O sol brilhava com fracos feixes da janela do quarto dos Irmãos Wallers. Luke e Lukas se levantaram para sair do Centro Pokémon na companhia de Dawn, aquele seria um dia excelente para treinar os Pokémons nas redondezas da cidade e ainda se preparar para os desafios futuros. O jovem Lukas estava num bom humor capaz de cumprimentar qualquer pessoa que passasse ao seu lado na rua, já seu irmão não parecia na mesma situação. Caminhava de mãos no bolso com pisos firmes no chão, bocejando praticamente de minuto em minuto, mas ainda não escondia o ânimo em ter uma boa manhã de treinos ao lado dos amigos.
— E então? O que pretendem fazer de bom hoje na cidade? — perguntou Dawn.
— Vamos para próximo do lago ao sul da cidade. Eu soube que existem muitos Pokémons aquáticos por lá, seria excelente para treinarmos e ainda aproveitarmos esse dia lindo de sol! — respondeu Lukas.
— E você, Luke? O que pretende fazer? — continuou a garota, não recebendo uma resposta do garoto que mais parecia um sonâmbulo caminhando — Você está acordado?
— Ah, acho que sim, eu só fui dormir muito tarde. De noite ficou passando um seriado épico de cavaleiros em tempos medievais, acho que tão antigos quanto a Titânia. É aquele tempo em que as pessoas ainda carregavam uma espada, já pensou? — disse Luke, notando que os amigos não entendiam muito bem do que ele falava.
— Para quê uma pessoa precisaria carregar uma espada hoje em dia? — perguntou Dawn.
— Ora essa, quer símbolo maior de honra e poder? — respondeu Luke com uma risada — E também, para poder se defender! Contra um ataque de cócegas!
Luke avançou em direção de Dawn fazendo um bocado de cócegas na garota, de modo que ela implorasse para que o jovem parasse enquanto os dois caíam na risada.
— Hah, hah, hah! Pare com isso, Senhor Cavaleiro! Por hoje já basta! — respondeu a menina ofegante.
Lukas retirou sua mochila e depositou embaixo de uma árvore, seu irmão correu para longe sendo seguido por Dawn logo na sequência. Os jovens se aproximaram de um laguinho raso o bastante para que a garota tivesse a possibilidade de entrar, já que ela não sabia nadar. Luke retirou a camiseta, lançou a bolsa para longe e pulou na água, os respingos haviam molhado a roupa de Dawn quase inteira.
— Ahh, meu cabelo! M-Minha chapinha, seu moleque de Darkrai!! Se eu tivesse uma espada eu furava você inteirinho agora! — gritou ela.
— Entre aqui e me enfrente, seja minha adversária. — respondeu Luke.
— Eu vou ser sua adversária quando eu mandar o Lairon acabar com sua raça!
Luke caiu na risada, e continuou a jogar água com os pés para longe. Logo Dawn se encontrou obrigada a cair na diversão também, Lukas aproveitou para liberar seus Pokémons e assim todos passaram a se divertir. Pachirisu deliciava-se com pequenas frutinhas, a doce Roselia recolhia flores ao lado de Shellos, e a grandiosa Milotic demonstrava toda a sua beleza ao lado de seu defensor, Mikau. Leafeon e Glaceon descansavam próximos de seu ovo, e o protetor Lairon não hesitava em sair de seu posto protetor em momento algum.
A tarde foi passando, e os três se deitaram sobre a grama baixa para olhar o formato das nuvens. Elas mais pareciam Mareeps gigantes com novelos de lã, ou então Altarias com suas nuvens de algodão doce. Dawn rolou até parar do lado de Luke demonstrando um largo sorriso para o jovem, ela recolheu seus braços e apoiou sua cabeça sobre suas mãos encarando o garoto com um sorriso apaixonado por um longo tempo.
— Me diga, com que Pokémon eu me pareço?
— Gyarados. Pelo tamanho desse sorriso eu até diria um Quagsire. — respondeu Luke quase que de imediato, recebendo uma cotovelada da garota que voltou rir.
— Idiota. Eu estou falando sério.
Luke fez uma feição pensativa por um momento, e assim voltou a dizer:
— Ok, talvez uma Loppuny?
Dawn deu um leve beijo no rosto do garoto e o abraçou com muita força. Agora era a vez de Luke perguntar:
— E você? Acha que pareço com qual Pokémon? Aposto que deve ser um gato de um Luxray, ou musculoso como um Machamp.
— Magikarp. — respondeu a garota.
— O quê?
— Você parece um Magikarp. Se eu sou um Gyarados, você é tão esquisito quanto uma Magikarp. Ou prefere um Feebas? Heh, heh, heh... — respondeu Dawn.
Luke levantou na mesma hora, parecia estar estressado novamente. Dawn sentou-se e ficou a observá-lo por um tempo, ele arrumou sua camiseta e deixou os amigos para trás bufando de raiva. Pelo menos havia deixado a bolsa com alguns Pokémons, logo, em breve seria obrigado a voltar.
— Ai, Lukas. Seu irmão é muito complicado. Ele faz brincadeiras com todo mundo, mas não aguenta quando fazem com ele. — disse Dawn.
— Deixe ele, por enquanto. Daqui a pouco ele se toca e volta para pedir desculpas, mas só para certificar, chame-o de Luxray na próxima, Senhorita Loppuny. — brincou Lukas.
Luke continuou caminhando enquanto chutava uma pequena pedrinha para longe. Estava concentrado naquilo há pouco mais de três minutos. Tinha apenas duas pokébolas consigo, Duskull e Gabite. Às vezes era necessário um tempo sozinho para que tudo comece a fazer sentido em nossa mente. Estava andando sem rumo somente para esquecer o acontecido.
— Magikarp... Só pode estar de brincadeira. — bufou.
Enquanto o jovem se concentrava na pedrinha, um garoto acabou por passar em sua frente. Luke se desconcentrou e tentou recuperar o percurso com a pedra, mas acabou se trombando com o garoto que veio ao chão. A pedra caiu num riachinho próximo e assim terminou com sua diversão. Ele já não estava em um dia agradável, e imprevistos sempre aconteciam para piorar ainda mais a situação.
— Poxa, olha por onde anda, cara! — gritou ele, com seu típico modo de tratar os desconhecidos. O menino continuou no chão, demorou para se levantar. Nem sequer encarou Luke nos olhos, parecia muito assustado.
— Me desculpe, não foi de propósito...
Palavras daquele porte sempre conscientizam a fúria de alguém. Luke acalmou-se e esticou a mão para o menino que se levantou. Seus olhos pareciam dispersos e cheio de dúvidas. Carregava apenas uma mochila, mas não tinha Pokébolas, Luke sequer dera conta disso, para ele qualquer criança era um treinador.
— Vish, foi mal ae cara. Tô num estresse daqueles, tá ligado? Mulheres, sabe como é. — respondeu Luke, agachando e pegando a mochila para o garoto — Acho que isso é seu.
— Sério? Essa bolsa é minha? — perguntou o garoto.
— Claro que é, você acabou de derrubar ela.
— Putz, e não é que é verdade? Hah, hah, hah...
Luke caiu na gargalhada, aquele jovem era muito esquecido e parecia ser também muito divertido. Apesar do encontro conturbado de início, tudo indicava que aqueles dois se dariam bem.
— Cara, cê é comédia! Qual é o teu nome?
— Pode me chamar de Nicolas. E você?
— Luke Wallers, é um prazer te conhecer, companheiro. Diga aí, bora tirar uma batalha! Dois contra dois, o que acha da ideia?
Nicolas ficou quieto por um momento, mexia em suas mãos o tempo todo e desviava seu olhar enquanto hesitava em respondê-lo. Luke estava com suas duas Dusk Balls em mãos, por mais que o oponente fosse um iniciante, ele dizia que não pegaria pesado.
— Vamos lá, cara! Só pra se divertir! — disse Luke.
— Eu não sou treinador...
Luke ficou em silêncio. Ele guardou a pokébola de Duskull e coçou a cabeça.
— Ah, por essa eu não esperava, desculpa aí. Mas diga, você tem cara de já ter mais de dez anos, certo? Por quê não começou uma aventura ainda, cara?
— Eu não posso. Tenho medo de sair de casa, não pude comparecer à entrega de iniciais com o Professor Rowan há dois anos consecutivos, minha cidade é muito longe de Sandgem. Tenho esse receio, sabe? De não conseguir me adaptar, de não encontrar bons Pokémons, de não poder fazer bons amigos. — disse Nicolas.
Luke não sabia como lidar com aquela situação. Ele não era a melhor pessoa para dar conselhos, e muito menos para falar a língua de uma pessoa que não era treinadora.
— Bom, eu... Você. Sei lá, quer ver meus Pokémons, então? — sugeriu Luke.
— Sério? Putz, eu adoraria!
Luke pegou as duas Dusk Balls e jogou-as para o alto. Gabite espreguiçou-se e logo sacou oBlackglasses para que evitasse a forte luz do sol. O General Duskull também não apreciava a luminosidade, mas se seu chefe o chamava ele deveria atender a qualquer momento. Os olhos de Nicolas brilharam assim que ele viu os dois Pokémons. Luke se enchia de orgulho, assim como as criaturas.
— Cara, eles são simplesmente fantásticos! Principalmente esse Duskull, você tem um Duskull!! Um fantasma de verdade, o melhor Pokémon de todos!! — disse Nicolas.
— Ele é o comandante dos meus exércitos, era o líder da Lost Tower quando o capturei. Eu o chamo de General por sua autoridade. — gabou-se Luke, enquanto via o jovem Nicolas rodopiar Duskull que permanecia em sua posição.
— Duskull, Duskull, Duskull! Ele deve ser o melhor Pokémon do mundo, como o encontrou?
— Eu acabei de falar que foi na Lost Tower, cara!
— Ah, é verdade! Hah, hah, hah!
Os dois caíram na risada novamente. Luke aproveitou o momento para mostrar toda a força que seus Pokémons tinham. Por mais que Gabite fizesse excelentes apresentações, Duskull ainda era o centro das atenções. Nem mesmo um dragão de óculos escuros era mais cativante do que aquele fantasma para o jovem Nicolas. De repente, uma rápida ideia surgiu na mente de Luke, parecia um tanto extravagante, principalmente quando se tratava dele como uma pessoa egocêntrica e que nunca pensava no próximo, mas por algum motivo, algo lhe dera aquela ideia.
— Ae, Nicolas, acho que vou precisar ir andando...
— Sério mesmo? Que pena, eu poderia ficar o dia inteiro vendo os seus Pokémons! Eles são brilhantes, mal posso esperar para começar minha aventura no ano que vem. Ou quem sabe no outro... Ou no outro...
Luke deu um sorriso quando ouviu aquilo, agora sim ele teria certeza de que seu plano daria certo. Deu um rápido aperto de mão e perguntou onde poderia encontrar Nicolas na manhã seguinte. O jovem apontou onde era sua casa, morava com os avós nas proximidades do Pokémart. Era tudo que Luke precisava saber.
O garoto correu e encontrou-se com Lukas e Dawn no caminho. Os dois já pareciam preocupados com a demora do amigo, mas Luke tocou no ombro do irmão de forma eufórico lotando ele de perguntas e anseios.
— Cara, eu sou a pessoa mais egocêntrica do mundo, vocês sabem disso. Mas sabe quando a gente sente a necessidade de ajudar alguém? É o que estou sentindo agora! — disse Luke.
— Calma aí, irmão. O que houve? — perguntou Lukas.
— Preciso de um Pokémon, preciso de um Pokémon inicial. E rápido.
— Ei, Luke, você está bem? Você sumiu de repente, nem deu tempo para que eu me desculpasse! — disse Dawn — Eu só queria pedir desculpas pelo acontecido e dizer que para mim você é um verdadeiro Luxray! Rawwr! — disse ela fazendo um sinal provocativo.
— Agora não, eu preciso desse Pokémon, preciso da ajuda de vocês! — respondeu Luke de forma eufórica.
— Nossa, já vi que a situação é séria mesmo. O que aconteceu para você se sentir dessa maneira?
O jovem parou e explicou todo o seu plano com mais calma para os amigos. Dawn fez uma posição pensativa, enquanto Lukas olhava em volta à procura de Pokémons selvagens. O plano era capturar um inicial para que Nicolas pudesse começar sua jornada. Por mais que não fosse um Turtwig, um Chimchar ou um Piplup, eles ainda acreditavam que poderiam capturar algo realmente poderoso.
— Um Pokémon inicial para um treinador novato... Essa é complicada, nos arredores da ciade só temos Starlys, Bidoofs, Geodudes; Pokémons bem convencionais. Pelo que você me falou, esse jovem precisaria de um amigo para todos os momentos, e pelo gosto dele, talvez uma criatura mais excêntrica. — comentou Lukas.
— Um amigo para todos os momentos? Que tal um Pokémon fantasma? Seria literalmente para todos os momentos, fantasmas vivem a eternidade. — disse Dawn.
— Brilhante!! Ele adorou o meu Duskull, será que não encontramos algum deles por aqui? Acho que o próprio General seria capaz de convocar algum de seus soldados ao anoitecer, e então, eu o capturo! — e assim, os jovens esperaram o anoitecer.
Luke estava muito impaciente, olhava para o horizonte a todo o momento aguardando que as nuvens dispersassem e a lua exibisse toda sua grandeza. Às sete horas tudo começou a escurecer, Luke lançou seu Duskull que ergueu-se com toda sua pompa no aguardo das ordens de seu mestre.
— Vamos lá, General. Sei que você era o líder de todos os demais fantasmas na Lost Tower, então, acredito que você seja capaz de convocá-los com sua habilidade de liderança! Vá, busque um excelente soldado, e volte o mais cedo possível!
O fantasma desapareceu. Agora restava apenas que os jovens aguardassem. Passaram-se algumas horas, e o General Duskull não voltava. Dawn já bocejava de sono, e mesmo que Luke tivesse dormido tão pouco, parecia recém despertado, apto a esperar até que seu Pokémon voltasse. Dawn estava deitada no colo de Luke debaixo de uma árvore, a menina acordou por um momento e tocou em seu ombro.
— Ele já voltou? — perguntou Dawn com um ar sonolento.
— Ainda não. Querem voltar para o Centro Pokémon e descansar? — perguntou Luke.
— Não, estamos juntos nessa, damos todo o apoio para você, mas... Me acorde assim que ele voltar. Boa noite, Luxray.
Dawn voltou a dormir. Luke olhou para o céu e deu um sorriso enquanto olhava as estrelas. Tão brilhantes, tão repletas de anseios e desejos... Muitas crianças esperavam muito tempo para iniciar suas jornadas, mas nem sempre eram capazes, tanto por motivos familiares, problemas com os iniciais, o que quer que fosse. Era o sonho de toda a criança, e pela primeira vez Luke se sentia tão bem por ajudar alguém.
Quando retomou sua atenção notou o General Duskull surgindo das sombras com um novo fantasma ao seu lado. Era um de seus soldados, se não um dos mais habilidosos da torre perdida. Luke não iria capturá-lo sem uma batalha, entou em posição de combate enquanto seus amigos ainda estavam adormecidos. Iria capturá-lo com grande honra.
— Shh... Façam silêncio, se a Dawn acordar garanto que vocês vão descobrir o que é a fúria de um Gyarados! Vamos lá, General, comece com o Shadow Sneak!
Duskull atacou o soldado que se defendeu com grande êxito, o oponente era inferior, mas tinha muitas habilidades promissoras. Luke ordenou um Confuse Ray para atordoá-lo, dando a chance perfeita para que ele lançasse uma pokébola e tentasse a captura. Rápida e direta. O próprio fantasma parecia disposto a seguir viagem. Luke segurou a pokébola e sorriu.
— Obrigado, General. Ele estará em boas mãos.
Luke voltou seu Pokémon e chamou pelo irmão. Lukas despertou, estava mutio feliz por terem finalmente encontrado o fantasma. Porém, Dawn parecia não acordar. Estava muito cansada, Luke até sugeriu que a levasse no colo, mas não a aguentava de maneira alguma, a menina só despertou quando os dois vieram ao chão.
— Idiota!! Por quê não me acordou ao invés de fazer esse alvoroço?
— Eu tentei, mas você dorme que nem um Snorlax!
— E você também não me parece nem um Machamp para não aguentar sequer uma garota indefesa como eu!
Os xingamentos de Pokémons continuaram por um tempo, mas logo cessaram com o interrompimento de Lukas. Luke e seus amigos seguiram para a casa de Nicolas, àquele horário tudo estava apagado e o jovem provavelmente já estava adormecido. Eles haviam demorado demais.
— Ele já está dormindo... — disse Lukas.
— Claro, e nós também deveríamos estar. Puxa, então acho que vamos ter que esperar até amanhã para entregar o Pokémon. — disse Dawn.
Luke hesitou.
— Espera, tenho uma ideia melhor.
O garoto pediu o diário de Dawn, que após muito negar arrancou uma única página para que o plano fosse sucedido. Com uma caligrafia falha e infantil, ele escreveu um pequeno cartão com ajuda do irmão e deixou em frente à porta da casa com a pokébola do Soldado Duskull dentro de uma caixa. O trabalho estava feito.
— Luke, amanhã nós vamos embora da cidade logo que amanhecer, você não vai nem se despedir do Nicolas ou dizer que foi você quem entregou? — perguntou Lukas.
— Ele não precisa saber que fui eu, o que eu quero é que esse cara seja um treinador para que possamos nos enfrentar no futuro, como grandes amigos!
E então, os três partiram. Naquele momento tudo que buscavam era uma bela cama e uma boa noite de sono. A manhã veio junto da aurora, Nicolas levantou-se de sua cama e recebeu os parabéns de seus amigos mais próximos e dos avós. Era o aniversário dele, um dia muito importante. Ou pelo menos, era o que deveria ser se ele pudesse começar sua jornada.
— Nicolas, venha aqui, por favor... Acho que alguém deixou um presente para você... — disse uma velha senhora.
O garoto andou até a porta e viu uma caixinha de bomboms com um embrulho mal feito e uma cartinha ao lado. Ele estava muito curioso, pensou ser alguma admiradora secreta, mas havia uma pokébola dentro, e ao lado, uma pequena carta escrita manualmente. Aparentemente por alguém muito cansado ou que escrevera tudo no escuro. Nicolas não ligou para os erros, e sim, pelo motivo pelo qual havia sido escrita.