O velho homem caminhava cabisbaixo sentindo sua respiração e o hálito quente sair pela boca. Parou logo em frente à uma loja de brinquedos com um bichinho de pelúcia de um enorme Rhydon na vitrine. Lembrou-se imediatamente de Roark, de como ele vivia pedindo brinquedos sem nunca receber nenhum que realmente desejasse, afinal, aquele era um Pokémon do tipo pedra, somente a sua aparência já enojava o líder metálico. Era uma simples discussão infantil e sem motivos causada por uma família de pessoas orgulhosas, e a honra e o orgulho de um explorador jamais poderia ser ferido aceitando o Pokémon de um rival.
Byron soltou um longo suspiro ao ver o bichinho de pelúcia, queria mesmo era que seu filho desaparecesse de sua cidade, afinal, desde que Roark havia chegado nada além de problemas cobriu seu caminho. O líder estava como um poste a encarar a vitrine, foi então que um homem bem agasalhado saiu da loja com uma criança ao lado que carregava um presente. Era o último boneco articulado de Darkrai, com sons automáticos, olhos de lanterna vermelha e uma camada translúcida que brilhava no escuro. O pequeno sorria, e ainda mais feliz estava aquele pai. Por mais caro que fosse o brinquedo, por mais que aquela criança depois de dois meses fosse esquecê-lo, ela estava feliz naquele instante, e com um forte abraço o agradeceu.
— Obrigado, papai! Eu te amo!
O pai retribuiu o sorriso com o mesmo amor e carinho, segurou em uma das mãos do filho e voltou para sua casa. Byron ficou a encarar aquela rara cena mergulhado em seus próprios pensamentos e pôde ouvir as palavras saíram de sua boca como um lamento:
— A vida é feita de momentos. — sussurrou para si mesmo, apenas observando pai e filho se distanciarem aos poucos ainda de mãos dadas e guiados pelos sorrisos e felicidade.
Flashback On
Uma criança corria alegremente em uma mina de exploração descoberta naqueles dias. Carregava consigo uma pedra com marcas bem detalhadas em sua mão, era provavelmente o registro de alguma criatura que habitara a terra há milhões de anos; vestia um capacete maior do que a própria cabeça e preso no pescoço um blusão que lhe dava ares de super heroi. A pequena criança caminhou até um homem moreno muito bem definido e de barba mal feita, esticou as mãos para o alto e mostrou-lhe sua conquista.
— Papai, papai! Olha o a pedra que eu encontrei! Pode ser um fóssil novo!
— Deixa eu ver. Hm, este é bem comum. Olhe só esse meteoro que eu achei recentemente, filhote! Isso sim é uma grande descoberta! Bah, hah, hah...
A cada dia que passava o apreço da criança crescia, mas em contradição a ele, o orgulho de seu pai sempre iria admitir ser melhor com as próprias conquistas.
— Papai, papai! Eu capturei meu primeiro Geodude nessa caverna!
— Bem, eu capturei um Golem aqui semana passada. Só para passar o tempo. Bah, hah, hah...
O amor do pequeno por Pokémons rocha crescia, mas seu entusiamo desaparecia.
— Papai, meu primeiro Cranidos foi ressuscitado de um fóssil ainda ontem!
— Ele só será forte quando derrotar o meu Bastiodon, acho que nunca. Bah, hah, hah...
E apenas desaparecia...
— Pai, eu... Me tornei líder de ginásio.
— Que bom, até que enfim, pra falar a verdade! Sorte que decidiu virar algo que presta ao invés de ficar apenas com aquela carreira de estudar o solo. Você vai ter que treinar bastante se quiser me alcançar e ser melhor do que eu. Digo, treinar muito mesmo! Bah, hah, hah...
...Até desaparecer por completo.
— Pai, preciso te dizer uma coisa...
— Agora não, filho. Estou no meio de uma expedição muito importante que pode resultar na descoberta de uma criatura ancestral perdida no tempo há milhões de anos que ainda não foi catalogada.
O jovem soltou um longo suspiro e tentou esboçar ao máximo um último sorriso de satisfação para finalmente partir de casa e não olhar mais para trás.
— Não, não, pode deixar. Não era nada de importante mesmo.
Flashback Off
Os olhos do velho homem estavam encharcados de lágrimas enquanto suas mãos sacudiam sua cabeça e o condenavam por cada má ação que fizera com seu filho no passado. Naquele instante implorou para voltar no tempo e concertar todos os erros, mas seu desejo jamais poderia ser realizado. Praguejou de tal forma que as pessoas que lá estivessem adormecidas teriam ouvido o lamento de um pai orgulhoso a se arrepender em uma noite de inverno. Byron saiu de lá correndo, pretendia bater de porta em porta nos principais centros para saber se seu filho estava alojado em alguns deles, mas não havia sinal de Roark.
— Acredito que eles tenham se hospedado em alguma pousada, Senhor Byron. Tente procurar no Seashell Inn, ele situa-se a nordeste de seu ginásio. Talvez o encontre. — explicou uma das enfermeiras.
Byron correu imediatamente para o local apontado por Joy, corria com tamanho desespero que desejava apenas encontrar-se com seu filho e abraçá-lo pedindo desculpas por tudo que fizera. A cada passo ele se aproximava mais da presença de Roark e surpreendeu-se quando um atendente disse que o líder Roark, da cidade de Oreburgh, havia feito uma locação para uma noite naquela pousada junto de três outros jovens.
— Por favor, eu preciso entrar naquele quarto! — gritou Byron.
— Mas à essa hora da noite, Senhor? Eles poderiam sentir-se incomodados. — retrucou o atendente um pouco assustado, mas Byron perdia o controle e quase veio a arrancar o homem de cima do balcão com os próprios punhos.
— Ele é o meu filho, preciso de horário para ver o meu filho?! Basta dizer-me o número desse quarto e onde posso encontrá-lo, eu faço todo o resto!
O atendente apontou o quarto 12, em uma área bem próxima da praia com uma breve vista para o mar das varandas. A iluminação amarelada e tom rústico feito de uma madeira nobre era obra do próprio Byron como arquiteto da cidade, lembrava-se de quando permitiu que aquela pousada fosse construída. Pequenas redes eram espalhadas por cada quarto da pousada, era um local estritamente voltado para a paz e o descanso que ele nunca havia tido na conturbada rotina de líder em Canalave. Correu para o local apontado e quando avistou a porta do número 12, que tinha o singelo formato de um Omanyte no número, tentou recompor-se do cansaço e receber seu filho de forma mais digna.
Byron ajeitou o blusão preto, abotoou os últimos botões e limpou o suor. Coçava a barba de forma indecisa enquanto julgava se deveria mesmo chamar pelo filho, ou apenas desistir e voltar. Bateu na porta duas vezes. Demorou um pouco para que alguém respondesse, mas era claro que alguém estava lá dentro, pois até então risadas e conversas eram ouvidas. Os próximos segundos foram seguidos de silêncio, podendo ouvir então alguns cochichos do outro lado.
— Ai, ai... Assim não, Luke... Está me fazendo cócegas...!
— Shhh... Dawn, acho que ouvi alguma coisa na porta... Mano, quem é que viria a esse horário...?
— Eu não sei, vai olhar...
— E se for um estuprador, eu abro ou mando embora? Ah, é só o pai do Roark...
Byron estava um pouco impaciente, cruzou os braços e esquentava as mãos para livrar-se do vento litorânea acompanhado pela brisa do mar. O velho soltou um longo suspiro, sabia que era um momento delicado e precisaria de muita calma e concentração para não fazer nada de errado mais uma vez.
— Posso falar com meu filho?
Fez-se silêncio por um momento. Era possível ouvir alguns passos corridos na madeira e os cochichos persistiam como zumbidos de Combees em suas orelhas.
— Aí, Roark... É o teu velho aqui, abro a porta ou deixo ele esperando...?
— É capaz dele abrir a porta só para falar: Ahh, lá! Ainda dorme de pijama! Vamos deixar assim por um tempo, ele precisa pensar.
— Ele é o seu pai! Ele não viria até aqui por qualquer motivo. E olha só os olhinhos arrependidos dele, minha intuição feminina diz que ele deseja pedir seu perdão. Vá lá e converse com ele.
— Shhhh...!! Shhhh...!! Fale mais baixo, ele está nos ouvindo... Vão vocês dois continuar sua brincadeira em outro lugar que eu resolvo as coisas por aqui, prometo não demorar...
Roark abriu a porta encarando seu velho pai que tinha os olhos inchados e profundos com olheiras. Assim que Byron viu seu filho vestindo um pijama listrado da cor de um Cranidos sentiu uma imensa vontade de caçoar de sua aparência até que ele fechasse a porta em sua cara mais uma vez, seria o dia mais engraçado de sua vida; mas o homem não o fez. Roark o encarava de forma séria com o cotovelo apoiado na porta apenas aguardando para ver o que o pai tinha a dizer. Byron respirou fundo e tomou coragem para falar todos os pensamentos que circularam em sua mente nas últimas reflexões:
— Filho, meu filho... Eu fui um pai terrível para você.
— Oh, sério mesmo? — indagou Roark em tom de ironia — Quem é que te contou, o seu Bastiodon? Espera, espera. Ahh, acho que foi aquele meteoro que você encontrou naquele dia, lembra? Ou seria o Golem selvagem que você capturou só para se divertir?
— Pelos punhos de Registeel, garoto!! Você guarda tanto rancor assim?! — disse Byron pasmo, surpreso ao perceber que seu filho lembrava-se praticamente de cada vacilo que seu pai dera.
Roark fechou a porta na cara de seu velho que ficou com uma das mãos levantadas e decepcionado consigo mesmo por ter deixado aquele comentário inútil escapar.
— Filhoooooo... Precisamos conversar, eu vim aqui para pedir seu perdão.
Roark abriu a porta novamente e fez a mesma posição insinuando aquela como uma segunda tentativa de seu pai de tentar redimir-se.
— Diga o que tem a dizer. É muito longo? Cara, olha só o horário que você está me visitando, não podia esperar o amanhecer, não?
— Meu filho, eu não tenho horário para vê-lo, é um sentimento há muito adormecido em mim, e agora, preciso demonstrar este meu apreço por tentar uma única vez ser este pai presente que nunca fui em sua vida. São como duas ligações de metal que se completam, dois imãs, um precisa do outro para funcionar...
— Como um Nosepass? — perguntou Roark. O homem fez uma careta.
— Não, não, não. Nosepass, não. Eles são Pokémons de pedra, digamos que seria melhor um par de Magnemites, ou...
A porta foi fechada novamente. Byron encontrou-se com a palma da mão no rosto enfurecido por nem ter prestado atenção na comparação que fizera com os Pokémons que seu filho gostava. Esticou as mãos para o alto e esboçou movimentos de luta fúteis como se já perdesse a paciência. Caminhou de um lado para o outro na varanda e apoiou a mão na porta novamente.
— Filhoooooo, me desculpa! É a força do hábito, não vai acontecer de novo! Abre a porta, vai. Abre... — implorou Byron.
— Ele está realmente arrependido... Dê uma chance à ele. — disse uma voz feminina vinda do outro lado da porta.
— Cara, você está na mesma situação que eu e a Dawn naquele dia em que dei lírios para ela, lembra? (Vide Capítulo 11) Só que no meu caso era com uma mulher, agora, se vira aí com seu paizão! Hah, hah, hah... Eu tenho uma massagem para continuar.
Byron continuava a gritar e lamentar do lado de fora até que os vizinhos dos quartos ao lado acordariam e o mandariam ir embora, ou começassem a chamar a polícia de Sinnoh para averiguar o motivo daquele incômodo. O próprio Roark não aguentava as súplicas enjoativas de seu pai, abriu a porta e trouxe-o para dentro do quarto com enorme velocidade. Byron caiu de joelhos dentro do local, ao erguer seu olhar pôde avistar Dawn, Luke e Lukas na sala principal da pousada, todos vestidos de roupas de dormir como se realmente tivessem sido incomodados durante a noite, mas não esboçavam uma feição de raiva, e sim de curiosidade para saber o que o orgulhoso líder metálico tinha a dizer. O julgamento havia começado.
— Byron, o líder metálico da cidade de Canalave. O Senhor está realmente arrependido por tudo que fez? — perguntou Dawn com os braços cruzados.
Byron apoiou-se com um dos joelhos no chão e fez um gesto honroso com os braços.
— Nunca me senti tão mal por ter feito todas essas coisas terríveis e nunca ter dado a devida atenção ao meu filho. Mas, agora, ele está aqui na minha frente, e eu quero concertar todos esses erros em meu passado.
Roark abanou com a cabeça negativamente, imaginando que aquela fosse apenas outra brincadeira de seu velho pai que provavelmente apenas esperava o momento certo para fazer alguma brincadeira de mal gosto. Dawn colocou as mãos na cintura e então se pronunciou:
— Um pede perdão, enquanto o outro se recusa a aceitá-lo. Vamos conversar pessoalmente com cada um para ver precisamente os pontos a serem levados em conta. Luke, quero que converse com o Roark, pois vocês são amigos; eu e o Lukas vamos bater um papo com o Senhor Byron.
Luke assentiu e deixou a sala na companhia de Roark indo para outro quarto. Lukas ficou de pé logo ao lado do líder, enquanto Dawn sentou-se ao lado do velho homem segurando a manga de seu roupão azul e pensando em alguma forma de conversar com alguém que há pouco tempo conhecera.
— Eu perdi meu pai aos dez anos, sabe? Eu sofri muito com isso. Tenho certeza que para o Roark não ter tido o seu carinho foi como perdê-lo também, e por isso eu lhe pergunto, você está realmente arrependido de tudo que fez?
— Do fundo de meu coração. — disse Byron com uma voz grossa — Depois que nos encontramos pude notar o quão ruim eu fui para ele, e por isso estou aqui há uma hora dessas, para me redimir com meu filho e poder cuidar dele enquanto ainda posso, antes que seja ele quem precise carregar um velho homem sem utilidade...
— Ele irá entender. — comentou Lukas — Se você disser isso para o Roark ele compreenderá e irá aceitá-lo de volta, tudo que o senhor precisa fazer é se abrir de forma honesta e carinhosa como está fazendo agora.
A conversa se estendeu por mais alguns minutos até que os debates com o juiz e o julgado terminassem. Dawn pediu para que Luke e Roark voltassem, os dois riam e esboçavam uma feição de quem tinham planejado algo, causando uma certa desconfiança em todos. O rapaz sentou-se em frente ao seu pai novamente, ele parecia mais decidido e com uma ideia fixa em sua mente, e assim, começou seu discurso:
— Roark, meu caro filho. Eu fui um pai terrível nesse meio tempo, lembro-me daquele dia em que você encontrou seu primeiro fóssil e eu agi com ignorância, e depois naquela vez que eu deixei você preso no buraco? Me perdoe por aquilo, também teve aquela outra que você quase desmaiou com uma pedrada de brincadeira, puxa são tantas lembranças...
— Ei, tirou o momento para lembrar das coisas ruins? — retrucou Dawn zangada, fazendo o líder recobrar a postura.
— Desculpe, desculpe, vou tentar manter a linha.
As palavras de Byron se estenderam por tanto tempo que de minuto em minuto os olhos de Roark quase se fechavam e imploravam mais para não serem abertos, porém, sua audição ainda funcionava e ele era obrigado a ouvir a conversa chata de seu velho. Até mesmo Lukas que era atencioso e sério inclinava a cabeça quase caindo no sono, afinal, todos estavam muito cansados, mas Byron continuou até que seus ouvidos implorassem por descanso.
— ...E no fim de tudo, percebo que nunca tive a oportunidade de dizer o que eu realmente sentia por você, meu filho! Me desculpe por tudo!
Roark só despertou com um empurrão de Dawn. Abriu os olhos e ajeitou os óculos de maneira séria insinuando que tinha prestado atenção em tudo ao acenar a cabeça positivamente,. Levou a mão até o queixo encarando a feição de Byron esperançoso, apenas aguardando que seu filho aceitasse seu perdão. E após todo o seu discurso Roark respondeu:
— Eu não aceito suas desculpas.
Dawn praticamente deu um soco na cabeça do líder que foi direto ao chão caindo em cima de Luke.
— Como não, moleque?! Seu pai se abrindo assim e você fala não?!
— F-Foi mal, foi só uma brincadeira!! O Luke disse pra mim falar não, foi só brincadeira!!
Dawn agarrou Luke pelo pescoço e o levou para fora da sala enquanto o garoto rezava e agradecia pela curta vida que tivera. Lukas o seguiu pela força do hábito. Agora, apenas os dois líderes encaravam-se em silêncio. Roark ainda não havia aceitado as desculpas de seu pai, não escondeu uma risada porque tinha que ter feito aquela brincadeira, afinal, era uma marca de sua família o orgulho e as brincadeiras em horas erradas. Roark ajeitou os óculos e lançou um rápido olhar para seu relógio em forma de Kabuto.
— Bem, e então? Foi uma brincadeira, mas eu não aceitei suas desculpas mesmo. Declaramos isso por encerrado?
Byron abaixou a fronte um pouco decepcionado, não sabia o que dizer no fim daquela conversa. Roark levantou-se e caminhou até porta como se praticamente o expulsasse da pousada, seu pai levantou-se com uma feição arrasada, e uma última vez se pronunciou:
— Me desculpe, filho... Por ter este coração de pedra.
Roark largou a mão da maçaneta no mesmo instante. Seus olhos expressaram surpreso e ele claramente ficou sem ter o que responder. A feição cansada de Byron encarou o filho e demonstrou apenas naquele olhar todo o arrependimento que sentiu. Roark perguntou:
— O que foi que disse?
Byron ficou quieto por um instante, não percebendo nem o que dissera. Roark tocou no próprio peito e sussurrou com carinho:
— Você disse coração de... Pedra? — os olhos do líder começaram a brilhar — Pai, pai!! Eu te perdôo por tudo que você fez! Me aceite como seu discípulo, vamos começar a treinar e nos tornaremos os líderes de ginásio defensores dos oprimidos em toda a Sinnoh!
— Está falando sério? — indagou Byron, abrindo os braços para recebê-lo — Filhote!! Por Arceus, me perdoe por tudo! Nunca mais deixarei de agir como seu pai, e estarei presente sempre que você precisar! Sempre!
Dawn, Luke e Lukas logo saíram do quarto ao lado quando ouviram a reconciliação entre pai e filho. Depois de tantos anos guiados por uma discussão sem fundamentos, os dois pareciam ter finalmente acertado as contas. Um abraço caloroso foi sucedido, enquanto aos poucos os dois voltariam aos esquemas antigos. Dawn colocou as mãos na cintura enquanto soltava um suspiro de alívio e satisfação.
— Isso é ótimo, não gosto de ver famílias brigando. — disse ela.
— Pelo menos diga que vocês dois vão parar com aquela competição boba de melhor tipo ou melhor Pokémon, não é? — sorriu Lukas.
Os líderes olharam um para o outro e cerraram um pouco os olhos tentando adivinhar os pensamentos do rival. Lukas declarou aquele assunto como encerrado e devia ter adivinhado que tratando-se de preferência Pokémon um sempre teria desprezo para com o outro, mesmo que agora mais tranquilo e menos agressivo, pois era exatamente assim com Luke. Certos fatos nunca mudavam, pelo menos o carinho entre família havia voltado ao normal entre eles. O jovem Lukas estava sentado sobre uma poltrona e ergueu o braço ao lembrar-se de algo que tinha em mente, virou-se para o senhor Byron e assim disse:
— Bem, eu estive aqui pensando em algumas propostas desde que chegamos à Canalave. Já que vocês dois se acertaram, e são líderes de ginásio, eu gostaria de estar fazendo um pedido a ambos, em conjunto — prontificou-se Lukas.
Byron levantou-se e esticou os braços dando leves tapinhas nas costas do garoto
— Esteja à vontade, esteja à vontade! Vocês trouxeram meu filho até aqui, e por conta disso pude me redimir com ele e voltar a agir como um pai de verdade! Farei de tudo que estiver ao meu alcance. — disse Byron.
Lukas olhou para o chão esboçando um sorriso pensativo. Não sabia se aquela poderia ser uma pergunta que resultasse em outra briga, mas quis correr o risco. Encarou o líder metálico e explicou sua ideia com clareza e determinação.
— Proponho um desafio oficial em dupla, amanhã cedo. O Senhor Byron e o Roark contra eu e meu irmão, valendo uma Mine Badge. Aceitam?
Luke não acreditou na proposta de seu irmão, levou a mão até a cabeça indagando como nunca havia pensado naquilo. Era a melhor ideia que já tinha ouvido vinda de Lukas até então, ao menos, a melhor ideia que trazia benefício para ele em conjunto. Lukas havia deixado os treinos em batalhas há algumas semanas, focando apenas nas táticas para apresentações desde então; mas há muito tempo os dois não batalhavam como uma dupla, e agora, aquela seria a oportunidade perfeita para que os Irmãos Wallers agissem como uma equipe e brilhassem num dos ginásios mais importantes da temporada.
— Tu é um gênio, irmãozinho! Cara, enfrentar o Roark de igual para igual, e ainda o Senhor Byron, e com auxílio de sua equipe! — dizia Luke com empolgação — Essa será a melhor batalha de ginásio da década!
Byron concordou com a ideia sem relutar, uma vez que perdido noção do tempo desde que não batalhava ao lado do filho. Para Luke, aquela era a oportunidade perfeita para ter maior vantagem, porém, Dawn foi a única que entendeu precisamente o motivo daquele pedido feito por Lukas. Luke ainda sofria da megalomania, ainda que de forma mais amena desde Pastoria. Era uma doença que causava ilusões de superioridade no jovem sempre que ele enfrentava uma batalha importante como num ginásio. Com Lukas ao seu lado seria o melhor método para evitar que o irmão perdesse o controle, pois um daria apoio para o outro, e assim, pudessem realizar uma batalha plena e pacífica.
Ou aquela batalha poderia marcar a vitória de Luke contra sua doença, ou ele perderia mais uma vez o seu controle, e na próxima vez, não haveria ninguém que pudesse segurá-lo.