Estava escuro, e Luke tinha medo de olhar para trás. Até gostava de ficar no computador até altas horas da madrugada, mas aquele dia era uma exceção. Precisava manter sua mente ocupada o tempo todo, e torcia para jamais enxergar algo no reflexo da tela. Ocasionalmente sentia arrepios sem motivo aparente, e já que Dawn dormia tranquilamente ao seu lado ele não poderia deixar o som ligado para amenizar o clima.
Eram três horas da madrugada, aquele horário maldito. Ajeitou-se na cadeira e continuou fazendo as coisas, mas arrepios continuavam. Estava louco é para sair logo dali e tentar adormecer, afinal, era dia 30 de Outubro, embora já tivesse passado da meia noite, então já era Halloween.
Luke coçou a cabeça e ficou de olho nas cortinas que se mexiam lentamente do outro lado do quarto onde estavam hospedados no Centro Pokémon. Quando fechou a tela do navegador e preparou-se para desligar o computador, sentiu uma mão em seu ombro:
— Luke...?
O pobre garoto quase deu um pulo de sua cadeira, e ao voltar-se para trás quase teve a visão da garota do Chamado com seus cabelos despenteados para frente. Seu sangue gelou, a mão tremia e o susto fora tão grande que a voz não saiu para gritar. Dawn ajeitou os cabelos bagunçados e com os olhos tortos de cansaço perguntou:
— Ainda não dormiu...? Está tarde, vem deitar...
— M-Minha nossa senhora, não me assusta desse jeito não, Dawn... Quase que meu coração salta pra fora...
— Estava fazendo bobeira no computador? — ela tentou perguntar com uma risadinha cansada.
— Que nada, eu estava é me preparando psicologicamente para ir dormir. Já são três da manhã, e eu detesto esse horário, ele têm todo um significado ruim por trás.
— Três da manhã? — Dawn olhou em seu relógio ligando uma luzinha fraca. — Putz, pior que eu também nem gosto... Quando acordo esse horário para beber água ou ir ao banheiro, sempre morro de medo.
— Por sorte tenho você aqui — falou Luke, não escondendo que quando o assunto eram monstros ou criaturas malignas nem ele conseguia manter a pose de machão.
O rapaz tirou o blusão e foi deitar-se na coberta junto da garota.
— Tive uma sensação horrível enquanto estava no computador... Eu não queria olhar para trás, e quando senti sua mão em meu ombro então, nusss... Quase enfartei.
— Bobinho, esse tipo de coisa não existe — correspondeu Dawn, ainda que com certa dúvida em sua voz. — Ou melhor, existe sim, mas faço o possível para não pensar no assunto.
— Senhorita Dawn quase fazendo 18 aninhos e com medo do escuro? — caçoou o namorado.
— Medo do escuro não, — ela deitou-se com os olhos ainda bem abertos — tenho medo é do que existe nele...
Cada um virou para um lado e tentou adormecer. Sua visão já havia se acostumado ao escuro, e nem mesmo a respiração fraca e contínua do sono podia ser ouvida. Luke aninhou-se na coberta, mas o sono não vinha. Virou-se para o lado de Dawn e abraçou-a com mais força e carinho, segurando na mão da garota como se insinuasse: Eu estou aqui, eu irei protegê-la.
Foi então que eles ouviram um barulho do lado de fora.
Luke soltou a mão da garota no mesmo instante e levantou-se da cama com urgência. Não fora um barulho normal, nem mesmo comum. Não era como um grunhido de Pokémon, uma batida de carro e nem nada.
— Isso foi um grito? — indagou Dawn.