado no cap e título que achei perfect! De fato, como desprezá-los? Acho legal que isso diferiu bastante dos jogos, os rivais são sempre umas pestes falando mal de você, tentando te colocar para baixo (menos na mais recente geração (o que achei divino <3 )). Mas, sinceramente, penso que rivais mesmo são assim: não só rivais, amigos. Dá um gosto melhor na disputa, pois para de ser um mero "quero mostrar que sou o melhor" e se torna "vou dar o melhor de mim, pois meu amigo merece uma luta épica". E falando mais sobre ele e ela, quem diria, os dois juntos! Realmente gostei. O Stan e seu jeito mais tranquilo combina com a Vivi e sua explosão, pois um equilibrará o outro :3
    Ah, enfim. Também gostei muito do gosto de nostalgia que esse cap deixou desde seu início, no caminhar por rotas já traçadas e rumar para a cidade natal. Sacomé, sou a nostalgia em pessoa kkkk (e to quase em crise nostálgica agora pq rodinha de amigos é lembrar minha galerada da antiga escola e.... god damnit, como estou sentindo falta daqueles doidos ç_ç )

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